⤵️ Ré - LÉSBICA

Embora o pátio se encontrasse um tanto escuro devido o horário e os pontos cegos que os postes de luz não cobriam, a cena de duas mulheres aos beijos em um canto afastado fora vista e comentada pelos que ali transitavam, diferente do que ocorreu com os adolescentes fazendo o mesmo em torno de uma das pistas de skate. Se foram comentários de elogios, críticas ou até mesmo, cobertos de inveja, Diana e Gabrielle não tiveram conhecimento, uma vez que se mantinham ocupadas demais naquele laço mútuo e enfeitiçante.

Mas, não por muito tempo.

Logo, Diana se deu conta disso, interrompendo de imediato a brincadeira daqueles lábios. Se evitava tal coisa nos tempos de garota, não era depois de os dezoito que faria. Mas Gabrielle não prestou atenção nessa interrupção, partindo então, ao pescoço morno da moça, no qual ela umedecia os poros e tocava a pele com seu piercing, enquanto alucinava com o perfume adocicado.

Peraí... Gabrielle, a gente... Iemanjá me ajuda! — suspirou graças às mãos bobas passeando pelo seu corpo. Foi aí que ela percebeu ter que realmente parar a motociclista. Estavam animadas demais. Portanto, Diana resistiu a tentação de agarrar aqueles cabelos e enterrar seu rosto no pescoço implorando por um beijo, conseguindo enfim afastar Gabrielle pelos ombros. — Tá todo mundo olhando — deduziu, até porque, ela nem parou para olhar.

"Todo mundo é muita gente, Hello Kitty"

Quanto a Gabrielle, esta apenas correu os olhos pelo pátio à medida que passava de modo involuntário os dedos sob a luva, entorno dos lábios, por fim topando realmente com alguns olhares em suas direções. E, depois de localizar um cantinho ideal e um pouco escuro, apanhou os capacetes com uma mão — a pressa não lhe deixou sequer guardá-los no baú da moto — e com a outra, puxou Diana pelo pulso, mas... acabou deslizando os dedos; entrelaçando-os.

Caminharam de mãos dadas!

Os capacetes foram deixados no chão, entre suas botas, para que ambas as mãos se tornassem livres e trouxessem aquele rosto de volta ao seu, reiniciando o beijo que nem deveria ter sido interrompido.

— Me diga que... — Gabrielle iniciou a pergunta entre o emaranhado de lábios, porém, teve que dar uma pausa por breves segundos. — não sou a única hipnotizada por este beijo.

— Não é. — O sussurro de Diana foi acompanhado pela pequena mordida no lábio inferior de Gabrielle e dedos se infiltrando nos cabelos da mais alta.

Lábios quentes; molhados, abraçavam uns aos outros, unindo-se; conhecendo o gosto novo; os sons tão altos dentro daquele silêncio úmido. Reflexo da língua a qual seguia os movimentos compartilhados do moça à sua frente enquanto se moldava a ela, acariciava; entregava-se. Narizes dançavam entre si, aquecendo por consequência ambas pontinhas frias ao tocar o rosto alheio; puxando o ar pela brecha que encontravam no trajeto sutil; inalando os cheiros únicos; individuais. E apesar da desaprovação, a presença do piercing de Gabrielle foi totalmente ignorado por Diana, a qual permitia que suas mãos trilhassem a cintura; ora costelas, da mulher grudada até demais consigo. Suspiros, mordiscadas. Tudo em função das carícias recebidas não só na nuca de Diana, como também nos seus cabelos; atrás das orelhas... lateral do pescoço.

No entanto, pensar naquelas mãos lhe tocando a fez despertar, espalmando e empurrando sem mais nem menos, Gabrielle pelos braços.

— Tire as luvas — pediu, com pressa.

— Por quê? — Mesmo sem entender, começou a puxar o velcro. Era só o que faltava, aquela, além de manhosa, ser também doida. — Te arranhou?

— Acabei de lembrar que nunca te vi sem luvas. — Nisso, apanhou a primeira mão livre do adereço, levando-a sob o feixe de luz onde começou a inspecioná-la.

Nesse meio tempo, Gabrielle removeu a outra luva.

— Ué, mas no moto peças eu não usava luvas.

— Não prestei atenção, eu estava concentrada só nos seus pei... Quer dizer... Ah! Me dê a outra mão. — No final, repetiu a análise anterior, e só então Gabrielle entendeu qual era a preocupação da garota, soltando uma risada nem um pouco discreta.

E puxando as mãos da posse dela.

— Não era mais fácil me perguntar se sou comprometida? Além do mais, se eu não fosse solteira, o que estaria fazendo aqui contigo no Dia dos Namorados?

