Discutindo com a mãe
Finalmente conseguiu chegar em casa e para um grande alívio, seus pais não estavam. Assim poderia chorar em paz.
Não quis almoçar. Apesar de estar com muita fome, o nervoso que sentia por causa do estresse que acabara de passar a impedia de comer. Foi direto pro quarto e chorou até pegar no sono. Só acordou no final da tarde quando recebeu uma ligação de Enrique.
"Oi minha querida, como você está? Senti saudades."
Sorriu ao ler a mensagem dele. Ele era a única coisa boa na sua vida... o que também era outro problema. E se só apenas uma ilusão?
"Oi vou bem obrigada. E você?"
Não. Ela não estava bem. Não depois do que houve hoje. Foi o cúmulo do absurdo, aqueles vândalos a perseguirem como se fossem um bando de lobos famintos atras da lebre. Ao lembrar do que acabara de vivenciar, teve outra crise de choro.
Queria desabafar com ele, mas não queria envolve-lo em seus problemas. Não sabia como ele iria reagir... na verdade, não tinha a menor ideia das suas intenções.
"Quando é que a gente vai se ver de novo?"
Lilian não conseguiu responder. Estava nervosa por demais para marcar um novo encontro na biblioteca. Depois de uns dez minutos olhando para a tela do celular, inventou uma desculpa que tinha uns mil e trabalhos da escola para fazer, que precisava estudar, que faria uma faxina no quarto etc.
"Lili está tudo bem mesmo?"
Realmente ele a conhecia muito bem, pelo menos o suficiente para saber que ela está mentindo. Ela mesma disse que inventa inúmeras desculpas para não conversar com os pais sobre a escola...
Mas que estava ali conversando com ela era o seu amigo Enrique. Já havia conversado com ele sobre o bullying que sofria. Quem sabe desabafando mais uma vez, poderia se sentir um pouco melhor.
"Não... infelizmente hoje aconteceu algo horrível..."
Ela contou tudo, desde as discussões de sempre na sala de aula até a loucura de invadiu uma casa para fugir da cambada de arruaceiros.
"Cara, dessa vez eles passaram dos limites. Isso não pode ficar assim, é caso de polícia. Precisa denunciá-los. Se quiser eu vou juntos com você."
Era a maior vontade de Lilian... melhor ainda, vê-los apanhar dos policiais. Seria a glória. Mas o que ela diria? Como diria? E como explicar aos seus pais que foi na polícia para denunciar os moleques da sua classe que estão mexendo com ela? Porque com certeza eles vão saber. E tem uma outra questão, era bem capaz de não acreditarem nela e não fazerem nada ou pior, fazer contra ela.
Apesar de achar a atitude de Enrique muito fofa e ter muita vontade de fazer isso, Lilian decidiu deixar para lá como sempre. Ele também se ofereceu para ir levá-la e buscá-la na escola ou mandar o seu chofer. Ela não aceitou.
— Poxa Lilian, deixa eu te ajudar. Nunca vou me perdoar se algo de ruim acontecer com você.
Ela sorriu com as palavras doces de Enrique. Parece mesmo que ele gostava dela... e estava mesmo gostando dele. Não queria gostar, mas estava. Não queria se decepcionar. Já tivera as suas paixonites e no final foi tudo uma farsa, como no caso do garoto que puxou a sua cadeira e a fez cair com tudo no chão.
— Tente conversar com seus pais. Explique que você está correndo perigo. Eles precisam fazer alguma coisa.
Lilian se entristeceu. Quantas e quantas vezes ela já contou aos pais e invés de ajudá-la, eles jogavam mais lenha na fogueira e o resultado era sempre o mesmo: "A culpa é sua!"
Para tranquiliza-lo, Lilian disse que vai conversar com eles. Ele deixou bem claro que qualquer coisa, sempre estará ao seu lado e encerraram a conversa combinando de se encontrar um outro dia. Neste momento ouviu o barulho da porta da frente se abrindo.
— Lilian, você está aí? — Era sua mãe que acabara de chegar do trabalho e bateu na porta de seu quarto.
"Droga, acabou o meu sossego!"
Com muito custo, Lilian foi abrir a porta. Esperava que a mãe estivesse com o mínimo de bom humor. Não estava com a disposição para lidar com ninguém.
— Onde esteve à tarde toda? — Pelo jeito ela não estava.
"Ora, mas que pergunta."
— Aqui em casa, no meu quarto...
— A vizinha falou que chegou muito tarde da escola.
"Vizinha fofoqueira!"
— Eu... passei na casa de uma amiga antes de vir casa e...
— Que amigas são essas que eu nunca vi vejo você trazer aqui para casa? Em vez de se enfiar na casa dos outros, por que não veio direto para casa? Não, tem que ficar encruada na casa dos outros que é para a gente não descobrir as suas safadezas!
— Credo mãe, que bicho que te picou? — Lilian ficou assustada com aquela reação da mãe. De certo ela deve ter se aborrecido no trabalho ou na rua e assim que chegou em casa, veio descontar nela. E para piorar, deu audiência para fofoca de vizinha.
— Que merda está acontecendo?
— Não está acontecendo nada mãe. — A sua maior vontade era de contar que está sofrendo bullying na escola a ponto de atentarem contra a sua vida. Mas não conseguia falar por medo.
"Como vou falar com ela alterada desse jeito?"
— E por que você está com essa cara de choro? Andou chorando por acaso?
"Na verdade, eu chorei dentro do meu quarto." Lilian quase soltou essa, porem preferiu não dizer. Entretanto precisava dar uma resposta:
— É que eu estou com uma enxaqueca terrível a ponto de chorar...
— E por que está com dor de cabeça? Já percebeu com você está sempre com algum mal-estar ou na casa de "alguma amiga" sua? É porque está aprontando alguma coisa e tenho até medo de imaginar o que é.
Antes que Lilian pudesse se explicar, sua mãe já foi logo soltando a bomba. E de preferência, uma com um devastador efeito nuclear:
— Você tá é dando para os moleques na escola! Por isso que fica correndo atras deles.
Não era muita novidade quando a sua mãe insinuava que ela corria atras dos meninos (e espalhava para tudo mundo). Agora dizer aquilo foi o fim picada.
— Eu não faço nada disso. E não sou eu que corro atras deles, eles é que correm atras de mim.
— E porque eles correm mesmo? Porque de certo você deve ficar os provocando.
— Não fico nada, eles que implicam comigo do nada.
— Ah você nunca faz nada né Lilian?! Você é uma santa imaculada, os outros que não prestam.
Se Lilian já estava mal com o que aconteceu hoje (e pelos os outros dias), agora ficara pior. E iria piorar ainda mais quando a mãe ameaçou de contar tudo ao pai dela.
Ela fechou a porta do quarto sob os protestos da mãe. Se encostou na porta e teve mais uma crise de choro, escorregando até sentar no chão.
Rezou para que o pai não fique sabendo, o que provavelmente será impossível. E pediu perdão a Deus se caso ela tenha feito alguma coisa para alguém.
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