Capítulo 9
Toda aquela movimentação, todo aquele barulho. Tudo parecia muito distante. Abri meus olhos mas a visão ainda era turva e escura, enxergava quase tudo como um borrão. Era tudo branco e a única coisa que eu conseguia diferencia naquele show de luzes brancas e borrões foram as ondas do seu belo cabelo azulado que atraíam toda a minha atenção. Me sentia seguro e me perguntava se aquilo era o céu. Para minha decepção não era. Minha visão escureceu e eu apaguei novamente. Enquanto eu apagava, me perguntava o por quê de estarmos lá naquele dia, e se não tivéssemos ido, teria sido diferente.
"Ikki, você cresceu. Mas será que aprendeu alguma coisa realmente?" minha mãe dizia enquanto entrava no tatamê "Venha, me mostre o quanto você cresceu!" nos posicionamos para lutar.
Geralmente nossas lutas duravam menos que dez minutos, e eu sempre era o derrotado. O máximo que eu aguentei foram quatorze minutos e cinquenta e seis segundos. O cansaço se engrandecia com o passar do tempo nas lutas , oque me enfraquecia e não me deixava aguentar por muito mais tempo. Minha sensei, vulgo minha mãe, não tinha um padrão de batalha fácil de identificar. Acontece que ela se movia bem rápido, tanto os braços e as pernas, quanto os olhos, oque facilitava muito para ela praticamente "prever" os movimentos de seu adversário. Ela também regulava muito bem sua respiração, assim demora para cansar, oque me dava desvantagem, já que, eu cansava antes dela até mesmo diminuir o ritmo. Mas naquele dia, naquela maldito dia, foi diferente.
O apito do nosso timer dava início a mais uma luta. Nos encarávamos nos olhos e andávamos em circulo no tatamê até alguém dar o primeiro passo. Na maioria das vezes era ela que vinha para cima primeiro, porém, resolvi atacar antes. Avancei abaixado em zig-zag na sua direção, sempre encarando-a nos olhos. Ela deu um passo para trás mas desistiu na metade do caminho do seu passou, moveu a perna para a esquerda mas desistiu também, tentou avançar em diagonal pela direita, mas não conseguia avançar. Meus movimentos não lhe davam abertura, apenas trancavam mais ela, pude ver sua expressão irritada, moveu seu braço para trás para me acertar um sei-ken mas também parou. Colocou os braços na frente do corpo para se defender e então eu cheguei com uma mão na sua coxa, coloquei a mão no seu braço em que, por estar na defensiva, fazia um formato como de um anzol, encostei minhas costas na sua cintura e rodei ela por cima de mim, jogando-a para o outro lado do tatamê. Pude ouvir seu grunhido abafado pelo impacto, pulei com os dois pés na parede e girei no ar para acertar seu rosto, as coisas aqui nunca foram brindeira, ela já quase quebrou meu braço. Ela rolou para o lado para desviar e logo caí próximo a ela, a posição de queda era perfeita para rolar na sua direção enquanto ela rolava para trás e se posicionava em pé, oque me deu um espaço de tempo curto, mas ótimo, para usar o seiken com a mão esquerda na sua perna de apoio, diminuindo seus reflexos com o desiquilíbrio, e junto, diminuindo sua velocidade e movimentos pela dor na perna. Seu desiquilíbrio gerou uma abertura que ela quis compensar com um tetsui no meu pescoço ou qualquer área atrás da minha cabeça mas consegui bloquear com a mesma mão do seiken. Como ela já estava em queda e usou o braço direito para tentar me acertar, oque fez seu braço cruzar seu corpo, e eu ainda estava abaixado, pude utilizar o mesmo golpe do início para jogá-la para o outro lado, mas dessa vez na direção do canto da parede, ela não pôde se mover para trás, mas eu também não tinha uma parede para pegar impulso e usar o salto de dois pés para acertá-la, mesmo encurralada, é perigoso. Optei pelo Mawashi geri no biceps do seu braço esquerdo, ela se encolheu e ajeitou a base para bloquear, logo, conseguiu segurar meu pé e buscou o restante da minha perna. Senti meu pé encostar na parede atrás dela e usei de impulso para cima, ela segurou minha perna para que eu não fugisse, consegui por meu pé esquerdo no seu ombro e me impulsionei para cima dela trazendo meu braço de baixo para cima mirando seu queixo com o keito, ela desviou para o lado e, rapidamente usei o tettsui , ela abaixou a cabeça e eu passei minha perna, do seu ombro, por trás do seu pescoço e ficando posicionado em cima dela apoiado na parede. Já que ela segurava minha outra perna em baixo do seu braço, minha perna cruzava seu corpo. Apertei ela com as pernas e usei as costas, a cabeça e as mãos para nos impulsionar para frente, rolei na mesma direção por cima dela e puxei ela para rolar no chão. Eu ia segurá-la com minhas pernas mas isso finalizaria a luta, oque seria decepcionantemente sem graça, então eu a soltei e levantei ao rolar para longe. Encarei ela diretamente procurando seus olhos, e eu os encontrei antes que ela levantasse. Ela parou agachada e ficou me encarando. Eu não possuía aberturas, oque nos mantinha distantes. Se eu atacasse ela só poderia defender, mas se ela atacar eu poderia revidar. Foi exatamente oque aconteceu. Ela veio rapidamente sem defesa nenhuma, seu único ponto forte agora era o ataque certeiro. Uma grande sequência de ataques onde nenhum me acertava. Desviava de cada ataque com classe e sem preocupações, não me sentia cansado e podia prever seus ataques, encontrei um padrão e busquei a maior agilidade.
