⤵️ Ré - GAY

Embora o pátio se encontrasse um tanto escuro devido o horário e os pontos cegos que os postes de luz não cobriam, a cena de dois rapazes aos beijos em um canto afastado fora vista e comentada pelos que ali transitavam, diferente do que ocorreu com os adolescentes fazendo o mesmo em torno de uma das pistas de skate. Se foram comentários de elogios, críticas ou até mesmo, cobertos de inveja, Kaio e Felipe não tiveram conhecimento, uma vez que se mantinham ocupados demais naquele laço mútuo e enfeitiçante.

Mas, não por muito tempo.

Logo, Felipe se deu conta disso, interrompendo de imediato a brincadeira daqueles lábios. Se evitava tal coisa nos tempos de garoto, não era depois de os dezoito que faria. Mas Kaio não prestou atenção nessa interrupção, partindo então, ao pescoço morno do rapaz, no qual ele umedecia os poros e arranhava a pele através da sua barba, enquanto alucinava com o perfume adocicado.

Peraí... Kaio, a gente... Jesus amado! — suspirou graças às mãos bobas passeando pelo seu corpo. Foi aí que ele percebeu ter que realmente parar o motociclista. Estavam animados demais. Portanto, Felipe resistiu a tentação de agarrar aqueles cabelos e enterrar seu rosto no pescoço implorando por um beijo, conseguindo enfim afastar Kaio pelos ombros. — Tá todo mundo olhando — deduziu, até porque, ele nem parou para olhar.

"Todo mundo é muita gente, Hello Kitty"

Quanto a Kaio, este apenas correu os olhos pelo pátio à medida que passava de modo involuntário os dedos sob a luva, entorno dos lábios, por fim topando realmente com alguns olhares em suas direções. E, depois de localizar um cantinho ideal e um pouco escuro, apanhou os capacetes com uma mão — a pressa não lhe deixou sequer guardá-los no baú da moto — e com a outra, puxou Felipe pelo pulso, mas... acabou deslizando os dedos; entrelaçando-os.

Caminharam de mãos dadas!

Os capacetes foram deixados no chão, entre suas pernas, para que ambas as mãos se tornassem livres e trouxessem aquele rosto de volta ao seu, reiniciando o beijo que nem deveria ter sido interrompido.

— Me diga que... — Kaio iniciou a pergunta entre o emaranhado de lábios, porém, teve que dar uma pausa por breves segundos. — não sou o único hipnotizado por este beijo.

— Não é. — O sussurro de Felipe foi acompanhado pela pequena mordida no lábio inferior de Kaio e dedos se infiltrando nos cabelos do mais alto.

Lábios quentes; molhados, abraçavam uns aos outros, unindo-se; conhecendo o gosto novo; os sons tão altos dentro daquele silêncio úmido. Reflexo da língua a qual seguia os movimentos compartilhados do rapaz à sua frente enquanto se moldava a ele, acariciava; entregava-se. Narizes dançavam entre si, aquecendo por consequência ambas pontinhas frias ao tocar o rosto alheio; puxando o ar pela brecha que encontravam no trajeto sutil; inalando os cheiros únicos; individuais. E apesar da desaprovação, o queixo pinicando com a barba de Kaio, assim como o contorno da boca, foi totalmente ignorado por Felipe, o qual permitia que suas mãos trilhassem a cintura; ora costelas, do homem grudado até demais consigo. Suspiros, mordiscadas. Tudo em função das carícias recebidas não só na nuca de Felipe, como também no pé dos seus cabelos; atrás das orelhas... lateral do pescoço.

No entanto, pensar naquelas mãos lhe tocando o fez despertar, espalmando e empurrando sem mais nem menos, Kaio pelo peito.

— Tire as luvas — pediu, com pressa.

— Por quê? — Mesmo sem entender, começou a puxar o velcro. Era só o que faltava, aquele, além de manhoso, ser também doido. — Te arranhou?

— Acabei de lembrar que nunca te vi sem luvas. — Nisso, apanhou a primeira mão livre do adereço, levando-a sob o feixe de luz onde começou a inspecioná-la.

Nesse meio tempo, Kaio removeu a outra luva.

— Ué, mas no moto peças eu não usava luvas.

— Não prestei atenção, eu estava concentrado só nos seus braç... Quer dizer... Ah! Me dê a outra mão. — No final, repetiu a análise anterior, e só então Kaio entendeu qual era a preocupação do jovem, soltando uma risada nem um pouco discreta.

E puxando as mãos da posse do outro.

— Não era mais fácil me perguntar se sou comprometido? Além do mais, se eu não fosse solteiro, o que estaria fazendo aqui contigo no Dia dos Namorados?

