Capítulo 7

-Por quê? Por quê me sinto assim?- pensei comigo mesmo. Era como um misto de sentimentos. Como se eu quisesse desafiá-lo, amedrontá-  -lo com o olhar mas, também quisesse impressioná-lo com educação e respeito. Olhei para Nakimi e foi como chá de camomila com maracujá. Me acalmou completamente. Olhei novamente para o pai dela e ajeitei  a coluna e ergui a cabeça encarando-o nos olhos.

"Podemos começar então, Ikki-kun?" ele peguntou com um tom frio, principalmente ao citar meu nome.

"Hai, sou desu!" (isso mesmo) falei firmemente sem gaguejar e sem perder a postura. Da mesma maneira que consegui o primeiro emprego. Basta se concentrar e comparar a uma entrevista normal, até porque, não deixava de ser. Ele puxou um amontoado de folhas e uma caneta preta de uma xícara.

"Qual seu nome completo?" ele perguntou sem tirar os olhos da folha.

"Ikki Hayato, da família Hayato!" procurei ser o mais formal possível.

"Idade?" me olhou de canto e olhou novamente para a folha. 

"Juu roku (dezesseis)!" falei direto e firme.

"Trabalha?" ele permaneceu com os olhos na folha.

"Hai. Trabalho, senhor! Mas pretendo pedir demissão se me aceitar aqui." ele largou a folha e a caneta e pegou o telefone me estendendo o mesmo

 "Peça demissão agora!" seu tom autoritário. Peguei o telefone e liguei.

"Senhor, é o Ikki-" eu nem tive tempo de falar e ele começou a gritar ao telefone "Eu me demito!" falei firme cortando o sermão dele, desliguei o telefone e entreguei a ele novamente.

"Seu código escolar para ver suas notas!" ele mudou para o computador.

"220720031502008" falei vagarosamente enquanto ele digitava e imprimia minhas notas.

"Oque acha dessas notas, Ikki?" ele olhava para o boletim e para mim. Seu olhar sério não demonstrava indignação nem desprezo.

"Boas, exceto por biologia!" aleguei ainda sem me mexer.

"Nakimi, biologia é sua área. Ensine o garoto em tudo que ele precisar!" ele disse apontando e olhando diretamente para ela que sorriu e se curvou confirmando animadamente. Ele começou a carimbar as folhas e grampeou meu boletim junto "Assine nos locais marcados com um asterisco!" ele me entregou a folha e eu li em dois minutos e assinei oque pedia "Te vejo segunda-feira. Está contratado!"

"Arigatou Gozaimasu!" me curvei de pé e me retirei com Nakimi.

 Saímos da sala dele e nos dirigimos ao salão de jogos. Lá ela gritou, pulou e até bateu palminhas. Me abraçou e me encheu de beijos na bochecha. Eu tentei afastar ela, mas eu estava gostando daquilo. Rimos bastante, ela me parabenizou e estourou uma champaing em mim. Bebemos um pouco enquanto jogávamos sinuca e até em máquinas de fliperama com jogos como Street Fight, PacMan e dezenas de outros clássicos. A noite acabou depois das três da manhã, com ambos abraçados em cima de um Puff gigante do professor Koro (personagem do anime Ansatsu Kyoushitsu) dormindo exaustos rodeados por garrafas de champaing e duas taças.


"Bom  dia bela adormecida." uma voz suave me despertava de um sono tranquilo. Era ela de novo. Abri meus olhos bem devagar, aos poucos revelando um rosto lindo com um sorriso maravilhoso. Me sentei e fiquei encarando ela "Dormiu bem?" ela preguntou e eu passei minha mão em seu rosto colocando uma mecha de cabelo para trás.

"Como nunca!" falei evitando o sorriso que lutava para sair. permaneci olhando para ela admirando seu sorriso.

"Oque foi?" ela falou levemente corada mas confusa.

"Seu sorriso..." falei segurando seu queixo com o indicador e o polegar e fiz uma pausa "...é cheio de dentes, hm!" falei me  levantando.

"Ikki baka!" ela me derrubou e eu apenas deixei meu corpo desabar sobre aquele puff fofo e confortável "Baka! Baka! Baka! Ikki, Baka!" ela repetia isso me puxando pelo colarinho da camisa mas com um rosto totalmente vermelho.

"Você fica linda irritada assim, mesmo que pela manhã quando acabou de acordar!" falei fazendo ela parar de me puxar. Nossos rostos estavam tão próximos que pude sentir sua respiração quente e pesada. Então, quase que do nada, assim sem mais nem menos, ela me empurrou.