Ela queria me acertar um chute disfarçado com um soco. Um ataque simples mas efetivo, dependendo do seu alvo. Se ataca inicialmente com um chute, mas sem acertar o alvo, com um salto roda entorno do próprio corpo deixando um punho amostra, como se o próximo ataque viesse dali, distraindo o adversário e colocando sua atenção no alto, na direção da sua mão, e com a perna mais próxima acerta o alvo rapidamente com um chute parecido com o Fly Slide Kick ou o Rotate Kick. A atenção do alvo no seu punho impede que ele veja abaixo o chute, é como uma pequena ponta de um enorme ice-berg. Mas como eu disse, depende muito de quem ou oque é seu alvo, o erro da minha mãe foi querer usar um golpe tão sujo no seu único aprendiz que sempre observou seus movimentos. Peguei sua perna antes de me alcançar, segurei no tornozelo e na coxa, rodei ela e acertei contra o chão e por fim, o mata-leão que imobilizava seu braço e seu pescoço, o aperta era firme e logo ela parou de resistir, pude sentir sua mão dando leves toques no meu ombro e me acariciando. Eu venci. E me arrependo disso.
"Você me venceu, parabéns!" ela falou se sentando no tatamê. Eu ajudei-a a levantar-se e ela me abraçou "Meu bebê venceu!" era como se ganhasse a super copa de karatê "Sabe, tem uma panificadora pelo pelo lado do centro, lembra que eu comentei com você sobre o chocolate-quente dele?" ela falava com brilho nos olhos enquanto segurava meu rosto, apenas confirmei com a cabeça "Que tal aproveitarmos um pouco da neve e tomar esse chocolate hoje mesmo?" eu sorri e abracei ela "Vá tomar um banho, logo também vou. Então podemos ir." beijei seu rosto e corri para meu quarto, escolhi a melhor roupe e fui tomar banho. Enquanto penteava meu cabelo pude ouvi-la dizer lá da sala "Ikki meu filho. Vamos ou desistiu?" e assim se passou aquele dia, o dia que deveria ser o mais feliz da minha vida, se tornou o mais doloroso, principalmente por saber que era culpa minha.
Senti meus olhos lutarem para se abrir, o barulho como um ar condicionado ligado e os 'bipis' de alguma máquina eram tudo que eu conseguia entender ali, tudo se misturava com o completo silêncio e conforto. Abri meus olhos e não havia nenhuma luz acessa, a única iluminação vinha da janela e passava pela fina cortina de ceda branca, mais uma vez, tudo era exageradamente branco. Sem movimentação alguma ao meu redor. Senti um calor acompanhado de uma pressão leve e macia vindo da minha mão direita. Olhei para o outro lado e vi alguns canudos de borracha, aparentemente, que levava sangue O- para meu braço, olhei na direção da máquina de 'bipis' e descobri um medidor cardíaco ligado ao meu polegar da mão esquerda e bem vagarosamente comecei a me tocar que estava a salvo em um hospital. Segui meu olhar na direção do calor da minha mão direita e, novamente eu a encontrei, aqueles longos cabelos azulados deitados ao lado de mim na minha maca. Sua mão segurava firmemente a minha, seus olhos inchados e úmidos e seu rosto vermelho e marcado indicavam que ela chorava muito. Com um pouco de dificuldade soltei sua mão sem acordá-la, minha mão já tinha a marca das suas. Observei minha mão e guiei mais abaixo no meu pulso com várias e longas costuras, acho que no mínimo uns sete pontos, olhei para meu outro braço, situação semelhante ao direito. Cerrei meus punhos e deitei minha cabeça. Olhe para Nakimi e comecei a acariciar sua cabeça. Um tempo refletindo olhando para o teto e olhei novamente para ela. O quarto estava um pouco frio e ela estava arrepiada, peguei meu lençol e cobri ela. Pude vê-la sussurrar algo e graças ao silêncio do quarto pude ouvir bem claramente meu nome. Me sentei na cama e sem pensar duas vezes e retirei o aparelho do meu dedo cessando alqueles 'bipis' irritantes, não imaginei que o aquele barulho pudesse ser tão ensurdecedor para alguém. Aconteceu que o barulho da máquina não parou ele apenas ficou continuo como se meu coração tivesse parado.
