Capítulo 23

— Será que pode ter sido ele mesmo?

— Não sabemos...

Lucy e Colin ainda estavam intrigados e confusos pelo o que descobriram, algo bastante intrigante, pois como aquilo foi parar no quarto de Ferguson? De fato, foi alguém que colocou lá somente para incriminar o jovem e além disso, como uma faca da cozinha foi parar lá sem ninguém perceber a falta dela? Era uma nova série de questionários que surgiram por ali e exatamente ninguém podia responder. No entanto, Colin mesmo afirmou de que não sabia nada a respeito sobre aquela faca e nem como ela foi parar lá, tanto que perguntou a Lucy sobre o que tiveram no almoço. A partir daquele momento, todo mundo na mansão eram suspeitos. Todos. Até mesmo o Conde Welland, que apesar de nunca ter entrado no quarto de Ferguson, havia entrado na lista de suspeitos. Porém, a pergunta agora que cercava a todos era: “quem fez aquilo?”

— Alguém, além de você, costuma entrar aqui?

— A única era a Campbell! — ele respondeu encostando-se no armário. — Mas, ela morreu...

Lucy assentiu pensativa.

— Mas, algum dos homens daqui entram por aqui? — Lucy questionou andando pelo quarto. — O meu pai? O Sr. Bloodvessel, a Sra. Winters e entre outros?

— O seu pai nunca entrou e ele nem sabe qual é o meu quarto, o Bloodvessel sabe onde eu fico, mas nunca entrou e a Sra. Winters entrou apenas uma única vez e o único homem que entra aqui é o Newland... — Ele respondeu sério e frio. — Mas, ele entrou aqui faz cinco dias!

Lucy assentiu e chegou em uma conclusão.

— Entendi. — Disse Lucy ainda pensativa. — É mesmo um grande e intrigante mistério...

Colin ficou em silêncio. O silêncio dele incomodava Lucy de uma certa maneira, mas esta adorava o mesmo, pois isso lhe trazia um ar mais sábio e experiente.

— Bom, eu vou procurar saber mais sobre isso! — Lucy andou em direção a porta. — E aliás... Me dê essa faca, vou precisar dela!

Colin a entregou e a mesma a guardou na faixa do vestido em sua cintura. Lucy – antes de sair dali – olhou para o jovem, que tinha os seus olhos brilhando na direção dela, ela sorriu e ele retribuiu.

— Se eu descobrir alguma coisa... — ela disse e depois sorriu mais uma vez. — Eu lhe avisarei!

Colin assentiu. Lucy afastou-se um pouco e depois a mesma acenou, deixando o local. Ferguson, andou até a porta e avistou a mesma ao longe no corredor, onde avistou ela olhando para trás e sorrindo, depois, sumindo após atravessar uma porta. O criado fechou a porta, sentou-se numa cadeira, depois cruzou as mãos atrás da cabeça e os seus olhos se encontraram no teto do quarto, onde este abriu um sorriso imenso ao recordar-se dela. Ela era a pessoa que sabia o deixar desconsertado.

Lucy andava por todos os lados da casa, procurando por alguém, mas não encontrava ninguém. Nem se quer a sua prima ou sua madrasta, que apesar de ser ranzinza, gostava de andar pelos corredores da mansão ou está andava apenas para arranjar um motivo para humilhar alguém em qualquer circunstância. Quem sabe. Mas, o verdadeiro motivo de não haver ninguém por ali era quase muito óbvio, pois todos estavam trabalhando e deixando tudo organizado para a festa de despedida das férias do ano de 1910 na mansão dos Welland. Muitos criados estavam lavando os andares da mansão, outros organizando os livros na biblioteca e alguns, arrumando a sala do chá e dos fumantes, pois, uma grande festa ocorreria na noite seguinte e seguiria pela madrugada. Quando Lucy estava prestes a desistir, ela avistou a pessoa ideal para desvendar aquele mistério e está era a Sra. Brooke, que estava recolhendo algumas panelas da dispensa próxima a cozinha. Então, rápida igual a uma locomotiva, Lucy correu até a mulher, que com as panelas em mãos, seguia de volta para a cozinha.

— Sra. Brooke? — Lucy a chamou antes de chegar até ela. — Sra. Brooke?

A mulher parou e sorriu ao ver a moça aproximando-se dela.

— Srta. Welland, em que posso lhe ajudar?

