• Capítulo 18 •


As luzes da sala de jantar estavam apagadas, mas, assim que Beatrice e Frederick cruzaram as portas, toda a sala se iluminou e um coro de diversas vocês gritando "parabéns" fez com que o coração de Bea chacoalhasse.

"Meu Deus!", ela exclamou, levando as mãos à boca em completa surpresa.

Toda a criadagem parecia estar ali, ao redor da enorme mesa que atravessava a sala. Eles batiam palmas e cantavam, todos tão felizes que Beatrice logo foi contagiada por toda aquela euforia.

Quando ela passou os olhos pela mesa de jantar, teve que se agarrar firmemente ao braço de Frederick para que não caísse para trás.

Um bolo de chocolate enorme - com três andares e coberto de doces - estava no centro da mesa, imponente e com duas velinhas formando o número 19 no topo. Doces, flores, tortas, tudo estava espalhado e devidamente arrumado. A lareira crepitava e até mesmo a neve parecia ter cessado por alguns momentos.

"Você gostou?", ela ouviu Frederick perguntar baixinho ao seu lado, enquanto alguns criados já vinham em sua direção lhe desejar os parabéns. Ela percebeu que ele estivera todo tempo observando sua reação.

"Pelo amor de Deus... Como poderia não gostar?"

Frederick riu, soltando o braço dela para que pudesse abraçar as outras pessoas.

"Eu queria ter feito algo melhor, mas como soube do seu aniversário apenas ontem... Bem, não sobrou muito tempo", disse Samantha quando se aproximou de Beatrice, com um lindo embrulho nos braços e um sorriso radiante.

"Samantha, não precisava. Só esse bolo... Aí meu Deus, foi você quem fez?"

A mulher sorriu, visivelmente satisfeita com o comentário.

"Bom, tive alguma ajuda é claro, mas, cá entre nós, minha participação foi maior", ela lançou uma piscadela para Bea, fazendo com que ela risse. Quando desembrulhou o presente, encontrou um lindo suéter branco com a letra "B" bordada em amarelo no centro.

"Obrigada, Samantha! Eu amei."

Aos poucos Beatrice abraçou todos e recebeu mais presentes do que imaginava. Conforme trocava conversas com os criados que tinham se tornado seus amigos, ela sentiu um calor reconfortante invadir seu peito. Ela conhecia aquelas pessoas, havia convivido e conversado com elas por um mês inteiro, e, agora, todos estavam ali não como criados, mas participando do aniversário mais maravilhoso e maluco que ela já tinha ganhado.

O início da noite provou ser deliciosa, tanto pelo carinho de todas aquelas pessoas quanto pelos doces que aguardavam Beatrice na mesa.

Deus... Eram realmente maravilhosos.

Bea se perguntou como eles tinham conseguido preparar tudo aquilo de um dia para outro. Estava perfeito!

"Coma esse bolo sem medo", ouviu Frederick lhe dizer em determinado momento, quando os dois estavam sentados lado a lado na grande mesa, provando o bolo de Samantha. "Vai ser o mais gostoso de toda a sua vida."

Beatrice olhou para ele e sorriu, agradecida pelo comentário. Era como se Frederick já tivesse o poder de saber o que passava pela sua mente simplesmente lendo a sua expressão. Até agora, Beatrice só tinha a agradecer por aquilo.

"Com certeza", ela concordou, se deliciando com o doce que se dissolvia em sua boca. "E obrigada pela preocupação."

Ele piscou para ela, de um jeito incrivelmente charmoso, despretensioso e irresistível.

"Sabe que, sempre que precisar de ajuda, vamos estar aqui."

E ela sabia. Sabia muito bem.

Beatrice estava na metade da sua fatia de bolo quando foi acertada por uma bola de pelos.

"Bea, eu também tenho um presente para você", uma vozinha familiar disse, e com um sorriso Beatrice segurou Zion e o colocou em seu colo. Ele estava completamente coberto por um casaco grosso, cachecol e toca. Parecia um esquimó.

"É mesmo?", ela perguntou com um sorriso, observando o embrulho amaçado que ele segurava. "E o que é?"

