Viagem para Nergorod

— Bem, aqui estamos — disse Halle parando o carro— Ilnemgrav está a poucos quilômetros naquela direção.

— Eu seguirei com você e Ilya, ao menos até poder retribuir-lhe por salvar minha vida.

— Já lhe disse Balkan, você já pagou esse débito quando convocou o Vladmir.

— Não, estava era salvando minha pele. Ainda estou em débito, portanto sigo para apoiá-los.

— E você Skeniev? — indagou Ilya — O que vai ser?

Ele deu com os ombros — Ora, o melhor que arranjarei em Ilnemgrav será uma passagem de volta à frente de batalha... Com os perigos alardeados por seu amigo, prefiro tentar minha sorte com vocês.

— Muito bem — Halle ligou o veículo e seguiu na estrada que ia para o interior do país. — Então vamos para Nergorod.

— Nergorod? Pensei que iríamos até o velho Xir.

— Talvez outra hora. Estive com ele há dois dias, passei pela zona de guerrilha... Voltar lá seria uma péssima ideia.

— E como ele está?

— Um tanto pior agora que vive sozinho. A velha e todos de sua vizinhança se retiraram na evacuação promovida pelo exército. Ele e uns poucos doidos ficaram. Estão perigosamente próximos da zona ocupada pelos menodrols.

— E o que ele disse?

— Ele disse que você era o único que podia me ajudar com meu problema. Ao que parece, o padrão que estou tentando desvendar nas minhas escavações é um padrão matemático.

— Mas eu não... — E Ilya empalideceu ao tomar consciência de sua perda. — Meus remédios! Raios! Minha medicação ficou no acampamento!

— Sinto muito Ilya, veremos se há um jeito de arranjar mais.

— Como? Só era produzido no laboratório da universidade...

— Sem problemas. É só ganharmos a guerra e expulsar os menodrols de lá — Halle riu.

— Boa piada... — Ilya retrucou desanimado.

— Remedios, você diz? Sofre de algum mal? — indagou Balkan.

— É. Infelizmente sofro de uma condição terminal, um tumor no cérebro. Sem meu medicamento voltarei à minha condição anterior...

— Sinto muito, Gregorvich. E... e quanto tempo tem?

Ilya deu com os ombros. — Não sei. Meses, semanas, dias?

— Por falar no senhor Xir, você é um mago genista, não é mesmo Balkan?

— Sim.

— O velho Xir lhe enviou isto. Disse que seria útil caso viesse conosco. — Halle pegou uma bolsa ao seu lado — Aqui Ilya, passa pro moleque aí atrás.

Ao passar a bolsa, o conteúdo se moveu fazendo barulho de metais se chocando, como se estivesse cheia de tranqueiras. Balkan abriu-a e disse — Pelo Grande Gênio! Eu não acredito! — quase saltitava e seu entusiasmo era contagiante.

— O que é? — Ilya virou-se, interessado.

— São dezenas de DPs! E tem algumas DPPAs também!

Halle torceu o nariz — Depê o que? Que papo é esse moleque?

— Lâmpadas de guardar gênios — explicou Skeniev.

— DPPA? Não me lembro de você ter nos explicado sobre isso. — comentou Ilya.

— E de fato não o fiz! São relíquias raras somente usadas pelos grandes mestres. Dimensões portáteis profundas e amplas.

— Tá falando maltisseíta aí... — reclamou Bremmen.

— São artefatos incríveis, pois além de permitirem armazenar vários gênios juntos, também podem servir de nexo de ancoragem!

— Maltí-sse-í-ta!

— Portais, entende?

— Ótimo! Então nos leve para Nergorod, não temos tempo a perder.

— Bem que eu gostaria... Estudei sobre portais, na teoria, mas não tenho prática alguma. Além do mais, é muito perigoso manipular nexos profundos. Seres e objetos próximos podem ser desintegrados, ou então, coisas ruins podem vir de dimensões profundas.

— Então é melhor arranjarmos um genista de verdade para nos ajudar... — zombou Halle.

— Olha, com o tempo eu poderei... Eu juro que...

— Ei, relaxa moleque, só estava te zoando.

— Algum desses recipientes está carregado? Digo, há algum gênio aí? — indagou Ilya.

