CAPÍTULO I - Apresentação (Parte 1)

Era segunda feira, em um dia quente de outubro, quando o alarme no celular de Eduardo tocou. O rapaz, que não havia dormido muito, abriu lentamente os olhos e encarou o teto por alguns minutos. Quando o toque do alarme se tornou insuportável de escutar, levantou-se com certa dificuldade.

Eduardo estudava no prestigiado colégio José de Alencar, em Fortaleza. A escola recebeu destaque global por suas grandes conquistas em educação, recebendo notas altíssimas em diferentes indicadores de educação.

Durante o mês de outubro, ocorria o maior evento anual da escola, no qual alunos com grande destaque eram convidados a trabalhar em grandes empresas e recebiam oportunidades únicas em suas vidas. Músicos, escritores, desenhistas e atletas disputavam entre si por uma oportunidade de evoluir na vida.

Os convidados eram uma classe de elite vinda de diversas partes do Brasil e mundo. Nem mesmo pais de alunos eram convidados, com exceção daqueles que faziam parte da alta burguesia.

A nível nacional, a educação brasileira era péssima. O colégio era um fenômeno raríssimo e contava com uma enorme lista de candidatos à espera de uma vaga, sem contar o enorme nível de exigência da escola.

Após levantar, Eduardo se arrumou com bastante pressa, lutando para não chegar atrasado. Não era pontual — embora fosse uma data importante. Na verdade, tinha medo de sua vó. Lhe foi dito que caso se atrasasse mais uma vez, seus responsáveis seriam chamados.

— Bença, vó. — Disse ele antes de sair.

— Você não comeu nada ainda... ao menos tome uma xícara de café antes de ir.

Após bastante insistência, ele decidiu tomar um café antes de ir.

Sua avó era tudo para ele. Não tinha uma relação boa com o pai e não sabia por onde andava sua mãe. Quando criança, sua mãe costumava sair em festas noturnas e o deixava sob os cuidados de sua vó, Neide. À medida que crescia, a relação com sua mãe ia apenas piorando.

Levando em suas costas sua guitarra para a abertura do evento, caminhou até a parada de ônibus. Distraído e recitando mentalmente as notas que passou a noite praticando, acabou esbarrando em uma garota.

— Ai! — Reclamou a jovem.

Ele gentilmente se desculpou e perguntou se ela precisava de algo. Enquanto ela o reclamava e mandava prestar mais atenção, ele se distraia na beleza dela.

Era uma jovem de pele muito clara, parecia ter por volta de um e sessenta de altura, tinha um piercing no septo, mais alguns na orelha e brincos de serpente. Seus longos cabelos escuros e brilhantes eram encantadores ao olhar do rapaz. Uma garota bastante estilosa e com roupas excêntricas.

— Está me ouvindo?! — Disse ela após alguns momentos gesticulando e expressando bastante raiva.

— O quê?! Ah, sim... Ouvi.

Após alguns minutos, ela pediu desculpas por ter gritado — embora ele mesmo não tivesse prestado atenção. E então, puxou assunto com ele.

— Você vai apresentar algo em que área?

— Pela guitarra nas minhas costas, provavelmente irei dançar samba. — Respondeu ele.

— Nossa, como você é grosso!

— É só não fazer pergunta idiota.

Estressados pelo calor infernal, o atraso do ônibus e a ansiedade do evento, começaram a insultar um ao outro.

No meio da discussão, o ônibus finalmente havia chegado. Estava quase vazio, o que tornava um clima perfeito para se acalmar e pensar um pouco.

Sentado próximo a janela no fundo do ônibus, respirou fundo e acabou lembrando de momentos ruins da sua vida envolvendo sua infância. Quando estava tão imerso nos seus pensamentos, a garota sentou-se do seu lado.

Ele a encarou. Sua feição parecia dizer "por quê?!". Ela inclinou os olhos para um homem com aparência de quase quarenta anos, que estava em pé olhando fixamente para ela.

— Entendi. Tudo bem. — Ele sussurrou para ela.

Ambos permaneceram em silêncio e Eduardo estava novamente imerso em seu passado traumático e na dor de acontecimentos passados.

Incomodada pelo vento em seu cabelo, a garota fechou a janela.

Ele abriu a janela.

Ela fechou novamente, dessa vez batendo a janela do ônibus com força.

Ele, por sua vez, abriu lentamente e respirou fundo.

Em mais um ciclo, começaram a discutir.

— Você é esquisito, credo! — Resmungou ela.

— Quem?

— Você!

— Te perguntou.

Ele caiu na gargalhada, curiosamente, ela também esboçou um sorriso naquela situação.

Chegando na escola, seus amigos vendo-a descer do ônibus foram correndo até ela. Eles estavam dando apoio moral a ela.

— Lília! Você vai arrasar hoje! — Disse um deles.

Por um instante, Eduardo estava sentindo inveja dela. Não era alguém que possuía muitos amigos, nem recebeu muito apoio durante sua vida. Relembrou-se de quando criança, uma dolorosa frase que ouviu de seu pai bêbado no quarto de seus pais.

— Aquele garoto, retardado?! Ele não vai longe, se conseguir o emprego de gari, é muito.

Ele nunca esqueceu essa frase, que o motivou a não desistir. Estudou por longas noites para ser um músico profissional e dava tudo de si para provar sua capacidade. Além de que, caso ele fracassasse, sua avó ficaria desapontada.

Eduardo foi em direção a uma sala vazia da escola para afinar sua guitarra e praticar um pouco enquanto não chegava a hora de apresentar.

Faltando alguns minutos para a abertura, decidiu dar uma volta pela escola. Passando próximo ao grupo de amigos de Lília — que mais parecia que tinham saído de um show de rock dos anos 90, notou ela apontando para ele.

"Com certeza ela está falando mal de mim", ele pensou.

Continuou andando e chegando a um local isolado, sentou-se e focou-se no que tinha que fazer durante a apresentação. Lília, que também perambulava, vendo-o sentado, se aproximou.

— Dá um frio na barriga, não é? — Perguntou ela.

— E como...

— Boa sorte pra você!

— Sorte? Eu não preciso de sorte.

Após alguns segundos em silêncio, ele completou:

— Mas obrigado, para você também.

Faltando poucos minutos e com centenas de convidados chegando de diferentes locais, o momento da apresentação se aproximava.


Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top