• Capítulo 23 •
Adrien sentia como se uma pesada bola de boliche houvesse caído em sua cabeça. A dor era desnorteadora e ricocheteava com violência. Sempre que tentava abrir os olhos, uma pontada cega lhe atingia com toda a força, fazendo com que mergulhasse novamente na inconsciência, ficando lá pelo que poderiam ser segundos ou horas.
Quando finalmente abriu os olhos, dessa vez não sentindo como se fosse morrer ao fazê-lo, Adrien pensou que estava em alguma espécie de paraíso.
Profundos olhos castanhos o fitavam quando acordou, e uma mão tão macia que nem ao menos parecia real, afastou uma mecha dos seus cabelos dos olhos.
"Que bom que acordou. Estava prestes a chamar uma ambulância", Beatrice sussurrou, soltando um suspiro de puro alívio. "Como se sente?"
Adrien não conseguiu responder, parecia que seus pensamentos estavam embrulhados em uma bola confusa. Passando os olhos ao redor, percebeu que estava em um quarto desconhecido, que provavelmente ficava na casa de Beatrice.
Naquele instante tudo lhe ocorreu. Sua corrida para chegar à Roseville, desesperado para ver Beatrice de novo e admitir de uma vez por todas o que sentia por ela, as informações que pediu aos moradores da cidade para que conseguisse chegar à casa dela, e, finalmente, a briga com o homem que descobriu ser Gavin.
Se se lembrava bem, aquela dor de cabeça terrível também era obra dele.
Adrien grunhiu, tentando se levantar.
"Não, senhor", Beatrice objetou no mesmo instante, empurrando seu peito para que se deitasse novamente no travesseiro macio. "Você vai ficar bem quietinho aí."
Naquele instante, uma garota alta e loura apareceu na porta do quarto, trazendo consigo um copo de água e um saquinho com gelo.
"Ainda bem que ele acordou", ela disse para Beatrice, depois de lançar um olhar cauteloso para Adrien e adentrar o quarto. "É melhor tomar esses analgésicos logo."
Beatrice assentiu, estendendo a mão para pegar o copo d'água e os dois pequenos comprimidos.
"Obrigada, Eliza."
Com um cuidado maior do que o necessário – Adrien não deixou de observar – Beatrice passou os comprimidos para ele, que os engoliu em seco, tomando a água logo depois.
"Vai ajudar com a dor de cabeça", Bea informou.
"Por quanto tempo fiquei desacordado?", perguntou ele, o pequeno esforço para falar lhe causando outra pontada na cabeça.
"Dez minutos", foi Eliza quem respondeu, inclinando-se um pouco para ele e pressionando o saco com gelo no lugar onde Gavin lhe acertara. Adrien estremeceu levemente. "Sorte a sua que eu estava por perto quando ouvi o barulho da briga. Bea aqui não tem a menor experiência com cuidados médicos."
Adrien quis discordar, pois lembrava muito bem da noite em que Bea tratou do corte em sua mão, depois que ele a resgatou na neve.
"Aliás, é um prazer conhecê-lo", a garota continuou a tagarelar. "Beatrice falou muito de você."
"Ah, é?", perguntou com um meio sorriso, observando as bochechas de Bea assumirem um profundo tom de vermelho.
"Ah, sim", concordou ela. "Mas não se preocupe, a maior parte dos comentários eram bondosos e gentis."
"Mas nem todos, pelo que parece."
"Nem todos, é claro", confirmou Eliza, com um sorriso maldoso.
Para profundo alívio de Beatrice, seu pai apareceu naquele instante na porta do quarto, lançando um sorriso jovial a Adrien.
"Aquela foi uma pancada feia", foi a primeira coisa que o senhor disse. "Como está se sentindo, Frederick?"
"Não tão bem quanto gostaria", ele disse com um pequeno sorriso, ainda sentindo Eliza pressionar o saco de gelo contra sua cabeça. "Mas nada irreparável."
"Isso é bom", ele disse, em seguida parecendo trocar um olhar rápido com a filha. Marco Morgan se empertigou. "Eliza? Será que poderia me ajudar com uma coisa na cozinha?"
"Na cozinha? Mas..." Ela deve ter percebido o olhar que Beatrice lhe lançou, pois no mesmo instante se ergueu. "Ah, sim, claro."
Ela saiu do quarto com Marco menos de um segundo depois, penosamente levando o saco de gelo com ela.
Quando ficaram sozinhos, Beatrice estranhamente desejou que seu pai e Eliza voltassem.
Deus, não sabia como encararia aquele momento.
