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AS PRIMEIRAS SELECIONADAS
Parecia que eu era a primeira Selecionada a chegar no aeroporto. Fiquei feliz, pois poderia escolher meu lugar na janela. Já havia decorado os nomes e as castas das outras três Selecionadas, nas quais iam viajar ao meu lado.
Nunca havia entrado em um avião, mas deduzi alguma coisa no meu cérebro de um centímetro a experiência: Eu sentada em um assento, com o vento do ar condicionado fazendo bagunça nos meus cabelos. Ah, além das aeromoças me servindo alimentos enjoativos, claro.
Gravei os rostos daquelas meninas com um objetivo obscuro de fazer amizade. Nunca tive uma amiguinha de verdade. Sempre fui muito antisocial. Optava em ficar escutando Linkin Park num canto escuro da minha casa, do que conversar com alguém.
Me perguntava se alguma das garotas estaria triste. Agrh bobagem, se eu não tratasse de tirar essa carranca do rosto, elas acabariam rindo de mim. Tomei coragem para enfrentar o que estava por vir. O palácio seria uma válvula de escape. Não pensaria mais naquele desgraçado. Provavelmente iria sofrer na extrema pobreza com aquela feiosa e ter uma ninhada de filhos.
Adeus Aspen.
Sete horas depois, duas garotas nos mesmos trajes que euzinha, atravessaram a porta. Ambas sorriam e por alguns instantes pensei em como seriam perfeitas para trabalharem como bobas da cortes no meu governo.
- Oiiieeeee! - Eu disse radiante, extravasando alegria - Meu nome é America.
- Eu seeeieeee!! - Disparou alegremente a garota da esquerda, uma loira de olhos castanhos. Notei com um pouco de dificuldade (tive certeza só 12 horas depois) que se tratava de Marlee Tames, de Kent. Uma Quatro. Ela nem ligou para minha mão estendida; logo me deu um daqueles abrações de urso.
- Eita! - Deixei escapar. Não esperaria uma reação como aquela partindo de uma Selecionada. Na verdade achava um tanto esquisito, vendo como eu tinha deduzido que todas as garotas seriam frias e falsas até o último suspiro. Estava no direito delas agirem assim, já que eu era muito brilhante para pouca idade e iria roubar a única oportunidade que elas já tiveram de aparecer na televisão. Além conquistar o principezinho, é claro.
- Meu nome é Marlee, e o dela é Ashley.
- Tá, tá, eu sei - Disse, em um tom desinteressado. - Ashley, a outra loira de olhos azuis me deu um aceninho. Nada mais. Viável quando você é uma três.
- Amei seu cabelo! - Irrompeu Marlee - Ouvi dizer que ruivas gostam de acabar com a monarquia e instalar seu governo destrutivo. É verdade?
- Bobagem, sou um amor de pessoa - Desconversei - Que sabão você usa para suas roupas? São tão brilhantes!
- Coloquei glitter mesmo - Ela deu uma voltinha. - Achei que seria uma boa maneira de chamar a atenção do príncipe.
Tivemos uma conversa agradável sobre tipos de glitter e Ashley começou a falar que tinha ido ao MC Donald's no dia anterior. Logo estávamos em um debate acirrado sobre como as redes de fast-food eram mercenárias.
Tirando Ashley que era falsa de mais e dava uns sorrisinhos amarelos de vez em quando ou realmente falava, mas só para mostrar o quanto levava uma vida melhor do que eu, achei Marlee demais. Ela conhecia as gírias do rap e sabia muito sobre governos ditatoriais. Saíria daquilo com uma amiga, tinha quase certeza. Talvez a contratasse para a criação de leis no meu governo.
Uma morena de óculos escuros caminhava em nossa direção. Usava uma margarida no cabelo, só que tingida de vermelho para combinar com o seu batom. Por um segundo pensei que era uma das irmãs Kardashian, mas espremi os olhos e vi que não era bem isso.
Era Celeste Newsome, de Clermont, uma Dois. De fato, se ela achava que estava me provocando com aquela beleza descomunal, estava totalmente equivocada. Eu estava ali para derrubar a família real. Ela queria dar uns beijos no príncipe. Tínhamos objetivos e visões diferentes da vida.
Celeste finalmente chegou até nós. Sua entrada triunfal estava acontecendo em câmera lenta e percebi que nos encontrávamos naquele lugar e nas mesmas posições dois dias depois. Marlee tentou ser simpática e soltou um oi. Celeste apenas a olhou de alto a baixo e deu um suspiro.
- Quand une partie ? - Ela perguntou, mas se corrigiu - Quero dizer, quando partimos? Esqueço que estou lidando com débeis mentais agora.
- E eu vou saber?! - Falei - Por acaso tenho cara de empregada?
- Na verdade sim. Até achei que trabalhava no aeroporto, me desculpa - Disse num tom falso de lamento.
- Tanto faz. Tú demorou pra caramba, hein!
Celeste pareceu não gostar nem um pouco da minha linguagem gírialoka e fez questão de me medir, como havia feito com Marlee. Se não conhecesse a peça, pensaria que ela estava tentando decifrar minhas medidas para produzir o meu vestido de casamento.
- Desculpem, mas muita gente queria se despedir de mim. Sabe, fãs. Coisa que você nunca vai entender.
