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CONVITE E POEMA
- Nunca voltarei àquele salão - Anne Frank desabafou enquanto Lucy Hale e Mary Jay faziam o que podiam para retirar os pedaços de macarrão grudados no seu cabelo - Aquelas meninas tem o intelectual muito baixo. Principalmente a loira peituda.
- Loira peituda? - Questionou Mary Jay enquanto arrancava um tufão preto do cabelo de Anne.
- É a chata da Celeste - Respondi, enquanto tentava naquele aparelho eletrônico com uma tela fina e teclado embaralhado, pesquisar algo sobre os reis de Ilhéa. Acabei descobrindo que em 1678 houve um rei chamado Jay-z Chaveiro, o que inspirou o rapper Jay-z no nome artístico. Um bocado estranho.
- Sim, aquela garota é muito egocêntrica - Completou ela - Ela começou a conversar comigo e é claro que fui uma ótima ouvinte, mas daí quando comecei a debater sobre o terrível governo de Hitler e tudo mais, ela simplesmente me respondia com aquele 'Hmm, é mesmo?'
- Eu te avisei Anne, essa resposta é infalível.
- Certo, mas não funcionou muito com aquelas fãs do cantor da musiquinha Stitches. Elas começaram a me encarar com aqueles olhares raio laiser e eu só me afundei na minha velha revistinha de história da Alemanha que achei num quartinho aqui do palácio...
- Peraí - Disse Mary Jay - Você disse revista de história?
- Vish - Sussurrou Lucy.
Acho que sabia mais ou menos o questionamento de Mary Jay. A verdade era que é proibido em Ilhéa ter acesso a livros antigos, principalmente os de história. Será que erramos de enredo e estamos no Admirável Mundo Novo?
- É... - Anne começou a olhar para todos os cantos do quarto - Na verdade não encontrei em lugar nenhum não. Foi minha mãe que me deu?
- Você está me fazendo uma pergunta? - Indagou Mary Jay - Como eu vou saber?
- Foi antes ou depois dela morrer? - Perguntou Lucy, aumentando o som da TV que passava um videoclipe da Ariana Grande. Anne revirou os olhos.
- Antes dãããã.
- Enfim - Comecei - De qualquer maneira tenho que te agradecer por permanecer naquele salão por meia hora. Você é uma guerreira.
- Bom - As bochechas dela coraram - De nada. Apesar de você não ter me explicado a causa, razão motivo ou circunstância de dar um pulinho lá no terceiro andar porque é uma pessoa muito misteriosa, mas acho que...
- Não sou misteriosa.
- Um bocado minha filha - As três criadas balbuciaram ao mesmo tempo e me questionei por uns dez segundos se eu realmente era uma garota misterosa. Bobagem, eu não escondia quase nada de ninguém, exceto minha vida. O que havia de mal nisso? Absolutamente nada!
- Talvez eu seja um pouquinho, mas que seja - Concluí. Houve uma batida na minha porta e Lucy ajeitou seu vestido esfarrapado, enquanto Mary Jay tirava os macarrões do cabelo da pobre Anne e eu tentava desligar aquela geringonça da Apple após ter clicado em uma propaganda (ganhe um milhão de dólares sem fazer absolutamente nada!) e o computador ter travado. Depois dizem que é Apple é pioneira em tudo o que faz. Um grande engano.
- Um convite - Lucy disse num tom eufórico - Para um concerto de música aqui no palácio.
- Ótimo, perfeito - Comentei - Ainda mais essa. Apesar de Mozart ser muito legal e tudo mais, já estou enjoada de ouvi-lo.
- Não é um concerto de música clássica, acho - Lucy jogou um envelope para mim. Peguei como uma jogadora de beisebol profissional.
Tirei um papel do envelope e fiquei chocada. Era um concerto com cantores como Katy Perry, Rihanna, Ed Sheeran e Shawn Mendes! Parecia que alguém tinha lido meu diário e realizado meu sonho, afinal.
Estou brincando, gente.
A não ser que... onde está meu diário? Diário, pequeno diarinho... ops, eu nem tenho um diário! Que alivio. Se bem que deve ser legal ter um para anotar minhas frustações de vez em quando. Não, bobagem. Uma garota como eu (futura ditadora, quase se formando!) nem devia se dar ao trabalho de ter um. Ninguém precisa saber dos meus planos maquiavélicos. Pelo menos por enquanto.
