• Epílogo •


Cinco meses depois


Beatrice acordou sentindo água gelada respingar em seu rosto. Abrindo os olhos assustada ela se deparou com Adrien, que sorria e sacudia a cabeleira ruiva como um cachorro molhado perto dela.

"Ei!", ela reclamou tentando se proteger, mas já era tarde demais. Ele se espremeu com ela na espreguiçadeira, envolvendo seu corpo com os braços fortes e nus. "Você está gelado! Adrien!"

Mas ele se limitou a rir e a apertou ainda mais.

"Ninguém mandou você não entrar na piscina comigo", disse ele, aparentemente satisfeito com o desconforto dela. "A água está ótima."

Rendendo-se ao seu aperto de ferro, Beatrice suspirou e abriu um sorrisinho, olhando para ele com falsa doçura.

"Você não se cansa?", ela perguntou. "Por Deus, amor, nós praticamente turistamos a ilha inteira ontem! Estou exausta e minhas pernas mal se movem."

Adrien abriu um sorriso preguiçoso, dando-lhe um beijinho de leve nos lábios.

"Fiquei três anos sem fazer quase nada, é de se esperar que queira gastar um pouco mais de energia." E com os olhos brilhando, completou: "Além do mais, não importa o cansaço, ontem valeu muito à pena."

Beatrice sorriu. É claro que tinha valido à pena, assim como cada dia que eles estavam passando naquele lugar incrível.

A ilha de Córsega era maravilhosa, pertencente à França, tinha tanta história e tanta coisa para ver que Bea quase não conseguia conter a emoção que aflorava dentro dela. Tudo aquilo, a viagem, o que já tinha visto e até mesmo os dias ensolarados e completamente preguiçosos no hotel, estavam sendo incríveis e indescritíveis. Durante aquela viagem ela realmente teve certeza que sempre deveria procurar conhecer novos lugares, pessoas e culturas. Já tinha aprendido tanto naquela última semana ali que só de pensar no assunto se enchia de deleite.

Adrien e ela já estavam discutindo onde passariam suas tão sonhadas férias de primavera por meses, tão perdidos nas inúmeras possibilidades que não conseguiam nunca chegar a uma decisão. Quando descobriram a ilha e pesquisaram sobre ela, souberam instantaneamente que tinham que conhecer o lugar.

Até agora, a escolha parecia ser a mais certa que já tinham tomado.

"Bom, nós realmente merecemos isso, não é?", ela disse para o namorado, deliciando-se com o calor reconfortante do dia e com o fato de que o corpo de Adrien não estava mais tão gelado quanto antes. "Depois dos últimos meses..."

Adrien gemeu, fazendo uma careta.

"Bom, pelo menos sobrevivemos."

Por pouco, ele não deixou de acrescentar mentalmente.

Depois que Adrien decidiu finalmente parar de se esconder do mundo, o mundo pareceu vir com uma vivacidade impressionante até ele.

Por quase um mês inteiro, mal conseguiu sair de casa. Veículos de comunicação e revistas de fofocas pareciam desesperados para tirar um pedaço dele, montando guarda em frente à sua casa mesmo no pior dos climas.

Não demorou muito para que eles descobrissem sobre Beatrice e o recente relacionamento dos dois, o que fez com que ela também fosse perseguida pela mídia. Aquilo sim tinha aborrecido Adrien, por mais que Bea parecesse lidar com toda a situação com uma resiliência impressionante.

"Nós já sabíamos que isso iria acontecer", ela tinha comentado em uma noite em que conseguiu dormir na casa dele. "Não vai demorar muito para que percam o interesse, na verdade, acho que se você der uma palavrinha para qualquer um dos veículos que estão loucos por você, será o suficiente para acalmá-los."

Como sempre, ela provou estar certa.

Um dia, quando foi visitá-la em Roseville, percebeu que carros o seguiam. Quando parou em um café intencionalmente, Adrien deixou que os repórteres e câmeras o cercassem. Por quinze minutos ele respondeu as perguntas menos reveladoras que toda aquela gente lhe fazia.

Foi difícil para Adrien lidar com as câmaras que não paravam de fotografá-lo a cada instante. Depois de três anos fugindo exatamente daquela exposição, era difícil se manter durão e resistir a vontade de entrar no carro e se esconder. Mas ele aguentou firme, pelo menos o quanto pôde.

Depois disso as coisas pareceram se acalmar, e Adrien soube que conforme o tempo passasse o assunto do seu ressurgimento seria esquecido e posto de lado. Pelo menos ele esperava.