"Você vai ter que abrir", ele respondeu com um enorme sorriso, entregando o embrulho para Bea.

Quando puxou o presente para fora, conseguiu enxergar com perfeição o livro. Era Persuasão, da Jane Austen.

"Esse é um livro e tanto", Beatrice disse maravilhada, olhando para o garotinho sorridente. "Você mesmo escolheu?"

Ele assentiu fervorosamente.

"Peguei da biblioteca do Frederick, achei a capa bonita e pedi o papel de embrulho para a mamãe."

Ao seu lado, Frederick soltou uma gargalhada, fazendo com que Bea e Zion caíssem no riso também.

"Obrigada, Zion", ela conseguiu dizer depois de algum tempo, enxugando as lágrimas de felicidade dos olhos. Se inclinando para ele sussurrou baixinho: "E vou te contar um segredo: esse foi o meu presente favorito até agora."

"É mesmo?", perguntou o garotinho, olhando para ela com os olhos arregalados.

"É claro que sim", confirmou. "É um livro, afinal de contas."

Zion pulou do colo dela, radiante.

"Viu só, eu disse para a mamãe que você gostaria mais do meu livro do que o suéter dela", ele declarou, com ar triunfante. Seu peito pequeno se inflou de orgulho. Um segundo depois, o garotinho já tinha desaparecido entre as pessoas, parecendo se divertir com Luke, que estava por perto.

Adrien, que observava Beatrice interagir com Zion, não conseguiu conter o sentimento estranho que se apoderou dele.

Bea parecia tão gentil e carinhosa que, a cada momento, era como se ele ficasse ainda mais encantado por ela. Encantado por seu jeito de ser, sorrir e falar, pelo seu jeito de ser tão... ela.

"Ainda não lhe dei o meu presente", Frederick disse para Bea quando eles terminaram de comer, entre o barulho e a agitação da sala de jantar.

"Para mim essa festa já é um grande presente", ela respondeu com um sorriso, indicando com o braço aberto tudo ao seu redor. "É o melhor aniversário que já tive."

"Melhor? Ainda nem acabou."

Ela olhou para ele, parecendo ao mesmo tempo surpresa e conformada com aquilo.

"Claro que eu não podia esperar menos vindo de você."

Juntos, eles foram para um canto mais afastado da sala, onde a grande lareira ardia. Olhando de esguelha para Beatrice ao seu lado, Adrien não pôde deixar de reparar o quanto ela estava bonita naquela noite.

O vestido amarelo que ia até os joelhos era rodado e de mangas compridas, ao mesmo tempo gracioso e revelador. O cabelo dela estava preso em um rabo frouxo com uma fita também amarela, e os saltos a deixavam dez centímetros mais alta do que realmente era. Mesmo assim, deixando-a consideravelmente mais baixa do que ele.

Mas não era só a roupa, maquiagem e cabelo que a deixavam bonita. Era a felicidade em seu rosto que resplandecia, a leveza de seus movimentos e o som vivo do seu riso. Aquilo, sem sombra de dúvida, a tornava a mulher mais linda que Adrien Fletcher já tinha colocado os olhos.

"Com as estradas fechadas, não consegui encomendar nada para você", ele disse para ela, quando pararam em frente à lareira. "Então tive que dar o meu próprio jeito."

Beatrice observou quando ele tirou de dentro do seu paletó uma caixinha retangular. Ele a estendeu para ela.

"Como eu disse, não precisava de nada", ela falou para ele, antes mesmo de abrir. "Mas obrigada mesmo assim. Sei que vou gostar."

Mas Beatrice não simplesmente gostou, ela amou.

Quando abriu a caixa, seus olhos pousaram na mais linda rosa vermelha que já vira. Deitada na caixinha com perfeição, as pétalas delicadas eram vermelhas como sangue.

"Frederick...", foi tudo o que ela conseguiu murmurar, sem ar. Com todo o cuidado do mundo, ela tirou a rosa da caixa, sentindo seu aroma entrar por suas narinas.