"Baka. Ikki Baka!" ela falou mais calmamente e se virou após fechar a cara e cruzar os braços.

"TPM, quase esqueci!" olhei um pouco para o teto, olhei para ela por alguns segundos e abracei ela por trás.

"I-Ikki..." ela gaguejou um pouco e eu só murmurei algo como "Hmm" e ela prosseguiu "Você me acha chata, insuportável ou algo assim?" ela falou choramingando.

"Se eu achasse não estaria aqui, que pergunta besta!" falei encostando a testa na sua nuca "Ei, Nakimi." chamei por ela.

"O-Oi" ela gaguejou baixinho.

"Acho que eu te amo..." sussurrei abafado no seu pescoço fazendo-a se arrepiar.

"Desculpa, oque? Não ouvi direito." ela falou se reacomodando do arrepio.

"Daisuke" eu falei mais baixo ainda mas, meu coração gritava para o mundo todo.

"Ainda não entendi!" ela estava quase dormindo novamente. Puxei o ar bem fundo para falar mais alto, como se criasse coragem.

"Que horas são porra? Temos aula!" falei alto perto do seu ouvido e ela se espremeu um pouco. Em meio à circunstancias eu preferi guardar qualquer coisa para mim, até porque uma hora passa. Ela pegou  o celular e ligou a tela para mim. O brilho do meu celular fazia meus olhos recém abertos se espremerem um pouco para se acostumar com a luz.

"Gozen roku ji han desu" (seis e meia da manhã) me espreguicei e me sentei no puff e uma empregada se aproximou.

"Err..." ela parecia um pouco constrangida comigo ali "Senhora, café está na mesa!" ela me olhava e olhava Nakimi.

"Ah, sim!" ela coçou o rosto e se sentou "Arigatou, Keiko-san! Ikki-kun" ela fez uma pausa e me encarou por alguns segundos e eu encarei seus olhos "Vamos comer!" ela sorriu e se levantou, veio até mim e me puxou. Fomos correndo até a sala, paramos na porta e fomos andando até a mesa. Puxei uma cadeira para Nakimi se sentar "Arigatou, cavalheiro!" ela sorrio e se sentou. Não sei ao certo mas, aparentemente, aquilo agradou o pai dela. Então Me sentei ao seu lado.

"Vocês tomaram banho ontem?" senti um leve tom ameaçador dele e me constrangi um pouco, notei que Nakimi teve a mesma reação.

"I-Iie, chichi-san!" (não, pai) ela gaguejou um pouco para dizer. Ele me olhou.

"Se apressem. Comam, tomem banho e vão!" ele olhou para Nakimi que já havia se servido e logo me serviu também. Eu não entendi muito bem o porque ela me serviu mas, pelo que parece tem  a ver com a cultura da família que a  mulher da casa sirva os convidados. Apelas agradeci e comi, com o pouco de elegância que eu tinha, mas rápido. Nakimi acabou e subiu tomar banho, logo eu fiz o mesmo. Um banho rápido e uma retirada apressada. Isso que resumi nós dois saindo dali as sete da manhã.

            O caminho que pegamos nos fez passar pela frente da minha casa em cinco minutos de trilha, parkour e correr de cachorros na rua. Incrível e inacreditável era Nakimi que não cansa e nem bagunça o cabelo azulado dela. Entrei em casa e troquei os livros pois a matéria de hoje era diferente de ontem. Entrei e saí em dois minutos.  A partir dali fomos calmamente para a escola. 

"O-Ohayou, Showa-san!" uma garota de cabelos ondulados e castanhos luminosos se aproximou de nós dentro da sala de aula. Ela me olhou e quando percebeu que eu a olhava ela desviou o olhar aparentemente envergonhada.

"Ohayou!" Nakimi falou sorrindo, ela parecia bem animada. Acho que é uma das amigas da Nakimi  "O-namae wa?"(Como se chama?)  Nakimi se dirigiu a ela ainda com um sorriso. Elas não se conhecem? 

"W-Watashi wa Hiromi Akemi desu, d-douzou yoroshiku!" ela falou se curvando. Quanta cordialidade.

"Douzou yoroshiku, Hiromi-san!" Nakimi sorriu ainda mais. Era como se conhecer novas pessoas deixasse ela contente.

"Pode me chamar de Akemi, por favor." a garota era simpática e envergonhada, mas era descontraída com a Nakimi.