"Sua cara não está das melhores", foi a primeira coisa que ela disse, simplesmente para quebrar o silêncio. Porém, de fato, alguns hematomas arroxeados já começavam a surgir no rosto dele, mostrando claramente que tinha apanhado pelo menos um pouquinho.
Frederick soltou uma risada.
"Não se preocupe, Morgan, já faz um tempo que ela não é boa mesmo."
Ela decidiu ignorar o comentário.
"Como realmente está se sentindo?", perguntou ela, finalmente se permitindo acomodar em uma cadeira ao lado da cama em que ele estava. Agora que sabia que estava fora de perigo, seu coração parecia voltar lentamente ao ritmo normal.
Ele quase a matara de preocupação.
"Sinto como se um grande idiota tivesse acertado uma tora de madeira na minha cabeça", ele descreveu jocosamente. "Mas não se preocupe, aposto que os analgésicos não vão demorar muito a fazer efeito."
Beatrice assentiu, satisfeita, mas em seguida cruzou os braços na frente do corpo e fechou a cara para ele.
"O que diabos você estava pensando?!", exclamou, deixando com que a irritação finalmente lhe invadisse. "Tem noção do que fez? Vocês poderiam ter se matado!"
Adrien olhou atônito para ela, os olhos azuis esbugalhados.
"O que queria que eu fizesse?", rebateu, teimosamente se erguendo e ficando recostado na cabeceira da cama. "Que o deixasse continuar com as mãos em você? Assistindo a sangue frio?"
"Eu poderia ter dado meu jeito", Beatrice falou, se empertigando ainda mais. Ele soltou uma risadinha irônica, fazendo com que ela desejasse estrangulá-lo.
"É mesmo?", perguntou sarcástico, erguendo uma sobrancelha para ela. "Algo me diz que uma simples joelhada entre as pernas dele não resolveria o problema."
"Bem, eu poderia gritar por ajuda", continuou, teimosa.
"Mas isso demoraria mais um pouco", ele sentenciou, sempre tendo que dar a última palavra. "Poderia me agradecer."
Beatrice não respondeu, contentando-se em cerrar os dentes e desviar o olhar para o outro canto do quarto.
Adrien suspirou, massageando a ponte do nariz entre o indicador e o polegar.
"Muito bem. Você está certa."
Ela olhou para ele, parecendo pouco convencida de sua sinceridade.
"Não deveria ter agido daquele jeito", continuou, sem desviar os olhos dos dela. "Mas quando o vi com as mãos em você...", Adrien sentiu as mãos se fecharem em punhos, a raiva lhe invadindo. "Eu simplesmente...", ele balançou a cabeça, percebendo que nenhuma palavra no mundo poderia descrever o que ele realmente sentira. "Eu perdi o controle. Outra vez."
Beatrice então descruzou os braços, os ombros caindo levemente. Seus olhos bondosos fitaram os dele, e quando ela entreabriu os lábios em um suspiro cansado, Adrien se sentiu péssimo.
"A culpa não é sua. É dele", ela disse por fim, afastando sua franja dos olhos. "Gavin... Acho que ele é algum louco obsessivo ou algo assim. Eu devia ter percebido antes que sua fixação por mim não era algo simplesmente normal e irritante, mas doentio."
Adrien não soube o que responder, sentia que se pensasse demais naquele idiota, levantaria daquela cama e iria até o inferno para acabar com ele.
"Quando disse para ele com todas as letras que eu nunca, nunca, estaria com ele, acho que seu controle foi embora por completo."
De repente, a imagem de Gavin escorregando na neve depois de acertar Frederick e atingindo o vidro da janela do carro, invadiu a mente de Beatrice. A lembrança do sangue em seu rosto e daquele grito horrível, fez com que um calafrio invadisse seu corpo.
"Mas acho que ele teve o que mereceu."
O silêncio se apoderou do quarto por um instante, o único barulho vindo da rua lá fora, onde as mesmas pessoas que gravaram a briga fofocavam para as outras que não tinham visto nada.
"Sabe, eu acho que você me deve uma explicação."
Adrien olhou para ela sem entender, mas seu olhar disse tudo o que precisava.
Quando batia em Gavin sem parar minutos antes, o som de seu nome verdadeiro vindo da boca de Beatrice o despertou, como se todo aquele momento estivesse surdo aos apelos dela.
Claro que isso - mais o choque de descobrir que ela sabia quem ele era - provocou o efeito necessário.
"Como...", a voz dele falhou, por isso teve que engolir em seco e continuar: "Como descobriu?"
