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IRRELEVANTE


Na manhã seguinte eu era uma confusão de sentimentos: alegria, frustação e tristeza.

Alegria porque eu me casaria com Maxon(!).

Frustação porque minha melhor amiga ainda estava presa e não sabia nada sobre meu casamento.

E tristeza porque eu teria que me despedir das Selecionadas que com a prisão das outras, havia restado só duas. Três, se você quiser contar comigo.

E era o que eu estava fazendo naquele exato momento. Depois do café da manhã, Silvia nos chamou e posicionou todas nós numa fila paralela. Até Celeste que estava na ala médica, apareceu com a cabeça enfaixada, porém com uma expressão tranquila no rosto - abençoados sejam os analgésicos!

A família real surgiu trotando segundos depois, se posicionando do lado direito no hall.

Maxon estava entre seus pais em uma versão bem diferente a de ontem. Ele não estava mais com aquela expressão selvagem. E seus cabelos finalmente pareciam domados dentro de um penteado comportado-nerd-real.

E ele não estava com aquela cara engraçada que ele fazia quando estava prestes me beijar, o que eu não sabia interpretar como sorte ou azar.

Tentei apagar aquele pensamento rapidamente no instante em que Silvia chamou minha atenção estendendo uma língua de sogra bem no meu rosto.

- Garotas - Começou Ela - Hoje teríamos uma edição do Jornal Oficial, porém ela foi cancelada. Tecnicamente adiada.

- Ué? - Questionou Carlona - Mas por que?

- Eu poderia prosseguir minha fala colocando uma grande quantidade de palavras, mas isso apenas cansaria todos os envolvidos, então vou ser clara e direta: Maxon e América. America e Maxon. Os pombinhos do momento. É isso.

Celeste ficou de queixo caído.

- Mas o quê? - Berrou - O príncipe escolheu a idiota da America?

- Algo contra, senhorita Celeste?

- Muitas coisas contra, porém acho melhor essa daí virar princesa do que a cascavel da Kriss. - Ela ajeitou a postura e comprimiu os lábios - Bom, era só isso? Um anúncio para nos chutar?

- Senhorita - O rei Clarkson interviu - Pode pelo menos se portar como uma daminha por um minuto, sim?

Celeste deu um olhar mortal em sua direção. Ele não devia ter dito aquilo.

Ela estava prestes a entrar em ebulição.

- Não posso! - Cuspiu deixando todos nós de olhos esbugalhados - Eu nunca fui uma dama, aliás. E se a Vossa Majestade quiser alguém dessa espécie, por que então não tira aquelas duas santinhas da prisão? Prefiro ser direta do que ficar fingindo que nem aquela rebelde imbecil.

Olhei para Celeste com raiva.

- Olha como você fala comigo garotinha... - O rei deu um olhar gélido a garota. Maxon limpou a garganta e tentou amenizar a situação.

- Sei que foi repentino meninas, mas tenho mais absoluta certeza da minha decisão. America Singer será minha esposa.

Senti um calor bom atravesar meu peito ao ouvir Maxon me chamar de sua esposa. Tanto que peguei o termômetro que eu escondia pra emergências em algum canto do meu vestido e coloquei-o debaixo de um braço. 37 graus de delírio real.

Aquilo era loucura.

Talvez Celeste tivesse a mesma opinião, pois olhou feio para todos nós e saiu pisando forte.

Há, como se eu tivesse medo de cara feia. Mas algo dentro de mim dizia que para ela aquilo ainda não havia terminado.

Não pra aquela garota de cabeça enfaixada pelo menos.

- Eu posso trabalhar como dama de companhia da América? - Questionou Carlona batendo palmas para chamar a atenção. - Não me levem a mal, mas não quero voltar a morar na floresta.

- Carlona - Eu abri a boca pela primeira vez desde que havia entrado ali - Acho que não irei...

- Cala a boca, estou falando com Maxon. - Ela me cortou e depois deu um olhar suplicante a ele - Vai por favor Príncipe Maxon! Se eu voltar para minha casa minha mãe vai me obrigar a cortar lenha todos os dias e me alimentar de tatuzinhos de jardim!

