Capítulo 7
Descobrimos e relutamos
O homem misterioso se materializou ao lado de Joseph, depois que ele voou pela sala de aula catapultado para trás. Eu ainda assimilava a cena. Joseph cruzou metros de distância a uma velocidade incrível no ar, bateu na parede oposta e caiu desacordado no chão.
Então subi o olhar, e o vi.
Cheguei a esfregar os olhos, porque enxerguei muito mais do que um vislumbre de cabelos negros. Pude ver o formato de sua boca perfeita, o contorno do rosto quadrado. Era ele, só podia ser. Eu reconheci a pele branca, sedosa.
Mas ele usava uma máscara preta, a calça e a blusa da mesma cor.
A bebida de Joseph era forte pelo visto. Porque a visão do dono dos cabelos negros, bruxuleava a minha frente, como se estivesse prestes a desaparecer.
Levantei do chão trôpega. O corpo pesado. As pernas cansadas.
Ele me encarava com o cenho franzido. Eu via seu peito subir e descer em uma respiração rápida. Ele parecia lutar para não vir até mim. Enquanto eu, fazia o oposto. Se não fosse o efeito da bebida me atrapalhando, eu teria corrido para ele.
Por mais maluco que isso fosse.
Eu estava a dois passos dele. Eu não podia acreditar. Senti pedras de gelo no estômago. Meu coração disparou de ansiedade.
Eu queria tocá-lo.
Necessitava desesperadamente ver o seu rosto.
A atração era inexplicável. De repente senti-lo perto de mim, se tornou tão vital quanto respirar.
Dei mais um passo. Sem ar. Nervosa.
Estiquei o braço. Eu ia tocá-lo.
Lutei contra minha mente ficando turva. O que quer que Joseph havia colocado na bebida, era muito forte.
- Não – ele pediu em um sussurro. Como se doesse ter que me afastar. E eu reconheci a melodia de sua voz. O tom suave que sempre vinha em meu resgate. Ele deu um passo para trás e eu parei de andar.
- Por que? – me ouvi perguntar e não acreditei. – É você, não é? Eu sei. Eu sinto.
- Você precisa esquecer que me viu. Esquecer que eu existo.
- Eu não quero. Eu não posso. Quem é você? Por favor, me diz!
- Isso é um erro. Eu devia ter ido embora há muito tempo, mas não consigo. Há algo em você que me fascina. Que não me deixa ficar distante.
Ele declarou com o cenho franzido e deu um passo mais perto de mim, com as mãos esticadas. Como se quisesse me tocar. Fechei os olhos e esperei por seu toque. Imaginei sua pele quente e macia encontrando a minha, mas não aconteceu.
Ergui as pálpebras e ele havia voltado para a parede. Dei outro passo a frente, determinada apesar do corpo fraco, e meus joelhos falharam.
A um segundo de cair no chão, ele me segurou pelos braços e me ergueu do chão. Seu rosto, de repente a centímetros do meu, me fez pensar que tudo fazia parte de um delírio.
- Você está fraca. – Ele passou a mão quente em meu pescoço. Seu toque era dolorosamente prazeroso. - Vou cuidar de você, mas prometo que será a última vez que me verá.
Quem disse que eu quero que seja a última vez?
Eu tentei protestar mas fui incapaz. O homem misterioso exalou aquela força quente para mim. Cobriu cada centímetro da minha pele. Senti seus braços quentes. Inalei aquele perfume que me deixava extasiada e minhas pálpebras pesaram. Lutei contra o apagão, mas perdi. A última coisa que senti, foram seus lábios macios em minha bochecha e suas mãos acariciando meus braços e costas como se eu fosse preciosa.
Acordei afoita procurando por ele, e fiquei desapontada ao ver que eu me encontrava em um dos banquinhos no pátio, ao lado de fora do ginásio. Olhei em volta, mas como sempre, ele havia desaparecido.
Algo caiu de meu colo e sorri quando me abaixei para pegar. A máscara negra estava ali. A apertei nas mãos com o desejo de trazê-lo de volta.
Eu jamais esqueceria dele. Alguém teria que me hipnotizar para conseguir isso. Alisei o tecido de cetim da máscara e esqueci completamente onde estava, até ouviu a voz de Ben e Amanda brigando comigo:
- Olha só, a desaparecida! – Ben cruzou os braços emburrado.
- Onde você se enfiou, Liza? Tem noção do tempo que estamos procurando você? A festa já está acabando!
- Desculpa gente. O Joseph ficou esquisito. Ele me arrastou para uma das salas de aula e tive que dar um jeito de fugir dele.
- Ele te machucou, Liza? – Ben assumiu um ar assassino e fechou os punhos ao lado do corpo.
- Não. Calma Ben. Não aconteceu nada comigo.
Fiquei péssima por mentir, principalmente para meus melhores amigos. Mas o que eles pensariam se eu dissesse a verdade? Nem eu mesma sabia o que achar. Era estranho demais, e enquanto eu não compreendesse, não poderia contar a ninguém.