"Por Gavin." Ela deve ter visto o assombro passar por seu rosto, pois simplesmente balançou a cabeça e completou: "Não faço ideia de como ele descobriu, mas algo me diz que, devido a sua loucura recém-descoberta e a influência que tem, não foi assim tão difícil."
Adrien quis praguejar. Com todo o cuidado que tivera para esconder sua identidade e onde estava escondido ao longo daqueles dois anos, era revoltante que um grande panaca como aquele tivesse descoberto tudo.
"Beatrice...", mas ele não sabia o que dizer, não tinha ideia. Ele errara, ocultara a verdade dela mesmo quando tinha plena certeza que poderia confiar nela para qualquer coisa. "Eu sinto muito."
"Então é verdade?", ela perguntou, como se ainda houvesse dúvidas. Seus olhos transmitiam sua confusão. "Você é Adrien Fletcher?"
Ele assentiu levemente, não suportando seu olhar.
Embora tivesse certeza mesmo antes de Frederick confirmar, o assombro e a surpresa foram ainda maiores do que ela esperava. Beatrice se sentia confusa e mal, como se tivesse sido enganada.
"Beatrice, a única coisa que mudou para você é o meu nome", ela o ouviu dizer, a voz grave. "Sou a mesma pessoa."
Ela não conseguiu dizer nada, por mais que tivesse se agarrado aquelas palavras em busca de algum conforto.
"Eu... Eu acho que você me deve uma explicação", ela conseguiu dizer, olhando para ele. Seu rosto parecia tão abatido que Bea sentiu seu coração se encolher.
Adrien, por sua vez, mal sabia por onde começar.
Olhando para a mulher que amava, sabia que devia ser o mais sincero possível com ela. Devia aquilo a Beatrice, além de saber que não fazia mais sentido esconder algo dela. Não quando seu coração já a pertencia.
"Agora que sabe quem eu sou, sabe também quem o meu pai é, e que, antes de tudo isso acontecer, eu era destaque na mídia internacional", ele começou, fitando as próprias mãos sobre o colo. "Os holofotes sempre me seguiam, aonde quer que eu fosse. Na época eu estava no auge da carreira de modelo, de modo que a atenção era maior que nunca." Adrien quase soltou um riso irônico com o comentário. Pensar no seu passado, quando era modelo e chamava a atenção de todos, era algo tão distante e fora da sua atual realidade, que chegava a ser engraçado. "Quando o acidente aconteceu, bem, a mídia foi à loucura. Fiquei um bom tempo no hospital, meu pai não deixava ninguém além dos médicos se aproximarem. Eu demorei algum tempo para perceber o motivo daquilo, perceber o que estava acontecendo, até que uma manhã as bandagens finalmente foram retiradas e eu pedi um espelho."
Adrien fechou os olhos com força por um instante. Era incrível que, mesmo depois de tanto tempo, certas coisas ainda tinham o poder de feri-lo por dentro.
Aquela manhã em que vira o seu novo rosto pela primeira vez, fora o pior dia da sua vida. Ele se lembrava dos gritos e de arremessar o espelho para o outro lado do quarto, se lembrava da dor e da angústia.
"Bom, você deve imaginar que eu não reagi muito bem", falou simplesmente, querendo privar Beatrice dos detalhes. "A mídia estava enlouquecida, todos queriam uma informação, uma palavra do meu pai, uma foto... Quando finalmente saí do hospital, fiquei trancado na minha casa na capital por meses, até conseguir a autorização médica para fazer a cirurgia plástica." Adrien balançou a cabeça, tentando afastar os pensamentos ruins. "Não deu certo, como você já sabe. Depois disso, com o resto das minhas esperanças completamente destruídas, vim parar aqui. A mansão nas colinas foi... meu presente de aniversário quando fiz 18 anos. Parecia o lugar ideal para alguém que quer se esconder. Contratei uma grande criadagem, me escondi da mídia que ainda está atrás de mim e... sobrevivi." Ele lançou um rápido olhar para Beatrice, que estava com os lábios entreabertos e parecendo meio desolada. "Então você apareceu."
Ele deixou com que ela absorvesse as informações por um tempo, antes de continuar.
"Depois de todo o cuidado que tive durante a mudança para a casa, não podia deixar que alguém descobrisse a verdade. Por isso menti o meu nome para você. Mas depois, bem, eu deveria ter contado, porque tinha confiança necessária em você para saber que nunca contaria a ninguém. E peço perdão por isso, errei e entendo que esteja com raiva, no seu lugar eu também estaria."
Naquele instante, quando Adrien fitava qualquer coisa que não fosse ela, sentiu suas mãos segurarem seu rosto com carinho. Quando encarou seus olhos castanhos, eles estavam repletos de compaixão.
