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꧁𝟷𝟼𝟻𝟶꧂

          Di Milo estava a andar em círculos no centro da Sala do Sacrifício. Faziam dias, senão semanas, que não recebia uma notícia sequer de Esrom. O homem de longos cabelos platinados sempre soube que seu primogênito era imprudente em demasia e talvez, mas apenas talvez; caros leitores, esta seja a razão pela a qual ele tanto o amava.

Apesar de ter aprendido amar a imprudência do filho, Orion andava preocupado em demasia e, não minto ao dizer, pensava seriamente em trancar o filho na Sala da Proteção por tempo indefinido; os Oráculos previram que dias sombrios estavam por vir e que a morte de um dos filhos do Mestre Fundador seria o grande estopim, a chama a acender a tocha da discórdia.

O único filho que seria capaz de tal feito, certa e indubitavelmente, era Ezrom, pois ele detinha a lua no olhar e, todos os conjuradores detinham o conhecimento, pessoas com a lua no olhar costumavam ser destinadas à grandes feitos...

Sejam esses para o bem, ou para o mal.

Seus passos pararam no exato instante em que a porta da sala foi aberta e o esbelto rapaz de cabelos negros e olhos prateados a atravessou. Os braços do patriarca cruzaram-se, quase que imediatamente, sobre o peito e seu corpo fora virado com lentidão, em direção à porta que não havia sido fechada.

— Meu pai! — O rapaz o saudou, fazendo uma das reverências que costumavam ser exigidas à todos os discípulos

— Por onde andou, Esrom Di Milo? — A voz do mais velho, entretanto, não soou tão benevolente e animada quanto o mais novo julgou que sairia

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Kalliope andava em círculos no centro da Sala do Sacrifício, a rosa verde disposta minuciosamente sobre o altar, juntamente do pobre e indefeso animal que, há pouco, tivera a vida usurpada. Que toda a magia possui um preço a garota sempre soube, contudo, costumava crer que quem pagava o preço eram os conjuradores, não pequenos, fofos e indefesos animais.

Após vislumbrar de perto o Grande Mestre cortar a jugular do pobre coelho e arrancar-lhe o coração sentiu-se extremamente enojada e passou a questionar se realmente pertencia àquele lugar... a este lugar.

Algo dentro de si insistia em dizer-lhe repetidas vezes que algo estava muito errado, que uma aura negra pairava sobre o edifício no qual a Sociedade fica sediada; entretanto, ignorando completamente seus instintos, a garota de cabelos acobreados e grandes olhos alaranjados insistiu em permanecer no local, afinal, apenas ela parecia estar sentindo algo estranho e, pensava ela, tudo não passava de saudades de casa.

— No que tanto pensa? — Seus pensamentos foram interrompidos por uma voz grave, rouca e conhecida — Já sei, o Grande Mestre te "impressionou" — aspas foram gesticuladas — com o uso do sacrifício animal para conjuração? Ele sempre faz isso, creio que sinta prazer em atormentar a vida dos calouros.

Sua boca moveu-se algumas vezes, todavia, som algum escapou por entre seus lábios, a incredulidade ainda estava estampada em sua face. O pobre animal morrera apenas para que o Grande Mestre pudesse dar uma espécie de show macabro para os Recém Chegados?

Que tipo de lugar faz uma monstruosidade dessas?

— Ele não fez isso apenas para "impressionar" vocês, Kal, conjuradores realmente utilizam de sacrifícios de pequenos animais para realizarem seus feitos. Com o passar do tempo isso provou-se muito mais fácil e eficaz do que cortar a própria mão e sangrar sobre a Tábua. O Grande Mestre estava apenas demonstrando para vocês algo que aprenderão com mais minuciosidade em alguns anos. — O rapaz concluiu sua fala e tocou o ombro da amiga com cuidado, despertando-a do transe no qual havia se absorto.

— Ainda assim. — Ela finalmente conseguiu projetar as palavras — Ele não fez magia alguma, foi uma vida perdida para nada. — Sua voz soava chorosa o que, de certa forma, partiu o coração de seu companheiro

E é por isso, caros alunos; que conjuradores não devem ser criados por meros mortais, eles se tornam fracos e indispostos. — A fala do Grande Mestre passou pela cabeça de Levon

Ele jamais acreditou que tal premissa fosse verdadeira, contudo, ao observar a amiga tão afetada, passou a acreditar que, de certa forma, ter sido criada por humanos a enfraqueceu, a humanizou em demasia. A verdade é que conjuradores devem estar dispostos a fazer qualquer coisa para alcançar seus objetivos, mesmo que isso envolva ter de sacrificar alguns animais.

— Olha; vai ficar tudo bem. Cada conjurador tem suas próprias crenças, costumes... você não vai precisar sacrificar animais caso não se sinta confortável com isso. — Ele concluiu sua fala e, tão rápido quanto adentrou, deixou a sala

E ali estava ela, só, uma vez mais, apenas com uma rosa verde e um coelho morto como companhia. Naquela ponto, tudo lhe parecia perdido, distorcido e estranho em demasia; entretanto, caros leitores; Kalliope acabará por aprender que nada é tão ruim a ponto de que não possa piorar.

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