Já faz quantos anos que estou trancada aqui? Será que já faz 100 anos? Ou será mais?

  Todos os dias eram iguais, eu acordava e era sempre a mesma masmorra úmida, cheia de ratos, pelo menos não me importo com eles, se algum passa ao meu alcance ele vira café da manhã.

  É tudo escuro aqui, só vejo luz quando algum guarda ou o maldito do mago Tristan vem com sua tocha checar se ainda estou aqui ou para me alimentar com sangue de animais, faria qualquer coisa por um pouco de sangue humano ou mesmo da minha espécie. Eu não preciso me alimentar com frequência como os outros, depois de 500 anos a fome é pouca, você consegue ficar dias sem se alimentar e basta um cálice de sangue morno para te saciar. Já sou uma vampira um pouco velha!

  Conseguimos nos adaptar ao velhos hábitos humanos de consumir alimentos, mas eles não matam a nossa fome por sangue, na verdade o sangue acaba sendo uma droga que nos faz delirar de prazer e apura mais os nossos sentidos e nossa força além de impedir que caiamos no abismo da insanidade. Mas com o tempo isso fica mais fácil o difícil é para os recem transformados. Eu não fui transformada, sou nascida vampira como muitos e ao contrário do que pensam, não transformamos qualquer um em vampiro. Quanto menos transformados melhor!

  Outra coisa que me difere dos demais é minha linhagem e o motivo por ainda estar viva, eu pertenço a linhagem original dos vampiros, o primeiro amaldiçoado era meu avô  Caim, aquele mesmo Caim filho de Adão. Ao matar Abel ele fez a abominação de provar seu sangue e Deus fez com que a alma de Abel habita-se seu interir lhe causando uma fome desesperada por mais sangue o que o faria nunca se esquecer do mau que causou. E para que o castigo fosse severo também lhe deu a imortalidade para se arrepender de seu ato para sempre.

  Como a maldição começou com ele sua existência era fundamental para que os outros vampiros que vieram depois continuem sobrevivendo, em outras palavras, se ele morresse todos os outros também morreriam.

  Mas existia uma brecha nessa maldição. Mesmo sendo vampiro ele poderia engravidar uma mulher independente de ela ser vampira ou não e ele o fez. Caim teve duas esposas, uma vampira e uma humana, mas apenas o filho da vampira herdou a maldição original, apenas seu primogênito, era meu pai e como eu sou sua primogênita eu também herdei a maldição.

  Infelizmente fomos traídos pelos vampiros inferiores na hierarquia, no dia do meu noivado eu deveria me casar com o príncipe Jungwon pois ele era o de sangue mais puro, haviam sete pretendentes, se algo aconteça a ele eu deveria me casar com o próximo na hierarquia e assim por diante. Eu aceitei meu destino pois a nossa sobrevivência depende de manter o sangue puro para que a maldição continue. Mesmo que meu coração pertença a outro, eu não fugiria do meu destino!

  Jungwon era amável e nos conhecemos ainda muito jovens, se não tivesse me apaixonado por outro, nosso casamento seria perfeito...

  Quando estavamos reunidos para o anúncio do noivado, os vampiros inferiores do clã Abadon invadiram o castelo e com a ajuda da magia negra do mago Tristan fomos derrotados.

  Os sete príncipes foram pegos por uma nuvem negra que os arrastou para um portal e desapareceram sem deixar rastro. Fui pega por vários guardas e colocada no chão enquanto colovam correntes enfeitiçadas para que eu não conseguisse escapar e me fizeram assistir o assassinato brutal dos meus pais...
  Agora eu era a única portadora da maldição o que garantiria minha existência, mas não uma vida realmente...

  Nós confiavamos no Tristan, ele era um amigo leal da família, nunca vou entender porque ele cometeu tal traição.

  Ouço passos, eles estão vindo verificar se ainda estou aqui.

  Em poucos minutos dois guardas e o mago Tristan chegam até a cela.

