Capítulo 8

 Foi naquela manhã que eu acordei, que segui o mesmo caminho mas, sem ela para iluminar minha manhã. Bem, ela já deve ter se enjoado de mim, algo que eu já esperava. Mas por quê dói tanto? Por quê isso me mágoa mesmo eu não sentindo diferença do que era antes dela sendo que eu já era acostumado com a solidão a mais de um ano? Uma semana que eu a conheço e ela me marcou demais. Mas por quê? Oquê ela tem de diferente das outras pessoas que foram embora sem mais nem menos? 

  Na escola eu avistei ela com as amigas dela e agora com a Akemi em companhia. Todas pareciam bem contente até eu passar por perto. As aulas seguiram normalmente como eram antes. Era como se não me conhecesse, mas mesmo assim minha atenção sem voltava apenas para ela.

"Hayato" alguém me chamou mas a voz era distante, minha atenção se voltava apenas para ela "Hayato Ikki!" a voz foi severa e despertou minha atenção, era a professora.

"H-Hai sensei" para muitos ali era a primeira vez que me viam falar algo na sala, eu geralmente não respondo ela e nem nenhum outro professor. 

"Está conosco mocinho?" ela falou de maneira irônica, como se dissesse que minha mente estava em outro mundo, e estava mesmo. 

"Creio que sim, sensei!" pronunciei me ajeitando para virar para a frente me folgando na parede.

"Certo, pode me dizer oque dá energia às células?" inclinei a cabeça para o lado e demorei alguns segundos para lembrar, até que veio na minha mente o dia que a Nakimi me disse sobre isso.

"Mitocôndria?" falei incerto e olhei para Nakimi rapidamente, pude notar um sorriso positivo no rosto dela e ela acenou com a cabeça confirmando minha resposta, sorri para ela e voltei a olhar para a professora.

"Muito bem, mas esse não é o conteúdo, mantenha o foco no quadro, depois você namora visualmente a senhorita Showa!" ela falou me fazendo corar como um tomate e despertou risos nos nossos colegas. olhei para Nakimi e ela estava vermelha igual a mim, ela parecia bem envergonhada também. Foi então que voltei meu olhar para o quadro e percebi duas coisas. Uma, estava sem fone de ouvido novamente. Duas, o conteúdo era 'Resposta dos organismos a sinais externos', parecia interessante, resolvi prestar mais atenção nas explicações e anotar mais detalhadamente. Me senti sendo observado por ela, que pelo que eu pude ver, me observava com orgulho. Me senti alegre mas não demonstrei.

   Durante o intervalo eu vi Shoki entrar na nossa sala com seus amigos mas saíram logo em seguida, eles pareciam procurar algo, ou talvez alguém. Até que me acharam e vieram na minha direção, eu nem me movi.

"Ei, baka!" ouvi uma voz feminina ao meu lado. O grupo de valentões parou e deu meia volta indo embora. Salvo por ela de novo "Ia ficar parado aí para tomar uma surra?" ah aquela voz, como eu amava aquela voz.

"Quase isso!" falei olhando para ela e depois voltando a atenção para o meu Smartphone com a tela desligada e um música tocando. Ela se sentou ao meu lado "Genki?" (Tudo bem?) perguntei sem olhar para ela.

"Bem melhor agora que está seguro!" ela falou abraçando os próprios joelhos se colocando em posição fetal. Ela ia me dizer algo mas o sinal tocou e eu levantei saindo dali "Coloca minha bolsa na mesa ao seu lado!" ela gritou e eu apenas acenei com o polegar em positivo.

Entrei na sala antes de todos. A bolsa da Nakimi estava aberta mas nem me toquei. Quando a peguei algumas folhas caíram. Soltei um sussurro, algo como "Merda!", coloquei a bolsa de volta na mesa e me abaixei para pegar as folhas. Foi quando vi o conteúdo que meu coração parou por alguns segundos.

"Mulher assassinada na frente do filho!" entre outros títulos nas capas dos jornais. Eram as notícias que falavam da minha mãe. Senti minha respiração pesar e meu corpo tremer. As palavras "Assassinada" e "Órfão" pareciam se destacar no meio das outras milhares de caracteres naquelas folhas. Era como se flashes de memórias daquele dia surgissem  na minha mente e tornavam tudo atual. Lembrei do sangue dela nos meus braços, na minha roupa e alastrando-se pela neve na calçada. As memórias pareciam tão recentes, como se tivessem acontecendo naquele momento, então eu surtei, me ajoelhei, soltei um grito alto e bati no chão mantendo a cabeça baixa fazendo todos pararem na porta.

"Ikki?" Nakimi apareceu  e correu até mim me abraçando "Oque houve?" todas as folhas estavam sob mim.

