17

Minutos depois, eu estava batendo na porta do quarto de Maxon. Após a carta, resolvi que teria que tomar um banho. E me maquiar. Talvez tentar um penteado novo para meu cabelão cor de fogo. Fiz tudo isso ao mesmo tempo e ainda li um pouco da triologia de Jogos Vorazes. Estava me identificando demais com Katniss Everdeen.

Depois de me emperiquetar toda, resolvi que deveria dar um presente para os anfitriões. Remexi nas minhas coisas e embrulhei para os dois (Maxon, Tom Cruise) sabonetes com aroma de gambá que havia ganhado no meu aniversário de 15 anos e nunca tive oportunidade de usar.
Eles tinham sorte de eu ser uma convidada bastante generosa.
Quando Maxon atendeu a porta, dei um passo para trás quase não o reconhecendo. Ele estava sem os óculos e seu cabelo um pouco grande, que costumava ser todo bagunçado, estava finalmente domado. Ele vestia uma camisa de botões e calças sociais pretas.

- America - Ele fez um aceno com a cabeça. Eu entrelacei os dois braços de frente ao corpo, me sentindo  exposta e fofa com meu vestido de decote coração, azul bebê.

- Maxon - Respirei fundo, encarando-o mais uma vez. Caramba, ele estava tão bonito! Mas eu não deveria me deixar influenciar por seus encantos masculinos. Não quando eu tinha objetivos maiores em mente.

Comer doces!

- Você está muito bonita - Ele me olhou rapidamente - Totalmente deslumbrante.

Senti meu rosto se esquentar. O vestido era feito de papel crepom azul claro com outros pequenos pedaços de papel verde. Era uma ótima opção, pois se eu arrancasse os papeis azuis, voalá! Daria um look totalmente diferente.

- Dê os créditos a Anne Frank. Ela sabe produzir um bom vestido.

Ele assentiu enquanto me empurrava para dentro.

- Entre. Tom Cruise chegará a qualquer momento.

- Okay.

Entrei naquele quarto que já era tão familiar para mim e encarei uma pequena mesa redonda de madeira fina, colocada no lugar da piscina de bolinhas. Ela estava decorada com um buquê de rosas brancas no centro e havia pratos, garfos e talheres postos em frente as três cadeiras.

- Isso é formal?

- Um pouco.

- Ahhh... - Me contorci - É que sou um desastre ambulante na mesa, sabe. Como com a mão, faço barulho, essas coisas.....

Sua expressão se suavizou.

- Ah America, não se preocupe com isso. Gosto de você do jeitinho que é. Nem se você curtisse essas baboseiras do tipo youtubers e tutoriais de maquiagem da Vogue, o importante é que você é pura por dentro.

O que ele quis dizer com aquilo?

- Legal... Então, acabei descobrindo de quem você tá afim.

Ele me olhou com um ar de surpresa.

- S-sério?

- Aham. Também acho ela muito bonita, pelo menos para inspirar letras de músicas.

Ele fez uma careta.

- Achei essa observação nada modesta.

Fiz um gesto com a mão de desdém.

- Ah não se acanhe Maxon Chaveiro. Anitta é uma boa garota.

- O quê???

- Sim, Anitta, a cantora que você tá afim. Apesar das músicas serem meio enjoativas, gosto daquela chamada sim ou não.

- O que???

Dei um passo para trás, arranquei meus saltos e comecei a dançar a coreografia da música.

- America, o que é isso???

- Se quiser jogar vem, mas tem que arriscar vem, vai ser sim ou não, ou não ou não...

- AMERICA!!!

Parei a coreografia com o grito.

- O que foi?

- America.... Anitta não é a minha escolhida.

- Então quem? Aquela Anavitória?

- Pode ter certeza que não é nenhuma dessas cantoras, America.

Abri um sorrisinho cúmplice, dando um soquinho no seu ombro. Ele encarou o gesto com uma expressão confusa.