"Me chame de Nakimi então!" ela sorriu e estendeu a mão e a garota a cumprimentou igualmente. Não sei ao certo mas a cada fala das duas parecia que deixava Nakimi mais contente, e isso me alegrava também "Oque posso fazer por você?" ela mantinha o contato visual alegre.

"B-Bem..." ela gaguejou e fez uma pausa olhando para mim e corando ainda mais e logo olhando para Nakimi "É particular!" Nakimi se levantou e virou para mim.

"Só um segundo, Ikki-kun!" ela deu um sorriso para mim e foi com a garota para o outro lado da sala. Coloquei meus fones e deitei meu rosto dentro dos meus braços. Olhei para Nakimi e seu sorriso já não era tão contente mas ainda aparente. Logo elas vieram até mim novamente. "Ikki..." eu olhei para ela "Se apresente, mal educado!" me coloquei em pé e estendi a mão para a garota e antes que eu pudesse dizer algo a garota me interrompeu.

"Hayato Ikki, o artista solitário!" ela falou apertando minha mão "Eu sei muito sobre você. Desculpe por isso. Eu sou estranha e costumo pesquisar sobre as pessoas. Sumimasen!" ela não soltou minha mão fácil. Sua mão suava e ela tinha dificuldades de falar calmo e de olhar para meu rosto sem desviar o olhar e parecer um tomate de tão vermelha.

"Só Ikki!" soltei sua mão "De onde você tirou essa de artista?" ela procurou algo no bolso e tirou o celular do dele me mostrando fotos de desenhos e pinturas que fiz para a escola durante o último ano. Todos trabalhos feitos em equipe mas que eu realizei sozinho.

"Eu observei você a muito tempo mas nunca tive coragem para falar com você!" ela falou colocando a bolsa no chão e procurando alguma coisa novamente. Ela tirou uma grande pasta  "E-Eu f-fiz todos para v-você!" ela se curvou estendendo para mim. Olhei para Nakimi que virou o rosto bufando e colocou os fones de ouvido "Aceite, por favor!" eu peguei a pasta.

"Eu aceito sim, arigatou, eu acho!" tudo aquilo me parecia estranho, mas senti que deveria apenas deixar acontecer. Guardei na bolsa a pasta.

 "Fui eu quem denominei como se fosse Artista solitário pois sempre te vi sozinho, mas quando te vi com a  Nakimi-san imaginei que fosse mais fácil se eu falasse com ela antes. Desculpa eu sou muito medrosa!" ela falou um pouco rápida e sem olhar para mim. Coloquei a mão em sua cabeça.

"Cabelo bonito!" ela virou um pimentão de tão vermelha. O sinal tocou e dois segundos depois ela se apavorou porque precisava ir para a sala dela. Ela agradeceu e pediu desculpas umas mil vezes e eu ainda não sabia como reagir aquilo.

"Parece que você tem uma admiradora, hum!" Nakimi se levantou emburrada.

"Nakimi-san, está com ciúmes?" perguntei de forma séria já que não sei brincar com essas coisas, principalmente se envolver algum sentimento.

"Ikki..." ela se levantou e me olhou séria nos olhos "Baka!" ela falou e foi para seu lugar, oque não era de costume. Acho que nunca me chamaram tanto de idiota em um único dia. Me sentei e deixei a aula começar. A aula se passou e Nakimi não conversava direito comigo. Se mantinha calada e com poucas palavras. Principalmente quando eu alegava que ela estava assim desde a conversa com a Akemi. Perguntei se ela queria me dizer oque houve mas ela apenas respondi com "Nada" ou "Hm" mas eu sabia que tinha alguma coisa, as vezes até me chamava de idiota gratuitamente. Aquilo começou a me chatear, mas eu já esperava que algo nos "mudasse" um com o outro, apesar de não termos nada demais, só uma amizade que, como qualquer outra relação, não seria muito longa. Até mesmo seu olhar sorridente para Akemi se tornou algo um tanto raivoso. A aula passou e logo fomos para casa. Nada demais aconteceu, nada mesmo. nem mesmo Nakimi falar comigo. Apenas um boa noite e se foi embora. Fui pegar minha demissão com o senhor Yu. Fui para casa novamente e meu telefone vibrou. Havia uma mensagem de um número desconhecido mas que pela foto eu já sabia quem era.

"Como você conseguiu meu número?" pensei comigo mesmo abrindo as mensagens.

Continua...

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