Contra o Tempo
O relógio de pulso marcava 16:22 quando ele entrou no banco. Gentilmente ele informou a um dos funcionários que precisava ver o gerente e sentou-se numa poltrona para aguardar pelo atendimento, deixando seu relógio bem à vista dobrando a manga da camisa comprida para cima. Seu coração pulsava forte dentro do peito. Embora esperasse por aquele momento, ele sentiu que não estivera se preparando tempo suficiente para ele, e descobriu-se em desespero, incapaz de manter as mãos quietas. Quatro minutos passaram-se até que o gerente o viesse atender, mas pareceu-lhe mais de uma hora. Ele caminhou-se com o gerente, um homem alto e robusto de cabelos bem penteados e alinhados, até alguns andares acima da agência principal do banco, e então seguiu por uma série de corredores que mais parecia um labirinto. Nenhuma palavra precisou ser trocada entre os dois. Ao avistar o relógio que Max usava, o gerente entendeu imediatamente o que devia ser feito.
Os dois homens chegaram a uma espécie de cofre de segurança reforçada, e após digitar uma senha em um painel na lateral da porta do cofre, ele sussurrou para que Max aguardasse do lado de fora. Não passou nem um minuto e o homem retornou lá de dentro, entregando uma maleta preta ao rapaz. Um frio percorreu-lhe a espinha enquanto ele colocava as mãos na alça de couro, e com um gesto, o gerente indicou-lhe o caminho de uma sala reservada, onde Max poderia abrir a maleta e pegar o objeto nela guardado há tanto tempo. Gerações haviam se passado e muitos homens haviam perecido na tentativa de conseguir o conteúdo daquela maleta, mas Max seria o primeiro a por as mãos no artefato em muito tempo.
Foi sem aviso, e de repente a parede lateral do corredor encheu-se de um tom avermelhado. O corpo do gerente caiu de lado com um rombo fumegante na testa. Seus olhos virados para cima pareciam encarar Max, enquanto seu corpo pesado deslizava da parede pintada de sangue para o chão. De repente, o rapaz sentiu o coração acelerar uma vez mais, seu instinto de sobrevivência falou mais alto e ele pôs-se a correr dali, enquanto mais tiros eram disparados em sua direção. Um homem loiro vinha caminhando apontando uma pistola 9 mm, e ele queria matá-lo.
Max não sabia exatamente onde estava, jamais havia estado naquele andar do banco e temia que acabasse correndo para algum beco sem saída. Limpando o sangue e os restos de miolos que haviam explodido em seu rosto quando o gerente fora atingido mortalmente, Max continuou correndo em frente, quando então avistou um corredor que desembocava numa sala fechada. Sem hesitar o rapaz avançou na maçaneta da porta e quase conseguiu rir nervosamente ao constatar que ela não estava trancada. Passando a chave na fechadura tão logo entrou, o rapaz apanhou o celular no bolso da calça e começou a digitar um número que estivera decorando por muito tempo, antes mesmo de se dar conta que não havia sinal dentro do banco.
- Merda!! – Gritou ele, irado, arremessando o aparelho contra uma parede.
Procurando uma rota de fuga dali, Max começou a examinar a janela e o lado externo do prédio, calculando há quantos metros do chão ele estaria. "Talvez eu possa chegar com segurança até lá embaixo se for me pendurando", pensou ele, antes de ouvir um estrondo na porta da sala. O homem loiro que atirara contra ele o havia encontrado, e era apenas uma questão de tempo até que ele encontrasse um modo de entrar.
- O que eu faço agora? – Gemeu ele entrando em desespero.
Sua atenção voltou-se para a maleta preta naquele momento. Confiara cegamente no gerente do banco, e embora soubesse que o homem fazia parte da Programação do qual ele próprio fora incumbido de seguir, Max não tinha certeza que o artefato que ele viera buscar estava mesmo no interior daquela maleta. Girando habilmente o controle do fecho, inserindo a combinação que havia memorizado junto ao telefone de emergência para o qual tentara ligar há pouco tempo, ele enfim abriu a maleta e deparou-se com uma pequena caixa de pouco mais de cinco centímetros de altura em seu interior. De alguma forma ele sabia que o que estava dentro daquela pequena caixa de madeira era realmente o objeto que decidiria o destino da humanidade, e quando um tranco mais forte foi desferido contra a porta da sala, ele tratou de colocar a caixa em seu bolso, e voltar para próximo da janela. Seu corpo robusto e os músculos adquiridos nos três anos de academia talvez o salvassem daquela queda quase mortal, e quando um pontapé derrubou a porta que o separava de seu algoz, Max tomou certa distância e atirou-se contra a janela, admitindo para si mesmo que não se entregaria tão facilmente a seus inimigos. Se eles o queriam morto, teriam que se esforçar mais.
