O Chamado

Max atirou-se contra a janela sem hesitar um só segundo, ouvindo os estampidos dos tiros de uma 9 mm atrás dele. O vidro estourou ante a força de seu empurrão e seu corpo caiu da altura de dez metros, batendo violentamente contra uma marquise. A adrenalina não permitiu que ele sentisse dor, os cortes causados pelo choque contra o vidro da janela sangravam em seu antebraço, mas ele só foi sentir depois que já havia alcançado a rua, enquanto corria desesperadamente para se salvar.

Há alguns quilômetros do prédio onde fora emboscado, Max parou diante de um telefone público esbaforido. O fôlego lhe faltava e com grande esforço, ele tentava lembrar o número a ser discado, enquanto suas mãos ensanguentadas tremiam diante das teclas. O céu começava a enegrecer gradativamente, anunciando uma tempestade, e do lado de fora da cabine de telefone as pessoas que passavam pela calçada encaravam-no com ar entre o assustado e o enojado. Sua aparência não devia ser das melhores.

Do outro lado da linha ninguém atendia para sua frustração. O homem que tentara eliminá-lo já poderia tê-lo seguido até ali. Agora era uma questão de tempo até que ele o alcançasse, e tempo era algo que Max não tinha disponível. Seu relógio de pulso sujo de sangue marcava 16:37.
Dentro da cabine, enquanto tentava mais uma vez, em vão, se comunicar com a única pessoa no mundo todo que podia impedir o que estava para acontecer dali a pouco menos de uma hora, Max que sentia dores lancinantes por todo o corpo, ouviu uma buzina ensurdecedora pouco antes de notar pessoas a correrem ensandecidas para longe do telefone público. Um caminhão basculante se dirigia à toda velocidade sem controle, cortando cruzamentos e se chocando contra outros carros que eram jogados para fora da pista. O veículo monstruoso parecia invencível e ele rumava direto para a cabine.

O estrondo ecoou por toda a avenida, e havia um rastro de destruição por onde o caminhão havia passado. Max só teve tempo de se atirar para fora da cabine, e seu corpo rolou no asfalto com a força do impacto. Mesmo freando bruscamente, o veículo só foi parar muitos metros depois, arrastando outro automóvel que cruzava a pista lateral. Max nem havia se recobrado e o estampido de tiros em sua direção voltaram a fazê-lo correr. Um homem com uma vasta cabeleira loira e de brilhantes olhos azuis descia do caminhão atirando contra Max. Os tiros começaram a acertar os transeuntes desesperados com toda aquela cena de ação, e enquanto corpos caiam friamente contra o chão e gritos de agonia ecoavam, o homem já recarregava sua pistola, vendo Max desaparecer ao dobrar uma esquina. Seu tempo estava se esgotando. Ele precisava impedir que Max chegasse a seu destino e cumprisse sua missão, ou as consequências disso cairiam sobre suas costas o resto da eternidade.

A corrida contra o tempo de Max teve início quando aquele telegrama chegou-lhe endereçado no escritório de advocacia. Como assistente do doutor Hélio Casavette, ele recolhia dezenas como aqueles por semana, falando sobre casos judiciais e processos, mas nenhum deles nunca chegou em seu nome. Intrigado com aquele envelope, Max fechou-se em sua sala e abriu o telegrama remetido diretamente a ele. Jamais em sua vida ele havia lido uma sentença tão terrível quanto aquela, e sentindo seu coração acelerar e o corpo encher-se de adrenalina, o jovem assistente percebeu que a hora pelo qual ele esperava a vida toda havia chegado. A Programação tinha que ser seguida à risca.

Afrouxando a gravata que naquele momento parecia enforcá-lo, Max passou pela secretária do Dr. Casavette como um fantasma saindo de sua sala. A moça sentada atrás de sua mesa, vendo-o de paletó em mãos, seguindo em direção à saída, largou o telefone e correu até ele.

- Max! Já está de saída?

Ele ouviu a voz sensual da moça morena de olhos grandes e pensou que podia ser a última vez que aquilo acontecia. Ao sair por aquela porta, descer pelo elevador e alcançar a rua, Max talvez jamais voltaria a sentir o sabor adocicado de seus lábios ou o abraço quente que o envolvera durante tantas noites. Quando ele saísse, tudo poderia estar terminado.

- Nem falou comigo. Está acontecendo alguma coisa?

Max tinha preocupação no semblante, e embora parecesse óbvio a quem o observasse bem, ele ainda tentou parecer natural.

- Houve um imprevisto em um dos casos do Dr. Casavette e eu vou precisar resolver.

Natália era a namorada não-oficial de Max. Ambos eram solteiros, mas gostavam da liberdade que um não-relacionamento lhes dava, o que fazia com que eles não assumissem o caso a ninguém do escritório. Ela conhecia bem o companheiro, e embora tivesse notado que algo o preocupava naquele momento, preferiu esperar para que ele estivesse preparado para lhe contar. Sabia que podia confiar nele e não tocou no assunto.

- O encontro de mais tarde está de pé? - Perguntou ela dedilhando levemente o peito do rapaz, olhando para os lados para ter certeza que ninguém os estava observando.

- Está sim. Claro. - Confirmou ele, com a cabeça totalmente ocupada pelo texto do telegrama que jazia dobrado no bolso da calça.

Num repente, a sensação de que aquela era a última vez que ele olhava para Natália apertou-lhe o peito, e ele deslizou a mão por seu belo rosto alvo delicadamente. Após piscar-lhe o olho, mal conseguindo disfarçar sua tensão, ele a deixou voltar para o interior do escritório e saiu, indo em direção ao elevador. Se ele não conseguisse cumprir a Programação que lhe havia sido dada ainda na infância, tudo estaria acabado em uma hora, e ele não podia aceitar que aquilo acontecesse.

Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top