— Hum, deixe-me ver... — Balkan tomava uma garrafa por vez nas mãos. — Não, não, não, hum... Não. Opa! Tem algo aqui. E aqui! Uma delas era uma DP normal, já a outra, era um jarro cinco vezes maior com gargalo esguio e retorcido.

— Parece bom... — Ilya bocejou sem muito entusiasmo. — Não sei quanto a vocês, mas estou exausto.

Balkan examinava as DPs e Skeniev espiava desconfiado. Ilya recostou-se como pode para tirar um cochilo e Halle seguiu dirigindo atento com os olhos na estrada.

***

Mais tarde, o rapaz despertou com os solavancos do veículo. Não estavam na rodovia, mas sim, no meio de um descampado. Era noite e Ilya olhou para o banco de trás. Balkan dormia recostado no ombro de Skeniev que estava a roncar com a cabeça pendendo para trás e balançando conforme o avanço do carro.

— A estrada acabou? — Ilya perguntou com a voz embargada de sono.

Halle o encarou com olhos vermelhos — Não, é só um pequeno desvio para acamparmos. Ali parece um bom local. — Halle parou o carro e saltou para fora — Vamos frango, me ajuda aqui.

Ilya desceu cuidadosamente. O corpo estava todo dolorido e imagens da batalha voltavam à sua mente. Vinte e três: era o número de vidas que havia tirado. Não podia evitar que seu cérebro contabilizasse. As cenas de batalha circulavam em sua mente enquanto observava o céu plenamente estrelado. Halle trouxe uma bolsa grande do bagageiro e atirou uma menor nas mãos do amigo.

— Não seja molenga!

Ilya se esforçou para despertar e seguiu Halle para a dianteira do veículo onde os faróis iluminavam o terreno com suas luzes alaranjadas.

No interior da bolsa havia uma estrutura de metal desmontada, muito suja de fuligem e gordura. — O que é isso? Uma churrasqueira?

— Exato. Poderá servir como aquecedor caso a madrugada seja muito fria. — Halle estirou uma lona grossa sobre o chão cobrindo pedras e mato. Conectou uma série de bastões metálicos para formar a estrutura da barraca. Retornou ao bagageiro trazendo mais pacotes. — Só tenho dois sacos de dormir, mas estas mantas devem resolver o problema para seus dois amigos. Os dois seguiram erguendo o acampamento enquanto os outros dois continuavam dormindo.

Halle debruçou-se no carro e puxou os pés de Skeniev até despertá-lo. Ele acordou mau-humorado e desceu resmungando — Ótimo! Saímos de um acampamento militar para cair num civil...

— Pelo menos estamos vivos... — lembrou Balkan.

Skeniev deu com os ombros, mas seu humor melhorou assim que sentiu o cheiro de carne assando.

— Hum! Comida de verdade!

Halle subiu para desligar o carro. Verificou o nível de energia no painel, estava quase acabando. Ainda havia mais uma bateria sobressalente. Não havendo problemas, chegariam em Nergorod dentro de dois dias.

Passaram boa parte da noite escutando casos que Skeniev contou, bem humorado, após encher o estômago e entornar meia garrafa de aguardente da reserva de Halle. Este simpatizou com o ex-operário.

— Estou farto deste tratamento militar! — sua voz soava um pouco embriagada. Por favor, me chamem pelo meu nome, Danton. Ah, espero me aposentar como soldado. — Voltou a beber e passou a garrafa adiante. Até mesmo Ilya estava bebendo.

— Acho que as coisas não ficarão nada boas para desertores como nós — constatou Skeniev coçando os olhos que quase explodiam de tão vermelhos.

Balkan declarou — Eu sei o que farei. Vou pedir asilo no Reino de Sisqua.

— Mesmo? — surpreendeu-se Ilya — Por que não Salzbragg, ouvi dizer que estão recebendo pessoas.

— Não sabe que os maiores magos da minha ordem estão em Sisqua? Os fundadores da escola eram siquianos e fundaram nossa escola em Voln, em 1400.

Ilya deu com os ombros — Eu pensava todos os eméritos tivessem vindo de Nanzigom Ertax.

— É um engano comum pensar que todos os magos venham do país dos elkin, assim como pensar que todos elkin são praticantes de magia. — Balkan rebateu e bocejou longamente. — Um bom sono cairia muito bem.

