⤵️ Marcha 4 - LÉSBICA

Aquele mês se passou sem trocas de mensagens alguma. Nenhuma interação foi feita no grupo; a Batida havia sido definitivamente esquecida e arquivada com força dupla. Quer dizer, nem tão esquecida assim. Por um lado Diana deu graças a Deus por aquilo, pois, decerto a motociclista tinha deixado aquela confusão de trânsito para lá e ela não precisaria mais mexer no seu dinheiro. Cem por cento de lucro, já que o irmão voltara a lhe emprestar o carro. Tudo seguia enfim como antes. Porém... por que Diana não conseguia apagar o dito grupo, igual como Renato fez uma semana depois? E quanto ao print screen o qual o primo lhe enviou, onde Gabrielle pediu que a colocasse no grupo novamente... Por que Diana guardou a imagem?

Por que vez ou outra, ela ia até os arquivos do aplicativo e relia aquelas mensagens nem um pouco interessantes? Mas, principalmente: por que afinal, Gabrielle estava fazendo o mesmo naquele exato momento?

Justamente no dia doze de junho.


09 DE MAIO DE 2018

Cadê você, bonequinha?

Se não aparecer em dez minutos, já sabe!

16 DE MAIO DE 2018

Fulano do Acidente saiu do grupo


Contudo, a pergunta que realmente não queria calar, era: por que diabos após tantos dias, Gabrielle foi até os membros do tal grupo, e, sem sequer hesitar, abriu a foto de perfil daquela garota? Foto esta que antes não estava ali, mas não tinha como ela saber. Por fim, não parando nem um segundo para pensar na razão daquela fotografia estar visível para ela, Gabrielle ampliou a imagem, cobrindo toda a tela do aparelho como se quisesse olhá-la por todos os cantos... polegada por polegada; pixel por pixel. Cada pedacinho do sorriso espontâneo; dos olhos com um sutil delineado; também do rosto ligeiramente avermelhado, o qual carregava uma nítida camada de glitter, fazendo-a deduzir que se tratava de uma lembrança alegre do carnaval.

— Sorrindo desse jeito, e no Dia dos Namorados, só pode estar falando com a ex — comentou Cíntia ao adentrar o quarto da moça trazendo as toalhas de banho que tirara do varal. Função esta que naquela semana, era de Gabrielle, porém, ela aparentemente estava sonhando acordada.

O celular rapidamente teve a tela bloqueada, culpa do ligeiro susto que a dona do aparelho levou. Cíntia podia ao menos ter batido na porta, não é mesmo?

— Deixa de ser fuxiqueira, fia. — Apanhou uma almofada ao lado, atirando-a na mulher a qual desviou com facilidade. — Meu pai comprou o capacete?

— Sim, ele deixou lá na sala. Aliás, para que você precisa de outro? O seu quebrou? Roubaram?

Na verdade, Gabrielle só queria ter dois capacetes, apenas isso, sem nenhum outro motivo aparente.

Nem ela acreditava nessa baboseira.

— Não, mas é bom ter um de reserva — concluiu apanhando de novo o celular enquanto Cíntia simplesmente se retirava do quarto. O spin off de Sons of Anarchy iria começar e ela não pretendia perder nem um centésimo. — Espera... — No entanto, Gabrielle precisava falar daquilo com alguém ou explodiria; já estava a sufocando; angustiando. Portanto, percebendo seu tom diferente, talvez um tanto nervoso, a namorada do pai se virou para ela, aguardando em silêncio a mais nova prosseguir. — E se... vamos supor que... hipoteticamente... existir uma chance de... o sorriso não ter sido... por causa de uma... ex...? E se foi por uma, certamente... hétero?

Diante da testa franzida e olhos tensos de Gabrielle, Cíntia engoliu em seco. Foi realmente pega de surpresa e fingir tranquilidade nunca fora seu forte. Depois de anos vendo a enteada chorar pelos cantos por conta da ex, achou que a moça não se interessaria mais por outra pessoa nessa encarnação.

— Uau! — Passou a mordiscar a unha sem tirar o foco de Gabrielle, a qual ansiava por palavras mais construtivas. — Isso é... legal. Ótimo na verdade! É agora que a gente começa a estocar comida pro apocalipse? — cochichou, ignorando completamente a possível heterossexualidade da prometida.

A reação de Cíntia sobre sua teórica revelação, fez Gabrielle liberar uma incontrolável gargalhada. Definitivamente, aquilo seria mais engraçado do que tenso, ao contrário do que previu ser.

— Pra falar a verdade, é só suposição mesmo. Culpa, sei lá. Nem vou me iludir muito, ela deve ser hétero — suspirou. — Aquela bruxinha me deu uma bugada estranha, mexeu comigo.

Devido ao grito de Mauro informando o início do seriado, Cíntia correu para a frente da televisão após dizer que o Universo não seria tão cruel para colocar uma hétero em seu caminho. E se o pai estivesse ali, teria apenas dito "Por que não pergunta o que ela é?". Pois, embora tivesse suas preocupações em relação à orientação sexual da filha, Mauro tentava ao máximo disfarçar a insatisfação.

Mais relaxada naquela cama, Gabrielle respirou fundo com um ar de alívio. Talvez falar sobre sua suposição tenha dado o gás que ela precisava para tomar a iniciativa. Passara praticamente um mês abrindo e fechando aquele grupo; arquivando e desarquivando a Batida; digitando e apagando mensagens; salvando e excluindo aquele contato... Revivendo infinitas vezes, e até mesmo sonhado, com o ocorrido lamentável dentro do moto peças, onde voltava no tempo e se impedia de fazer a infeliz pergunta que poderia ter evitado aquelas...