— Isso não quer dizer nada. Quem quer trair, sempre acha um jeito. O bom é que aliança tem como esconder, mas a marca fica. — Acabou apanhando as luvas de Kaio antes que ele as vestisse novamente. — Minha mãe já sofreu muito com as puladas de cerca do meu pai, não quero que ninguém passe o que ela passou — concluiu de cabeça baixa, pondo as luvas roubadas.

— Nossa! Que altruísta! — Puxou Felipe pelos quadris, beijando-o sem medir a força na bochecha gelada. — E ladrãozinho de luvas.

A pequena mordida no nariz do menor antecedeu o afastar de Kaio, que fez isso apenas para tirar sua jaqueta de couro, rapidamente posicionando-a nas costas de Felipe. Também tinha frio, porém, o outro parecia estar sendo atingido mais do que ele pela temperatura baixa, e Kaio teve essa confirmação assim que o jovem com pressa aceitou o agasalho, sem cerimônias.

Cosplay de motoqueiro concluído com sucesso. — Piscou após puxar o zíper da jaqueta, completando com a pose teatralmente masculinizada composta de peito estufado, queixo erguido e polegares enluvados para cima.

Embora não gostasse dessa denominação, Kaio não a via como ofensiva se vinda de Felipe. Entretanto, não se conteve com a cena, liberando novamente aquela gargalhada. Até parecia que o sujeito era humorado em período integral... O que não era verdade.

Kaio era até bem rabugento.

— Motoqueiro Nutella feat. Hello Kitty, só se for — provocou, pegando os capacetes do chão e se dirigindo à motocicleta estacionada ali do lado, ligando-a. — Já que está vestido a caráter, bora pra cá. — O som de duas palmadas no assento, logo ecoou. — Hora da aula de direção.

Sabendo que aquilo seria divertido, Felipe não demorou em montar na moto, apanhando os dois punhos de maneira firme. No entanto, ele não esperava que Kaio fosse se posicionar às suas costas, e muito menos, daquele modo tão... próximo.

— Você está me assediando, instrutor? — perguntou ao encarar aquela mão finalmente livre de luvas acariciando sua coxa direita, a qual mudou as carícias à barriga de Felipe a seguir. — Encoxamento faz parte da aula?

O jato quente expelido pelo riso lhe atingiu em cheio atrás da orelha.

— O que você tem que me deixa desse jeito, desgraça? — sussurrou, por fim tascando um beijo na nuca desprotegida diante dele e complementando com a passada de dentes no mesmo local, que por sua vez, arrancou um suspiro do aluno.

Como Felipe conseguia ser tão mordível?

— Acho que o local não me permite te mostrar agora — soprou, soltando o punho direito para segurar aquela mão que passeava em sua barriga, isso, lutando com todo o seu autocontrole para não descê-la um pouco mais.

Como resultado, não foi apenas um deslizar de dentes que Felipe sentiu, e sim, uma boa mordida na curva do pescoço. "Socorro, Brasil!".

— Êh, tortura... Bom, vamos começar. — A mão esquerda alcançou o retrovisor do mesmo lado, indicando-o. — Isto aqui serve para ver quem está vindo. Por exemplo, um motociclista bonitão da barba pinicante. Mas, se o farol estiver fechado, pode usar para olhar as bundinhas que estão indo sem problemas.

— Ok... — riu, virando o rosto para deixar uma mordiscada naquele queixo cheio de pelos. Gostar de morder já havia virado algo em comum. — E quanto à seta?

— Que bom que perguntou. — Enfim deixou a barriga de Felipe de lado, passando o braço sobre o ombro dele onde concluiu lhe abraçando o peito de maneira a fazer de seu antebraço, um cinto de segurança sem querer. Tudo isso para beijá-lo e reviver aquele gosto na boca. Após o breve esfrega-esfrega labial terminado com um selinho, Kaio guiou os dedos frios ao circuito à sua esquerda. — A primeira regra é: a seta não te dá o poder de realizar uma manobra, ela é o aviso de uma intenção, ou seja...

— Deve sempre vim antes de qualquer manobra. — Felipe o interrompeu, levando seu polegar sob a luva ao botão. — Direita... desliga. — Ditou seus movimentos sobre a chave de luz, acendendo e apagando o pisca. — Diferente do que acontece nos carros, em motos a seta, mesmo o botão voltando pro meio automaticamente, o pisca não desliga sozinho. Por isso... — Depois de deslizar o botão para a direita e vê-lo voltar ao centro, pressionou-o. — temos que desligar manualmente após usar. — Com um ar convencido, girou outra vez o rosto para trás, onde encontrou um Kaio surpreso; fascinado. Talvez ele tivesse fetiche por quem soubesse usar a seta. — À essa seta já fui apresentado, quero saber sobre esta seta aqui. — Tirou o braço de seu peito, analisando a tatuagem.

