10
QUARTOS, CRIADAS E SAPOS
Começamos a percorrer o segundo andar; cada menina ia ficando em seu quarto. O meu ficava depois da selva dos tigres e do galinheiro das sete galinhas falsas. Fiquei feliz ao saber que não ficava perto do grupo de mamutes e das girafas como o de Marlee. Aquele palácio era um bocado estranho.
Assim que nossa guia saiu, abri a porta do meu quarto e fui surpreendida por três garotas. Elas se apresentaram apressadamente: Lucy Hale, Anne Frank e Mary Jay. Esqueci quem era quem quase imediatamente. E ainda estava abismada em como Lucy Hale havia abandonado o elenco de PLL apenas para me servir. Vou te contar, a fama é algo muito ruim. Ela estraga a vida de outras pessoas.
- Eu só preciso de uma sonequinha, sério. O melhor que vocês podem fazer por mim é me deixar descansar e dar uma relaxada também. Mas por favor, me acordem quando for a hora de descer.
Depois de reverências exageradas nas quais eu tentei evitar, estava a sós. Não consegui dormir é claro. Virei de um lado, virei do outro, deitei de bruços, de costas até ter quebrado a cama experimentando uma posição extremamente arriscada. Aquilo ainda era tudo novo para mim.
Havia um violino no canto, e também um violão e um piano maravilhoso, mas não consegui me empolgar com eles. Claro, fiquei surpreendida quando estiquei os dedos e soube tocar Let It Be dos Beatles, mas nada assim tão notável.
Tinha certeza que havia surpresinhas para mim no armário e nas gavetas mas suspirei frustada ao encontrar apenas um Iphone, um Ipad, Xbox One e Macbook. Esperava apenas de um pouquinho de acetona. Precisava tirar o esmalte das unhas.
As criadas voltaram um tempo depois e as deixei me vestir. Ela engraçado à beça ver Lucy Hale escolhendo meu vestido.
Elas puxaram partes do meu cabelo para trás e prenderam com presilhas delicadas, além de retocar minha maquiagem. O vestido - que como o resto do guarda-roupa, fora criado pelas mãos delas - era verde escuro (o que me fazia parecer uma bela árvore de natal só que sem pisca piscas) e sua barra tocava o chão. Silvia bateu à minha porta pontualmente às seis para me levar com minhas três vizinhas. Esperamos as demais no vestíbulo ao pé da escada então marchamos ao Salão das mulheres. Marlee me viu e caminhamos juntas.
Todas andavam em perfeita sincronia, marchando de vestido e salto alto, o que era um bocado elegante. Notei que as portas da sala de jantar estavam fechadas quando passamos. Será que a família real estava lá, fazendo sua última refeição a três?
Isso, se alimentem bastante. Enquanto estiverem no poder.
O salão das mulheres tinha mudado na nossa ausência. Os espelhos, cabides e alguns rifles pendurados num canto (para conter alguma Selecionada caso surtasse) deram lugar a mesas e cadeiras além de uns sofás que pareciam bem confortáveis. Pulei de cabeça em um, e Silvia me deu uma cara feia. Tratei de me sentar do jeito correto e Marlee veio para meu lado.
Quando todas estavam acomodadas, ligaram a TV de 300 polegadas e começamos a assistir o Jornal Oficial. As mesmas notícias de sempre - Guerras do outro lado do muro do palácio, a ressurreição misteriosa de um primata, entrevista com uma girl group - para depois depois dedicarem os últimos trinta minutos para os comentários finais de Gavril sobre as imagens do nosso dia.
- Aqui vemos a senhorita Celeste Newsome se despedir de seus muitos admiradores de Clermont. Essa garota precisou de mais de uma hora para dizer adeus aos fãs.
Celeste abriu um sorriso convencido ao se ver na TV. Ela estava ao lado de Bariel Pratt, com seus cabelos alisados e de uma cor loira impressionante. Agora ela era a cara da Kyller Jenner. E não havia maneira de comentar delicadamente as curvas de seu corpo . Seu peitos eram enormes. Quase tinham vida própria querendo saltar do vestido tomara que caía que ela vestia. Desconfiava que ela tivesse colocado silicone.
Bariel era bonitinha, mas de um jeito um tanto comum. Tinha um pouco do estilo de Celeste. Vou te falar, pareciam muito com as Kardashians.