Depois disso, apesar de algum desconforto, todos dormiram na barraca armada no meio do ermo.

***

Ilya sentiu-se muito bem ao abrir seu caderno. Gostava muito de estudar nos finais de semana quando os alojamentos da universidade ficavam desertos e silenciosos. Porém, não se dava conta que estava tendo um sonho prazeroso, apenas até aquele momento. Escrevia equações como se nunca tivesse encontrado os óculos de Orgeila Bertonk, ou como se nunca tivesse sido perseguido pelo vil Vorn-Nasca, tão pouco passado pelas mãos de Yurenko, ou tivesse que confrontar o exército dos menodrols. Enfim, tudo em ordem! Apenas equações a serem resolvidas. 

Ele não estranhou quando a pena em sua mão preencheu a página com uma série de símbolos estranhos. Nem notou que sua mão estava magra, enrugada, cheia de pintas marrons-azuladas e possuía apenas quatro dedos finos e ossudos. De repente, não estava em seu alojamento, mas num local amplo escrevendo sobre uma mesa grande e pesada de madeira escura, em meio a prateleiras e livros. Suas novas mãos puseram a pena para descansar ao lado do maço de papéis. Com ambas as mãos alcançou um jarro de vidro contendo um fluido amarelado e no qual flutuava uma esquisita criatura. Um mistura de criatura do mar com um único e longo tentáculo coberto de ventosas, pernas longas e articuladas como as de uma lagosta, um rostinho com chifres e expressão quase humana e dois outros apêndices compridos e rosados saindo do abdome e terminando em ossinhos brancos e pontiagudos.

— Na hora certa, meu amigo, você irá nos ajudar.

As memórias e preocupações de Ilya estavam distantes. Havia penetrado na mente de outro ser preocupado com o confronto iminente com seus inimigos cujo poder e natureza não conseguia decifrar.

Um corpulento guerreiro de pele azul e vestido numa elaborada e brilhante armadura (do tipo que só se via em museus) entrou no recinto amplo e fez uma respeitosa reverência.

— Senhor Urguda, o duque gostaria de saber se já concluiu os preparativos.

— Sim Pirfério, diga-lhe que estarei no pátio, logo mais.

Ilya vivenciava aquela situação com curiosidade procurando entender o que estava acontecendo. Enquanto seu estranho sonho prosseguia, Ian Balkan abriu os olhos verdes de aparência cristalina encarando, vidrados, o teto da barraca.

Suas costas estavam doloridas de dormir no chão duro e fez uma careta ao levantar-se. Tentava mover-se silenciosamente. Skeniev roncava e Ilya tinha a respiração pesada e ruidosa. A barraca estava sob penumbra, mas já vinha de fora a fraca luminosidade azul profundo do novo dia que queria surgir. Pegou a sacola com as DPs enviadas pelo Elkin e esgueirou-se para fora da barraca. A vegetação endurecida pela geada quebrava ruidosamente sob seus passos. Balkan suspirou com a bela visão. O gelo assumira tonalidade azulada e cobria a vegetação que se estendia até perder de vista.

Afastou-se da barraca e cheio de curiosidade retirou da bolsa o jarro grande e diferente dos demais. Ao fazê-lo, teve a impressão de escutar alguém sussurrando em seus ouvidos. Examinou sua forma e materiais e constatou que nunca havia visto algo sequer parecido com aquilo. Parecia ser antigo e podia sentir pelo toque que havia encerrado nele a energia vital de um ser. 

Animou-se ao pensar que poderia conter alguma espécie de gênio extinta. Concentrou-se para sondar a natureza da criatura. Sentiu um arrepio e ficou perplexo. Era uma mistura de campos energéticos completamente estranhos. Algo de sombra e algo de luz fundidos numa mesma criatura. Aquilo fez sua curiosidade se aguçar. O jovem genista se perguntou se estava preparado para impor sua vontade a um gênio antigo e de natureza estranha.

Murmurou — Só há um jeito de saber!

Analisou a estrutura feitiço do recipiente e sentiu o espaço dobrado em seu interior. Havia a válvula que regulava a conexão entre os espaços e algo mais que não pode identificar bem.

Uns poucos minutos se passaram enquanto a análise prosseguia e o azul profundo da madrugada dava lugar a um azul vibrante e na linha do horizonte uma gradação de cores lilases brotava.