"Ontem, quando estávamos no jardim de inverno, vi que você tinha uma apreciação particular pelas rosas vermelhas", ela o ouviu dizer. "Essa aí estava bem escondida entre os ramos, mas quando procurei pela rosa mais bonita, logo a encontrei."

Beatrice ergueu os olhos para Frederick, guardando a rosa com cuidado de volta na caixinha e dando um abraço nele.

Adrien, como o grande toupeira que era quando Beatrice estava por perto, demorou certo tempo para retribuir o abraço, aos poucos seus sentidos voltando.

"Eu amei, de verdade. É linda demais."

O brilho nos olhos dela dizia tudo o que Adrien precisava saber. Vê-la tão feliz daquele jeito, com uma simples rosa que ele mesmo plantara e colhera, significou mais do que pôde explicar. Antes, em sua antiga vida, costumava presentear as garotas com quem estava com coisas caras e escandalosas, e, mesmo assim, aquilo nunca as mantinha por perto por muito tempo.

De repente, sua atenção foi desviada por um movimento do outro lado da sala. Olhando para lá de modo discreto, ele percebeu que Luke e Howard lhe davam o sinal que esperava, com os polegares levantados e expressões animadas. Ele sorriu.

"Eu queria levar você a um lugar", ele disse para Beatrice naquele mesmo instante, tão próximo que podia enxergar cada mínimo detalhe do seu rosto. "Se não se importar em deixar a festa por um tempo."

"Acredite, Harris, eu aprendi a nunca negar nada que você proponha. Afinal, sou sempre surpreendida."

Satisfeito, ele deu o braço à ela, conduzindo-a para fora da sala de jantar.

Beatrice, que caminhava ao seu lado, sentia uma excitação crescente tomar conta do seu corpo. De fato, não conseguia imaginar como aquela noite poderia ser melhor, mas sempre que olhava de relance para o homem junto dela, era como se a sensação de felicidade se multiplicasse por dez, tomando conta dela por completo. Nunca tinha sentido nada que se comparava àquilo.

Depois de atravessarem o que Bea supôs ser metade da casa, Frederick finalmente parou antes de chegar ao vão de uma enorme porta aberta. Lá dentro, Beatrice percebia, tudo estava iluminado e silencioso.

"Só para deixar claro, a ideia não foi minha", ela ouviu Frederick dizer, e quando olhou para ele, percebeu um sorriso apreensivo surgir em seus lábios. "Mas achei que poderia gostar, então concordei."

"Você está me deixando nervosa", ela admitiu, rindo. "Mas nervosa de um jeito bom."

Ele não disse nada, ao invés disso, conduziu-a para dentro da sala, fazendo com que Beatrice Morgan de repente deslizasse para um conto de fadas.

O salão de baile era enorme, circular e com lustres de cristal pendendo do teto abobadado. As janelas em formato de arco circundavam todo o local, mostrando o brilhante céu noturno. As paredes eram douradas e, olhando ao redor, Beatrice se deu conta que uma antiga corte inteira poderia ter cabido ali facilmente.

O cenário era tão perfeito que ela se sentiu a Cinderela, observando o salão de bailes do príncipe.

"Esse lugar é incrível", murmurou ela, ainda entorpecida pela visão do lugar.

"Há muito tempo, pessoas se conheceram aqui, dançaram até a noite se tornar dia e se apaixonaram", ela ouviu Frederick dizer ao seu lado, e quando olhou para ele, percebeu que seus olhos estavam perdidos em algum ponto do salão. "Não é incrível como, séculos atrás, esse lugar já foi palco de centenas de vidas?"

Beatrice sorriu, não muito surpresa pela sensibilidade dele em dizer aquelas coisas bonitas. Há muito tempo já tinha percebido como era Frederick, uma pessoa com tantas facetas quanto um cristal, todas únicas e interligadas entre si, tornando ele a pessoa que era.

A pessoa que ela nunca mais queria ver distante.

Naquele instante, como que por encanto, uma música tomou conta do salão, melodiosa e encantadora, mergulhando Beatrice em um sonho ainda mais profundo e perfeito.