"Eu estou com raiva", ela disse. "Mas entendendo. Sim, eu entendo."
Adrien abriu um pequeno sorriso, segurando a mão de Beatice. Ela queria trazer conforto a ele, queria dizer que estava tudo bem e que ela estava ali. O pior tinha passado.
Porém, tudo o que conseguiu fazer foi olhar para ele, sentindo o amor tomar conta de cada pedacinho dela. Era uma sensação inebriante.
"Sabe, vou demorar um pouco para me acostumar a te chamar pelo nome certo", ela sussurrou com um sorriso. "É engraçado, mas, agora que paro para pensar, Adrien combina muito mais com você."
Ele sentiu seu corpo estremecer.
Ouvir seu nome sair daqueles lábios... Bom Deus, cada parte dele reagia com fervor.
"Sabe, ainda tem algo que não entendendo", ela disse naquele instante, franzindo de leve as sobrancelhas. "Como sabia que Gavin estava comigo?"
Adrien abriu um sorriso de lado.
"Eu não sabia."
Ela deve ter feito uma cara de quem não entendeu, pois ele continuou:
"Acho que foi meio uma ajudinha do destino. Eu estava em casa quando percebi que... precisava ver você. Pedi informações nas ruas até encontrar sua casa. O resto você já sabe."
Beatrice abriu um sorrisinho perverso.
"Precisava me ver?", repetiu, se deliciando com o desconforto aparente dele. "Por quê?"
Adrien pareceu olhar para qualquer outro lugar do quarto, menos para ela. Quando Beatrice segurou sua mão de leve, seus olhos azuis finalmente se encontraram com os dela.
"Porque eu percebi que não podia deixar uma garota como você ir embora sem dizer o que eu realmente sinto." Beatrice sentiu seu coração bater no ritmo de uma bateria frenética. Ela passou a língua pelos lábios, completamente alerta as palavras dele.
"Uma garota como eu?", ela não resistiu dizer.
"É. Uma garota como você." Ele acariciou o rosto dela, sua mão enorme quase cobrindo uma face por inteiro. "Linda de todas as formas possíveis, inteligente, determinada e corajosa." Beatrice sentiu seu coração parar quando se lembrou do momento em que ele havia repetido aquelas mesmas palavras, semanas antes, quando ela acordou no seu quarto na mansão depois de desmaiar por conta de uma crise de bulimia. "Porque eu sei que nunca vou encontrar alguém como você nesse universo inteiro, e não consigo suportar a ideia de te perder." Era impressão dela ou eles estavam mais perto agora? Os rostos frente a frente. "Beatrice, sei disso há muito tempo, mas sinto que... que..." Seus olhos azuis brilhavam de emoção. "Mas sinto que só consigo dizer agora." Ele olhou fundo nos olhos dela, e Bea pensou que podia enxergar a alma dele e a sua também refletida. "Eu amo você."
Foi como se todo o ar fosse arrancado de seus pulmões. Beatrice sentiu como se estivesse no céu, ao mesmo tempo em que uma emoção avassaladora sacudia seu peito.
"Eu... Eu sei que pode não sentir o mesmo, sei que isso é loucura, mas...", ele continuava a tagarelar coisas indistintas, que Beatrice nem ao menos conseguia decifrar, estava emocionada demais para isso.
"Adrien", chamou em um sussurro, fazendo com que ele se calasse no mesmo instante. Olhando para ele, Beatrice se sentia a pessoa mais feliz do mundo, pois tinha encontrado quem procurara a vida inteira. "Eu também amo você."
Ele ficou em silêncio, como se não pudesse acreditar no que ouvia.
"Ama?"
Ela riu, não pôde segurar.
"Por qual motivo não amaria?"
E antes que ele pudesse dizer mais alguma coisa, ela o beijou.
Aquele beijo... Céus, nem em mil anos conseguiria descrevê-lo com perfeição.
O choque de Adrien passou em menos de um segundo quando percebeu que ela estava em seus braços, lhe beijando, dando seu amor. Uma emoção tão grande invadiu seu peito que ele achou que seu coração não aguentaria.
Entregando-se completamente à ela, Adrien envolveu sua cintura e explorou sua boca, seu gosto e o seu cheiro, queria tê-la o mais próxima possível.
Com as mãos entrelaçadas no seu pescoço, Beatrice sentiu os cabelos macios roçarem seus dedos, ao mesmo tempo em que experimentava uma das melhores sensações de sua vida.
Adrien a envolvia em seus braços fortes, fazendo com que tivesse que se concentrar para não derreter inteira. Todo o corpo dele causava sensações até então completamente desconhecidas nela.