Algumas quadras separavam Max de seu objetivo. Ele precisava levar a caixa que pegara no banco e seu conteúdo com segurança até uma velha loja de penhores no centro de São Paulo. Enquanto ouvia sirenes da Polícia ao longe, ele tentava repassar mentalmente tudo que havia lhe ocorrido na última meia hora, e procurava saber qual teria sido sua falha. Desde muito jovem ele havia sido treinado para ser o guardião da chave do juízo final, um artefato que, segundo haviam lhe informado, seria capaz de impedir que um cataclismo sem precedentes destruísse a Terra e toda sua população. Embora tivesse sido instruído a acreditar piamente naquilo, parte de seu espírito nunca conseguira confiar totalmente que o tal cataclismo um dia chegaria, mas tudo mudou quando ele recebeu aquele telegrama.
Desde o recebimento do telegrama até sua chegada aos andares superiores do banco, ele repassou cada um de seus movimentos minuciosamente, e não entendia em que momento o homem loiro ou seus comandantes o haviam descoberto. Teria sido o relógio prateado com a insígnia da Programação na pulseira? Teria sido alguém no banco, na sala de espera? Teria sido o próprio gerente? Nesse caso, por que ele havia permitido que ele fosse tão longe?
A dúvida corroia Max, e tudo que ele sabia naquele momento era que precisava chegar até a casa de penhores e entregar o artefato em seu bolso ao dono da loja, o homem que ele considerava seu grande mentor. Um dos fundadores da Programação.
O céu estava totalmente coberto por nuvens escuras e um forte vento soprava contra os transeuntes que desviavam da figura ensanguentada de Max na calçada. Sua camisa branca estava quase que completamente encharcada, e coxeando de uma perna, ele procurava acelerar seus passos, evitando olhar para o relógio de pulso e constatar que talvez já fosse tarde demais. Por ironia, ele acabou erguendo a cabeça ao passar por um relógio de trânsito e nele o mostrador luminoso marcava 17:00. "Inferno!", pensou ele.
Tudo aconteceu ao mesmo tempo. Uma dupla de policiais que tomava um café em um bar avistou Max, e sua aparência surrada deixaram-nos desconfiados. Àquela altura o rapaz cheirava a encrenca, e mesmo um cego poderia perceber que havia uma aura de negatividade ao seu redor. Ele não podia ser detido agora que estava tão próximo de seu destino. Esticando o pescoço, ele já era capaz de ver a velha casa de penhores e sua frontaria decadente do outro lado da avenida que atravessava a cidade, os policiais gritavam para que ele parasse, mas ele não podia obedecer. Ser alvejado naquele momento poria tudo a perder. O objeto em seu bolso podia impedir que o mundo fosse destruído, mas para isso, era necessário que ele andasse mais alguns metros e alcançasse a loja.
Ele viu a cabeça do primeiro guarda explodir antes mesmo que o coitado tivesse a chance de sacar seu revólver do coldre. O segundo policial nem mesmo conseguiu saber de onde vieram os dois tiros que acertaram seu peito e seu abdômen. O pânico instaurou-se, e uma gritaria infernal se fez ouvir quando o homem loiro, incansável, surgiu de dentro de um veículo sedan preto. Com um semblante enlouquecido em seu rosto, ele pôs-se a atirar contra Max, que coxo devido à queda de cinco metros do prédio do banco, já não tinha a mesma agilidade. O sinal estava verde na avenida, mas Max só tinha uma chance de atravessá-la antes que o loiro o alcançasse. Correndo o máximo que suas pernas cansadas permitiam, ele interpôs-se entre os carros e a morte, e tudo que ele viu foi uma incrível e ofuscante luz vermelha quando algo estourou seu ombro esquerdo ao mesmo tempo em que uma van o acertou em cheio, arremessando-o contra a calçada do outro lado da avenida. O som de passos, buzinas e pessoas falando o atordoavam, e Max sabia que ainda não havia acabado. Seu corpo ainda tinha energia suficiente para alcançar a loja de penhores, e lutando contra a dor inacreditável que o castigava naquele momento, ele abriu os olhos e procurou se levantar. "Levante-se, maldito! Faltam só alguns metros. Não vá falhar com aqueles que dependem de você!", pensava ele, tentando ignorar o estado debilitado de seu corpo.
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