  _ Como vai princesa Mia?_ diz Tristan parado na frente da cela.
  _ Vou muito bem meu caro traidor, melhor quando você morrer._ sorri irônica para ele.
  _ Sua pirralha mimada, vou de dar uma lição!_ ele ordenou que o guarda destrancasse a cela._ Me deixem a sós com essa vagabunda!
  _ É perigoso senhor, ela ainda é muito forte, já perdemos muitos guardas ao longo dos anos.
  _ Eu estava entediada, sinto profundamente!_ eu sorri para o guarda, mas realmente matei alguns ao longo dos anos, eram iguais a ratos para mim.
  _ EU ORDENEI QUE SAIAM AGORA!_ ele gritou e vi que chamas se formavam em sua mão direita.
  Os guardas obedeceram, ser queimado vivo não parecia ser uma boa ideia.

  Depois que os guardas fecharam a cela ele usou sua magia para me tirar do chão, era como se ele estivesse me segurando pelo pescoço enquanto me levantava no ar, as correntes estavam presas no chão o que fazia um peso enorme em meu corpo, logo meus ossos começaram a estralar.
  Os guardas se afastaram e pude ouvir eles fechando a porta da masmorra.

  Para minha surpresa o mago me fez descer até o chão em segurança e correu ao meu encontro se ajoelhando aos meus pés.
  _ Eu lamento muito minha rainha! Eu fui um grande tolo por todos esses anos!_ ele estava chorando desesperado.

  Não perdi tempo e o agarrei pelo pescoço e agora eu o erguia do chão.
  _ Verme miserável, morra!_ quando fui atravessar seu peito com a minha mão ele disse algo que me fez parar.
  _ Eles estão vivos!
  _ Quem está vivo? FALA!
  _ Seus guardiões, os príncipes! Eles não morreram, estão vivos mas no futuro e eu posso te enviar até o mundo deles para te salvar!_ isso me interessou.
  _ Por que você quer me salvar depois de destruir tudo o que eu amava?_ eu o desci no chão mas não tirei minha mão do seu pescoço.
  _ Eu precisei fazer aquilo para salvar minha esposa ou a matariam... mas não pensei que isso custaria a vida dos vossos pais alteza... eu lamento profundamente. _ ele parecia estar sendo sincero.
  _ Mesmo que você me salve, você vai morrer pela traição do seu maldito clã.
  _ Eu sei... mas se eles não puderem te aprisionar teremos chance de lutar e fazer uma nova rebelião, só preciso te deixar salva e longe do poder deles. Minha família está morta... não tenho mais nada a perder e tudo o que posso fazer agora é te libertar para que você ainda possa viver de verdade. Espero que ainda possa ser feliz minha rainha._ ele sorriu e moveu sua mão direita abrindo um portal atrás de mim e eu o soltei.

  Eu poderia reencontrar meu amor, meus amigos, não estaria mais sozinha...

  _ Espero que não esteja tentando me enganar._ parecia bom demais para ser verdade.
  _ Não posso consertar o passado, mas posso lhe dar um futuro melhor. _ ele apontou para o portal._ Não posso garantir em qual parte da linha do tempo você vai cair, mas deve ser os dias atuais que eles estão vivendo. Boa sorte! _ ele se aproximou beijando minha testa e depois me empurrou para o portal.
  _ Você viverá melhor se esquecer de tudo minha rainha, somente o dia que provar o sangue da realeza sua memória irá voltar, mas até lá, viva! _ ele fechou o portal enquanto eu caia na escuridão.

  Não sabia se estava tudo ficando escuro ou se eu estava adormecendo. Mas uma paz invadiu meu coração e me senti bem pela primeira vez em anos.

  Tristan se matou assim que fechou o portal para que ninguém pudesse conjurar o portal do tempo e assim me encontrar.
  Foram tempos de trevas até que os vampiros foram esquecidos pelo tempo e pela humanidade.
  A paz retornou ao mundo e os vampiros que sobreviveram aprenderam a conviver escondidos entre os humanos como muitas outras criaturas viviam.

  Mas enquanto um único vampiro existir, é porque eu também estou viva.