No Submundo
Lilian acordou... e ao acordar, notou que não estava em seu quarto.
Olhou em volta do dormitório. Não lembra de conhecer ninguém que tenha um quarto com uma decoração no estilo vitoriano-gótico, quase todo cinza. E pelo designer dos moveis, parecia ser um quarto digno de rainha. Se perguntou como ela foi parar naquele lugar.
Avistou uma imponente porta amarronzada. Pelo modelo, presumiu estar em um castelo ou em algum quarto temático. Pensou em ir até ela e ver onde realmente estava, mas desistiu. Vai que de repente encontra com quem não deve...
Falando nisso, lembrou do seu último momento antes de "dormir" ... Até onde se lembra, ela havia sido atacada pelos vândalos da sua classe. E deu tiro nela mesma.
Essa foi a pior parte! Pior do que isso, foi ter sobrevivido... para estar viva, é porque sobreviveu aquele ataque.
E já imaginou a fofoca que deve estar rolando na escola.
Sua preocupação foi interrompida por uma rajada de vento. Olhou para o lado e viu umas cortinas acinzentadas sendo esvoaçadas por essa brisa. Deduzindo que ali havia uma janela, levantou-se da cama e dirigiu-se até as cortinas. Aos abri-las lentamente, deu de cara com uma varanda...
E o que viu além da varanda, foi o que mais a assustou... era alguma alucinação da sua parte ou era o tão falado Vale da sombra da morte?
— Gente, onde é que eu tô?
— Está em meu mundo! Melhor dizendo, em nosso mundo! — Uma voz muito familiar se manifestou atras dela. Quando olhou para trás, quase surtou ao ver quem era...
Ele mesmo... Enrique.
— O que você está fazendo aqui? — Perguntou muito assustada e curiosa ao vê-lo naquele lugar sinistro.
— Aqui é a minha casa.
— Sua casa? E essa sua casa fica onde? No Vale da Morte?
Ele não respondeu, pelo menos não de imediato. Ficou ali parado só pensando que resposta daria para confirmar a dúvida dela. Então somente disse um "sim" muito sem-graça e nada convincente. Ela não gostou.
— Que brincadeira é essa?
— Não é brincadeira. Você mesma viu a paisagem lá fora. Olhe mais uma vez se for o caso. — Estendeu o braço em direção a varanda.
— E por que você mora em um lugar tenebroso como esse?
— Porque eu sou o Deus do Submundo.
Lilian até queria rir quando Enrique falou aquilo achando se tratar de alguma piada. Mas estava muito confusa e assustada para dar risada. E pela sua expressão, não era brincadeira.
— Como assim "o Deus do Submundo"? O que isso significa? — De repente Lilian parou pra pensar por um instante e logo depois questionou Enrique: — Quem realmente é você?
— Eu sou Hades, o Deus do submundo e dos mortos.
— Isso é sério? — Perguntou incrédula.
— Tão sério o quanto você possa imaginar.
Lilian já ouviu falar desse Hades. Na mitologia grega, era o Deus do Submundo e dos mortos. Em outras palavras, é o inferno. Isso significa que...
— Eu não acredito em você.
— Já esperava que não ia acreditar. Mas se você quer que eu prove, tudo bem. Me dê só um minuto.
Assim que ele estalou os dedos, uma fumaça preta se formou em torno dele e assim que a névoa se desfez, apareceu um homem belíssimo por detrás dela. Era a verdadeira forma de Hades.
— Se você é o Deus do Submundo, aqui então é...
— ... o lugar para onde vão as almas das pessoas que morrem, que a gente conhece como inferno.
— Então eu...
— Sim. Você morreu e veio para cá porque se matou. Eu sinto muito.
Ela morreu e foi para o inferno. Estava lá porque havia retirado a própria vida e segundo as leis da religião católica, era pecado. E ela sabia disso.
Lilian chorou. Não por estar lá no inferno, mas por estar morta por culpa daqueles cretinos. Não achou nada justo o que aconteceu com ela. Enquanto seu corpo estava apodrecendo debaixo da terra e sua alma no submundo, eles curtiam a vida deles de boa.
— Também acho injusto o que aconteceu com você, Lilian. Por isso, quero lhe propor um acordo. Quero você como a minha rainha, minha nova Perséfone. E você poderá se vingar de seus agressores.
Ela ficou incrédula com aquela proposta, pois ele mentiu para ela durante todo o tempo em que estiveram juntos. Se ela já se sentia suja, humilhada e usada por aqueles marginais da sua classe, depois dessa revelação de Enrique ou Hades, ficou ainda pior.
Foi enganada pela pessoa em quem mais confiou na vida e para piorar, estava presa no inferno com ele.
— Vai embora!
— Como assim?
— Eu não quero nunca mais falar com você!
— Mas por que?
— Você ainda tem a cara de pau de perguntar? Você me enganou. Mentiu para mim esse tempo todo.
— Não, eu não menti. Eu só não contei. Se eu falasse para você que eu sou um Deus, por acaso ia acreditar em mim?
— Aposto que foi você que criou toda aquela situação de proposito para eu morrer e ser mandada para cá. Deve ter planejado tudo desde o início, quando a gente se conheceu lá no mercadinho. Isso se também não foi você que os incentivou a fazer bullying comigo!
— Não, eu juro para você que não foi. Naquele dia, eu entrei no mercado por curiosidade e te vi sendo importunada por aquele marginal, o tal do Kelvin. Não planejei conhecer ninguém.
— Por que você não fez nada para me salvar, já que é um Deus?
— Eu queria muito te ajudar, mas você mesma disse que essa luta não era minha... por favor, me entenda.
Lilian não queria entender. Queria a sua vida de volta. Queria poder fazer e vivenciar tudo o que as meninas da sua idade fazem. Queria que tudo fosse diferente. Queria pelo menos ter sido deixada em paz. Ela tinha toda uma vida pela frente e agora não tem mais... e a culpa era de quem?
— Eu vou te deixar um pouco sozinha para se acalmar. Voltarei mais tarde e aí a gente conversa melhor.
Assim que Hades saiu dos aposentos, Lilian se jogou na imponente cama redonda e chorou até adormecer.
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