— Isso não quer dizer nada. Quem quer trair, sempre acha um jeito. O bom é que aliança tem como esconder, mas a marca fica. — Acabou apanhando as luvas de Gabrielle antes que ela as vestisse novamente. — Minha mãe já sofreu muito com as puladas de cerca do meu pai, não quero que ninguém passe o que ela passou — concluiu de cabeça baixa, pondo as luvas roubadas.

— Nossa! Que altruísta! — Puxou Diana pelos quadris, beijando-a sem medir a força na bochecha gelada. — E ladronazinha de luvas.

A pequena mordida no nariz da garota antecedeu o afastar de Gabrielle, que fez isso apenas para tirar sua jaqueta de couro, rapidamente posicionando-a nas costas de Diana. Também tinha frio, porém, a outra parecia estar sendo atingida mais do que ela pela temperatura baixa, e Gabrielle teve essa confirmação assim que a jovem com pressa aceitou o agasalho, sem cerimônias.

Cosplay de motoqueira concluído com sucesso. — Piscou após puxar o zíper da jaqueta, completando com a pose teatralmente bruta composta de peito estufado, queixo erguido e polegares enluvados para cima.

Embora não gostasse dessa denominação, Gabrielle não a via como ofensiva se vinda de Diana. Entretanto, não se conteve com a cena, liberando novamente aquela gargalhada. Até parecia que a criatura era humorada em período integral... O que não era verdade.

Gabrielle era até bem rabugenta.

— Motoqueira Nutella feat. Hello Kitty, só se for — provocou, pegando os capacetes do chão e se dirigindo à motocicleta estacionada ali do lado, ligando-a. — Já que está vestida a caráter, bora pra cá, menina. — O som de duas palmadas no assento, logo ecoou. — Hora da aula de direção.

Sabendo que aquilo seria divertido, Diana não demorou em montar na moto, apanhando os dois punhos de maneira firme. No entanto, ela não esperava que Gabrielle fosse se posicionar às suas costas, e muito menos, daquele modo tão... próximo.

— Você está me assediando, instrutora? — perguntou ao puxar os cabelos para frente e encarar aquela mão finalmente livre de luvas acariciando sua coxa direita, a qual mudou as carícias à barriga de Diana a seguir. — Encoxamento faz parte da aula?

O jato quente expelido pelo riso lhe atingiu em cheio atrás da orelha.

— O que você tem que me deixa desse jeito, desgraça? — sussurrou, por fim tascando um beijo na nuca desprotegida diante dela e complementando com a passada de dentes no mesmo local, que por sua vez, arrancou um suspiro da aluna.

Como Diana conseguia ser tão mordível?

— Acho que o local não me permite te mostrar agora — soprou, soltando o punho direito para segurar aquela mão que passeava em sua barriga, isso, lutando com todo o seu autocontrole para não descê-la um pouco mais.

Como resultado, não foi apenas um deslizar de dentes que Diana sentiu, e sim, uma boa mordida na curva do pescoço. "Socorro, Brasil!".

— Êh, tortura... Bom, vamos começar. — A mão esquerda alcançou o retrovisor do mesmo lado, indicando-o. — Isto aqui serve para ver quem está vindo. Por exemplo, uma motociclista bonitona de piercing. Mas, se o farol estiver fechado, pode usar para olhar as bundinhas que estão indo sem problemas.

— Ok... — riu, virando o rosto para deixar uma mordiscada naquele queixo pequenininho. Gostar de morder já havia virado algo em comum. — E quanto à seta?

— Que bom que perguntou. — Enfim deixou a barriga de Diana de lado, passando o braço sobre o ombro dela onde concluiu lhe abraçando entre os seios, de maneira a fazer de seu antebraço um cinto de segurança sem querer. Tudo isso para beijá-la e reviver aquele gosto na boca. Após o breve esfrega-esfrega labial terminado com um selinho, Gabrielle guiou os dedos frios ao circuito à sua esquerda. — A primeira regra é: a seta não te dá o poder de realizar uma manobra, ela é o aviso de uma intenção, ou seja...

— Deve sempre vim antes de qualquer manobra. — Diana a interrompeu, levando seu polegar sob a luva ao botão. — Direita... desliga. — Ditou seus movimentos sobre a chave de luz, acendendo e apagando o pisca. — Diferente do que acontece nos carros, em motos a seta, mesmo o botão voltando pro meio automaticamente, o pisca não desliga sozinho. Por isso... — Depois de deslizar o botão para a direita e vê-lo voltar ao centro, pressionou-o. — temos que desligar manualmente após usar. — Com um ar cem por cento convencida, girou outra vez o rosto para trás, onde encontrou uma Gabrielle surpresa; fascinada. Talvez ela tivesse fetiche por quem soubesse usar a seta. — À essa seta já fui apresentada, quero saber sobre esta seta aqui. — Tirou o braço de seu peito, analisando a tatuagem.