Maxon olhou para ele parecendo estar dentro de uma saia justa.

- Bom, eu estava pensando em dar a outra pessoa este cargo...

- Tipo quem, hein? - Ela ergueu suas finas sombrancelhas - A Marlee? Ou a rebelde na qual está presa lá embaixo e que não vai sair até cumprir sua pena? Qual é! Elas não precisam de um emprego como eu, já que não ganhei esse troço e nem estou incluída no enredo original. Arrume outros afazeres pra elas e tenham pena de mim!

- Carlona querida - A rainha realmente olhou com pena para a menina tristonha que estava no meu lado. - Tenho certeza que encontraremos algo para a senhorita fazer aqui no palácio. Não se preocupe que você não vai sair daqui de Angels.

Nunca pensei que alguém poderia sorrir tão maliciosamente. Mas lá estava Carlona com o sorriso equivalente ao gato de Alice e o olhar vitorioso e brilhante estampados em seu redondo rosto naturalmente corado.

- Eu amo uma família - Ela cantarolou dando um pulo e se agarrando a rainha que soltou um grito surpreso - Eu amo essa paródia!

- Tirem essa garota de cima de mim! Ela tem pulgas!

Os guardas interviram, pegando Carlona e levando-a para vai se saber aonde.

- Então tá - Intervi dando um olhar para a família real - Carlona já teve seu final feliz, mas o que vai acontecer comigo caso eu revele coisas irrelevantes?

Todos me deram olhares confusos, como se eu fosse algum episódio desconexo dos Simpsons. Mas eu tinha tomado uma decisão depois do ataque rebelde.

Uma decisão que poderia mudar o futuro de Ilhéa.

Não, não tinha nada a ver com ditaduras ou exportações para o Alasca. Na verdade eu estava planejando em usar minha nova posição de princesa para espalhar para toda a população de Ilhea a rica cultura e história da nossa nação. Todas aquelas coisas que eu li nos livros do rei Clarkson deviam ser espalhadas. Não entendia o porquê deles terem escondido tantas coisas legais debaixo do tapete. Festas como o Halloween e o Natal deveriam ser comemoradas sempre!

Seriam informações irrelevantes por já existirem, mas ao mesmo tempo relevantes, porque quase ninguém do nosso país tinha conhecimento suficiente sobre nossa verdadeira história.

O que tecnicamente devia ser uma coisa irrelevante, já que a gente praticamente nasce sabendo dessas coisas. Meio que faz parte da identidade de uma pessoa.

Meu Deus, eu estava superando aos poucos meu déficit e me tornando uma provável prodígio ganhadora do Nobel.

Era só uma questão de tempo.

- Você não vai revelar nada - Disse o rei me dando um olhar sério - Como você disse é irrevelavel, então não tem importância.

- Na verdade tem sim, pai - Maxon deu um passo a frente, me surpreendendo por sua coragem.  - O senhor tem feito coisas um tanto questionáveis.

O rei Clarkson deu um olhar debochado para o filho.

- Como o quê? Colocar um cara no seu lugar por que você ainda era um  muito covarde para tomar sua posição?

- Bom, ele está falando sobre os segredos da nossa nação que o senhor está escondendo de todo mundo. - Coloquei as mãos no quadril - Não acha que já passou da hora de parar de fazer os outros de trouxas?

Recebi um olhar assustado da rainha Amberly e um ansioso de Maxon. Acho que eles podiam sentir minha revolta. Porém, ela não era uma revolta no sentido rebeldia, mas sim na qual me fazia desejar a justiça como eu desejava comida e consequentemente me tornar uma pessoa melhor.

Quem te viu, quem te vê América, pensei pra mim mesma.

O rei Clarkson pareceu estar estático por alguns segundos - segundos nos quais ele não desgrudou seu olhar mortal de mim. Depois pediu para que Silvia lhe pegasse um copo d' água.

Sua expressão de escárnio não me intimidava mais.

Afinal, era o que eu havia dito: America Singer não tem medo de cara feia.


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