Um estalo surdo anunciou a abertura do jarro. Uma fumaça escura jorrou do gargalo e escorreu lentamente para o chão. A garrafa esfriou até que segurá-la ficou insuportável. Balkan a deixou cair e deu um passo para trás. A fumaça vinha mais forte e o jarro sumiu em meio a uma nuvem escura que crescia a seu redor. Um vento frio envolveu o rapaz que preparava seu feitiço para domar o gênio assim que surgisse. O frio intenso atrapalhou-o em sua concentração fazendo-o hesitar. Meio arrependido e ainda muito curioso manteve-se firme em sua resolução de confrontar e dominar o gênio. Uma mão horrível com quatro dedos emergiu da fumaça. Possuía garras pontiagudas na ponta dos dedos longos e delgados como bengalas. Pelo tamanho da mão, o rapaz deduziu que a criatura era enorme, talvez tivesse três vezes a sua altura. Seus músculos enrijeceram e o suor congelou em sua testa enquanto aguardava seus olhos se cruzarem com os da criatura.

A fumaça escorreu lentamente revelando um par de olhos pequenos, de íris alaranjadas que examinavam Balkan. Não era possível ler expressões daquele rosto sem nariz, boca ou sobrancelhas. Todo o corpo estava coberto por uma pele escura, enrugada e rachada como uma casca de árvore. Parecia que todo seu corpo havia sido horrivelmente queimado. Destoando do ser escuro e cinzento havia uma espécie de apêndice colorido ligado ao pescoço e tórax. Parecia um colar, à primeira vista, mas quando a coisa se moveu e soltou um gemido agudo, esta ideia se desfez.

— Ah, olá? — o rapaz disse.

— Ótimo! Ótimo, pequeno Karis. Tu me libertaste!

— É? Libertei?

— Certamente. Por isso, devo minha gratidão a ti.

— Não foi nada... — a voz de Balkan quase não saiu.

— Gosto de ti! Ah, sim, gosto tanto de ti... — a criatura deu dois passos rápidos em direção a Balkan mostrando duas fileiras de dentes brancos e pontiagudos de sua boca sem lábios. — ...que devorar-te-ei! — seus olhos tinham um brilho alaranjado e malévolo.

— Devorar? — indagou com as pernas trêmulas e sem força.

A criatura deu dois passos largos e esticou os dedos compridos de cujas pontas surgiam unhas negras e afiadas como navalhas.

— Nada disto! — guinchou uma vozinha pífia como a de um camundongo.

O monstro contorceu-se e gritou levando as mãos na nuca. Resoluto agarrou a pequena criatura de cores vivas e puxou-a com todas as suas forças. Arrancá-la de si não era fácil fazendo-o urrar de dor enquanto puxava-a vigorosamente. Os urros ecoaram por todo aquele campo. Balkan notou que o ser pequenino possuía dois ferrões compridos presos no corpo do monstro e que não desgrudavam, esticando mais e mais como se fossem de borracha. Se o serzinho possuísse ossos, estariam todos esmagados, mas era uma criatura de consistência gelatinosa e ao mesmo tempo, parecia forte e musculosa.

— Desgraçado! Maldito parasita! — urrou o grandalhão esticando-o sem conseguir desprendê-lo de seu corpo. Colocou os olhos furiosos sobre Balkan disse a si mesmo — Eu vou devorá-lo sim! É a minha vontade, seu maldito!

Balkan deu passos para trás e tropeçou caindo de costas.

— Devore isto! — Disse Skeniev ao sair da barraca com o rifle de raios que já zumbia em suas mãos. O som de um pequeno trovão estalou junto ao clarão azulado e dos raios dançantes que se projetaram à partir das agulhas na ponta do rifle. O gigante caiu para trás envolto em fumaça.

Balkan suspirou aliviado, mas aquilo durou pouco, pois a criatura ergueu-se novamente. Desta vez, não havia nada pendurado em seu pescoço.

— Rwa! Ha ha ha ha! — suas gargalhadas sinistras preencheram o ar. — Finalmente estou livre do maldito parasita!

O rifle de Skeniev zumbia enquanto acumulava carga. Ilya e Halle também saíram da barraca disparando contra o ser. Mesmo atingido pelos disparos, a criatura não tombou. Os disparos do rifle de Ilya teriam aberto um rombo no tórax de um oponente, mas apenas produziam áreas vermelhas sobre a pele escura da criatura.

