Sinal

Masha Flammoc não tremia as mãos ao segura o volante do mesmo modo que fizera quando levara Halle Bremmem ferido no banco de trás de seu carro. Sabia que se fosse apanhada ajudando um criminoso, seria presa e sua vida estaria arruinada. Mas agora era pior, quem cometia um crime era ela própria. Tinha no banco de trás de seu carro o menodrol, Clarão. Aquilo era uma loucura! Mas ela não suportava mais ver aquele por quem se apaixonara cativo e sob torturas e experimentos dos laboratórios do IMPA.

No compartimento de carga do veículo carregava água, comida e seis baterias sobressalentes, pois não pretendia recorrer a postos de abastecimento uma vez que saísse de Zalle. Além da bagagem extra, levava consigo Marya. Fora um erro confidenciar seus planos à moça que, no princípio, ofereceu apoio, mas depois, viu a fuga como uma oportunidade de sair da cidade e ir ao encontro de Ilya. Marya recorreu a ameaças para forçar Masha a levá-la consigo. Assim que saíram de Zalle pegando a estrada rumo a Nergorod, Clarão saiu de seu esconderijo. Deixou as cobertas de lado e ergueu-se, alto, no banco traseiro. Devido à sua estatura tinha de sentar-se de lado e com o tronco curvado. Sua cabeça batia no teto ocasionalmente com a trepidação do veículo e os buracos na estrada.

Marya escutou a movimentação de Clarão e deu uma olhada, mas sob a penumbra não pôde vê-lo bem. A estrada não era iluminada e as luzes do veículos eram tênues. Percebeu, ao menos que o homem cobria o rosto com uma máscara.

— Olá — ela se expressava de modo jovial — meu nome é Marya. Masha falou muito sobre você.

— Olá Marya — sua voz veio abafada através da máscara — Masha não me falou sobre você. É irmã dela?

— Ah não, senhor Clarão. Somo amigas.

— Amigas não chantageiam umas às outras — comentou Masha com amargura.

Houve um silêncio desconfortável e Clarão o quebrou — E agora?

Masha pressionou os lábios atenta a buracos na estrada. — Agora vamos para leste, sempre leste.

— Para mais longe de casa — o menodrol murmurou baixinho, mas Marya o escutou.

— Você tem família lá em seu país?

— Sim.

— Digo, esposa e filhos?

— Isto não.

— Meu pai está exilado na colônia penal e a minha mãe... — Marya soluçou, pois sentiu somente naquele momento o peso do que havia feito. Não havia deixado nada além de uma carta. — Minha mãe... — sua voz agora embargada — está sozinha.

— Foi muita consideração sua abandonar sua mãe — Masha retrucou num tom ácido.

Marya chorou quieta tentando não fazer nenhum som, mas ocasionalmente eles podiam escutá-la soçobrar.

Houve silêncio por algum tempo até que Clarão voltou a falar — Sinto uma coisa desagradável vinda do leste.

— Como assim? — indagou Masha.

— Uma vibração. Consigo sentí-la aumentando. No cativeiro eu sentia isto, às vezes. Mas agora, sinto a intensidade aumentar à medida que avançamos.

Ao ouvir aquilo, Masha brecou o veículo.

— O que houve? — Marya se assustou.

— Vamos ver... — Masha falava consigo mesma. Saiu do veículo e foi até o bagageiro. Trouxe uma maleta e colocou sobre o banco do motorista. Acendeu um lampião manótico sobre o painel trazendo tons alaranjados para dentro do veículo. Na maleta, havia muitos cabos, diversos aparelhos e cristais. Ligou alguns deles a uma bateria e colocou no painel uma tela com quatro botões escuros com sulcos laterais. Números indicavam diferentes escalas ao redor dos botões e Masha girou-os fazendo uma linha luminosa amarelada dançar na tela. Assumia forma de onda alternando com linhas em degrau. O aparelho chiava como um rádio fora de sintonia.

— Marya, segure isto e mantenha firme — ordenou. Então recolheu a mala, colocando-a no banco traseiro, ao lado de Clarão. Masha deu partida no veículo e voltou a avançar. De tempos em tempos, girava os botões sutilmente e dirigia por alguns minutos observando a tela. Quando a tela mostrava-se sem alterações, voltava a girar. Marya dormiu com a cabeça encostada no banco e Clarão apenas observava as ações metódicas de Masha.

— Captou alguma coisa? — indagou o menodrol.

— Ainda não, mas há muito do espectro a percorrer.

Somente horas depois ela conseguiu sintonizar uma frequência. Logo a linha se estabilizou num padrão de serra e o aparelho passou a emitir um bipe.

Vinte minutos depois, ela disse — Está crescendo.

— Sim — o menodrol concordou — eu sinto.

Masha observou os números luminosos na base da tela e fez algumas contas de cabeça.

— Parece que estamos indo em direção à fonte do sinal. Talvez possamos verificar.

— É talvez. Primeiro temos que chegar lá... Sinto que ainda há um longo caminho adiante.

Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top