— Eu preciso que me ajude em uma coisa muito importante! — Lucy disse ao chegar até a mulher que apresentou um semblante de confusa. — Pode me acompanhar até o jardim, sim?

A mulher olhou para a cozinha e depois voltou a olhar para a moça.

— Bom, senhorita, é que eu preciso começa a fazer o jantar e tenho muito trabalho depois disso... — ela respondeu meio receosa. — Mas, se eu estivesse livre, eu adoraria lhe ajudar!

Lucy assentiu, agora ela reconheceu que estava sem nenhuma solução para o caso, porém, outra ideia brotou em sua cabeça.

— Mas, a sua ajuda é muito breve para mim... — Lucy disse arranjando outra maneira de pedir a ajuda dela. — Não irá demorar dez minutos, creio que nem cinco minutos serão o tanto da sua ajuda!

A cozinheira ficou pensativa por alguns minutos. Se bem que, se ela demorasse mais ali, o seu tempo já estaria correndo e se fosse, estaria livre o mais rápido possível.

— Está bem, eu lhe ajudo! — ela cedeu. — E então? Em que lhe posso ajudar?

Lucy sorriu.

— Eu preciso que você venha comigo!

A cozinheira assentiu e ficou um pouco receosa quando Lucy a levou até a dispensa próxima a cozinha, mas ela logo confiou na jovem. Depois de alguns minutos de conversa, a ajuda da mesma se encerrou e a cozinheira foi dispensada, mas agora Lucy corria atrás de outra pessoa e essa pessoa era muito difícil de se encontrar, pois sempre andava ocupada e quando não estava, gostava de ir para o píer descansar. Este era o Sr. Townsend. O chefe dos lacaios. O homem – segundo a cozinheira – havia pegado a faca para depenar o peru e usar as suas penas para a fabricação de canetas, no entanto, a faca não retornou para a cozinha e somente o Sr. Townsend sabia do paradeiro da mesma. Enquanto a jovem caminhava pelo corredor, em direção a sala de jantar dos funcionários, ela acabou encontrando o jovem Newland, carregando uma caixa de talheres – estes eram importados da Escócia e que valiam uma fortuna –, onde seguia em direção a sala de jantar do salão principal da casa. Lucy correu até ele e este andava rápido igual a um automóvel.

— Sr. Newland, Sr. Newland? — ela o chamava enquanto corria atrás dele. — Sr. Newland, por favor, espere. Sr. Newland?

Quando este estava prestes a virar no final do corredor, ele ouviu os chamados de Lucy e logo parou, em seguida, deixou a caixa sobre o chão, onde esperou a jovem chegar até ele e por fim, ela chegou. Ofegante e cansada, mas chegou.

— Oh, srta. Welland, em que lhe posso ajudar?

Ela ainda se encontrava ofegante e cansada. Tanto, que demorou alguns segundos para dizer algo a ele.

— Eu preciso da sua ajuda em algo muito importantíssimo! — disse a moça ainda um pouco ofegante. — Pode me ajudar?

— Bom, se não demorar muito... — ele disse fazendo uma pausa dramática. — Posso sim, e então? Em que lhe posso ajudar?

Ela olhou de um lado para o outro, abriu uma porta atrás dele e rapidamente o puxou para dentro do quarto, trancou a porta e rapidamente decidiu lhe questionar. Receoso e meio desconfiado, Newland manteve a sua postura e sabia como lidar em qualquer situação, pois foi treinado para aquilo.

— O motivo pelo qual eu lhe pedi uma ajuda, serve para você e para o Townsend. — ela quebrou o silêncio por ali e ele assentiu. — Não sei se você sabe, mas alguém pegou uma faca da cozinha e a colocou no aposento do Sr. Ferguson!

Ele assentiu e ela retirou a faca que estava escondida em suas costas e entregou nas mãos do rapaz.

— Alguém colocou essa faca lá e você sabe quem foi? — ela questionou e ele analisou a faca. — Você viu alguém com ela?

Newland continuou analisando a faca.

— Não, não faço nem ideia de quem pode ter sido! — Ele entregou a faca para ela. — Desculpe, mas eu não sei quem foi.

Lucy assentiu e a guardou no mesmo lugar.

— Tudo bem, você ajudou bastante, está dispensado! — A moça respondeu andando até a janela. — E aliás, você viu o Sr. Townsend?

