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A CARTA
Minha mãe só faltou infartar quando pegamos a carta no correio. Ela tentava colocar na nossa cabeça que não seríamos mais pobretões se eu me tornasse uma princesa. Tá, isso era meio óbvio. Mas parecia que era eu que não estava contribuíndo para o seu golpe perfeito.
Eu não queria ser da realeza. Na verdade eu queria o Impeachment deles.
Me escondi nas cobertas da minha modesta cama e fiquei pensando. Eu poderia convencer minha mãe que essa idéia toda era uma loucura, mas ela era daquelas mães que não dão ouvidos para os filhos porque ela nós considera bichos de estimação.
Um caso perdido mesmo.
Pulei da cama e fui para a cozinha. Tinha que ajudar minha mãe no jantar e parecia que o clima da mesa estaria entornado nesta maldita Seleção.
Ajudei-a a preparar a comida sem dar um pio. Ela também era daquelas mães do signo de Áries com ascendente em capricórnio. Então seria fatal colocar mais lenha na fogueira.
Minha mãe arrumou a mesa e eu fiquei em um canto rindo discretamente da inocência dela. A coitada mal sabia que eu não era mais a santinha de antes. Claro, se você considerar dar a mão para um garoto uma coisa pornográfica.
- Do que está rindo? - Ela me olhou com raiva. Me arrependi em um segundo de ficar rindo às custas dela.
- Nada mamãe - Respondi com um sorriso meigo. Ela me olhou com desdém.
- Você vai morrer se preencher o formulário? - Ela começou - Pense em como esta seleção trará um futuro melhor para mi... quer dizer para nós.
Arqueei uma sobrancelha.
- Ah sei - Concordei com a cabeça - Chanel e outras marcas de grife?
- Sim - Ela respondeu animada - Quer dizer, também.
- Minha resposta é não. Estou em um nível satisfatório com a nossa extrema pobreza.
- Então eu vou me inscrever nessa coisa.
- O quê?
- É isso mesmo. Talvez eu possa ser a futura esposa do Mason.
- É Maxon - A corrigi.
- Viu, você até sabe o nome dele. Pode muito bem se casar com ele.
- Mãe eu sou hater dele. Me dá nojo só de ouvir o nome deste garoto.
- Mais respeito garota. Ele é da familia real.
- Tá, mas eu estou a favor do seu Impecheament. E você é velha demais para se casar com ele.
- Não se eu fizer algumas plásticas.
- Por acaso não pensou no sofrimento do papai? - A alertei.
- Na verdade é você que não está pensando nele. Já pensou em como tiraria uma carga das costas dele se inscrevesse na seleção?
- Na verdade...
- E os seus irmãos?
Ela havia mexido no meu ponto fraco e sabia disso.
- É...
- CHEGAMOS!!
Me virei e deparei com meu pai e meus irmãos May e Gerald se juntando à mesa. Minha mãe foi correndo para a sala e voltou segundos depois com a carta.
- Para família Singer - Ela disse cantarolando. Eu tentei pegar o papel da mão dela, mas ela era tinha reflexo rápido.
- Mãe, eu te mato se você ler essa merda...
- Eu quero ouvir - May batia na mesa com euforia. Apesar de ter apenas doze anos, May sonhava em se casar aos treze. Eu não sei o que ela tinha tomado quando era bebê, mas tenho quase certeza que não foi leite.
Todos pareciam atentos as palavras da minha mãe, menos Gerald que já estava em seu segundo prato de comida.
- "Confirmamos no nosso último censo que uma solteirona, que não teve a oportunidade de se casar aos treze anos e que agora provavelmente está entre os dezesseis e os vinte anos (uma idade absurdamente idosa) reside em sua casa. Gostaríamos de informá- los sobre uma oportunidade próxima de honrar a grande (e corrupta) nação de Ilhéa"
May eufórica quase jogou o garfo no meu olho.