- Ah seu safadinho eu já sei quem é...Alessia Cara!

- Quem é essa?

- Esquece. E o que você me diz de Ariana Grande?

Ele caminhou até um mini geladeira e tirou de lá uma jarra de suco. Peraí, ele era um mortal? Pensei que o cara teria bolsinhas de sangue dentro do refrigerador. Claro, comecei a pensar nisso depois de ler sua última poesia.

- Que tal deixarmos isso em off? - Ele encheu um copo para mim e me entregou. Encarei o suco como encaro todas as bebidas com meu olhar Sherlock Holmes: estreito, investigador e sagaz, com direito à testa franzida e de vez em quando uma única sombrancelha erguida.

- Tudo bem - Me sentei na beirada de sua cama - Mas então, já que meu crush Tom Cruise ainda não chegou, que tal começarmos com o questionário?

- Ah?

- Criei um questionário de coisas nas quais você deve me responder - Tirei de algum lugar uma folha e comecei a desdobrá-la, limpando a garganta em seguida - Você diz que conhece o palácio - Estreitei meus olhos - O quanto???

- Bem, eu....

Apontei para a cadeira.

- Sente-se.

Ele me encarou por um instante, mas se sentou.

- Okay.

- Então Maxon... O quanto de conhecimento você tem sobre este antigo palácio?

- O bastante para saber que a segunda guerra mundial acabou em 1945, Titanic rendeu 11 oscars e que o Brasil perdeu pela segunda vez consecutiva em casa - Ele suspirou - Ufa!

- Interessante - Passei o polegar sobre o queixo - Mas não o bastante. Você quer dizer que andou dando umas bisbilhotadas nos livros de história?

Ele deu de ombros desviando o olhar.

- A regra se aplica a população, não a um integrante da família real.
Ergui uma luz forte sobre ele.

- Que desculpinha mais esfarrapada!

- Tudo bem, é que eu sou meio curioso. - Ele levantou as duas mãos em rendição.

- Conhece a história sobre a fundação de Ilhéa?

- Obviamente. Li livros que falavam sobre o assunto.

Desfoquei a luz do seu rosto e respirei fundo.

- Você conhece a torre?

Ele me encarou com horror.

- Como você sabe da torre?

- Ossos do ofício - Dei de ombros - Mas acabei descobrindo que alguma....

Uma batida na porta cortou minha fala. Maxon se levantou automaticamente.

- Deve ser o Tom Cruise.

Ajeitei meu vestido de papel crepon enquanto Maxon ia atender a porta.

- Ei Maxon há quanto tempo! - Ouvi a inconfundível voz de Tom Cruise com uma nota grandiosa de sacarsmo.Fui em direção a porta com expectativa grande enquanto as tiras crepom flutuavam graciosamente no ar. Maxon se separou do abraço do meu querido crush, e minha mente teve a oportunidade de estudá-lo de cima a baixo.

Dei uma cotovelada forte no abdômem de Maxon.

- Aii, qual é o seu problema America??

- Esse não é Tom Cruise - Apontei para o homem a minha frente com um sorrisão dos lábios - Esse é Charlie Charplin!

Charlie apontou os dois polegares para si mesmo.

- Sou esse mesmo!

Dei mais uma cotovelada em Maxon. Ele gemeu de dor.

- É assim que pretende ganhar minha confiança? Me enganando descaradamente?

- America, por favor me escute....

Me virei para Charplin.

- O que ele prometeu a você?

- Antes ou depois de me ressucitar? - Ele girou sua bengala. Lhe dei um olhar frio.

- Pode contar amigão - Balbuciou Maxon.

- Ele me prometeu uma maratona de filmes do século XXI para que eu pudesse debochar deles.

Olhei para Maxon. Ele deu de ombros.

- Eu posso explicar....

- Pois então explique - Cruzei os braços - Não me arrumei toda pra isso. Nada contra o senhor, Charplin, mas é que meu crush sempre foi e sempre vai ser....