"Sai daqui. Sai!" eu gritei entre soluços e lágrimas.

"I-Ikki, c-calma!" eu afastei ela de mim e comecei a correr para fora da sala, pulei o portão e corri da escola. A neve começou a cair naquela manhã. Mantive meu folego e corri a toda velocidade até em casa. A chuva começou a cair quando estava perto. 

  Pulei o portão também para não perder adrenalina. A chave havia ficado na bolsa, mas com a desatenção de mais cedo deixei a janela da cozinha aberta e então eu pulei também. Oque me fez lembrar que deveria ter uma cópia. Corri para o meu quarto e encarei uma foto dela ao longe no meu criado-mudo. Caí de joelhos na frente da foto peguei ela e abracei como se tentasse abraçar minha mãe, mas sabia que não era a mesma coisa. Os flashes de memória começaram a voltar e eu simplesmente me deixei ser levado pela agoniante memória, enquanto apenas me deitava bruscamente no chão do meu quarto e me encolhia apertando o porta retrato contra meu peito.

"Ikki, meu filho!" minha mãe me chamou da sala "Vamos ou desistiu?" ela brincou lá de baixo. Pude ouvir o barulho da porta se abrindo com um rangido. Desci as escadas correndo e até deslizei pelo corrimão na última dezena de degraus. 

"Desistir de sair com a mulher mais bela e mais importante da minha vida? Nunca!" falei com um sorriso no rosto enquanto me aproximava dela, isso fez ela sorrir. Minha mãe ajeitou meu cabelo e beijou minha testa. Pude sentir um amor imenso fluir de seus lábios "Aishiteru, okka-chan!" sussurrei sorridente.

"Aishiteru, Ikki-chan!" ela falou sorrindo com a mão no meu rosto "Vamos então?" perguntou apontando para fora de casa, com uma mão na maçaneta. Passei saltitando para o lado de fora. Ela fechou a porta que rangeu novamente "Me lembre de quando voltarmos eu passar óleo nas 'juntas' da porta!" disse enquanto trancava a mesma. Passamos pelo portão, que eu fiz questão de trancá-lo, já que era complicado "Temos que arrumar isso também!" ela falou sem perder o sorriso maravilho no rosto, um sorriso sem igual. Ela me deu a mão e fomos andando na neve até um ponto de ônibus próximo para irmos para o centro e lá irmos à uma grande padaria que tem lá, mamãe dizia que tinha o melhor chocolate-quente da cidade. 

              Entramos e logo encontrei uma mesa próxima de um grande aquário e com vista para um grande aparelho de televisão, tudo era grande naquele lugar, até mesmo os doces e salgados. Puxei uma cadeira para minha mãe e me sentei do outro lado. Logo a garçonete se aproximou com os cardápios, eu não conseguia tirar os olhos dela, minha mãe deu uma pequena risada e chamou ela novamente.

"Já decidiram oque vão querer?" a garçonete perguntou radiando felicidade.

"Dois chocolates-quente com marshmallow e chantili com raspas de chocolate em cima, depois pedimos algo para comer!" minha mãe não perdia a felicidade no rosto.

"Mais alguma coisa? ela perguntou educadamente. Sua voz era melodiosa e sua expressão era incrivelmente contente. Minha mãe olhou para mim, olhou para ela e novamente  sorrindo ainda mais.

"Meu filho gostaria do seu número ou alguma rede social sua para vocês conversarem!" a mulher corou um pouco e rio baixo, tão fofa. Ela tinha em torno de dezessete anos, e eu todo inocente com meus quatorze.

"O-Okka-chan!" repreendi ela e senti meu rosto avermelhar como tomate, ela rio.

"Ora meu filho, tenha atitude. Mulheres gostam disso!" 

"Sua mãe tem razão!" ela falou sem tirar o sorriso envergonhado do rosto. Ela tirou nossa nota e pegou uma em branco para escrever no verso e me entregou "Aí está!" ela sorrio um pouco mais vermelha.

"A-Arigatou, eu acho!" falei olhando o papel com seu número e seu nome, Aimi Sayuri. Jamais esqueceria seu rosto nem seu nome.

"Iie" ela saiu para levar nosso pedido ao caixa. Não vimos ela tirar aquele sorriso do rosto. Ela parecia estar nas nuvens.

"Adiciona o número dela. Mas manda mensagem em casa. Agora vai dar atenção para mim, que sou mais importante!" ela ergue o queixo rindo comigo.

"Concordo!" rimos mais um pouco e eu guardei o número dela no bolso esperando para chamá-la em casa, que erro terrível. Passamos aquela tarde no centro. Comemos bastante e andamos pela neve. Atiramos bolas de neve um no outro e fizemos anjos na neve. Tudo juntos e sorrindo, até mesmo na hora de irmos embora. 

