Capítulo 2

  Meus sonhos foram silênciosos, escuros e sem lembranças. Abri meus olhos lentamente, me sentei no chão e cocei meus olhos inchados do choro da minha noite anterior. Observei os pedaços do boneco ao meu redor, procurei uma parede para que eu pudesse me apoiar e ficar de pé.
Fiquei ali, encostado naquela parede por alguns minutos, apenas observando o ambiente até meu cérebro acordar e meus olhos pararem de arder.
Subi lentamente as escadas que davam diretamente na cozinha onde eu poderia ver as horas em um velho relógio de parede, que insistia em funcionar.

"Dez horas e cinquenta e oito minutos?! Bom, eu acho que perdi a hora da aula!" subi para meu quarto e desliguei o despertador que tocava já fazia algumas horas. "Já que tenho tempo, vou aproveitar para arrumar o guarda-roupa e ir ao mercado!" fui tomar um banho morno e rápido.
  Quando saí do banho, abri as cortinas e deixei que o sol iluminasse meu quarto. Tanta iluminação era desconfortávelm Desci para a cozinha e fui fazer comida.
O típico espaguete com folhas de louro, não que eu gosto da folha mas dá um toque de sabor a mais, um peixe e pouco de arroz que, independente do quanto eu maneirasse na quantia, ele insistia em sobrar na panela e eu sempre deixava para a janta ou almoço do fim de semana. Ou simplesmente jogava fora.
Arrumei a mesa e me sentei na banqueta.

"Itadakimasu!" agradeci pelo alimento e comecei a comer, pensando apenas em como seria o meu dia.
"Será que eu evitei outra surra? Será que hoje vai ser um dia diferente?  Ou outro como todos os outros dias?" pensei comigo mesmo "Bem, de qualquer maneira, é um dia todo pela frente." imerso em mil pensamentos apenas me deparei com meu prato vazio, eu já havia comido tudo daquele prato e não percebi.

"Okay então, vamos indo!" peguei o dinheiro que eu separo para as compras e a chave de casa. Fui até o mercado Shang Yu, onde eu trabalhava de domingo a quinta.

      "Ne, baka. Por que não veio trabalhar ontem?" a calorosa recepção do meu colega de trabalho, Rami. Ele é uma pessoa normal, não representa alguma ameaça a mim, mas também não é com se fosse meu amigo.

"Gomene, Rami-sama!" pensei numa desculpa rápido até ele me cortar os pensamentos.

"Tive que cuidar sozinho do caixa e dos corredores, por sorte Nami me ajudou depois da metade do expediente"

Nami é irmã do meio. Ele também tem uma irmã mais nova, a Yomi.

"O que são esses roxos no seu rosto, Ikki?" me olhou sério e eu enrolei numa desculpa qualquer.

"Motivo da minha falta de ontem. Na saída da escola eu fui abordado por um grupo de assaltantes, mas como não havia nada de valor, me bateram um pouco e foram embora. Só isso." falei com meu tom vazio e frio de sempre.
Não, esse não era o de sempre. Esse era bem diferente, algo pelo menos me pareceu diferente.

"É a primeira vez que falta, mas não é a primeira vez que vem com os roxos. Aliás, você quase sempre tem as marcas." mal sabe ele que as marcas são de sempre, eu só uso uma base para cobrir os ferimentos e um casaco maior para disfarçar o mal jeito de andar e os roxos por todo rosto e corpo.

"Eu ando de cross e faço umas trilhas por aí. Sou bem descuidado e sempre caio umas dez vezes. Sempre. Aí é difícil estar inteiro." bem, se apenas considerarmos cada elemento dessa 'história' de uma forma representativa, é considerável que eu não menti.

"Entendo. Vê se não falta de novo e apresente-se ao senhor Yu. Hoje ele está de bom humor, então aproveita!"

"Okay, arigato!" agradeci e me retirei da parte da frente da loja e entrei numa porta quase escondida no meio das prateleiras. Porta que dava a um corredor e, no fim dele, a sala do chefe.
O corredor silencioso me fazia companhia. Me aproximei normalmente da porta e bati levemente.  A voz rouca e abafada pelas paredes, gritou lá de dentro, pedindo que eu entrasse.

"Ohayo, Yu-sama! Vim esclarecer minha falta de ontem!" me aproximei de sua mesa, apesar da cadeira confortável, me mantive em pé.

"Oh, Ikki. O que houve com você?" realmente o ranzinza estava de bom humor hoje.

"Assaltantes. Mas como não tinha nada de valor, apenas me bateram. Isso perto da minha casa pós a aula!" me curvei em um apelo "Me desculpe. Prometo que não irá se repetir!" levantei minha cabeça.

"Bem, como é sua primeira falta, e posso ver pelo seu rosto que é realmente algo crítico que não é você o culpado, vou perdoá-lo. Agora se me da licença, estou cheio de papéis de mercadorias atrasadas." curto e direto.

"Arigato!" saí de sua sala, cruzei o corredor e voltei no mercado, comprei oque precisava e fui embora.
Mais uma vez eu omiti a verdade e a cada dia que passa eu fico melhor nisso. Chega a parecer uma verdade mesmo eu não sorrindo ou pondo muito esforço para ficar bem.

  Cheguei em casa e fui direto ao porão ajuntar aqueles pedaços de madeira e varrer o tatamê e o chão. Cada pedaço, cada varrida me trazia mais flashs do passado então me apressei em terminar logo, vari tudo para um canto e fui arrumar meu guarda-roupa, que também me trouxe lembranças de quando minha mãe ainda era presente na vida e não apenas em sonhos vagos e tristes.
Deixei meu quarto descente e organizado. Parecia até outro lugar. Tinha um copo de macarrão instantâneo que eu acho que estava ali a um mês mais ou menos, deu nojo de mim.

Essa sexta-feira passou muito rápido, logo já era noite e eu me preparei para dormir.  Um sono bem tranquilo, minha playlist de músicas em um fone de ouvido em volume máximo era uma das poucas situações mais agradáveis do meu dia. Eu dormi rápido. 
Acordei preocupado com a hora. Quando olhei o despertador que marcava nove e vinte e sete da manhã, pude me lembrar que era sábado e apenas respirei fundo.

"Obrigado Senhor!" dei as costas pro despertador, ergui a coberta e adormeci. Fiquei na cama até metade da tarde. "Almoço ou tomo café?" a única dúvida que eu tinha nos finais de semana, saber se almoço as três e meia da tarde, ou se tomo café e deixo e almoço para a janta. A preguiça me dominou e eu fiz apenas um chocolate e comi alguns biscoitos. Limpei minha cozinha e passei três horas mexendo no meu celular. Quando vi uma imagem perfeita para um desenho. Apartir dali, foram quatro horas de dedicação a perfeição daquele desenho, confesso que perdi uns quarenta minutos com os desenhos que parei no esboço e joguei fora. No final, pude olhar para aquele desenho e me sentir bem por ter conseguido alguma coisa.
Já era passado das dez e meia da noite quando eu me toquei da hora. Apenas tomei meu banho e fui para a cama, novamente, meus finais de samana eram sempre ali.
O domingo foi a mesma coisa. Mas dessa vez eu almocei de tarde, já que minha pressão caiu, eu me senti obrigado a comer um salgado. Aquele dia de sol e aquela noite de estrelas, foram estragas pelo clima tipicamente triste e solitário daquela manhã natural de toda semana. Afinal, já era segunda-feira de novo!

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