- Tom Cruise? - Uma voz inconfudível e familiar me fez virar para a porta. Lá estava ele: Olhos castanhos, cabelo arrumadinho, terno e sorriso charmoso. Sem pensar duas vezes, pulei para cima dele. Ele caíu no chão.

- Ora ora uma fã obcecada! - Gritou Charlie enquanto finalmente entrava no quarto em passos de pinguim. Olhei para Tom que me encarava com um sorriso nervoso.

- Sou sua maior fã! Assisti Top Gun e tudo!!!

- Oh sim - Ele soltou uma gargalhada - Bons tempos aqueles aliás. Ainda não sofria de dor nas costas por garotas que me jogavam no chão...

Me levantei rapidamente.

- Me desculpe por isso, é que estou tão emocionada!

- Cheguei atrasado porque ainda estava no meio do expediente - Explicou - A rainha Amberly precisava ser escoltada ao toilet.

- Sempre tão atencioso! - Pulei mais uma vez nele e ele caíu novamente.

- Maxon foi quem providenciou tudo- Ele apontou para algum canto - Agradeça a ele.

Me virei e fitei Maxon cabisbaixo. Sem pensar duas vezes corri ao seu encontro e lhe dei um abraço caloroso.

- Obrigada obrigada obrigada - Dei batidinhas nas suas costas.

- Ah... De nada.

- Mulheres - Charlie nos fitou - Uma hora te odeiam, depois te amam. Nunca irei entendê-las.

Entramos todos no quarto e eu fiz Tom Cruise se sentar no meu lado na mesa. Maxon começou a remexer no refrigerador. Charlie Charplin tirou seu chapéu da cabeça e moveu o maxilar fazendo seu bigode se mover. Eu comecei a rir e ele me deu um olhar estranho então tratei de fechar a boca.

Quando Maxon trouxe as tortas, minha boca automaticamente comeceu a se encher de água. A útima vez que saboreei uma torta não havia acabado muito bem; meu pai havia trago do trabalho apenas três míseros pedaços de torta de chocolate. Mamãe e papai ficaram com dois peçados respectivamente, o que obrigou nós crianças a dividirmos um único pedaço. Ainda carrego comigo a cicatriz no braço direito da dentada feroz que May me presenteou naquele dia. Aquela menina não é de Deus quando um doce é colocado a sua frente.

- Qual dessas você deseja experimentar primeiramente America? - Maxon perguntou enquanto eu fitava as quatro possibilidades à minha frente.

- A de morango tem uma cara tão boa.... Vou querer a de morango.
- Quero a de limão - Pediu Tom. Charlie arregalou os olhos.

- E eu todas!!!

- Calma aí gente sou só um - Maxon partiu delicadamente um pedaço e colocou no meu prato de sobremesa. Peguei meu garfo e sem esperar mais um segundo, coloquei um pedaço na boca. Uma explosão de sabores aconteceu da minha língua ao céu da minha boca.

- Mmmm - Soltei enquanto acabava com a torta em meio minuto e esticava o prato para mais. Maxon levantou uma sombrancelha enquanto encarava meu prato.

- Vejo que gostou da torta.

- Adoreeei, é tão gostosa! Se as pessoas fossem assim, como uma torta, eu comeria todas!

- O que disse?

- Hum, nada. Soou meio estranho né? Esquece. - Balancei o prato - Vai aí mais um pedaço?

- A senhorita tem um apetite muito aberto - Charplin comentou. Tom concordou lentamente e eu me senti traída.

- Ah é? Tenho uma irmã que é obcecada por doces, mais do eu. Aposto que ela experimentasse essa torta, ela choraria.

- Até parece.

- Fica quieto Charlie - O encarei. Maxon ainda me encarava com uma das sombrancelhas erguidas. Era um recorde digno de um Guiness ou ele estava com um princípio de derrame.

- Acha que ela choraria?

- Não só acho como tenho certeza.
Tom deu um assobio profundo.

