Capítulo 11
Mabel ainda não acreditava no que havia acabado de ouvir. Aquilo era inacreditável. A mesma nunca imaginou aquilo vindo da própria prima, tal ato aquele tão errado que pode até mesmo arruinar a vida do próprio acusado. Lucy havia incriminado o Sr. Bloodvessel, este que nem esteve presente no momento em que ela se encontrava em apuros. Mal sabia o chefe dos criados que estava sendo alvo de uma imensa injustiça, por causa de um ato de paixão por um estranho criado. Ambas as moças estavam preocupadas e desesperadas. Quase estavam praticando uma espécie de suicídio, pois a jovem Swire afirmava que preferia levar um tiro do que passar por tal situação. Mas, claro, esperamos que tudo isso seja apenas da boca para fora. Porém, não havia mais nada a se fazer, pois a ordem de Hugh havia sido dada de que prendesse quem se quer fosse o malfeitor, até mesmo se fosse um membro da própria família. Portanto, Bloodvessel seria preso sem mais nada e nem menos. Pobre chefe, seria preso sem nenhum crime cometido.
- O que vamos fazer, Lucy? - questionou Mabel quase em desespero. - O Dr. Beaufort tem o jeito de ser um homem durão e bem firme em sua ordem, provavelmente não irá ter pena de nós duas...
Lucy ainda permanecia em sua posição e com um semblante de preocupação.
- Eu não sei, Mabel, não sei mais o que fazer. Eu fui estúpida em acusar ele. - Lucy passou as mãos nos cabelos castanhos e depois apoiou a cabeça com os dois braços.- Precisamos despistá-lo hoje!
Mabel assentiu e ficou pensativa por alguns segundos.
- Não sei se essa ideia irá funcionar ou não, mas parece ser boa.
Lucy a olhou com curiosidade e assentiu.
- Bom, eu tive a ideia de levarmos ele conosco a casa do amigo de minha mãe! - Mabel respondeu em um tom de felicidade. - Assim o Dr. Beaufort virá aqui e não o encontraram, e então, deixarão tudo isso de lado!
Lucy sorriu.
- Sim, é uma ótima ideia! - Lucy desfez o sorriso. - Mas espere, se nós o esconder, eles irão dar o título de procurado à ele e isso aumentará mais a prisão dele!
Mabel desfez o sorriso e pensou por alguns segundos.
- Tens razão. - Swire sentou-se ao lado de sua prima na mesa. - Maldição, porque você mentiu ao delegado, Lucy?
- Eu não sei. Talvez seja porque fiquei nervosa no momento. - ela pôs as mãos nos olhos. - Eu sou estúpida demais.
Mabel não disse nada.
- E então? O que faremos agora?
A Srta. Swire a olhou séria.
- Vamos fazer o que eu ordenei, depois vejamos em como convencer o Dr. Beaufort em não prender ele. - ordenou a prima mais nova. - Melhor isso do que ele ser preso injustamente!
Lucy assentiu.
- Esperamos que Bloodvessel entenda...
- Eu também!
As duas moças ficaram ali conversando mais sobre o tal plano delas, porém, o que elas não sabiam era que havia uma pessoa à espreita e ouvindo sobre tudo que elas diziam. Esse indivíduo era alguém que elas menos esperavam. Este ficou por ali por mais minutos, até que elas deixassem o local. Onde este armazenou todas as conversas e decidiu guardar para si mesmo e assim se fez.
A noite havia caído em Bridgetown, onde lá as estrelas brilharam no céu acompanhada com algumas nuvens, porém, sem a companhia da bela e glamourosa lua, que estava descansando por alguns dias. Muito antes do jantar, Lucy e Mabel explicaram todo o plano para a Srta. Francine de encobrir o chefe dos criados. A mulher mais velha não aprovou tal planejamento como aquele, mas depois de muita insistência, cedeu e aceitou sem dizer mais nada. Tudo devia sair como estava planejado, se não, o Sr. Bloodvessel seria preso e a culpa cairia sobre as costas de Lucy. Logo após o jantar, as três mulheres se retiraram da mesa antes mesmo da sobremesa, e foi nesse momento que Lucy foi falar com o Sr. Bloodvessel e enquanto a Srta. Francine correu atrás do Conde Welland, onde pedira a permissão deste para leva-lo até uma residência na rua Mareville. Com um pouco de desconfiança, Hugh permitiu que o chefe pudesse ser levado e assim se fez. Mas, mal sabiam elas que Edith e Anthony sabiam de algo que elas nem se quer imaginavam. Sob a direção do chofer Barrow, os quatro passageiros seguiram rumo a cidade, exatamente para a rua Mareville, onde morava uma forte fonte de informação.
