• Capítulo 19 •


"Clara, por favor, tente ter mais cuidado", Eliza Pearson disse pela segunda vez naquela manhã, olhando zangada para a garçonete. "Essa é a quinta xícara que você quebra em menos de duas semanas. Se continuar nesse ritmo, em breve teremos que servir café em vasilhas de cães."

"Desculpe", a garota murmurou, enquanto despejava os cacos de porcelana em uma lata de lixo próxima. "Não sou boa nisso..."

Ora, é claro que não é, pensou Eliza, com um suspiro cansado.

"Tudo bem", disse por fim, tentando manter-se calma. Aquele era o primeiro dia de completo sol em semanas, e o café estava lotado de pessoas falantes e famintas. Não podia se dar ao luxo de entrar em completo desespero. "Apenas continue servindo. Com cuidado."

Clara assentiu, no mesmo instante pegando a bandeja já pronta que estava no balcão. Enquanto a observava andar entre as mesinhas, Eliza rezou para que não sofressem mais nenhuma baixa em seus conjuntos de xícaras naquele dia.

Ela realmente sentia falta de Beatrice.

"E então?", ela ouviu a voz do pai perguntar atrás de si, quando ele saiu das cozinhas trazendo uma bandeja repleta de bolinhos de chocolate recém-feitos. "Quantos desastres até agora?"

"Três", Eliza respondeu, apressando-se a pegar a bandeja das mãos do pai e colocá-la na vitrine do balcão. "Isso se formos contar quando ela derramou chá quente no colo da Sra. Burton. Ela não ficou muito satisfeita, se quer saber."

O pai soltou uma risada, como sempre, mais condescendente do que a filha na maior parte das coisas.

"Levando em conta que já são nove da manhã, estamos no lucro", o homem comentou, em seguida voltando para a cozinha, deixando Eliza sozinha com uma garçonete temporária mais desastrada que uma girafa no transito.

Ocupando-se com seus afazeres do lado de dentro do balcão, Eliza se perguntou - pela milésima vez naquele mês - quando sua amiga voltaria do exílio.

Não que seu trabalho no café fosse absurdamente chato e entediante, mas tudo era sempre mais divertido com Beatrice Morgan por perto. Pelo menos para ela.

Clara havia sido contratada uma semana depois de Beatrice telefonar dizendo que estava oficialmente presa na mansão das colinas, cercada por neve e sem previsão de retorno. Desde então, Eliza teve que se segurar para não arrancar os cabelos de Clara - e os seus próprios - durante todo aquele mês.

Além da habilidade natural que Beatrice tinha de... servir mesas, ela era sua companhia de todos os dias. Às vezes o café ficava tão movimentado que elas mal tinham tempo de se falar, apenas trabalhando em conjunto e com eficiência. Mas mesmo nesses dias era bom tê-la por perto.

Droga... Sempre conversar por telefone com ela não era a mesma coisa. Por mais que tivesse outras amigas em Roseville, Eliza considerava Beatrice sua companhia de sempre. Sem contar que, sem ela no café, era como se o lugar estivesse sem um braço ou uma perna, incapaz de funcionar com perfeição.

Eliza ainda resmungava chateada com Clara quando se virou para deixar outra bandeja pronta no balcão, sendo surpreendida de repente por uma figura de um metro e oitenta, olhos penetrantes e músculos definidos.

Eliza engoliu em seco.

"Gavin", cumprimentou, mas sua voz saiu terrivelmente desafinada, algumas oitavas acima do normal. Ela limpou a garganta, tentando parecer neutra enquanto colocava a bandeja no balcão e sinalizava para Clara vir buscar o pedido. "Bom dia."

"Bom dia", ele respondeu, a voz rouca e sensual fazendo com que um arrepio percorresse sua espinha.

Droga, se controle garota. Nunca viu um homem na vida?

Gavin se recostou no balcão, os braços fortes apoiados na bancada. Ele a olhava como um leão procurando sua presa.

"O que faz aqui... tão cedo?", Eliza conseguiu perguntar, odiando aquele silêncio constrangedor.

"Ora, o que mais poderia ser? Vim dar um alô para você."

Enquanto se agachava para pegar um dos bolinhos de chocolate na vitrine, Eliza revirou os olhos. Como se acreditasse naquilo...

Ela até poderia ter uma queda por Gavin - como quase todas as garotas que tinham bons olhos na cara - mas não era tola ao ponto de cair nas armadilhas dele. Gavin não se interessava por ela, sabia disso, e apesar de ser lindo de morrer, Eliza conseguia ver que ele não valia muita coisa.

Apesar de ser muito lindo.

"Beatrice ainda não voltou, se é isso que quer saber", ela disse na lata, checando o bloquinho de pedidos e tentando se desligar da presença de Gavin ali.

"É claro que eu não vim...", ele começou a protestar, mas Eliza soltou um risinho e o interrompeu.

"E eu sou o Papai Noel. Fala sério, Gavin, você acha que eu sou boba?"

Ele não respondeu, o que irritou Eliza mais do que deveria.

"Ok, obrigada por concordar", falou carrancuda, já se virando para preparar a outra bandeja.

"Eu não disse..."

Talvez Beatrice sempre estivesse certa afinal, pensou Eliza, o que Gavin tinha de beleza faltava em miolos.

"Tudo bem, você está certa", ele admitiu depois de um tempo, quando percebeu que não conseguiria o que queria pelo jeito educado e galanteador. "Vim saber se você tem notícias de Beatrice."

Eliza ergueu uma sobrancelha para ele, maliciosa.

"Pensei que tinha dito... Quando foi mesmo? Semana passada? Que conversava com elas todos os dias", falou com um pequeno sorriso, se divertindo ao ver seu rosto se contorcer em uma careta.