- Vamos embora? Essa festa já perdeu a graça. Que saco, achei que a nossa formatura seria muito mais legal. – Amanda olhou para o chão desanimada.
- Bom, a noite não acabou ainda. Eu e minhas garotas podemos fazer nossa própria festa.
- Eu topo! Vamos Liza?
Como sempre, os dois festeiros e animados, e eu, a alma idosa que queria ir para casa dormir.
- Não sei gente.
- Deixa de ser velha, Liza! Hoje é seu aniversário, poxa.
- Anda, sem desculpas. A gente arrasta ela Amanda. – Ben piscou o olho.
Alguém me sacudiu pelos ombros. Meu pescoço doía absurdamente.
- Acorda, Liza. A mamãe quer tirar foto com você.
Desencostei a cabeça da janela e fitei o mar quebrando sobre uma rocha. Lindo. De um tom de azul exuberante. Eu havia visto por fotos a costa da Califórnia, ao vivo conseguia ser ainda mais bonito. Abri a porta do carro e desci.
- Até que enfim, filha. Nunca vi você dormir tanto!
Minha mãe me puxou para a pedra na beirada do mirante. O vento forte e gelado levava meus cabelos para todos os lados. Raquel segurava a câmera e tirava milhares de fotos enquanto meu pai dormia no carro.
Eu não conseguia relaxar. Eu sentia algo ruim muito perto. De repente olhei para meu pai atrás do volante, e o carro me pareceu tomado por uma densa fumaça negra. Escapava pelas frestas das janelas. Meu pai arregalou os olhos e levou as mãos ao pescoço. Ele estava engasgando!
Raquel e minha mãe falavam alguma coisa, só ouvi a pergunta de Raquel:
- Porque você está com essa cara, Liza?
Ela olhou para trás e depois me encarou como se não entendesse.
Deixei a pedra e corri para o carro aos berros.
- Pai! Pai!
Puxei a maçaneta mas a porta não abria. Eu podia ouvi-lo tossindo lá dentro.
- Não! Pai! Pai! Pai!
Soquei o vidro e não adiantou.
Berrei com todo o ar que guardava nos pulmões:
- Mãe! Faz alguma coisa!!!
Ela andou até mim apressada e acariciou meu rosto parecendo preocupada:
- Filha, a porta está aberta, olhe.
- Não! As sombras! Eu vi! Eu vi! – Sacudi o corpo para me libertar dela, eu precisava salvar meu pai.
- Liza você pirou? O papai está bem!
Raquel falou atrás de minha mãe. Alguém me puxou para trás e eu me virei. Suspirei de alívio ao ver meu pai bem.
- Respira fundo filha, não aconteceu nada.
- Eu... eu... Não sei o que foi isso, pai. Tinha alguma coisa dentro do carro. Eu juro. Eu vi.
- Shhhh. Esquece. Vamos seguir para o hotel, você deve estar cansada, só isso.
Assenti com o rosto colado no peito dele e voltei a respirar. Foi impossível não reparar o olhar significativo que os dois trocaram, quando sentaram de novo no banco da frente. Roí as unhas nos quinze minutos seguintes até o hotel. Se antes eles suspeitavam de que havia algo errado comigo, agora eles tinham certeza. E eu mais ainda. Porque eu vi as sombras. O que quer que fosse aquilo, agora havia resolvido me torturar psicologicamente.
Se algo existe apenas na minha cabeça, quer dizer que não é real? Ou se torna ainda pior, porque apenas eu posso ver?
Chegamos a Carmel, uma pequena cidade dentro do Condado de Monterey. Famosa por sua praia, pelo clima romântico e pelo aquário Monterey Bay. Onde iríamos na manhã seguinte.
Deixamos as malas no quarto, depois de tomarmos banho e jantarmos, resolvi dar uma volta para espairecer a cabeça. A cidade era uma gracinha. Casas baixas lado a lado. Hotéis pequenos, muitas árvores e arbustos floridos por todos os lados. Andei livremente até um homem me entregar um panfleto de turismo com a imagem deslumbrante de uma árvore solitária, no topo de uma enorme pedra de frente para o mar:
“Venha conhecer a árvore mais fotografada do mundo! O Cipreste é uma árvore que sobrevive na rocha na Pebble Beach há quase 300 anos. É uma das atrações mais visitadas pelos turistas que viajam ao longo do litoral na 17-Mile Drive.
Famosa por sua resistência natural aos ventos do oceano pacífico, faz do seu isolamento nas rochas um cenário magnífico da natureza.”
Entrei em um táxi e informei o endereço ao motorista. Ele me disse que não era uma área muito visitada à noite, mas eu insisti. Eu tinha consciência do perigo, mas ultimamente ele aparecia a qualquer hora do dia, e em qualquer lugar. Sendo assim, qual seria a diferença?