O rapaz ficou em silêncio por alguns segundos.

— Eu o avistei no jardim hoje pela manhã! — ele respondeu calmamente. — Mas, está foi a última vez.

Lucy assentiu. Em seguida, um silêncio invadiu o local, depois ele andou em direção a porta, porém, antes de atravessar a porta, ela quebrou o silêncio.

— Sr. Newland, tudo o que conversamos aqui fique apenas entre eu e você, está bem?

Ela virou-se para ele e este assentiu antes de sumir depois de fechar a porta. Agora, a resposta do mistério da faca dependia apenas do Sr. Townsend, que até aquela altura estava desaparecido. Tudo dependia apenas dele agora.

Logo a penúltima noite caiu na mansão dos Welland, era uma noite de lua nova e algumas estrelas enfeitavam o céu escuro, onde constelações eram vistas glamourosas e brilhantes do alto do céu. Enquanto isso, dentro da mansão, todos os hóspedes da casa e convidados daquela noite, estavam todos presentes na sala de visitas – está ficava próxima a sala dos fumantes e do chá – e lá, aguardavam pelo anúncio do jantar. Todos – menos Anthony e Edith – estavam por ali conversando e o convidado da noite era o Sr. William Chambers, que apesar de ter vindo de muito longe, estava visitando a família Welland e a família de sua esposa, a Sra. Isabella Chambers. Alto, meio magro, cabelos e olhos castanhos, o nariz um pouco pontudo e de pele um pouco clara, eram as características do Sr. Chambers, que naquela altura era um vice presidente da companhia de navegação, Johnston Chambers and Navigation Company, ou conhecida mais como “Chambers Line”. William tinha uma longa amizade com o Conde Welland e com o tio de Jimmy Davis, o Sir Herbert Alfred Davis, que sempre ajudou bastante a companhia do pai de William. Naquela noite, William estava acompanhado de seu criado particular, o Sr. Barnett, que sempre esteve com eles desde 1904. O casal costumavam sempre jantar na casa dos Welland quando iam os visitar em Dovertown e dessa vez, estavam pela primeira vez na mansão do Conde em Bridgetown.

— É uma honra ter vocês mais uma vez em um jantar, Sr. e Sra. Chambers! — disse o Conde Welland com um belo sorriso no rosto. — E ainda mais nesta bela mansão deixada para mim pelos meus pais!

O casal sorriu de orelha a orelha.

— Estamos honrados em estar aqui, Conde Welland! — disse William. — Imagino que o seu pai deve ter obtido um grande trabalho para construir este palácio!

— Bom, nem tanto! — O Conde respondeu. — Segundo ele, foram necessários apenas quarenta e cinco dias para a conclusão dessa casa!

William assentiu enquanto olhava para o teto e as paredes da casa.

— Puxa vida, bem rápido em comparação a uma construção de um transatlântico!

O Conde sorriu.

— Mas, um transatlântico tem de ser muito bem feito e construído! — comentou Hugh. — Não ouviu o caso do Symphony, da Hallan Line? Afundou após a viagem de volta da Austrália para a Inglaterra no começo da década!

William assentiu.

— O Symphony afundou por conta de seu casco frágil, diferente da companhia de meu pai, que tem cascos sólidos igual a uma pedra. — Completou o jovem. — Inclusive, eu ouvi dizer que a Hallan deve o banco de Liverpool até os dias de hoje!

O Conde assentiu e em seguida, o Sr. Bloodvessel adentrou na sala e parou adiante deles.

— Conde Welland e convidados, eu lhes venho anunciar de que o jantar já está sendo servido! — avisou o chefe dos criados. — E que, por favor, dirijam-se ao salão de jantar principal. Com licença e tenham uma boa noite!

Todos assentiram e em seguida, eles seguiram em direção ao salão e ao chegarem na porta do mesmo, os lacaios Latimore e Newland abriram as portas, revelando uma imensa mesa farta de comidas e bebidas. Os convidados e hóspedes andaram até os seus devidos lugares e sentaram-se, segundos depois, Anthony e Edith adentraram no salão, ambos portando sorrisos falsos, tentando dar uma boa impressão aos convidados – aquela era a primeira vez que Anthony sorria bondosamente – e este sentou-se de frente para a esposa do Sr. Chambers e para Lucy, que o encarou seriamente. O jantar logo foi servido e depois de todos terminarem, a sobremesa teve a sua vez, encantando a todos ali, menos os ranzinzas. Depois, muitas conversas foram colocadas em dias.