Quando se afastaram, ambos ofegantes e completamente radiantes de felicidade, souberam que jamais poderiam viver um sem o outro.
"Por que não me contou antes?", Beatrice perguntou com um pequeno sorriso, ainda em seus braços.
"Tive medo", admitiu ele, os olhos azuis completamente sinceros. "Tive medo por causa..."
"Das cicatrizes?", ela completou, o conhecia bem de mais para supor que era outra coisa.
Adrien assentiu.
"Sei que fui um idiota, aliás, já havia percebido há muito tempo que você não se agarra a essas coisas."
Afastando o cabelo comprido de Adrien do seu rosto marcado, Beatrice deslizou os dedos pelas linhas retorcidas, por todos aqueles cortes que marcavam seu rosto. Ela sentiu quando Adrien estremeceu, parecendo se encolher, mas não desviou os olhos dos dela, e aquilo já era um grande avanço.
"Amo você por inteiro", ela sussurrou para ele, sem afastar os dedos. "E essas cicatrizes fazem parte de você. Então as amo também."
Ela viu a emoção em seus olhos, e quando uma única lágrima rolou por seu rosto, sinalizando os anos de dor e solidão que ele havia carregado, Beatrice a enxugou com ternura.
"Você é a melhor coisa que aconteceu na minha vida, sabia disso?", ele falou, segurando uma das mãos dela junto ao seu peito. "Você me mostrou que eu podia ser bem mais do que simplesmente minha aparência, ou a minha doença... Revelou alguém que eu tinha soterrado em algum lugar profundo da minha alma, me fez enxergar que posso ser uma versão melhor de mim mesmo. E, ah Beatrice... Nenhum homem no mundo vai amar uma mulher como eu amo você."
Beatrice não conseguiu responder, estava emocionada demais para dizer qualquer coisa, por isso o beijou e o abraçou, sussurrando que para sempre ficaria ali, do seu lado.
Porque, se havia uma certeza em sua vida, era que os dois sempre se ajudariam a se reerguer, sempre dariam a mão quando o outro caísse.
E aquilo, aquilo sim, era amor.
"Quero que saiba que, por mais que eu tente cada dia ser melhor para você, e para mim, certas coisas...", ele engoliu em seco, "certas coisas vão permanecer. A TEI... Vou tratar isso, mas..."
"Está tudo bem", ela disse, compreendendo o que ele queria dizer antes que falasse. "Eu sei, Adrien. Eu sei."
Ela também não precisou dizer mais nada, pois Adrien compreendeu, compreendeu que ela estaria ali, mesmo em seus piores momentos, mesmo quando descesse ao inferno de sua própria mente, ela estaria ali para mostrar de novo o caminho da luz.
"E, sobre a cirurgia... Eu não vou fazer, não mesmo." Por mais que já tivesse certeza daquilo, o alívio que invadiu Beatrice foi desnorteante. "Eu vou... ser para sempre assim, entende? Já conscientizei, e, por mais que ainda seja algo que me incomode eu... eu sei que com o tempo vai passar. Tenho certeza disso."
Beatrice sabia sobre seus medos, sabia o que ele temia. Temia ser olhado torto para o resto da vida, temia que, um dia, ela se importasse com aquilo.
E sim, aquilo levaria certo tempo para parar de doer, levaria tempo para deixar de incomodá-lo, mas não tinha problema, porque ele poderia levar o tempo que quisesse, pois ela sempre estaria ali para relembrá-lo que nunca iria embora.
"O que pretende fazer em relação à mídia?", ela perguntou, entrelaçando sua mão na dele.
"Pretendendo dar às caras finalmente, em breve", falou, com confiança. "Aliás, não pense que me esqueci das nossas férias de primavera." Ele lhe lançou um sorriso triste. "Vai ser meio difícil no começo, mas os holofotes vão acabar se concentrando em algo mais interessante em breve."
"Está brincando? Ser vista com Adrien Fletcher pelo mundo inteiro?", ela sorriu divertida. "Não há mais nada que eu possa querer."
Ele riu, envolvendo-a em um abraço de aquecer corações. Olhando para a janela do quarto, com a neve começando a cair em pequenos flocos lá fora, Beatrice teve plena certeza de uma coisa.
O destino, quando quer, pode unir completamente duas pessoas. Mesmo apesar das dores, das lágrimas, das diferenças e de tudo aquilo em que se forma uma grande história de amor. Às vezes, encontramos o amor da nossa vida onde menos esperamos.
No seu caso, ele estava bem pertinho, e tudo o que precisou fazer foi correr de lobos selvagens para encontrá-lo.
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