*****
O homem misterioso
Ela entrou no táxi e eu a segui. Eu havia jurado manter a distância. Prometi que ficaria longe, que a faria esquecer de mim. Mas eu não podia.
Não enquanto aquelas sombras a seguissem.
Não enquanto eu não soubesse o que era aquilo.
Eu só tinha ciência da morte à espreita. Crepitando no ar. E tudo levava a ela. Porque ou para o que eu descobriria em breve.
E nesse meio tempo, me dedicaria a mantê-la viva. Era tudo o que eu podia fazer por enquanto.
***
Liza
Paguei o taxista e somente enquanto arrancava com o carro, o motorista avisou que não poderia me esperar.
Que ótimo! Terei que voltar a pé!
Esqueci rapidamente do transtorno com a linda visão a minha frente. Uma árvore gigante sobre a pedra. A lua crescente espalha suas nuances de azul pelas ondas do pacífico. O som do farfalhar das folhas e das ondas quebrando me preencheu de uma paz inexplicável. Eu adorava a natureza. Sempre gostei do conforto de ficar sozinha com um livro em lugares abertos. Parques, praças, sentada debaixo de árvores. E o cipreste solitário era simplesmente perfeito.
Andei até a beirada e abri os braços. Senti frio na barriga quando olhei para baixo. Uma voz masculina atrás de mim, fez eu me sobressaltar:
- Cuidado para não escorregar, menina.
Olhei por sobre os ombros e vi um homem tão novo quanto eu. Ele sorriu, e por alguma razão estranha, não gostei daquilo. Seus dentes brancos reluziam na pele morena. Foi como se a expressão dele dissesse que gostaria de me ver escorregar pedra abaixo.
Deixei a beirada e o olhei atenta. Ele me fitava como um animal faminto.
- Pensei que eu fosse o único a vir aqui pela noite.
- Eu já estava de saída.
- Quer uma carona? Você está no hotel Dolphin's, correto?
- Como... Como vo...
- Estou atrás de você há muito tempo. E agora eu vou te pegar, menina.
Recuei um passo e tropecei em uma pedra. O homem moreno chegou mais perto. Continuei a andar para trás, mas fui obrigada a parar. Mais um passo, e eu cairia no abismo. Olhei para baixo e quase desmaiei. A queda seria fatal. Imaginei meu corpo quicando na pedra, os ossos se partindo e depois eu caindo no oceano. Eu nunca mais seria encontrada. Meus pais ficariam desesperados. Segurei o tórax com as duas mãos e regulei a respiração. Minha garganta ardia. O medo sufocava a razão. Não havia saída. Atrás, o abismo me esperava. A frente, o homem moreno se aproximava. Ou eu me jogava, ou me entregava a ele. E eu não estava disposta a considerar nenhuma das duas opções. De repente o barulho do vento e do mar se tornaram assustadores. O pânico me fazia suar frio. Um toque gélido percorreu meu braço. Gritei pelo susto ao ver que o homem moreno passeava com seus dedos por meu rosto. Ele havia percorrido metros de distância em um segundo. Girei a cabeça sentindo a repugnância embrulhar o estômago. Os olhos dele, eram completamente negros. Ao fita-lo, me senti como se mergulhasse numa escuridão sem fim. Uma voz macabra invadiu meus pensamentos:
“Pule. Pule no abismo e será minha.”
E a ideia se tornou tentadora. Uma parte de mim gritava que era loucura. Dizia para correr dali. A outra, muito mais forte, me empurrava para a queda. Minhas pernas ganharam vida própria e eu fiquei de frente para o mar. Eu ia pular. Ia mergulhar no oceano. Fiquei na ponta dos pés, e tomei impulso. Contei mentalmente. Um. Dois. Três.
Mãos quentes forçaram meus ombros para baixo, e aquele sussurro indescritível chegou aos meus ouvidos, todos os meus poros se arrepiaram:
- Fique calma, estou aqui.
Um choque me atravessou e pareceu me libertar do transe. Cobri a boca ao ver quão perto havia chegado de me jogar e recuei. Aquela presença quente e embriagante estava bem perto. Eu sentia seu corpo atrás de mim. Inalei com força o perfume embriagante que só ele possuía.
O homem moreno segurou meu braço.
- Eu disse pra você pular!
- Me solta!
- Quando eu disser fuja, você corre. – Ouvi outra vez o sussurro confortante.
- Mas... mas... e você?
- Confie em mim.
Pensei que tudo ficaria bem, mas de súbito, o homem moreno puxou meu braço e me empurrou em direção ao abismo.
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Oláá amores! Espero que tenham gostado!
Deixem estrelinha e comentário, quero saber o que estão achando!
Não sei se todos viram, mas fiz uma enquete para saber o que vocês preferem em relação a quantidade de postagens por semana. Como domingo está ganhando, até semana que vem!
Beijossss
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