Olhando para os lados, ela percebeu um pequeno radiozinho apoiado em um banco de madeira.

Ela ergueu uma sobrancelha para Frederick.

"Foi ideia de Luke", ele disse, encolhendo os ombros. "Pensei que gostaria de dançar em seu aniversário."

Ela riu, sem conseguir acreditar.

"Dançar em um salão de bailes que parece ter saído de um dos meus livros?"

"Exatamente."

"Com você?"

Ele sorriu de lado.

"Não sou tão desastrado como pode pensar."

"Oh, não", ela disse de imediato balançando a cabeça, então sorriu. "Mas eu sou."

"Acho que posso aguentar algumas pisadas com esse seu salto agulha."

Ele então, soltando o braço de Beatrice, inclinou-se para ela e colocou um braço atrás das costas, com o outro segurando sua mão.

"A senhorita me daria a grande honra de uma dança?"

Beatrice gargalhou, o riso se fundindo com a música, fazendo com que o coração tolo de Adrien tropeçasse dentro do peito.

"A honra seria toda minha, senhor", ela respondeu por fim, endireitando a coluna e entrando na brincadeira.

Olhando para ele de cima, Bea viu quando seus intensos olhos azuis se ascenderam.

Frederick se ergueu, pegando Beatrice pelo braço e a conduzindo até o centro do salão. Quando chegaram até ali, ele a soltou e a segurou por uma das mãos, fazendo com que girasse.

"Acho que isso é o máximo que consigo fazer sem passar vergonha", ela falou rindo.

"Pois eu acho que não."

Em um gesto fluído, seus dedos se entrelaçaram, e quando se aproximaram, Beatrice deslizou um dos braços pelo seu pescoço, sentindo os cabelos macios roçarem em seus dedos. Ele, por sua vez, envolveu sua cintura, em um gesto ao mesmo tempo firme e delicado.

Beatrice sentia como se seu corpo pegasse fogo.

Com a música soando, eles deslizaram pelo salão, Bea, surpreendentemente, pisando no pé dele apenas três vezes durante o processo.

"Eu disse que era uma péssima dançarina", ela sussurrou para ele, tão envolvida no momento que teve medo de quebrá-lo com uma única palavra.

"Quer saber de uma coisa, Morgan? Eu nunca tive dança melhor do que essa."

Ela não conseguiu responder, antes que fizesse, sentiu seu corpo ser erguido do chão como se não pesasse nada. Quando percebeu, Frederick a girava no ar com apenas um dos braços, colocando-a de volta no chão com delicadeza, continuando a dança.

Ela não resistiu, envolvida no momento maravilhoso, nos braços daquele por quem sempre esperara, Beatrice sentiu como se tudo na vida estivesse perfeito.

Com um suspiro involuntário, ela aconchegou sua cabeça no peito forte de Frederick, seus corpos juntos como um só. Dali, conseguia ouvir as batidas rápidas do seu coração, um coração que provou ser muito mais do que ela imaginou a princípio. Bea conseguia ver Frederick como ele realmente era.

Com Beatrice em seus braços, tão próxima dele como ninguém se atrevia a ficar, Adrien Fletcher se sentiu o homem mais sortudo de todo mundo. Ninguém na face da terra era tão afortunado quanto ele. Isso quando, desde o acidente, se sentira a pessoa mais infeliz que já existira.

Beatrice Morgan, aquela garota fascinante e maravilhosa, podia estar em qualquer outro lugar do mundo. Podia estar nos braços de qualquer outro homem melhor que ele, mas, por alguma brincadeira do destino, ela estava ali, com ele. E céus... Adrien não tinha palavras para descrever o quanto estava grato por aquilo.

Em algum lugar em seu ser, ele percebeu com uma certeza alucinante que não podia deixá-la escapar por entre seus dedos, pois teve certeza que nunca mais em sua vida encontraria alguém assim.

Se ele tivesse coragem o suficiente, seguraria seu rosto entre as mãos e a beijaria.

Há tanto tempo não beijava ninguém que nem mesmo se lembrava da sensação.