— Flecha — corrigiu-a. — Você treinou. Assume que treinou, ordinária.

— Terminei a auto escola faz alguns meses. As regras estão bem frescas na minha cabeça.

— Nossa, que delícia! Isso foi muito sexy. — O beijo um tanto intenso, com mordida e tudo, avermelhou totalmente os lábios macios e frios ao seu alcance, de modo a aquecê-los por consequência. — Desde criança sou viciada em flechas, arqueiros, setas, essas coisas. — Passou a beijar a outra no rosto e pescoço. — Então, acabei fazendo essa tatuagem há dois anos. Quem sabe a próxima não seja uma Hello Kitty arqueira bem pistola? — A seguir, deixou a moto, indo apanhar os capacetes de sobre a mesa de pedra, logo entregando um a Diana, a qual ria da última frase. — Mas, mudando de assunto. Já que você é a bichona mesmo, vai pilotar até sua casa.

Claro que Gabrielle não permitiu que Diana fosse pela pista convencional mesmo esta não estando tão engarrafada quanto antes, o que arrancou alguns minutos a mais pelo trajeto um pouco longo. Fazer o quê se ela não confiava cem por cento na capacidade da novata? Seria por preocupação com a moto ou com a moça sobre ela?

De acordo com seus braços apertados em torno de Diana, a resposta estava clara.

Enquanto diminuía a velocidade cuidadosamente, Diana notou o carro na garagem, constatando que demoraram tanto que deu tempo do irmão sair e voltar. Isso a fez desligar a moto já se preparando para a grande bronca. Que culpa tinha ela se Gabrielle havia mostrado o poder que possuía de fazê-la esquecer da vida? Portanto, devido à proximidade com a janela e a calmaria da rua, o mais velho ouviu perfeitamente o ruído do motor daquela motocicleta, e sem demora, pôs-se correndo casa afora.

— Poxa, Diana! Pedi pra avisar! — A reclamação de Bruno soou um tanto controlada após o próprio abrir o portão escuro. Diana só não entendeu ele dizer isso encarando Gabrielle, a qual assim como ela, já havia livrado os cabelos do capacete.

— Desculpa...? — Diana enfim deixou a moto com sua típica cara dissimulada, logo após Gabrielle fazer isso primeiro.

A motociclista não sabia se cumprimentava Bruno ou permanecia calada.

— Eu não tenho mais idade pra ser sua babá! Depois que eu infartar, não venha tentar me ressuscitar com suas desculpas!

— Bruno, você só tem vinte e quatro anos. Querido, chega de drama — suspirou, tentando disfarçar o constrangimento.

— Gente nova também infarta, pirralha! — Por fim, fitou a calada Gabrielle novamente. — E você não devia ter deixado ela andar de moto. Na próxima vez, melhor vir de triciclo.

Bruno havia vindo ao mundo, única e exclusivamente para fazer Diana passar vergonha. Porém, Gabrielle até que estava gostando de conhecer melhor o novo parceiro de implicâncias.

— Boa ideia. — Gabrielle enganchou o braço no pescoço de Diana, por cima dos fios de cabelo, em um característico abraço de mana. — Falando nisso, vi um rosinha da Hello Kitty a cara dela. — Como resposta, um beliscão na barriga lhe atingiu no mesmo segundo.

Por causa da irritação do irmão, Diana nem convidou Gabrielle para entrar — sua cota de vergonha pro ano inteiro já havia sido preenchida —, e como a temperatura não favorecia uns bons chamegos no portão, a mais nova apenas devolveu a jaqueta e luvas da motociclista antes de se despedirem com um beijo de gosto insaciável. Contudo, os poucos minutos que ficaram longe uma da outra foi refletido não só nas infinitas vezes que Diana checou aquele "visto por último", mas principalmente, na pressa de Gabrielle em abrir o grupo ao chegar em casa.

— Já jantou? — Mauro fez a pergunta à filha assim que a viu passar pela porta.

— Já — mentiu, correndo pro quarto. E, sem esperar mais nenhum centésimo, enviou a mensagem, fazendo uma Diana eufórica apanhar o seu celular do colchão na velocidade da luz.


23:30

Motoqueira ❤️: Como você salvou o meu contato?

"Gabrielle"

E você?