Durante aqueles meses, tentou evitar ler todas as notícias que apareciam ao seu respeito, não se sentia confortável em ver seu rosto estampado novamente em capas de revistas daquele jeito. Às vezes, quando a curiosidade o vencia, Beatrice ficava muito aborrecida.

"Há muitas matérias maldosas por aí", ela tinha dito certa vez, os olhos apreensivos quando o pegou navegando com o seu notebook em uma matéria específica sobre ele na Internet.

"Não se preocupe", ele forçou-se a dizer para tranquilizá-la. "Nada que eles possam dizer sobre o meu rosto pode ser pior do que eu mesmo já tenha pensando, garanto."

Aliás, a mudança era uma coisa gradual em Adrien. Ele sabia que ainda demoraria algum tempo para não se incomodar com as matérias grosseiras, os olhares tortos das pessoas - até mesmo ali, em um lugar tão longe de casa - e o seu próprio julgamento pessoal. Porém, agora que finalmente havia se aberto a novas possibilidades, encontrado Beatrice e aceitado ajuda profissional para os problemas que rondavam sua mente, sabia que as coisas se ajustariam.

Naquele momento, ouviu Beatrice rir junto dele, aparentemente sem perceber que estava tão afogado em devaneios. Ele seguiu seu olhar e encontrou um Luke bem zangado saindo da piscina do hotel.

"Ora, seu velho babão preguiçoso, está dizendo que não vai entrar na água?!", ele exclamava, andando a passos largos até Howard, que brandia um filtro-solar como uma espada, a única coisa que tinha para se defender do amigo. "Estamos em um hotel de luxo, em uma ilha de tirar o fôlego e desfrutando das melhores férias que já tivemos na vida, e você está dizendo que não vai dar um mergulho nessa maldita piscina?"

"Eu disse que a água estava boa", Adrien sussurrou para Bea, que não parava de rir junto ao seu peito.

"Se afaste!", exclamou Howard, dando a volta em uma espreguiçadeira, tentando manter distancia de Luke. "Eu já disse, seu francês de uma figa, que não gosto de nadar."

"Você me chamou de quê?", os olhos de Luke agora pareciam ter um fogo assassino. "Agora você foi longe demais..."

Luke até podia ser franzino e magrelo, mas de algum jeito conseguiu arrastar um Howard completamente nervoso até a borda da piscina, o jogando lá dentro enquanto o mesmo se debatia e tentava se libertar.

"Eu vou matá-lo!", ameaçou Howard, quando voltou à superfície, completamente encharcado e com os bigodes caídos ao redor da boca.

"Não vai nada." E quando ele tentou sair da piscina, Luke o jogou na água de novo.

"Eles são como irmãos", Bea comentou com um sorrisinho no rosto. "Bem briguentos e implicantes, mas irmãos."

"Não pararam de brigar desde que embarcamos no avião", comentou Adrien. "Estou tentado a jogá-los em mar aberto."

"Samantha pode acabar fazendo isso primeiro."

Adrien sorriu, era verdade. Apesar dos dois serem irritantes na maior parte do tempo, ele estava profundamente feliz por tê-los trazido na viagem. Eram sua família, seus amigos, e amigos devem aturar uns aos outros.

"Mamãe, posso pular na piscina como o tio Howard?", perguntou uma vozinha ao lado deles. Era Zion, tendo cada centímetro do corpo coberto por filtro-solar pela mãe.

"Tio Howard não pulou na piscina, querido", a mulher respondeu, agora espalhando o produto nas bochechas do garoto. "Ele foi jogado."

"Samantha!", gritou Howard com ultraje, saindo da piscina finalmente, o rosto vermelho de raiva. Ele parecia prestes a estrangular Luke.

Samantha o ignorou com um sorriso, voltando os olhos para o filho.

"Você só pode entrar quando eu entrar também."

"Por quê?"

"Porque não sabe nadar."

"Mas eu tenho boias." Ele mostrou os braços finos para ela, onde duas boias de bichinhos coloridos estavam presas neles.

"Elas talvez não o mantenham tão bem na superfície."

"Então eu coloco mais duas. Estão vendendo na lojinha do outro lado do hotel. Eu vi ontem."

Adrien gargalhou, sem se conter.

"Ele é mais esperto que você, Samantha."

Ela fechou a cara, odiando ser vencida daquele jeito.

"Ah, é?" Ela pegou Zion pelos braços e o soltou em cima dele. "Então agora vá nadar com ele."

Foi a vez de Beatrice rir, gargalhando com vontade.

Zion, por sua vez, enrolou os bracinhos ao redor do pescoço de Adrien e disse que era uma ótima ideia.