- Não estou acreditando! - Gritei ao mesmo tempo que arremessei o Macbook ao outro extremo do quarto. Ele quebrou em alguns pontos e Anne soltou um gritinho assustado. Sia começou passar na TV e eu tentava sem sucesso imitar a coreografia do video.
- Se controle senhorita América - Mary Jay me segurou pelos braços e me colocou de volta na cama com uma chupeta na boca. Cuspi aquele troço quase que imediatamente ansiosa demais para me concentrar em qualquer coisa na minha boca. Isso incluía Tridents de melancia que são uma delícia.
- Aliás - Anne Frank se levantou da cadeira e começou a percorrer o olhar rapidamente pela a carta - Você leu as letras miúdas?
- Ah - Comecei a pular na cama eufórica - Não dou muita importância pra isso.
- Mas deveria dar. Aqui diz que o concerto não será para todas as garotas... apenas para as que passarem em uma prova.
- Prova? Bom, não tendo álgebra nem física por mim tudo...
- Não é uma prova dissertativa senhorita - Interrompeu ela - Aqui diz que você tem que estar às dezesseis em ponto no jardim do palácio.
Parei de pular na cama e me sentei um pouco cansada.
- Bom fazer o que né...
- Isso está me cheirando a Big Brother! - Lucy bateu palmas eufórica.
- Vira essa boca pra lá menina.
Comecei a pensar. Que tipo de prova eu teria que fazer pra ganhar um show com Ed Sheeran? Coisa fácil não devia ser.
***
Ás exatas três e quarenta e cinco da tarde, eu estava prontinha para descer a escadaria e ir até o jardim. Mas antes tinha que dar uma passadinha no quarto do príncipe Maxon (o verdadeiro). Devia tirar algumas coisas a limpo com ele.
Era sério. Tinha que desmacarar aquela família o mais rápido possível. Sentia que estava perdendo muito tempo.
Mary Jay, Anne Frank e Lucy Hale arrumaram para mim um vestido amarelo com muitos bordados com uma barra que ia até o chão. Aproveitei a deixa para calçar meus all stars que havia levado escondido de casa na mala. Podem me julgar, jogo sujo mesmo.
Quando abri a porta me deparei com uma pequeno pacote. Estava endereçado a mim e era de Maxon. O sacudi cautelosamente como alguém que sacode um ovo de páscoa a fim de descobrir o brinde. Não havia peso nenhum dentro. Estranho.
Comecei a rasgar o papel pardo furiosamente e arranquei o barbante com os dentes. Qualquer pessoa que estivesse passando pelo corredor naquele momento teria se assustando com meu extinto selvagem.
Eram papéis com alguns rabiscos... Alguns nem chegavam a metade da folha. Li um com bastante atenção.
Essa coisa
Estava por aí, você por aqui
Te vi e mais uma vez e... acho que me perdi
Suas dúvidas, seus mistérios
Vou acabar parando num cemitério
Não é sua culpa
Não é nossa culpa
Essa coisa é mais como uma sepultura
Você quer desenrolar, decifrar
Descobrir meus segredos
Mas sei que no fundo você tem certos receios
Seu jeito de me observar me deixa louco
Oh eu estou com fome! Acho que vou comer um biscoito.
Dobrei o papel e o guardei na caixa, meio atônita. Precisava ver. Maxon. Naquele momento.
Caminhei discretamente até chegar ao lance de escadas que dava até o terceiro andar. Não havia ninguém lá. Corri em disparada à porta (os tênis ajudaram) de Maxon e dei batidinhas firmes na sua porta. Ouvi algo se espatifar no chão e recuei um pouco. Maxon atendeu a porta segundos depois e vendo que se tratava de mim, pegou meu braço delicadamente e me trouxe para dentro. O quarto estava o mesmo desde que eu havia visitado naquela manhã, a não ser por um tubo de ensaio estraçalhado no chão.
- Por sorte estava vazio - Comentou ele quando viu que eu estava fitando o vidro - Teria acabado com o meu carpete se tivesse o líquido verde. A mancha nunca mais saíria.
- Ah - Soltei simplesmente - Você sabe que alguém aqui está planejando trazer uns cantores maravilhosos pra a gente aqui no palácio?
Maxon me encarou balançando a cabeça.
- Sim. Ouvi meus pais conversarem sobre o assunto hoje, no escritório. A idéia foi obviamente de Marlon.