Motoqueira ❤️: Não salvei seu número

Mentirosa

Certeza que está "Hello Kitty Pistola"

Motoqueira ❤️: kkkkkkk

Quase isso

E no meu, aposto que você colocou um coração

Que iludida, coitada

Motoqueira: Mas, já que tocou no assunto do seu apelido

vou comprar uns adesivos da Hello Kitty com glitter

É mesmo? ¬¬

Motoqueira: É

Pergunta "pra quê?"

Pra quê?

Motoqueira: Como, pra quê?

Pra colar no seu capacete, ué

Peraí...

O capacete é meu?

*~*

Motoqueira ❤️: Lógico!

Seu e das minhas outras ficantes

Affs

Já disse que você é desnecessária?

Pernilonga: Já :)

23:31

Pernilonga: Era brincadeira

23:34

Pernilonga: Pra que isso, Diana?

Era brincadeira

Vai ficar com raivinha, mesmo?

23:36

Pernilonga: E qual é o problema se eu tivesse outras ficantes?

Não sabia que a gente já estava namorando

23:40

Pernilonga do Satã: Desisto, vou dormir

23:48

Pernilonga do Satã: Vá dormir também!

Você vai parar de me encher a paciência

ou terei que te silenciar?

Pernilonga do Satã: :(

Pronto, conseguiu me deixar triste

Muito triste

Triste demais

23:49

Pernilonga do Satã: Vida

Devolva as minhas fantasias

Meus sonhos de viver a vida

Devolva me o ar

23:50

Motoqueira Depressão: Falando sério agora

Com quantos vácuos se constrói um coração de pedra?

23:52

Motoqueira Depressão: Se eu te dizer que vou dormir de jaqueta só porque ela está com seu perfume, você acredita?

23:53

Gabrielle ❤️: Eu nunca tinha deixado ninguém pilotar a minha moto

Você foi a primeira

23:54

❤️ Gabrielle ❤️: A primeira com quem passei o dia das namoradas do jeito certo


Aquela motociclista tinha sorte que, do mesmo modo que Diana se irritava com facilidade, também era fácil a agradar. Gabrielle só precisava acariciar os espinhos para que a flor voltasse a desabrochar e completar o seu jardim com aquele perfume. E foi exatamente este o efeito causado em Diana. Era até assustador o quanto as demonstrações de afeto vindas de Gabrielle lhe aquecia o peito já entre os cobertores. Ah! Aquele quentinho era tão bom... e novo. Enquanto lia as palavras bonitas, a moça exibia as duas fileiras de dentes sem nenhum pudor ou noção do ato. Quase se podia ver micro corações cintilando naquelas íris encantadas. Teve vontade de beijar a tela; abraçar o celular; colocá-lo sobre o travesseiro, pôr um lacinho e chamar de "minha neném". Mas, diante de todas essas vontades, Diana se contentou em apenas se virar de lado na cama, encolhida graças ao frio da noite junto aos movimentos dos dedos em cima daquelas letras.


23:54

Só me maltrata: Você também foi a primeira

com quem passei o dia das namoradas do jeito certo

É normal ficar com o coração acelerado

quando recebe uma mensagem?

Só me maltrata: É normal ficar extremamente revoltada com

certas brincadeiras e querer socar a pessoa?

kkkkkkkkkkkk

Ai, ai...

Te adoro, desgraça ciumenta <3

Hello Kitty Pistola: O pior é que eu também te adoro

E parece que a cada minuto aumenta

Tô ficando verdadeiramente preocupada

Eu estou só assustada mesmo

Até as coisas mais insignificantes me faz lembrar você

Outro dia eu estava escovando os dentes e

DO NADA

pensei:

"Será que a Diana molha a escova antes ou depois de pôr a pasta?"

Isso já é doença, né '-'

Hello Kitty Pistola: Tá vendo como você sabe ser fofa? ❤️

Pena que deve ser igual com as OUTRAS FICANTES

U.U

Não

É só com você

Depois da batida, só você ocupa a minha cabeça

Diana <3: ❤️ - ❤️

E a propósito, eu molho a escova antes

Mas, tenho que te informar: estamos doentes juntas

Agora há pouco fui pegar leite na geladeira e me perguntei se você gosta de quiabo

kkkkkkkkkkkkkkkkk

Droga, acho que acordei meu pai kkkkkk

Diana

EU ODEIO QUIABO

Diana <3: Monstra >.<

Linda

Princesa

Coisa gostosa <3

Diana <3: Você que é ❤️

Quer trocar nudes?

Diana <3: TEJE MORTO O MENINO ROMANCE

Não quer?

Então vou fechar a jaqueta

O que é uma judiação

As Gabriellezinhas estão tão alegres :(

Não

Espera

Não guarda as Gabriellezinhas, não

Vou fechar a porta

00:00

Pronto, pode mandar

Leitores saiu do grupo

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