Não demorou nem vinte minutos para eles estarem adentrando naquela misteriosa e obscura rua, que era cheio de buracos, as calçadas quebradas, as luzes dos postes eram fracas e piscavam com bastante frequência, enquanto as casas tinham paredes velhas e sujas, com pinturas se desbotando e até mesmo se desfazendo das paredes. Apelidada de "Rua Assombrosa", aquela viela era uma das mais movimentadas da cidade no seu início, mas com a chegada de alguns alemães ali, tudo foi de mal a pior. O automóvel andou e parou em frente a uma casa de cor marrom, que era uma casa bem simples e velha. Tanto que era possível ver que a tinta marrom estava perdendo o seu tom e mostrando uma cor irreconhecível. A frente da casa tinha um pequeno gramado, com flores murchas e despedaçadas, além do gramado ser mal cuidado e seco. A Srta. Francine foi a primeira do grupo a ir até a porta, sendo seguida por Mabel e Lucy. O Sr. Barrow e o Sr. Bloodvessel ficaram aguardando no automóvel, onde estavam garantindo a segurança do mesmo. Enquanto isso, a mãe de Mabel tocou o pequeno sino na porta, onde ansiosamente esperou por alguém, que aparentava não responder. Depois tocou novamente e por fim ouviu-se passos nas madeiras do assoalho da casa, que rangia e estalava. Até que um homem velho e estranho abriu um pouco a porta, como se estivesse com medo de alguém ou algo.
- Quem é? - ele indagou com um semblante de raiva e ódio. - E o que vocês querem? Eu não tenho esmolas. Agora sumam daqui!
Ele tentou fechar a porta, mas Francine o impediu e ele reabriu a mesma.
- Sr. Sanders, sou eu, a Srta. Francine Thayer! - disse a mulher, na esperança de que o mesmo a reconhecesse. - Não se lembra de mim? Eu fui a governanta de sua neta, a Srta. Mingott!
O homem a olhou estranho e depois começou a mostrar um semblante de alegria ao recordar-se da mulher.
- Srta. Thayer? O que fazes aqui? - disse ele com a sua voz grossa e grave igual a um trovão. - Desculpe-me lhe tratar daquele jeito, vamos, entrem!
A porta foi aberta e as três mulheres adentraram naquela misteriosa casa e por fim, a porta foi fechada, onde o homem passou a frente delas e as pediu para lhes seguirem, onde ele as levou até a cozinha e lá tinha uma estranha bebida dentro de um frasco de vidro.
- Vocês aceitam um refresco de pêssego?
As meninas ficaram confusas.
- Vocês devem não saber, mas pêssego é uma fruta alaranjada e que é parecida com uma laranja! - ele pegou três copos e as serviu. - Vamos, bebam, está delicioso!
Mabel olhou para aquela bebida e por fim, levou o copo até os lábios e bebeu o suco e rapidamente aprovou para as outras garotas de que aquilo não era ruim. Assim, as duas outras mulheres beberam o refresco.
- Enfim, o que fazes aqui na Rua Assombrosa?
- Bom, minha sobrinha e minha filha querem interrogar o senhor sobre um estranho rapaz que morava aqui nesta rua!
Sanders assentiu.
- O senhor conhece o jovem Colin Ferguson? - questionou Lucy enquanto o homem pensava. - Alto, tem um físico quase definido, de cabelos e olhos castanhos e é muito quieto!
O homem continuava pensativo e por fim levantou-se, andou até uma prateleira e pegou um empoeirado livro. Assoprou a capa do mesmo, de onde saiu uma grande quantidade de poeira e por fim colocou este sobre a mesa, depois o abrindo.
- Bom, eu fui presidente deste bairro por longos anos e tenho o registro de todos os moradores daqui bairro desde o início do mesmo! - disse ele passando as páginas e por fim parando em uma página onde havia três pessoas com seus dados pessoais. - Ferguson, Colin, aqui está e logo após ele os três membros da sua família.
