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BOM DIA CALABOUÇO
Ao som de uma sinfonia de Beethoven - alarme de celular -, acordo uns bons 20 minutos antes de ter que estar no calabouço. Não chamo as criadas nem nada, tendo a oportunidade única de estreiar minha legging preta super chique que nunca tive oportunidade de usar e meu ponche de palha super prático, que sempre levo pra todo lugar.
Minutos depois, Silvia bate na minha porta com sua típicas roupas sociais e olheiras horrendas. Seu cabelo está todo enrolado estilo Dona Florinda e há uma prancheta e uma xícara de café ocupando ambas as mãos.
- Não me olhe assim. Você sabe que horas são?
Lembrei de uma piada que sempre fazia com Gerald.
- Hora de aventu...
- Eu não sou eu às cinco da manhã! - gritou - Você consegue ser você às cinco da manhã?
E lá se foi minha grande oportunidade de fazer uma piada.
- Bom...
- É disso que estou falando! O rei Clarkson acha que eu sou o quê? Uma máquina? Olha, não tô recebendo por hora extra nem.... espera aí... esse ponche é de palha? - seu olhar era cauteloso. - Eu sempre quis um desse!
- Ah.. que legal né - Disse entre dentres torcendo para que a doida me levasse logo até ao tal calabouço - Posso te emprestar se quiser.
Eu não ia emprestar de fato, mas era ótimo deixá-la esperançosa por algo.
- Sério? - seus olhos se arregalaram. - Ah meu Deus!
- Ahã, mas que tal a gente ir pro calabouço? Não quero chegar tarde nem fazer nada pra irritar o rei.
Ela bebericou seu café enquanto assentia com a cabeça.
- Ah é sim. Ainda tenho que chamar a Celeste, mas minhas mãos estão ocupadas... a senhorita poderia me fazer o favor de bater na porta, sim?
Fiz uma careta. Uma batidinha na porta? Eu queria é poder ter uma daquelas buzinas igual faziam naquele progama do Gugu e gritar um 'acorda menina', mas infelizmente isto não seria possível.
Concordei como um animalzinho adestrado e dei batidas na porta da nossa adorável antagonista.
- Ah? Você? - Celeste me olhou de cima a baixo - Que roupas são essas?
- Roupas de trabalho - respondi - Não me diga que você vai com esse vestidão dourado de festa?
Ela deu uma voltinha ostentando a grande peça.
- E porque não? Estou querendo estreiá-lo desde o primeiro Jornal Official, mas nunca tive coragem.
- É né, haja coragem....
- O que disse?
- Nada... eu disse que é bem selvagem.
- Ah é bom mesmo. - Ela se virou para Silvia - É verdade o que dizem? Sobre os ratos no calabouço?
Silvia soltou um suspiro frustado.
- Não sei, não quero saber e tenho raiva de quem sabe - cuspiu indiferente enquanto nos conduzia até uma parede falsa que era até um tanto óbvia, mas que ainda não tinha chamando minha atenção. - Ano passado Donald Trump e o rei Clarkson fizeram uma reunião secreta por aqui, nesses corredores super estreitos.
- Ué, e o que eu tenho a ver com isso? - replicou Celeste ainda afetada pela falta de educação de Silvia - Cada um com seus problemas.
Silvia se virou pronta para atacar, mas eu me coloquei no meio das duas.
- É... que tal menos afronte e mais trabalho? Como diz a grande filósofa musical Britney Spears, work bitch!
As duas me deram olhares estranhos, mas acabaram desistindo da briga.
Bom, mas essa informação sobre o Trump e o rei neste reino valia mais que ouro. E eu estava disposta a arrancar mais alguma coisa de Silvia se fosse necessário.
Eu precisaria encontrar provas de que dois quase ditadores estavam tramando algo maligno contra o mundo.
Mas não agora. Tinha que me concenrar em começar a faxina no calabouço.
Depois de passar por um corredor super estreito iluminado por tochas, descemos uma escada de pedra antiga. Confesso, eu estava me sentindo em Howgarts.
Celeste dava gritinhos de dez em dez segundos.
- Credo, tem cocô de barata nos meus lindos saltos!
Silvia soltou uma risadinha.
- Vai se acostumando minha filha, porque você vai ter que se livrar deles.
- Por que? - Ela retrucou - Se as pessoas vão pro calabouço é porque cometeram algum crime horrível, então acho nada mais justo deixar o lugar como está. Eles merecem conviver com essas pragas.
- Nossa que mórbida - comentei descendo o último degrau e me deparando com celas mais antigas que o livro de Gênesis. - De onde tirou todo esse senso errado de justiça?
- Não é senso, é o correto. - Ela jogou os cabelos para trás - Quem concorda respira.
E ainda profere tweets como se fosse frases suas... não esperava menos de Celeste.
Silvia apontou para baldes e várias coisas de limpezas.
- Todos esses baldes, luvas, desinfetantes e esfregões são para a limpeza das celas. Bom, espero que não se assustem com os esqueletos... e fantasmas... tchauzinho, fui.
E assim Silvia sumiu, deixando apenas nós duas ali sozinhas.
- Esqueletos? - Celeste começou a piscar repetidas vezes. - Eu...eu... fantasmas?
- Bom dia calabouço - brinco me sentindo praticamente em casa. Ratos, baratas e fantasmas? Tinha tudo isso em casa!
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