Lágrimas.

"Agora vai", Gabrielle tornou a fazer da Batida o seu campo de visão, juntamente dos polegares sobre o teclado virtual... Os quais fizeram a moça do outro lado da rede, a quilômetros de distância, a soltar o celular em seu próprio rosto ao ler a mensagem composta por apenas cinco palavras. Seria o susto, o autor daquele coração acelerado? E quanto às mãos trêmulas que nem ao menos puderam segurar o aparelho como deveriam? Foi somente por culpa da mensagem inesperada ou de quem a enviou?

A falta de ação a ponto de não saber o que responder e digitar a primeira coisa que veio à cabeça, teve alguma razão oculta?


HOJE

Motoqueira: Preciso te perguntar uma coisa

Quem é?


— Uma otária! — Largou o aparelho sobre os lençóis. — É isso o que sou!

Não era bem o que Gabrielle esperava ler, por isso, apenas visualizou e esqueceu do celular. Tentou pelo menos. Foi então que se forçou a acreditar que o motivo de seus pensamentos não passava de apenas culpa, nada mais do que isso. Não era como se ela estivesse verdadeiramente interessada naquela Barbie. Provável que tudo era somente devido ao arrependimento pelas brincadeiras e por ter presenciado aquela cena injusta há um mês. "É só frescura da minha cabeça... Ainda amo a...", de pé, aproximou-se do canto do quarto, local onde se encontrava a roda amassada; peça que, mesmo após ter comprado uma nova, não conseguiu se desfazer. Entretanto, Gabrielle teria de fato chegado perto o suficiente para apanhar a tal roda empenada e descartá-la de uma vez por todas... caso o som da notificação não tivesse lhe puxado de volta à cama em uma velocidade absurda.

O som das rodinhas pressionando o piso depois do seu salto sobre o colchão ecoou por todo o quarto. Aparentemente, não era só frescura da cabeça dela. Aquilo tinha outro nome.


16:20

Bonequinha: Ah, tá! Lembrei de você

Olha, só vou ter dinheiro no mês que vem

Não, quero hoje

Agora!

Caloteira: Lê de novo o que eu disse

Já li e continuo querendo a grana hoje

Caloteira: Mas eu não tenho, carambolas!

Caçamba*

Itaquaquecetuba**

Ouviram do Ipiranga as margens plácidas***

Affs

Na boa, baixa outro teclado

E me pague logo, caloteira!

Hello Kitty Pistola: EU NÃO TENHO

D I N H E I R O

SE

V I R A

Hello Kitty Pistola: Pronto, já tô de bruços

E agora, faço o quê?

kkkkkkk

Nossa, como você é adulta

Hello Kitty Pistola: Obrigada ;)

Ai, ai...

Tá fazendo alguma coisa importante?

Boneca: Agora? Não. Por quê?

Bora aprender a dar a seta?

Passa o endereço que te busco

16:26

Sabia que é feio visualizar e não responder?

16:32

O que foi? Tem medo de moto?

Ah...

Já sei, vai sair com o namorado, né?

Até esqueci que dia era hoje

Boneca: Não tenho namorado

Nem medo de moto

Hum... O que seria "aprender a dar a seta"?


Com certeza se fosse outra pessoa no lugar de Gabrielle, Diana ia aceitar a proposta sem fazer charme ou simplesmente dizer um "não" bem seco; simples assim, do jeito que ela gosta e sem firulas. Mas, com aquela motociclista... Parece que tudo dentro da jovem perdia o controle; funcionava ao contrário. A começar com as crises de irritação, as quais lhe abandonam na adolescência e voltaram com a corda toda. Porém, Diana, que naquele momento se encontrava enrolada em uma manta no banco da varanda assistindo ao longe, o sol fraco em meio a prédios, deixou essas reflexões em segundo plano para ler a próxima mensagem.


Motoqueira: Ué, significa exatamente "aprender a dar a seta"

Pensou que fosse o quê?

Sacanagem?

kkkkkkk

¬¬

Pernilonga: Relaxa, fia

Você pode ser bonitinha e eu sapatão

mas Barbies não fazem o meu tipo

Você é tão desnecessária

Motoqueira do Satã: Então vamos mudar isso agora. Me deixe ser útil para a humanidade. Só quero fazer essa caridade te dando aulas para salvar vidas.

Passa logo o endereço

Vou te bloquear

Motoqueira do Satã: Vai nada

E vamos combinar que você toda despreparada à solta no trânsito é um perigo para o futuro da raça humana

Querida, eu sei usar o inferno da seta!

Naquele dia deve ter falhado

mas eu desci a alavanca antes de virar!

+00 11 2233-4455: Claro que desceu

Eu estava lá, eu era o pisca apagado

16:39

+00 11 2233-4455: Não acredito que você me bloqueou!

16:40

+00 11 2233-4455: Ah... entendi. Isso quer dizer que você tinha salvado o meu número?

Que bonitinha :)

Se a boneca não quer responder, por que visualiza?

16:41

+00 11 2233-4455: E seta de moto, você sabe usar?

16:42

+00 11 2233-4455: O ser humano é um bicho muito mal-agradecido

Eu aqui, em pleno Dia dos Namorados, oferecendo na maior boa vontade aulas de direção free à uma caloteira destruidora de rodas que faz cosplay da Hello Kitty pistola, e como ela me agradece?

Com vácuos

Ameaça de bloqueio

Apagando o meu contato

:/

16:43

+00 11 2233-4455: Se você continuar destruindo o meu coração

onde a boneca vai morar?

16:44

Motoqueira depressão: Opa! A foto voltou

Agora fiquei emocionada :')

Para de ser besta

E pega logo o meu endereço antes que eu apague:

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