De todo modo, é claro que ela sabia que o que ele tinha dito não era verdade. Beatrice lhe contara que, mesmo isolada naquela mansão por um mês completo, Gavin não parava de mandar mensagens e telefonar, parecendo sempre querer ter notícias dela. E como Beatrice havia contado anteriormente, em uma de suas conversas por WhatsApp com ela, ignorava todas as mensagens de Gavin tanto quanto possível, deixando-o nas escuras.

Era claro que ele só estava ali para conseguir mais algumas informações da boca de Eliza, já que falhava miseravelmente em tentar manter contato com Bea.

"Você sabe como é", ele retomou depois de um tempo, parecendo se inclinar um pouco mais para ela. "O sinal não pega muito bem lá em cima. Então não conversamos muito."

"Bem, digo o mesmo", Eliza mentiu, se esquivando enquanto preparava mais pedidos de Clara.

"É claro que não, vocês são melhores amigas", objetou Gavin.

"Bom, se o sinal está péssimo para você, deveria estar para mim também, não é? Ou esqueceu-se que moramos na mesma cidade e Beatrice está presa em um só lugar?"

Gavin pareceu surpreso com o comentário, logo em seguida fuzilando Eliza com o olhar. Ela teve que se segurar para não rir.

"Bom, a questão é a seguinte", ele recomeçou, cruzando os enormes braços na frente do peito, "as estradas estão começando a abrir de novo, caso não tenha visto as notícias, já seguras o suficiente para serem atravessadas sem muito risco. Ainda mais no caminho curto entre o lugar onde Beatrice está e Roseville. Queria saber o motivo pelo qual ela ainda não voltou."

Eliza comprimiu os lábios, sentindo-se inquieta e irritada com ele.

"Acho que isso é algo que cabe somente à ela, não é?", rebateu. "Além do mais, esperar mais um pouco até que seja completamente seguro, não é de muita importância. Ela já passou mais de um mês hospedada na mansão, mais alguns dias não serão de muita importância."

"Para mim sim", ele disse entredentes, nervoso.

"Que pena", desdenhou Eliza, já farta de Gavin. Ele com certeza era mais atraente quando não abria a boca. "Sinto muito por você."

Ela já ia dar as costas para ele quando sentiu sua mão agarrar seu braço, puxando-a para mais perto.

Eliza olhou assombrada para Gavin, ele parecia furioso.

"O que pensa que está fazendo?", ela sibilou em voz baixa, tentando se soltar e ao mesmo tempo não chamar muita atenção. "Me solte agora mesmo."

"Você vai me dizer o que está acontecendo naquela casa, Eliza", ele falou, no mesmo tom que ela, ainda sem soltá-la. "Sei que tem algo errado, e vou descobrir o que é."

Os olhos verdes de Gavin pareciam em chamas, e seu rosto se projetava para frente de um jeito ameaçador.

Eliza queria jogá-lo pela janela.

"Por quê?", foi tudo o que ela conseguiu perguntar, embora claramente soubesse a resposta.

"Porque eu gosto de Beatrice, gosto mesmo, e acho que ela já passou tempo demais naquela mansão... com Frederick Harris."

Havia algo estranho em sua voz quando pronunciou o nome daquele por quem sua amiga tinha se apaixonado, algo como desdém e muita, muita, fúria. Eliza sentiu seu corpo inteiro gelar.

"Você não consegue ver, não é?", ela disse, sem se intimidar. Um grito e estaria livre dele. "Beatrice nunca gostou de você, Gavin, e nada do que fizer vai mudar isso. Ela vê o que todos deveriam enxergar também, o monstro que você é."

Gavin rugiu, e Eliza percebeu que seu braço estava dormente, sem circulação, tamanha era a força com que ele a agarrava.

"Não sinto nem um pouco em lhe dizer isso, Gavin, mas Beatrice está apaixonada por alguém bem melhor do que você", revelou, lembrando-se da conversa demorada que Beatrice e ela tinham tido na noite passada, quando a amiga, mais feliz do que Eliza lembrava tê-la visto na vida, contava com detalhes a noite que Frederick tinha preparado para ela, e como aquele homem a fazia se sentir especial em todos os sentidos. "Ela nunca vai querer alguém como você quando pode ter uma pessoa bem melhor. Como ele."

E então Gavin pareceu apertar ainda mais o seu braço, e quando viu estava sendo quase que erguida do chão.

Desesperada, Eliza tentou se soltar, e quando viu que jamais conseguiria, gritou pelo pai.

Quando ele surgiu, escancarando as portas da cozinha e completamente desesperado, outras pessoas ao redor perceberam o que estava acontecendo, e homens que Eliza conhecia desde que era criança vieram intervir.

"Tire suas mãos da minha filha!", ela ouviu o pai gritar furioso, quando já avançava para cima de Gavin. Mas antes que as palavras acabassem de serem ditas, Gavin a soltou, fazendo com que se desequilibrasse e batesse no balcão.

Ele saiu do café, derrubando dois homens no caminho, deixando-os atordoados no chão.

Quando já estava sendo amparada pelo pai, Eliza e todas as outras pessoas do café olharam apavoradas para a rua lá fora, observando Gavin entrar em seu carro furioso, logo em seguida acelerando e cantando pneus pelas ruas da pequena e pacata Roseville.

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Oii meus amores! Tudo bem?
O que acharam desse capítulo? Tenso, né? haha

Queria avisar que talvez até no fim da próxima semana o livro já esteja completo <3 Pretendendo postar o capítulo 20 nesse domingo, 21 na quarta, o 22 sairá como extra na sexta e o 23 no domingo novamente. O epílogo provavelmente vai sair um dia depois (:

Espero que estejam gostando do livro até aqui <3 Não deixem de postar suas opiniões.

Beijos,

Ceci.

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