Ele passou o livro para Mabel e Lucy, que analisaram os dados pessoais do jovem, onde havia uma fotografia do mesmo e logo abaixo desta, uma série de anotações sobre ele.
- Colin Christopher Ferguson, nascido em 28 de setembro de 1885, filho de Eilel Ferguson e Cora Ferguson (nasc. Bushwell). - disse Lucy em voz alta. - Um metro e oitenta de altura, nascido em Aldenville, na Irlanda!
Sanders sorriu.
- Os Ferguson eram pessoas maravilhosas. Muito atenciosos com todos deste bairro! - disse Sanders com um belo sorriso, mas logo desfez o mesmo.- Mas após o assassinato de Mora, irmã de Colin, tudo ruiu e ficou estranho. Eilel morreu poucos meses depois e Colin desapareceu daqui, tanto que nesta ficha consta que ele morreu em um acidente naval em 1905!
Lucy olhou o atestado de óbito de Colin que constava que o mesmo havia sido perdido no naufrágio do SS Norge*, em 1905 na costa irlandesa.
- E desde então, a casa deles que ficavam no final da rua, que era um bosque, se perdeu e toda a história dos Ferguson foi perdida junto com ela... - Disse Sanders em um certo tom de tristeza. - Após a morte dos três, o bairro desandou e em 1907, tudo enlouqueceu por aqui após a morte de alguns moradores e a entrada de alemães!
Lucy passou a página e nela havia uma fotografia de três pessoas, sendo deles dois homens e uma mulher, de cabelos castanhos claros e curtos, porém, com um sorriso encantador. No lado direito da mesma, um jovem de cabelos castanhos escuros e este também esboçava um belo sorriso. No lado esquerdo da garota, um homem com uma expressão de cansaço e que tentava ao máximo esboçar um sorriso para a foto. Aqueles eram: Eilel, Mora e Colin. Fotografia aquela tirada dias antes da morte da mesma em 1904, onde ela trabalhava como criada e ele como chofer na casa de um renomado duque.
- E enquanto a Sra. Ferguson? - perguntou Mabel curiosa. - Não se sabe nada dela, mas afirma-se que ela fugiu com outro para a Rússia em 1902, deixando para trás o marido e os filhos e desde então, não tivemos mais notícias dela!
Elas assentiram triste e quietas. Houve um silêncio de alguns segundos, até que batidas de alguém desesperado ouviu-se vindo da porta. Era um homem, que batia a porta com força na esperança de alguém abrir. Mancando e fraco, o Sr. Sanders andou até a porta e por fim a abriu, mostrando um chofer assustado e desesperado. Mabel, Francine e Lucy logo brotaram ali na porta, onde assustaram-se ao ver Barrow naquela situação.
- O que aconteceu, Sr. Barrow? - perguntou Lucy agora confusa. - Porque estás em completo desespero?
- Srta. Welland, os oficiais do departamento de polícia prenderam o Sr. Bloodvessel, onde o disseram que ele era procurado. - respondeu o motorista em completo pânico. - E agora o que iremos fazer? Se o Conde Welland souber, ele irá me colocar na rua!
Francine e Mabel olharam assustadas para Lucy, que não tomou nenhuma ação imediata, pois estava em uma paralisia e com uma expressão de assustada e surpresa ao mesmo tempo. Lucy estava sentindo que Bloodvessel iria ser preso cedo ou tarde, porém, dessa vez ele foi cedo demais. Agora elas tinham que fazer alguma coisa, se não, confusões seriam o próximo espetáculo na mansão dos Welland.
1 · O SS Norge foi um transatlântico que foi lançado em 1881 na Escócia e perdido em 1904 ao largo de Rockall com grande perda de vidas. Sua última viagem foi de Copenhague, Kristiania e Kristiansand, com destino a Nova York, transportando passageiros, muitos dos quais eram emigrantes. O naufrágio ocorreu oito anos antes do Titanic e tornou-se o maior naufrágio dinamarquês em tempos de paz.
Música: Into The Forest
Artista: Danny Elfman
Link: https://youtu.be/7lf1fZLmjlg
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