Aos poucos, as notas músicas da canção foram sumindo, finalmente terminando a música que o fizera perceber o quando Beatrice era preciosa para ele, e o quanto a queria ter para sempre por perto.

Quando ela ergueu o rosto, depois de algum tempo aconchegada em seu peito, Adrien sentiu como se um avalanche tomasse conta de seu estômago.

"Isso foi... maravilhoso. Como toda essa noite", ela disse para ele, sentindo algo tão bom em seu coração que queria que o momento durasse para sempre. "Obrigada por me fazer aceitar comemorar meu aniversário aqui."

"Não foi nada", ele respondeu. "Aliás, o trato acabou dando certo no fim das contas."

"Então admite que gostou da transformação que fiz no seu quarto?", indagou ela, com ar vitorioso.

"Talvez", respondeu simplesmente, tentando sufocar o sorriso. "Acho que realmente estava bem ruim."

Ele deu o braço para ela, enquanto os dois caminhavam para fora do salão.

"Na verdade, estava péssimo", ela corrigiu, fazendo com que ele risse.

"Tudo bem, você venceu. Péssimo então."

Mesmo com o inverno rigoroso lá fora, ambos pareciam ofegantes e cansados pela dança. Percebendo isso, Adrien conduziu Beatrice até outra pequena sala no mesmo corredor, que se revelou ser um antigo quarto com uma sacada.

"Talvez assim possamos respirar um pouco", ele disse, abrindo as portas de vidro.

Segundos depois, sentindo o ar de inverno batendo no rosto, foi como se Beatrice finalmente percebesse o quanto tudo tinha mudado entre Frederick e ela dentro daquele mês.

Os dois, embora com algumas ressalvas, agora quase podiam ter uma conversa inteira sem se agredirem verbalmente.

Isso com certeza era um grande avanço.

"Beatrice?", ela ouviu Frederick chamar, e quando olhou para ele percebeu que estava encostado no parapeito da varanda, parecendo um pouco incomodado.

"Sim?"

"Você... gosta daqui?"

A pergunta a pegou desprevenida, e quando olhou para os olhos de Frederick, percebeu que ele realmente queria saber a resposta.

"Por qual motivo não gostaria?", ela falou, com um pequeno sorriso. "É claro que gosto. Fiz vários amigos e... Bem, vamos lá, você também não é tão ruim assim."

Ele soltou uma risadinha, os olhos se desviando para a imensidão branca que se estendia abaixo deles.

"Eu só...", a frase ficou por um tempo suspensa no ar, e quando Frederick olhou para ela, obrigou-se a continuar: "Eu só sinto falta do meu pai, do meu emprego e..."

"E?", ele incitou, mas então Beatrice percebeu que não havia muito do que sentir falta em Roseville. Na verdade, os únicos motivos pelos quais ainda se preocupava em ficar presa ali, era o fato de deixar seu pai muito tempo sozinho e todo o dinheiro que estava perdendo por ficar tanto tempo sem trabalhar.

"E só", ela admitiu, dando de ombros. "Acho que, na verdade, acabei não deixando tanta coisa assim para trás."

"Isso é bem triste."

"Com certeza."

Eles riram, o som sendo levado pelo vento.

"Sabe", falou Frederick depois de um momento, parecendo ter certa dificuldade em encará-la. "Eu andei pensando, pensando muito na verdade, e eu acho que... Não sei, mas talvez a cirurgia não seja assim uma ideia tão boa."

Beatrice ficou boquiaberta, tentando digerir as palavras e manter-se calma ao mesmo tempo.

"Como é?", foi tudo o que ela conseguiu perguntar tolamente, completamente atônita.

"Bem, acho que você estava certa quando discutimos na biblioteca." Ele desviou o olhar do dela. "Talvez eu ainda possa fazer minha vida valer à pena, de algum modo. Então não deveria arriscar tudo de novo."

"Ah, Frederick, isso é...", ela não conseguiu responder, ao invés disso foi até ele, segurando uma de suas mãos. "Eu nem sei o que dizer! Você não faz ideia do quanto quis escutar isso!"