— Flecha — corrigiu-o. — Você treinou. Assume que treinou, ordinário.

— Terminei a auto escola faz alguns meses. As regras estão bem frescas na minha cabeça.

— Nossa, que delícia! Isso foi muito sexy. — O beijo um tanto intenso, com mordida e tudo, avermelhou totalmente os lábios macios e frios ao seu alcance, de modo a aquecê-los por consequência. — Desde criança sou viciado em flechas, arqueiros, setas, essas coisas. — Passou a beijar o outro no rosto e pescoço. — Então, acabei fazendo essa tatuagem há dois anos. Quem sabe a próxima não seja uma Hello Kitty arqueira bem pistola? — A seguir, deixou a moto, indo apanhar os capacetes de sobre a mesa de pedra, logo entregando um ao Felipe, o qual ria da última frase. — Mas, mudando de assunto. Já que você é o bichão mesmo, vai pilotar até sua casa.

Claro que Kaio não permitiu que Felipe fosse pela pista convencional mesmo esta não estando tão engarrafada quanto antes, o que arrancou alguns minutos a mais pelo trajeto um pouco longo. Fazer o quê se ele não confiava cem por cento na capacidade do novato? Seria por preocupação com a moto ou com o rapaz sobre ela?

De acordo com seus braços apertados em torno de Felipe, a resposta estava clara.

Enquanto diminuía a velocidade cuidadosamente, Felipe notou o carro na garagem, constatando que demoraram tanto que deu tempo do irmão sair e voltar. Isso o fez desligar a moto já se preparando para a grande bronca. Que culpa tinha ele se Kaio havia mostrado o poder que possuía de fazê-lo esquecer da vida? Portanto, devido à proximidade com a janela e a calmaria da rua, o mais velho ouviu perfeitamente o ruído do motor daquela motocicleta, e sem demora, pôs-se correndo casa afora.

— Poxa, Felipe! Pedi pra avisar! — A reclamação de Bruno soou um tanto controlada após o próprio abrir o portão escuro. Felipe só não entendeu ele dizer isso encarando Kaio, o qual assim como ele, já havia se livrado do capacete.

— Desculpa...? — Felipe enfim deixou a moto com sua típica cara dissimulada, logo após Kaio fazer isso primeiro.

O motociclista não sabia se cumprimentava Bruno ou permanecia calado.

— Eu não tenho mais idade pra ser sua babá! Depois que eu infartar, não venha tentar me ressuscitar com suas desculpas!

— Bruno, você só tem vinte e quatro anos. Querido, chega de drama — suspirou, tentando disfarçar o constrangimento.

— Gente nova também infarta, pirralho! — Por fim, fitou o calado Kaio novamente. — E você não devia ter deixado ele andar de moto. Na próxima vez, melhor vir de triciclo.

Bruno havia vindo ao mundo, única e exclusivamente para fazer Felipe passar vergonha. Porém, Kaio até que estava gostando de conhecer melhor o novo parceiro de implicâncias.

— Boa ideia. — Kaio enganchou o braço no pescoço de Felipe, em um característico abraço de mano. — Falando nisso, vi um rosinha da Hello Kitty a cara dele. — Como resposta, um beliscão na barriga lhe atingiu no mesmo segundo.

Por causa da irritação do irmão, Felipe nem convidou Kaio para entrar — sua cota de vergonha pro ano inteiro já havia sido preenchida —, e como a temperatura não favorecia uns bons chamegos no portão, o mais novo apenas devolveu a jaqueta e luvas do motociclista antes de se despedirem com um beijo de gosto insaciável. Contudo, os poucos minutos que ficaram longe um do outro foi refletido não só nas infinitas vezes que Felipe checou aquele "visto por último", mas principalmente, na pressa de Kaio em abrir o grupo ao chegar em casa.

— Já jantou? — Mauro fez a pergunta ao filho assim que o viu passar pela porta.

— Já — mentiu, correndo pro quarto. E, sem esperar mais nenhum centésimo, enviou a mensagem, fazendo um Felipe eufórico apanhar o seu celular do colchão na velocidade da luz.


23:30

Motoqueiro ❤️: Como você salvou o meu contato?

"Kaio"

E você?