"Ikki, está perto de escurecer, vamos embora?" ela me dizia sentada na neve "Aí você pode mandar mensagem para aquela garçonete, que tal? Ainda está com o número dela aí?" ela me perguntou.

"Claro, está aqui-" foi quando eu gelei, havia perdido no número dela "Não está mais aqui!" falei com o pavor nos olhos, que vacilo.

"Calma, vamos procurá-lo!" o problema era a neve branca e o papel também. Passamos quase quarenta minutos procurando e escureceu mais e não encontramos.

"Vamos voltar lá, vou pedir de novo" minha mãe me olhou torto "Ta bom, eu vou pedir dessa vez!" ela rio e fez um sinal de concordância com a cabeça e me puxou em direção a padaria novamente. Não imaginava o quanto me arrependeria por ter sido tão irresponsável.


                Chegamos lá, tive a coragem de explicar a situação à Aimi e consegui seu número novamente, mas dessa vez já adicionei diretamente no meu celular. Saímos da padaria e já estava tarde. Fomos em direção ao ponto de ônibus mais próximo para irmos à estação para voltarmos em casa. Foi quando ele apareceu saindo de um beco ao lado.

"Ei" uma voz masculina surgiu atrás de nós, parecia tão gentil "Vocês são a família de Noboru, né?" Noboru era o nome do meu pai, até onde eu sabia, ele era policial, corrupto mas trabalhava bem. Prendeu diversos criminosos, mas foi bem filho da puta com alguns, oque tornava ele alvo de quem era solto.

"Somos sim, senhor. Por quê?" me arrependo dessas palavras até hoje.

"Aquele filho da puta matou meu irmão e me mandou para dezesseis anos de cadeia, aquilo é um inferno!" o cara puxou uma Rossi 272 Cal da cintura e mirou em nós, eu me assustei e fiquei em guarda rapidamente. Minha mãe se colocou na minha frente e começou andar para trás "Eu quero o garoto, saia da minha frente!" ele se aproximou.

"Okka-chan..." olhava para ela sem entender do porquê não lutar. Ela se virou para mim.

"Ikki, corra!" falou me empurrando e se virando para lutar, foi oque achei. Não corri muito, apenas fiquei ali ao lado escondido. Ouvi ela dizer a ele sobre onde meu pai estava, e então entendi o motivo de não lutar. Ele voltaria de qualquer jeito, até mesmo pior.

"Okay, você vai servir!" aquelas palavras aumentaram o frio na minha espinha. Ouvi o grito de desespero e clemência da minha mãe e logo em seguida o barulho do disparo.

Ela caiu a poucos metros de mim com o rosto na minha direção.  Pude ver seus lábios se mexerem para mim, mandando que eu corresse, mas eu estava paralisado com aquilo. O homem deu alguns passos para frente e guardou a arma. Ele me encarou mortalmente e acendeu um cigarro e começou a andar na direção oposta.

"Okka-chan!" eu gritei correndo em sua direção. O sangue escorria do seu estômago.  Tentei estancar a hemorragia mas sem sucesso. Eu gritava por ela mas sem reação. Vi que ainda respirava. Ela passou a mão no meu rosto juntando as últimas forças que restavam em seu corpo.

"Ikki..." segurei sua mão e me aproximei de seu rosto "Eu te amo, meu filho!" ela falou beijando meu rosto. Sua mão soltou a minha e pude ouvir o último suspiro dela. As lágrimas se tornaram imparáveis. Meu choro era abafado quando pressionava meu rosto contra seu corpo. Apenas me perguntava o por quê. Abraçava seu corpo. O sangue corria pela neve e manchava meu casaco. As pessoas começaram a se amontoar e tentavam me tirar de cima dela, mas não conseguiam.

   Comecei a sentir uma dor no meu peito, mas não era como a dor daquele dia, a dor do buraco que ela deixou quando se foi. Senti algo molhado no meu peito. Foi quando despertei. Eu havia apertado tanto o porta retrato contra meu peito que o vidro quebrou e me furou. Eu não sentia dor naquele corte, por mais que sangrasse, não doía tanto.  Foi quando eu decidi, nada mais me machucaria fora desse mundo. Enchi a banheira de água fria, peguei aqueles cacos de vidro e comecei a automutilação. Já fazia isso a tanto tempo que nem me impressionava. Mas dessa vez ia ser definitivo, eu ia morrer, eu queria isso, ou não. É uma dúvida, porém, agora é tarde.
Entrei na banheira e submergi. Ouvi um barulho dentro da casa, mas a visão já se escurecia. Fechei meus olhos  e deixei-me ir. Apenas me  entreguei a escuridão.

Continua...

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