Beatrice se sentia tão radiante de felicidade que poderia beijá-lo naquele instante.

O alívio por saber que não corria o risco de perdê-lo era tão grande que chegava a se sentir tonta.

Frederick abriu um pequeno sorriso triste, era claro que ainda se sentia confuso por sua decisão e o que aquilo significa. Se pudesse, Beatrice tiraria toda a dor de dentro dele, fazendo com que enxergasse as coisas pelo seu ponto de vista. Mas não podia fazer aquilo, por isso lhe oferecia apenas palavras.

"Escute, eu sei o quanto é difícil", ela sussurrou, ouvindo o som do vento e os barulhos da noite da varanda. "Mas vai perceber que sua aparência se tornará apenas um detalhe na sua vida. Eu prometo."

Ela segurou o rosto dele, sentindo a pele quente entre seus dedos. Surpreendentemente, Frederick cobriu sua mão na dele, mantendo-a ali.

"Nem todas as pessoas são como você", murmurou ele, os olhos parecendo terrivelmente amargurados.

"Realmente não são", ela confirmou, olhando fixamente para ele. "Mas é justamente por isso que não deve se importar com nada do que elas possam pensar."

Adrien sorriu, fechando os olhos por um segundo, sentindo Beatrice tão próxima dele.

Como poderia, ele se perguntava, uma garota que caíra de paraquedas na sua vida daquele jeito, mudar completamente o modo como ele encarava a vida?

"Minha mãe vai ficar bem satisfeita quando contar à ela", ele disse depois de um tempo, soltando uma risada. "Meu Deus, acho que vai querer beijar o chão onde você pisar."

Beatrice balançou a cabeça, com um leve sorriso nos lábios.

"Eu não fiz nada."

Você fez mais do que qualquer outra pessoa na minha vida, ele pensou.

Quando um vento mais forte passou por eles, Adrien puxou Beatrice para junto dele, envolvendo-a em seus braços para que mantivesse o frio longe. Era incrível como o gesto foi tão natural e cômodo para os dois, completamente perfeito.

"Quando o inverno acabar, eu quero viajar de novo", ele disse, decidindo aquilo no mesmo instante, observando o céu noturno com Bea ao seu lado. "Que tal a Grécia? Ou talvez a Itália. Já fui lá uma vez, mas acredite, é um lugar que vale à pena visitar de novo."

"Como é isso?", ele a ouviu perguntar. "Ver o mundo?"

Adrien sorriu, deslizando os dedos pelo seu cabelo castanho.

"É incrível", ele disse. "É como se você mergulhasse de cabeça em outro mundo, conhecendo novas pessoas, culturas e histórias. Depois de cada viagem, você leva um pouco do lugar dentro de você. Por mais que as fotos registrem tudo, os melhores momentos sempre vão estar dentro da sua memória, para que reviva quantas vezes quiser e aonde estiver."

"Deve ser incrível", ela disse, e Adrien conseguiu sentir sua excitação. "Eu não conheço nada mais do que os arredores de Roseville." Havia certa melancolia em sua voz. E como não poderia? Para alguém como Beatrice, que mostrara ter um espírito tão livre, viajar era algo que ela precisava fazer.

"Então vou te mostrar", ele disse de repente, sentindo a empolgação crescer dentro dele. Adrien virou-se para ela. "Diga um lugar que quer ver, Beatrice, qualquer lugar no mundo, e vamos juntos."

Ela se afastou um pouco dele, com um sorriso bobo no rosto e uma sobrancelha erguida.

"Não pode estar falando sério."

"Eu estou", confirmou, sério. "Estou sim. Assim que o inverno acabar, você vai pedir férias nos seus empregos e nós vamos. Podemos levar Samantha também, Luke e Howard, e até seu pai."

Beatrice começou a rir, os olhos castanhos ainda parecendo não acreditar.

"Está me chamando para ver um pedaço do mundo, Frederick?"

Adrien, ele quase disse, ansiando ouvir o seu nome verdadeiro sair dos lábios dela, o meu nome é Adrien.