Marlon? Uau.
- O usurpador? Pelo menos ele foi sensato alguma vez na vida.
- Eu não pensaria assim - Ele colocou luvas de látex descartáveis - Aquele garoto é extremamente egoísta e mesquinho.
- Como assim?
Ele começou a pegar tubos de ensaio e despejar um líquido azul escuro borbulhante dentro deles.
- Na verdade, não vai ter nada de concerto. Pelo menos não para todas as Selecionadas.
Revirei os olhos.
- Mas é claro que não. Haverá uma prova daqui a pouco no jardim e só quem passar nela vai poder ver os shows.
Ele balançou a cabeça lentamente em negativo.
- Não confie nisso, Marlon já tem tudo esquematizado. Ele já escolheu quem vai assistir a esses shows a dedo. E não incluí você, querida.
Coloquei as mãos nos quadris.
- O que eu disse sobre essa coisa de querida?
Ele voltou a me fitar novamente. Tinha largado os tubos na mesa.
- Oh escapou, me desculpe.
Estava furiosa demais com aquele tal de Marlon que seria capaz de despejar todos aqueles líquidos idiotas de Maxon na calça dele e.... peraí, já sei!
- Peraí, já sei!
- Você já disse isso.
- Então está querendo me dizer que eu narro minhas ações em voz alta?
Ele concordou com a cabeça. Meu Deus, eu era mais louca do que pensava.
- Bom, de qualquer forma, não ligo. Mas por acaso você me ouviu falando de algum governo ditatorial e a derrubada da monarquia?
Maxon fez uma careta.
- Eu me lembraria se tivesse dito algo a respeito. Então, qual é sua idéia?
Idéia? Oh sim, a idéia! Que idéia?
- Dá para por favor me contar a idéia ao invés de ficar repetindo e repetindo uma frase inúmeras vezes?
- Okay, Okay - Respirei fundo - Bom, acho que seus líquidos misteriosos serão de grande ajuda para meu grande plano maquiavélico! UAHAHAHAHAHAHA!!!
Maxon me olhou espantado mas um segundo depois abriu um sorriso atencioso.
- Sempre soube que você era meio do mal... Mas o que as minhas belezinhas líquidas podem fazer por você?
- Muitas coisas. Principalmente se causarem dano ao corpo de Marlon, o usurpador.
Maxon abriu ainda mais o sorriso.
- Acho que tenho a solução.
Maxon me deu um líquido transparente no qual me recomendou colocar em algo também líquido. Quando Mason ingerisse aquilo teria uma bela surpresinha.
Estava quase saindo do seu quarto, quando a lembrança dos papéis voltou a minha mente. Olhei de relance para ele, que mexia concentrado em alguns tubos de ensaio e sorri.
- Maxon?
- Sim?
- Eu vi aqueles papéis e... bom... eu gostei. Principalmente aquele que se chamava Essa coisa. Minha parte favorita é quando você quer um biscoito.
Suas bochechas ficaram levemente coradas. Era adorável.
- Muito obrigado. Aquela eu fiz pensando em você.
Aquilo era sério? Não sabia que podia servir de inspiração para alguma coisa. Não além daquilo que fazemos quando nos sentamos na privada.
- Isso foi um comentário pesado e nada apreciativo , América.
- Tudo bem, parei.
- Leia o resto depois da prova - Ele fez aspas com prova - Tem uma surpresa para você lá.
Estreitei o olhar.
- Tem a ver com Tom Cruise trazendo o café da manhã para mim?
- Não.
- Então, você dispensando aquelas criadas e trazendo Tom Cruise para costurar meus vestidos?
- Deus, não!
- Tom Cruise substituíndo Silvia ou Marlon ou...
- Só leia os papéis, America.
- É bom que tenha a ver algo com Tom Cruise.
Ele deu de ombros.
- Meio que tem - Ele checou o relógio de pulso - Tecnicamente você só tem dois minutos para descer até o jardim. Ou será "desclassificada".
- Oh sim - Concordei - "Desclassificada". Como se na mente de Marlon eu já não estivesse. Bom, a gente se vê por aí. Tchauzinho.
Abri a porta e corri em disparada ao jardim. Aquele aprendiz a príncipe ia aprender uma lição. Se eu não ia ver um show do Ed Sherran, ele também poderia desconsiderar assistir um.
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