- E as outras vadias do meio leste mostraram ser também bastante populares. A atitude bastante refinada de Ashley Borboleta a assemelha a qualquer princesinha da Disney. E Marlee Tames, de Kent, estava toda eufórica e animadinha, o que me faz a comparar um pouco com Taylor Swift no carisma. Ela até cantou o hino nacional com a banda enviada ao local.
Fotos de Marlee dando cabeçadas com uma garota apareceram na tela.
- Ela é uma das minhas favoritas de muitas pessoas que entrevistamos hoje.
Marlee estendeu seu braço e pegou minha mão. Lutei contra a vontade de reclamar, pois a vi minutos atrás enfiando o dedo no nariz, mas gostava demais dela para magoá-la. Amigas serviam para isso.
- Quem também viajou com a senhorita Temer, foi America Signo, uma das três cinco a chegar à Seleção.
Fiz uma careta ao ver como eles haviam pronunciado meu sobrenome e fixei meu olhar na tela. Eu estava horrível, Deus. Meu cabelo parecia um tufão voando contra ao vento e não dei cabeçadas com ninguém. A única imagem bonitinha e comovente foi a do abraço com meu pai. Eles nem fizeram questão de mostrar a minha interação com a população, no aeroporto. Filhos da mãe.
- Sabemos que castas não significam nada na Seleção, e parece que não devemos deixar a senhorita América de lado. Assim que aterrissou em Angels se tornou a queridinha da multidão, parando para tirar fotos, distribuír autógrafos e fazer mais sabe lá o quê. Ela não tem medo de conversar com terroristas o que achamos essencial para nossa próxima princesa.
Uau, as coisas parecem estar evoluindo. Quase todas as meninas olharam para mim. Era o mesmo olhar no qual as duas meninas me deram no salão, horas atrás. De repente aquelas encaradas faziam sentindo. Estavam com inveja de mim. Inveja de que o príncipe pudesse gostar de mim. Meu Deus, como elas estavam enganadas. Mas eu não iria desmintir o fato.
Se acreditavam, o problema era exclusivamente delas.
***
Mantive a cabeça erguida durante o jantar. Deveria fingir que estava interessada em tudo para ter alguma chance de colocar meu plano em prática. Ergui tanto a cabeça que só podia enxergar o teto com suas luzes bonitas. Tropecei uma vez, mas como Marlee estava do meu lado a queda não foi tão horrível. Fiquei apenas com alguns hematomas arroxeados no rosto e quebrei o nariz. Nada assim tão grave.
Ninguém falava comigo (com exceção de Marlee) e de quebra emitiam ondas de ódio para mim. Ashley fazia bico e virava a cara quando reparava que eu estava a observando. Quanta frescura.
Tudo bem, eu era a escolhida pelo povo, mas e daí? Seus cartazes e torcida não tinham poder algum aqui no palácio. Depois sou eu a garota que não sabe raciocinar direito as coisas.
Concentrei minhas forças (que a força esteja com você! sempre quis dizer isto e bem, minha mãe não está mais por perto) no jantar. A última vez que tinha experimentado uma carne de sapo fora há alguns anos atrás, quando eu era ainda recém nascida. Minha mãe não queria gastar money com leite e fui obrigada a comer em um dia. Bom, estava suculenta e saborosa. Havia até despertado minha vontade de ir ao jardim e caçar alguns para fazer um breve churrasquinho na laje. Sapos são uma delícia.
A sobremesa consistia em frutas passadas e sorvete de manteiga. Nunca tinha comido nada igual. Pensei em May e em como gostava de doces como eu. Tínhamos diabetes tipo A. Ela teria adorado a sobremesa.
Ninguém tinha autorização para deixar a mesa até que todas tivessem terminado. Depois disso receberíamos ordens para ir direto para cama.
- Afinal, amanhã vocês irão conhecer o príncipe Maxon e vão querer estar dispostas e apresentáveis - explicou Silvia - Ele é o futuro marido de alguém nesta sala, afinal.
Algumas garotas suspiraram pensando no fato e uma até desmaiou.
Subimos a escadaria com expectativa. Bem, pelo menos da minha parte. Eu tinha um planinho em mente. Esperava caçar uns sapinhos no jardim e fazer um churrasquinho de espeto mais tarde. Ninguém poderia me deter.
Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top