Motoqueiro ❤️: Não salvei seu número

Mentiroso

Certeza que está "Hello Kitty Pistola"

Motoqueiro ❤️: kkkkkkk

Quase isso

E no meu, aposto que você colocou um coração

Que iludido, coitado

Motoqueiro: Mas, já que tocou no assunto do seu apelido

vou comprar uns adesivos da Hello Kitty com glitter

É mesmo? ¬¬

Motoqueiro: É

Pergunta "pra quê?"

Pra quê?

Motoqueiro: Como, pra quê?

Pra colar no seu capacete, ué

Peraí...

O capacete é meu?

*~*

Motoqueiro ❤️: Lógico!

Seu e das minhas outras ficantes

Affs

Já disse que você é desnecessário?

Pernilongo: Já :)

23:31

Pernilongo: Era brincadeira

23:34

Pernilongo: Qual foi, Felipe?

Era brincadeira

Vai ficar com frescura, mesmo?

23:36

Pernilongo: E qual é o problema se eu tivesse outras ficantes?

Não sabia que a gente já estava namorando

23:40

Pernilongo do Satã: Beleza, então vou dormir

23:48

Pernilongo do Satã: Vá dormir também!

Você vai parar de me encher o saco

ou terei que te silenciar?

Pernilongo do Satã: :(

Pronto, conseguiu me deixar triste

Muito triste

Triste demais

23:49

Pernilongo do Satã: Vida

Devolva as minhas fantasias

Meus sonhos de viver a vida

Devolva me o ar

23:50

Motoqueiro Depressão: Falando sério agora

Com quantos vácuos se constrói um coração de pedra?

23:52

Motoqueiro Depressão: Se eu te dizer que vou dormir de jaqueta só porque ela está com seu perfume, você acredita?

23:53

Kaio ❤️: Eu nunca tinha deixado ninguém pilotar a minha moto

Você foi o primeiro

23:54

❤️ Kaio ❤️: O primeiro com quem passei o dia dos namorados do jeito certo


Aquele motociclista tinha sorte que, do mesmo modo que Felipe se irritava com facilidade, também era fácil o agradar. Kaio só precisava acariciar os espinhos para que a flor voltasse a desabrochar e completar o seu jardim com aquele perfume. E foi exatamente este o efeito causado em Felipe. Era até assustador o quanto as demonstrações de afeto vindas de Kaio lhe aquecia o peito já entre os cobertores. Ah! Aquele quentinho era tão bom... e novo. Enquanto lia as palavras bonitas, o rapaz exibia as duas fileiras de dentes sem nenhum pudor ou noção do ato. Quase se podia ver micro corações cintilando naquelas íris encantadas. Teve vontade de beijar a tela; abraçar o celular; colocá-lo sobre o travesseiro, pôr um lacinho e chamar de "meu neném". Mas, diante de todas essas vontades, Felipe se contentou em apenas se virar de lado na cama, encolhido graças ao frio da noite junto aos movimentos dos dedos em cima daquelas letras.


23:54

Só me maltrata: Você também foi o primeiro

com quem passei o dia dos namorados do jeito certo

É normal ficar com o coração acelerado

quando recebe uma mensagem?

Só me maltrata: É normal ficar extremamente puto com

certas brincadeiras e querer socar a pessoa?

kkkkkkkkkkkk

Ai, ai...

Te adoro, desgraça ciumenta <3

Hello Kitty Pistola: O pior é que eu também te adoro

E parece que a cada minuto aumenta

Tô ficando verdadeiramente preocupado

Eu estou só assustado mesmo

Até as coisas mais insignificantes me faz lembrar você

Outro dia eu estava escovando os dentes e

DO NADA

pensei:

"Será que o Felipe molha a escova antes ou depois de pôr a pasta?"

Isso já é doença, né '-'

Hello Kitty Pistola: Tá vendo como você sabe ser fofo? ❤️

Pena que deve ser igual com as OUTRAS FICANTES

U.U

Não

É só com você

Depois da batida, só você ocupa a minha cabeça

Felipe <3: ❤️ - ❤️

E a propósito, eu molho a escova antes

Mas, tenho que te informar: estamos doentes juntos

Agora há pouco fui pegar leite na geladeira e me perguntei se você gosta de quiabo

kkkkkkkkkkkkkkkkk

Droga, acho que acordei meu pai kkkkkk

Felipe

EU ODEIO QUIABO

Felipe <3: Monstro >.<

Lindo

Princeso

Coisa gostosa <3

Felipe <3: Você que é ❤️

Quer trocar nudes?

Felipe <3: TEJE MORTO O MENINO ROMANCE

Não quer?

Então vou guardar o Kaiozinho

O que é uma judiação

Ele está tão alegre :(

Não

Espera

Não guarda o Kaiozinho, não

Vou fechar a porta

00:00

Pronto, pode mandar

Leitores saiu do grupo

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