Sem mais opções, Adrien acabou pulando na piscina com o garoto, mas não sem levar Beatrice junto.

"Tio, pode me soltar", Zion resmungou quando eles já estavam dentro da enorme piscina, tentando se desvencilhar do aperto de Adrien. "As boias são boas, olhe."

"Se eu fizer isso, sua mãe me mata."

"Ela está querendo te testar", comentou Beatrice, nadando ao redor deles como uma sereia. Adrien perdeu o foco por um instante. "Quer saber se vai ser um bom pai."

"É claro que vou", ele disse sorrindo, soltando Zion. O garoto saiu nadando em menos de um segundo. As boias realmente eram boas e não havia perigo. "Não haverá pai melhor que eu."

Embora estivesse falando em tom de brincadeira, Beatrice o olhou com seus profundos olhos castanhos e sorriu ternamente.

"Não tenho a menor dúvida disso."

Olhando para ela, seu corpo perigosamente próximo com aquele biquíni revelador, Adrien envolveu-a nos braços e sussurrou em seu ouvido:

"Sabe, bem que podíamos subir para o quarto agora."

Ela sorriu maliciosa, deslizando um dos braços pelos seus ombros largos.

"Você só pensa nisso?"

"Quando se trata de você, é meio difícil não pensar", ele falou, se deliciando quando sentiu o corpo dela estremecer junto ao seu.

"Muito bem, Fletcher, você me convenceu."

Brincando mais um pouco com Zion na água, logo Samantha veio para assumir seu lugar, deixando caminho livre para que Bea e ele pudessem subir para o quarto que dividiam no quinto andar.

"Sabe, você realmente deve aproveitar essas férias", Beatrice ouviu Adrien dizer enquanto eles subiam no elevador. "Depois que suas aulas começarem em setembro não vai sobrar tempo para muita coisa."

"Como se já estivesse sobrando", ela disse com um sorrisinho, amarrando sua sainha de praia ao redor da cintura. "A mudança tem tomado todo o meu tempo."

"Só o seu?", ele perguntou com uma risadinha e um alçar de sobrancelhas. "Acha que é fácil revistar aquela mansão inteira e decidir o que vou levar para o apartamento novo?"

"O quanto menos, melhor", ela falou, passando os braços por sua cintura e olhando para ele de baixo, os olhos brilhando. "Os móveis da mansão são antigos e requintados demais para um apartamento moderno. A decoração tem que ficar legal."

"Você tem um gosto incrível, querida, é claro que vai ficar legal."

"Fico com o coração na mão de deixar a biblioteca para trás...", ela disse, mordendo o lábio inferior. "Mas o que podemos fazer? Só ela é do tamanho do nosso apartamento inteiro."

"Você pode escolher alguns volumes para levar. Além do mais, a mansão vai continuar sendo minha, podemos passar todos os fins de semana lá se você quiser. Seu pai iria gostar disso."

Por mais que não quisesse admitir, Adrien também sentia o coração apertar um pouco toda vez que pensava em deixar a casa para trás. Apesar de tudo, ele tinha vivido dois anos lá, além de que o local o lembrava dos dias em que conhecera Beatrice e se apaixonara por ela. Felizmente, sempre era tranquilizado ao lembrar que Samantha, Howard e Luke continuariam morando no lugar, assim como a maior parte dos empregados, que cuidariam da mansão em sua ausência.

Além do mais, pensar em morar com Bea era uma ideia ainda mais convidativa.

Depois que ela conseguiu a bolsa de estudos em uma das maiores e melhores faculdades do país, ficou claro que teria que se mudar para capital, onde a faculdade se encontrava. De início, eles não sabiam que acabariam morando juntos, mas quando seu pai o convidou para trabalhar com ele, prometendo que ensinaria a Adrien tudo o que precisasse saber sobre os negócios da família, a ideia pareceu ser natural, eficiente e encantadora.

Adrien não sabia se realmente funcionaria essa coisa de trabalhar com o pai, ficar de terno o dia inteiro e aprender a administrar o negócio que os tornavam uma das famílias mais ricas do mundo, mas sabia que valia a pena tentar. Se não gostasse poderia procurar outra coisa, ou talvez voltar a estudar, quem sabe. Adrien sabia que era privilegiado por poder escolher tão facilmente o que ser ou o que fazer na vida, por isso tentava dar valor àquilo o máximo possível. Além disso, talvez estivesse na hora de finalmente fortalecer os laços com sua família de algum modo, e aquela parecia ser a oportunidade perfeita.