- É você, sua idiota!
- Eu sei sua demente. Eu sou a única solteirona de dezessete anos nesta humilde residência.
- Que coice - Gerald riu da cara de May.
- " Nosso odiado principe Maxon Chaveiro (não Mason)" - Continuou minha mãe - " atinge a idade que todos nós podemos quebrar a cara neste mês. Para abafar os escândalos envolvendo qualquer merda que ele poderá fazer pelos próximos 50 anos, ele pretende ter uma distração perfeita feita em IIhéa. Se sua filha estiver disponível (e não envolvida em alguma boca de fumo), obrigue-a a se inscrever nessa merda na qual chamamos de Seleção. Uma jovem de cada comunidade será escolhida a dedo para se encontrar com o príncipe. As participantes serão hospedadas na humilde casa da família real, vulgo palácio enquanto durar sua estada. A família de cada participante será recompensada generosamente - Minha mãe alongou as duas últimas palavras - por seu serviço a corrupta família real."
- Já acabou? - Perguntei mais entediada que uma pessoa sem internet. May apesar da minha patada, ainda estava com os dentes a mostra.
- Tenho certeza que o príncipe vai gostar da America! Ela parece uma modelo da Victoria's Secret só que sem a beleza! - Minha mãe se derretia.
- Ah mãe não exagera, eu me pareço com a Marina Ruy Barbosa.
- Só o cabelo né - May me analisou de baixo a cima.
- O que você está querendo insinuar? - Perguntei com um olhar raivoso.
- Na... nada - Ela deu de ombros.
- Gerald, o que você acha? Me acha bonita? - Perguntei.
- Você? Só com uma dúzia de plásticas e muita maquiagem. - Ele deu uma garfada no seu frango - Acho que nem as plásticas e a maquiagem te ajudariam.
- Gerald, não exagera - Minha mãe deu um suspiro irritado - America, você sabe que é uma menina agradável.
- Se eu sou tão agradável assim, porque os boys magia não me convidam pros rolês?
- Em primeiro lugar - Ela me repreendeu com o olhar - Pare com este palavreado. Em segundo, eles vem aqui sim, mas eu espanto todos. Não quero um pobretão pra minha filha. - Ela deu um gole no chá.
- Por isso que eu não vou participar dessa Seleção. Um pobretão já estava ótimo para mim.
- Nunca fique satisfeita com o pouco, America - Disse minha mãe - Além disso somos provavelmente os únicos pais de IIhéa que precisam convencer a filha a participar. Pense na oportunidade. Um dia você poderá ser rainha!
- Mãe, mesmo se eu quisesse, e pode apostar que eu não quero, uma montanha de garotas vão entrar nessa treta. E ainda se eu fosse sorteada, teria que competir com outras 34 garotas, muito mais bonitas e sedutoras do que eu.
- Você não é bonita, nem sedutora - Gerald comentou.
- Cala a sua boca.
- Desde quando você sabe o que é ser sedutora, Gerald? - May perguntou.
- Desde que eu conheci a... Deixa pra lá - Ele suspirou atormentado.
- É bom deixar pra lá mesmo - Meu pai comentou.
- É ridículo imaginar que eu poderia ganhar - concluí.
Minha mãe se levantou da cadeira e se inclinou na mesa, em minha direção.
- Alguém vai ganhar America e esse alguém será você . - Ela olhou para Gerald - E você pare de comer, e trate de tomar seu banho.
Então ela saiu.
- Sua mãe parece um furacão - Disse meu pai - Ainda não sei como consegui aturá-la durante todos estes anos.
- Calmantes - May sugeriu.
- É, você acertou - Ele suspirou com pesar. - Agora preciso voltar ao trabalho. Enquanto você não entrar nessa seleção, terei que trabalhar até que meus ossos se desfarelem.
Meu pai já estava convencido que eu entraria. Eu ainda mato minha mãe.
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