"Ikkik, não!" ouvi ela gritar atrás de mim, ouvi o arrastar da poltrona que estava sentada, olhei para trás e seus olhos já derramavam lágrimas sem parar. Ela travou um pouco e começou a levar seu olhar até mim e procurou meus olho "I-Ikki-kun..." ela gaguejou baixo.
"Ohayou" falei acenando para ela como se não estivesse em um hospital e nem tivesse passado perto da morte. Mas afinal, não era a primeira vez.
"Ikki!" ela gritou pulando no meu pescoço com um abraço apertado me fazendo deitar novamente. Gemi de dor um pouco mas ignorei, seu abraço me trazia um conforto maior que as tribulações que nos rodeiam. Estava tão focado nela que nem me toquei no espaço tempo de trinta segundos, nem no barulho irritante da máquina.
"Ouvimos um grito, oquê houve?" os médicos entraram no quarto. Nakimi chorava abraçada comigo e com o rosto colado no meu "Estamos perdendo ele?!" os médicos se apuraram em entrar no quarto.
"Eu to bem! Não quebra o momento, poxa." falei acenando para os médicos que pararam exatamente onde estavam "Desliguem essa máquina e nos deixem a sós um momento!" falei acariciando os cabelos da garota que me apertava firmemente.
"Senhor Hayato, creio que seja necessário uma bateria de exames-" ele começou a falar.
"Faça isso outra hora, estou ocupado!" falei prestes a gritar com eles mas sempre me segurando. O médico apenas concordou e em cinco minutos desligaram a máquina e tiraram a agulha da bolsa de sangue da minha mão.
"Tem uma hora!" acenei com o polegar e eles saíram.
Passamos uns dois minutos em silêncio, apenas esperando ela se recompor do choro e soluços. Sua cabeça deitada no meu peito, meu braço te segurando por baixo de você, seus braços agarrados a mim e sua expressão de desespero sumindo e seu alívio se restaurando subsequentemente. Sequei sua lágrimas e acariciei seu rosto.
"Por que choras?" eu perguntei como se não soubesse a resposta.
"Eu fiquei com tanto medo. Tanto, mais tanto!" ela falou se encolhendo no meu peito.
"Agora já passou, se acalma, para de tremer e engole o choro!" tentei acalma-la. Pude vê-la engolindo a seco, como se engolisse o choro literalmente.
"Não me abandone, por favor!" eu realmente não entendia todo esse apego, mas era bom.
"Você quem sabe, depois não reclama!" falei olhando para o outro lado "Nakimi" pronunciei com uma pausa "Por quê você tinha aquelas notícias?" perguntei sem olhar para ela.
"Eu ainda não descobri isso. Mas eu juro para você Ikki, não fui eu!" ela falava pronta para chorar de novo "Eu vou descobrir quem foi e ele ou ela vai pagar caro por te causar isso, mas acredita em mim quando digo que não fui eu!" coloquei o dedo na sua testa fazendo era parar.
"Eu já imagino quem tenha sido, os valentões não teriam medo de você ali se não tivessem que provar algo contra você. Mas se eles tivessem falado teria sido menos significante, saberia na hora que isso é coisa deles!" falava olhando para o teto e respirei fundo "Não me abandone aoi shoujo (garota azul ou azulada)!" olhei para ela e beijei sua testa.
"Hai!" ela se pronunciou sussurrando e me segurando mais firme.
Passamos aproximadamente uma hora conversando baixo, mas a maior parte do tempo nos mantínhamos em silêncio. Contei para ela a história sobre minha mãe e minha vida toda. Falei tudo para ela, tudo mesmo. Desabafei tudo com ela e comecei a me sentir mais leve com tudo aquilo. Mal terminamos de conversar e me chamaram para fazer uma ressonância, aparentemente estava tudo certo comigo. Mas pelo que o médico disse já era sábado mas eu to apagado desde quarta ou quinta-feira, um mini-coma podemos dizer. Eu ia descansar e logo no domingo receberia alta. No meu quarto até Hiromi e o Pai de Nakimi estavam lá querendo me 'vigiar' e se garantir do meu bem estar. Ainda não entendia o porquê, mas Nakimi parecia bem desconfortável quando Hiromi estava perto de mim, mas não falei nada, apenas seguimos conversando.
"Ikki" o pai da Nakimi me chamou e eu apenas olhei para ele "Tem uma pessoa que veio vê-lo, mas pelo que você disse acho que não seria boa ideia. Apenas se controle!" ele abriu a porta e o homem de estatura média, cabelos pouco grisalhos e elegante.
"É bom vê-lo pela primeira vez, meu sangue!" o homem se pronunciou e então eu lembrei dele pelas fotos que minha mãe mostrava.
"Chichi-san?" falei pasmo e pausadamente. Por quê meu pai estava ali?
Continua...
Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top