De um jeito ou de outro, quando imaginava o futuro, com Beatrice seguindo seu sonho de estudar jornalismo, ele procurando seu caminho e descobrindo-se a cada dia, tudo parecia estar indo para onde deveria.

Quando entraram na grande suíte em que estavam hospedados no hotel, Adrien fechou a porta e no mesmo instante segurou Bea junto dele, beijando-a com enorme paixão. Quando Beatrice se afastou ligeiramente para recuperar o fôlego, percebeu que os olhos de Adrien estavam marejados.

"Adrien?", ela sussurrou assustada, segurando seu rosto com delicadeza com as duas mãos. "O que foi?"

Ele piscou, parecendo tentar conter-se.

"Eu só...", ele engoliu em seco, mal conseguindo encará-la. "É como se não merecesse isso, Bea... Estou tão feliz, está tudo tão perfeito... Tenho medo de..."

"Ei, não diga isso." Ela o acariciou com suavidade. "Adrien, merecemos isso, ok? Nós dois." E sorrindo completou: "E só para você saber, eu também estou muito feliz com tudo o que está acontecendo."

Ela o abraçou desajeitadamente, ele era muito grande e ela muito pequena, fazendo com que tivesse que ficar na ponta dos pés.

"Eu amo você, tá bom?", ela sussurrou em seu ouvido, e perdeu o fôlego quando sentiu Adrien envolvê-la com força, erguendo-a alguns centímetros do chão. "Amo muito."

Beatrice enxugou a lágrima solitária que tinha rolado pela face marcada de Adrien, desejando ter as palavras certas na boca e dizer que aquilo duraria. Que eles durariam.

É claro que havia problemas e batalhas ainda a serem travadas, pois a vida é isso, uma construção de obstáculos a serem superados. Mas ela sabia que, a cada barreira que aparecesse, eles a enfrentariam juntos.

Beatrice seria a força de Adrien quando ele fraquejasse nas armadilhas de sua própria mente, quando a vida pregasse peças e tudo parecesse mais difícil. Ela sabia que ele faria o mesmo para ela.

Pois isso é amor. Não tentar concertar os defeitos da outra pessoa, não torná-la perfeita, mas aceitá-la e amá-la apesar de tudo.

E céus, ela amava Adrien, amava e sentia em algum ponto bem oculto do seu coração, que era com ele quem passaria o resto de sua vida. Pois quando um amor é tão verdadeiro e puro daquele jeito, a pessoa simplesmente sabe, sabe de coisas que a maioria ao seu redor não se dá conta a vida inteira.

Adrien pegou Bea no colo, deitando-a com ternura na cama, ao mesmo tempo em que a cobria de beijos.

"Obrigado por aparecer", ele disse em certo momento, enquanto ela entrelaçava as mãos em seus cabelos, beijando-o com paixão. "Obrigado por me salvar."

Bea não respondeu, não precisava, as batidas frenéticas do seu coração junto ao dele diziam tudo aquilo que precisava saber.

As palavras nunca seriam suficientes para descrever o que ele sentia por ela, mas, pensando bem, nem precisavam, pois Adrien Fletcher provaria para ela seu amor todos os dias, em cada momento do resto de suas vidas.

Ele, dentre todas as pessoas do mundo, nunca imaginou encontrar o amor verdadeiro, na verdade, durante a fase mais escura e perdida de sua vida, acreditava que o amor era simplesmente algo que os poetas encontraram para escrever e ganhar a vida. Mas, como acontece em todas as melhores histórias, o amor acabou batendo na cabeça dele tão fortemente que Adrien não teve outra escolha senão aceitá-lo de bom grado.

Os primeiros vinte e um anos de sua vida haviam sido sombrios, nebulosos, mas Beatrice Morgan, aquela garota destemida e incrível de milhares de formas diferentes, apareceu iluminando até o mais sombrio dos cantos do seu coração. E agora, com os olhos abertos aquela realidade maravilhosa na qual estava vivendo, Adrien soube que mesmo se tudo desmoronasse o amor seria capaz de erguê-lo novamente. Pois era o amor, e somente o amor, a coisa mais importante na qual o ser humano deveria se apegar.

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Essa história significou muito para mim, me marcou não só como escritora, mas também como pessoa. Ao aceitar o desafio proposto por mim mesma de transformar o meu conto de fadas favorito em uma versão moderna, nunca pensei que acabaria fazendo muito mais que isso (pelo menos no meu ponto de vista).

Se esse livro o tocou em algum momento de alguma fora, nem que seja apenas um, sinto que meu trabalho foi cumprido.

No mais, só tenho a dizer:

Obrigada.

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