Balkan sacudiu-se e concentrou-se para convocar Vladmir. Em poucos instantes o lobo-dragão materializou-se e caiu sobre a criatura com suas fortes mandíbulas. O monstro resistiu às mordidas e com dificuldade ergueu Vladmir se contorcendo e atirou-o para longe por cima dos ombros. Era imensamente forte e Halle imaginou que ele poderia partir o seu carro em dois, se desejasse. Sob uma nova onda de disparos de Ilya, Halle e Skeniev a criatura encolheu-se. Reconhecendo que enfraquecia recuou e correu para longe ainda sob o fogo do trio. De longe, antes de sumir de vista praguejou — Malditos! Eu voltarei e devorar-vos-ei até o último músculo, tendão e osso!

Balkan recolheu Vladimir para seu receptáculo e os quatro trocaram olhares entre si.

— Mas que diabos era aquilo? — indagou Skeniev.

Balkan retrucou — A-acho q-que era um Yrkun-Nasca.

— Yrkun-Nasca? Tá zoando... — retrucou Halle.

— Pois sim e estava naquela DP antiga.

— Não acredito que o velho Xir tenha mandando aquela coisa para nós... — balbulciou Ilya.

— O velho tá senil, só pode... — constatou Halle. — deve tê-la colocado junto das outras por engano.

Skeniev ficou vermelho e explodiu — Porra! Alguém pode explicar o que era aquilo? Nasca o que?

— Yrkun-Nasca — repetiu Balkan — uma criatura das trevas criada pelos Wlegdars como um meio de estender suas vidas e seus poderes. Os Wlegdars que se submetiam a esta tranformação abdicavam da chama da vida atirando-a no abismo. Em troca, recebiam força superior e extensão de seus poderes mágicos. Uns poucos desses existiram. Eram conhecidos como Generais das Sombras.

— Os que comandavam exércitos e arrasavam cidades? — Skeniev já havia escutado histórias assim.

— Esses mesmos — confirmou Halle.

— Muitos foram destruídos, alguns aprisionados.

Balkan caminhou até a garrafa que prendera o Yrkun-Nasca e notou o pequeno ser no chão, todo retorcido. Ilya estava logo atrás e indagou — O que é isso?

— Não tenho certeza...

Aquele estranho ser parecia morto, mas quando a dupla chegou mais perto, estrebuchou como um peixe quando fora d'água. Apesar de parcialmente esmagadas, havia tantas pernas que a criatura ainda conseguiu se mover. Correu desesperadamente em direção a Balkan que saltou para desviar-se. Voltou sua atenção para Ilya encarando-o com sua cabecinha chifruda. Correu célere em direção ao rapaz movendo as muitas pernas mais rápido que os olhos podiam acompanhar e assim seguiu escalando-o pelas pernas e depois pelas costas de Ilya.

— Tirem isso de mim! Socor... Ahhgf!

O longo tentáculo enroscou-se no tórax e pescoço de Ilya dando umas três voltas. A ponta parou projetando dois ferrões que penetraram a pele na nuca. O rapaz entrou em choque, estrebuchou um pouco antes de cair desmaiado. Em poucos instantes, a criatura que antes parecia uma tripa caquética e moribunda recuperou suas cores e aparência saudável.

Halle aproximou-se com uma faca para removê-la, mas Balkan o deteve.

— Não! Removê-la assim pode colocar a vida de Gregorvich em risco. Precisamos de equipamento especial. A criatura não irá matá-lo. É um simbionte. Dependerá de Gregorvich para viver.

— Cacetada, mas que treco mais esquisito! — Skeniev coçava a barba mal feita que vinha crescendo rápido. — O que é isso, hein Aspira?

— Já li alguma coisa sobre tais criaturas, mas não me lembro bem. Eram muito raras e julgava-se que estivessem extintas há muito tempo.

— Vamos, me ajudem aqui — pediu Halle tomando Ilya nos braços. Skeniev pegou-o pelas pernas e levaram-no para o carro.

— Vamos dar o fora antes que aquele outro monstro resolva retornar. Em Nergorod, talvez, possamos arranjar alguma ajuda para o Ilya.

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