"Estou, Morgan", ele respondeu no mesmo tom divertido, agora de frente para ela, quase hipnotizado ao vê-la somente pela luz do luar.

Se for com você, posso ir para qualquer lugar, Beatrice. Sem medo de ser como sou.

"Tudo bem", ela concordou, rindo ao mesmo tempo em que dizia que ele era meio louco. E ele realmente era. Louco por ela. "Eu vou."

Adrien estava prestes a girá-la no ar de felicidade quando Beatrice o interrompeu.

"Mas só depois de ajeitar as coisas em Roseville e quando o inverno acabar."

"Feito", ele respondeu de imediato.

"Feito."

Eles ficaram na varanda por mais um tempo, conversando sobre tudo e pensando para onde deveriam ir depois do inverno. Durante todo o tempo, Adrien pensava nos concelhos que seus criados tinham lhe dado mais cedo, tentando convencê-lo a confessar seus sentimentos para Beatrice.

Mas ele simplesmente não conseguiu.

Olhando para ela, linda e radiante junto dele, o medo de estar confundindo tudo era tão esmagador que não conseguia controlar.

E se ela o visse apenas como amigo? Ou se realmente não conseguisse sentir algo por ele por ser tão complicado e cheio de problemas?

Adrien não podia... Não se atrevia a arriscar perdê-la.

Por isso se manteve calado, sentindo o sentimento enorme o sufocar, sem conseguir colocá-lo para fora.

Mal sabia Adrien que, assim como ele, tudo o que Beatrice queria era esquecer todas as suas inseguranças e beijá-lo ali mesmo, confessar o que sentia e dizer que nunca mais iria embora de sua vida. Que iria ficar.

Quando voltaram para festa lá em baixo, aproveitando o resto da noite, Beatrice sentiu que, apesar de não ter dito para ele o que queria, aquela havia sido a melhor noite da sua vida, e que ficaria em sua memória para sempre.

Não era tão tarde quanto ela pensava quando voltou para o quarto, completamente anestesiada por tudo o que havia acontecido.

Qual foi sua surpresa quando, ainda com Frederick em sua mente, percebeu o enorme buquê de rosas brancas que lhe aguardava em cima de sua cama.

"Ah, meu Deus...", ela arquejou, começando a rir no mesmo instante.

Segurando as flores com cuidado, também tirando da caixinha a rosa vermelha que havia recebido mais cedo e colocando-a junto no arranjo, Bea percebeu o bilhete entre os ramos.

Abrindo-o, ela leu as palavras.

Como percebe, não há muito que eu possa lhe presentear além de flores.

Espero que tenha gostado, aliás, parando para pensar, elas são quase tão lindas quanto você.

Feliz aniversário, Beatrice, torço para que tenha sido uma noite memorável para você.

Com carinho,

Frederick.

Naquele instante, ainda com um sorriso bobo no rosto, Beatrice ouviu o celular apitar na escrivaninha, indicando uma mensagem de Eliza.

Bea não perdeu tempo, telefonou para a única amiga que tinha em Roseville. Pela hora seguinte, ela despejou tudo o que sentia no ouvido dela, escutando Eliza arquejar e rir a cada palavra.

"Meu Deus, Bea", ela disse depois que Beatrice confessou tudo o que sentia por Frederick, sentindo-se ficar bem mais leve com a confissão em voz alta. "Isso é maravilhoso! Mas, pelo que me disse sobre ele, tudo parece bastante complicado. Puxa a vida, você está encrencada, mas de um jeito muito bom!"

Beatrice soltou uma gargalhada, sendo acompanhada por uma Eliza bastante empolgada.

"E você acha que eu não sei?"

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Oii gente!! Tudo bem com vocês? Espero que sim!

O que acharam dessa capítulo? Era aquele que muita gente estava esperando, né? hahaha

Como sabem, A Rosa Mais Bela está chegando ao fim, e a opinião de vocês é muito importante para mim <3

A gente se vê na quarta com o capítulo 19! <3

Beijos,

Ceci.

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