- Ela está te desafiando Maxon.

- Eu sei. Então vamos fazer uma aposta querida America.

- Não sou sua querida.

- Me desculpe, velhos hábitos. Mas voltando ao assunto aposta,o que você colocaria a prova?

- Bem, o que você colocaria a prova? - Rebati enquanto tentava manter minha expressão confiante.

- O que a senhorita quer? - Ele replicou.

Fiquei pensando em várias coisas, desde expulsar seus pais do país a tentar exportar Aspen para o Alasca.
Mas já havia decidido uma coisa mais importante do que todas aquelas opções.

- Se ela chorar, quero desfilar pelo palácio de calças jeans.

Todos começaram a rir e eu fiquei me perguntando o motivo da risada. Eu não iria desfilar de fato, mas era um modo mais elegante de dizer que eu ficaria com ela grudada 24 horas por dia, 7 dias por semana. Me entendam pessoal! Já faz um bom tempo que não danço Sia. E nem me movo de um lado para o outro fazendo estrelinhas. É totalmente estressante.

- E você Maxon? O que você vai apostar?

- Se a senhorita May não chorar, você me deve um passeio pela propriedade amanhã de tarde.

Revirei os olhos.

- Isso é tão clichê, mas está feito. De qualquer jeito você vai perder mesmo.

Ele me deu um olhar desafiador.

- Isso é o que nós vamos ver.

***

Depois de todo mundo acabar com as tortas, Charlie e Tom se despediram de nós. Bom, cada um com uma desculpa mais esfarrapada que a outra. Charlie disse que precisava voltar para seu caixão pois precisava tomar uma ducha de poeira. Tom por sua vez, comentou que passaria seus sapatos para o trabalho de amanhã. Desde quando se passava sapatos? Ele era tão insano. Mas ainda sim muito bonito.

Então novamente só restou nós dois, Maxon e eu. Maxon havia acabado de enviar pedaços de torta de morango para May e eu estava ansiosa demais para saber do resultado. May deveria chorar ou então da próxima vez que a visse a enforcaria. Não sou uma irmã agressiva, nada disso, é só meu espírito competitivo dando sinal de vida.

- Maxon queria te fazer uma pergunta.

- Não, você não pode ressucitar Elvis Presley. Charlie foi uma excessão e posso dizer que...

- Não, não tem nada a ver com isso. Tem a ver com a torre.

- De novo com esse papo de torre?

- Maxon, alguém me recomendou checar essa tal de torre e você vai me ajudar.

- Quem te disse sobre ela?

- A Rihanna. Mas então, você vai me levar até lá ou não?

- Não sei não....

- Nunca mais falarei com você se não me fazer esse favor - Apelei pro emocional - Você não terá mais uma amiga...

- Okay, tudo bem. Eu te levo a tal torre. Mas pode ser amanhã? Estou muito cansado, de verdade.

- Tudo bem, uma última perguntinha: Você é um vampiro?

- O que???

- É que li aquela sua letra doida e fiquei pensando que você poderia ser um, sabe..

- Oh não. Foi mais uma fase, sabe. Maratona de filmes crespúsculo.

- Entendi. Então a gente se fala amanhã tá?

- Tudo bem America - Ele pegou minha mão e plantou um beijo no dorso - Até amanhã.

Senti meu corpo inteiro se aquecer apenas por aquele toque.

- Até amanhã Maxon.

- Se houver amanhã, America.

- O que tá querendo dizer? Que o apocalipse chega amanhã?

- Não, é que sempre quis dizer isso. É um título de um livro do Sidney Sheldon.

Eu não sabia quase nada sobre livros, então só soltei um ah e abri a porta rapidamente, saíndo daquele quarto. Meu corpo ainda estava quente e eu lembrei do olhar carinhoso que Maxon me deu. As coisas não podiam evoluir. Ainda sou uma garota de coração partido.

E disposta a derrubar a monarquia.

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