Revirei os olhos. Se não me controlasse, acabaria com a raça dela.
Um homem entrou pela porta e imediatamente peguei meu spray de pimenta na qual mamãe tinha me dado.
- Fui informado de que nossas quatro Selecionadas já chegaram.
- É isso mesmo cherrie - Celeste respondeu num tom açucarado. O homem foi atingido pela beleza e armas de sedução da garota, já que ficou estático por um tempo.
- Pois bem, senhoritas, tenham a bondade de me acompanhar. Vamos levar vocês até o avião, que vai partir para sua nova casa.
O voo foi muito loko (sempre quis dizer isto; agora não estou mais com minha mãe). Tirando a decolagem e a aterrissagem (quase tive um ataque do coração), tudo ocorreu tranquilamente. Havia filmes e comida e vi que Ashley me olhava com certa repulsa por ter acabado com todo o estoque disponível de batatas chips.
Celeste preferiu dormir durante o voo, o que foi um favor. Eu também tinha diluído dois comprimidos de calmantes em seu suco, o que contribuiu um pouquinho para essa benção. Ashley abaixou uma das mesas dobráveis do avião e começou a escrever sua aventura. Um desperdício de papel, pelo visto que ela tinha a formação de uma garota do segundo ano do fundamental, o que lhe dava desvantagem em desenvolver a escrita.
- Ela é tão elegante - Marlee cochichou para mim, enquanto apontava para Ashley.
Estávamos sentados uma de frente da outra em estofados, próximo a entrada do pequeno avião.
- Ela tem sido super legal desde que a conheci. Vai ser uma forte concorrente - Prosseguiu.
- Você não pode pensar assim - Respondi - Se você quiser chegar ao final, é claro. Pense nela como uma pedra grande no seu caminho. Chute-a mais rápido possível, antes que você "caía" - Fiz aspas com as mãos - Por causa dela.
Marlee pensou um pouco.
- Adorei a dica em metáforas. Mas é sério, é impossível não gostar de Ashley. Ela é muito simpática e bonita.
Concordei com a cabeça.
- Celeste por outro lado... - Marlee deixou pairando a frase no ar.
- Eu sei. Mal vejo a hora de ela ir embora e olha que nem chegamos no castelo ainda. Mas sinto que ela é do tipo que late, mas não morde.
Marlee colocou as mãos na boca para abafar a risada.
- Não queria falar mal de ninguém mas ... Ela é tão agressiva! E nem estamos do lado do príncipe Maxon ainda. Imagino o inferno que vai ser estar com ela.
- Não se preocupe - Confortei-a - Esse tipo de piranha é chutada logo no primeiro dia.
- Tomara. Queria que os Dois tivessem a consciência do tipo de sofrimento que já passamos.
Concordei. Os dois e os três não nos davam a mínima.
- Obrigada por conversar comigo - Ela disse - Pensei que seria tenso ficar ao lado de garotas falsas, mas você e Ashley aliviaram um pouco. Talvez seja divertido - Concluíu, cheia de esperança.
Disso eu tinha que discordar. Estar confinada em um palácio com trinta e quatro garotas, era no mínimo um horror. Preferiria estar no circo saltando uma argola de fogo. Mas era preciso. Tinha que estar no castelo para estudar aquela corrupta família. Tentar persuadir o príncipe a fim de saber alguns podres - Todo governo tem o seu furo, disso ninguém pode negar. A família Chaveiro tinha um segredo sujo e ali estava eu disposta a desvendá-lo.
Quando aterrizamos, encontramos aquela atmosfera enloquecedoura novamente. Uma multidão excitada estava murada por guardas, que impediam seus planos de sequestrar alguma Selecionada a fim de pedir uma boa quantia em dinheiro a família real em troca.
Celeste ia na frente, conduzindo o grupo. Aquela garota se achava a própria Kim Kardashian em pessoa e fazia questão de rebolar ao máximo os quadris. Virei a cabeça inúmeras vezes, a medida que as pessoas gritavam meu nome. Havia também cartazes com o meu nome. Me senti adorada. Havia pessoas de fato que queriam que eu fosse a escolhida. Queria ver o tamanho do sorriso delas ao saber que futuramente eu seria proprietária de Ilhéa.
Baixei por um instante e vi uma garotinha esmagada entre o parapeito.Tinha um cartaz em mãos, com a frase As ruivas dominam (e também gostam de tirar com sua cara) com coroas desenhadas ao redor. Ela também era ruiva; senti um orgulho danado da nossa cor de cabelo naquele instante.
A garota queria um autógrafo. Logo uma multidão veio pra cima de mim pedindo todo o tipo de coisa. Terminei aquilo vinte minutos depois, exausta e fui a última a chegar. Quando cheguei no carro, Celeste bufou, mas lembrei a ela o quanto tinha demorado para chegar no aeroporto naquele dia. Ela bufou mais uma vez e eu mostrei a língua. No fundo, ela morria de inveja por não ter tanta a atenção do público, como eu tive.
Pensei nas câmeras de TV me filmando, enquanto eu percorria o tapete inúmeras vezes, de um lado para o outro, atendendo o público. Pensei na minha família e como estariam orgulhosos de mim.
Aquela era a minha primeira interação social!
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