— E então, Condessa? — a Sra. Isabella Chambers dirigiu-se a Edith com um belo sorriso estampado no rosto. — Como se sente vivendo nesse imenso palácio?

Edith forçou um sorriso ao olhar para a mulher.

— Bom, eu me sinto uma rainha! — Edith respondeu ainda com um mesmo sorriso. — Mas, em comparação a sua casa e com a deste palácio, a minha ultrapassa a sua cabana de inverno!

Isabella sabia que aquilo era uma afronta e ela sabia muito bem como rebater tal coisa. Ainda mais vindo de Edith, na qual o seu respeito por ela nunca existiu.

— Minha casa pode ser uma cabana, mas não sou eu que dependo do meu marido para sobreviver! — Isabella disse com um sorriso malicioso no rosto. — Não é mesmo, Condessa Welland?

Edith forçou um sorriso e ficou calado. Anton ouviu toda a conversa e sabia que sua mãe havia sido refutada, porém, antes que pudesse fazer algo, Lucy percebeu e o olhou seriamente, como se estivesse lhe ameaçando. Anthony a ignorou, mas fitou o Sr. Ferguson de pé um pouco atrás de Lucy. Colin sabia que ele queria armar algo para a Sra. Chambers, no entanto, se ele tentasse algo, seria rapidamente denunciado. Minutos depois de algumas conversas, o Conde decidiu anunciar uma coisa muito boa para todos ali, no entanto, todos estavam conversando tanto entre si, que foi preciso a ajuda de Bloodvessel para obter silêncio e atenção.

— Bom, como sempre foi o costume da minha família, de fazer uma grande festa para despedida de uma temporada de férias... — Hugh disse a todos que assentiam. — Eu decidi manter essa tradição e amanhã, iremos fazer uma festa de despedida e desde já, convido o Sr. e a Sra. Chambers. Portanto, se algum de vocês tiver compromissos amanhã, cancelem, pois está vai ser a maior confraternização que já teve na família!

O casal assentiu.

— Imagino que deve ser uma coisa maravilhosa de se estar presente, mas amanhã nos não poderemos estar aqui! — William disse com um sorriso no rosto. — Mas, estaremos retornando para a Inglaterra amanhã, pois eu e minha esposa, Isabella, temos compromissos importantíssima  para resolver. No entanto, adoraríamos estar aqui amanhã!

O Conde assentiu.

— Tudo bem, o convite de vocês fica arquivado para o próximo ano!

O casal assentiu.

Mais tarde, naquela noite, os Chambers deixaram a mansão próximo das onze e meia, estes acompanhados de Barnett. Depois da saída dos Chambers, todos os hóspedes foram para os seus aposentos, onde decidiram dormir. No entanto, alguns andares acima da portaria da mansão, encontrava-se o quarto de Anthony, onde a luz de uma vela e lamparina, Edith encontrava-se deitada na cama do rapaz e ele estava na porta da varanda fumando mais um dos seus viciante cigarros, onde observava a lua nova e as estrelas. Um estranho silêncio era mantido entre eles, até  Edith o quebrar.

— Em menos de vinte e quatro horas estaremos fora daqui e não conseguiremos obter a fortuna de Hugh! — disse a Condessa olhando para o rapaz, que continuava a observar a lua. — Precisamos agir logo!

Ele a olhou e soltou a fumaça de seu cigarro.

— Amanhã será uma hora boa para agir e teremos um momento excelente! — Anton a respondeu. — A queda de Hugh será diante de todos os seus convidados e será uma grande perda financeira, que o fará abandonar esse posto de Conde!

Edith sorriu maliciosamente.

— E como será essa queda, Sr. Anthony Adams?

O rapaz sorriu maliciosamente e a olhou mais uma vez, onde a fumaça do seu cigarro – que estava entre dois de seus dedos – empesteava o cômodo.

— Apenas saía da casa quando eu lhe der o aviso!

Edith sorriu mais uma vez. Mal sabia ela o que Anton tinha em sua mente suja e imunda, mas ela sabia que não era proveitoso e que poderia até dizimar algumas pessoas. Qual seria o plano de Anthony para a confraternização no dia seguinte?

Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top