Sala de comando

Argos e Halle seguiam pelos corredores furtivamente quando escutaram ecos longínquos.

— Disparos — sussurrou Argos.

— E gritos — completou Bremmen.

Seguiram com cautela pela semi-escuridão até que viram uma luz fraca adiante. Esta foi se fortalecendo aos poucos e depois que penetraram um salão circular, viram que ela vinha de um dos portões.

— Vá pela esquerda — disse Argos ao pé do ouvido de Halle. Ambos circularam o salão em silêncio enquanto ouviam os ecos distantes dos sons de batalha.

Argos chegou até o portão, agachou-se ao seu lado e espiou. Havia um grande painel de luz de onde imagens de uma batalha podiam ser vistas. Ao redor deste, todos com atenção focalizadas nas imagens, havia sete ou oito silhuetas. Uma delas, ele reconheceu como sendo Ferrov, o Vorn-Nasca que confrontou em Kassev. Eles riam e falavam entre si. As imagens na tela eram perturbadoras. Havia centenas de atacantes sobre um grupo de militares. Um deles foi focalizado e ele pode reconhecer os contornos de Drakeen.

— Patético — disse um deles — o comandante deles é um aleijado!

Os outros riram. A imagem voltou-se para a turba de soldados menodrols. Alguns deles eram atirados para o alto por uma criatura enorme.

— Uma surpresa, hã Yurleg? — disse Ferrov.

— Ou duas — o mais velho respondeu apontando para o dragão que surgia na tela.

— Não importa — Ferrov deu com os ombros — Serão trucidados.

— Ao menos a luta agora ficou mais interessante — comentou outro Vorn-Nasca.

Argos constatou que usavam placas de aço no peito e nas costas. Isso tornaria ataques letais com as pistolas de agulhas inúteis. Mas a nuca deles estava à vista. Acertá-las não as mataria, mas os deixaria paralisados. Argos sacou suas pistolas e ficou em posição de atirar, mas antes que fizesse, Halle arriscou tudo e foi a seu encontro.

— Cê tá louco, cara!

Argos encarou-o com seus olhos em fúria. Talvez não tivessem outra chance melhor. Mas sabia que uma discussão os colocaria em perigo.

— Que barulho foi esse? — um deles olhou para o portão.

— Uma daquelas ratazanas, de certo — disse Ferrov, bem humorado.

— Veja Yurleg, um deles passou direto por nossas tropas.

— Parece que aprenderam como controlar um menodrol em seus laboratórios — arriscou Ferrov.

— Isto pode ser um problema... Kiro, Eichev, Tungnienko, tragam-no vivo, se possível. Será muito difícil programar instruções para que nossos menodrols o capturem.

Halle correu a mão trêmula dentro de sua bolsa, procurando por algo. Achou um frasco que emitiu um fraco brilho lilás assim que o retirou. Tomou metade e deu o resto para Argos. Ele também tomou. Argos notou que a pele de Halle escureceu. Uma espécie de de bruma escura formou-se rente a todo seu corpo e ele ficou quase invisível a seus olhos. Ambos se encostaram contra a parede e os três Vorn-Nasca passaram por eles sem os notar. As três criaturas andaram a passos rápidos, quase volitando e mal tocando o chão. Halle nunca tinha visto algo se movendo daquele jeito. Argos esticou os olhos para dentro do salão e viu que restavam 4 deles. Apontou suas pistolas para a nuca de dois deles e disparou duas rajadas de agulhas. Três ou quatro penetraram na nuca de cada um deles. O som dos disparos colocou os outros dois em alerta.

— Não disse que era uma ratazana — disse Ferrov e saltou sobre Argos. Este apontou as duas pistolas e descarregou-as. Ferrov foi atingido no rosto, algumas vezes. Ainda assim, o Vorn-Nasca deu um encontrão em Argos e zuniu junto a ele até atingirem a parede. Cada qual caiu para um lado. Ferrov xingando enquanto removia agulhas do rosto e Argos chiando para respirar, sentindo muita dor. Halle entrou e confrontou o outro: Yurgleg. Ele tinha a aparência de um senhor de idade, juntas rígidas e movimentava-se lentamente. Tinha uma pistola em mãos e disparou contra Halle. Os disparos iluminaram o salão com sua luz alaranjada mostrando o rosto de Yurleg, ou melhor, sua face descarnada e hedionda.

Halle rolou para o lado tomando cobertura fora da sala. Um dos disparos antingiu-o de raspão, pondo seu casaco em chamas. Ele tirou o casaco o quanto antes e Argos foi chutado por Ferrov e teve os pulsos esmagados por suas botas. Ferrov pisou-o até que ele soltou as pistolas. Tossindo e sem conseguir respirar direito, Argos via seu fim se aproximando. Ferrov sacou sua pequena adaga para sangrar-lhe a garganta e sugar sua essência vital.

— É hora de finalmente esmagá-lo, seu rato.

Argos bateu um pé contra o outro acionando um gatilho que fez saltar para fora uma lâmina, na ponta de sua bota. O chute veio certeiro contra a região genital de Ferrov e a lâmina enterrou-se por completo. Ferrov arquejou e caiu para trás.

Halle atirou o casaco em chamas para dentro do salão atraindo por um instante a atenção de Yurleg. Isso lhe deu tempo para se atirar no chão, com a pistola em mãos, e disparar. O primeiro disparo passou ao lado de Yurleg e atingiu o painel, provocando uma pequena explosão com faíscas. O segundo atingiu o ombro envolvendo-o em chamas. Ele caiu para trás.

Halle ajoelhou-se e concentrou-se para mirar com precisão. Yurleg saltou do chão para ficar de pé de modo sobrenatural, como se a força de um polegar seu fosse capaz de sustentar todo o seu peso. Encarou Halle e este disparou certeiro contra a pistola de Yurleg. A arma voou das mãos do Vorn-Nasca, assim como Halle desejava. Yurleg correu em sua direção. Halle disparou duas vezes ficando de pé e recuando antes de desistir da arma e solá-la. De algum modo, o Vorn-Nasca absorveu os disparos que não pareciam causar dano. Halle sacou seu espadim e usou-o para desviar um golpe das garras afiadas do ser esquelético. A lâmina do espadim brilhou, sua magia foi ativada automaticamente ao confrontar um ser das sombras.

O Vorn-Nasca deu um passo para trás, alarmado. — Eu não vejo um destes, desde...

Não completou sua fala, pois foi atacado por um golpe de Halle e teve que recuar.

Halle viu nos olhos esbugalhados da criatura que estava apavorada. Avançou estocando e Yurleg deu um salto para o lado.

Enquanto isso, Argos arrastou-se para longe de Ferrov e esforçou-se para ficar sentado. Ferrov pôs-se de pé com uma das mãos segurando a virilha. Sua mão estava encharcada do líquido escuro que corria nos Vorn-Nascas e começou a pingar no chão. Avançou e com o outro braço tomou Argos pela garganta erguendo-o.

— Antes ia apenas matá-lo, seu rato! Mas agora, vou fazê-lo sofrer.

Andou levando Argos até uma bancada na qual depositou seu corpo como se livrasse de um pesado saco de cimento. Copos e outros objetos quebraram atrás das costas de Argos e seus fragmentos penetraram aqui e ali. Tomou a mão de Argos e torceu seus dedos, quebrando um após o outro. Ele deixou escapar um grito entredentes, a despeito de seu esforço para resistir.

Após mais duas investidas de Halle, Yurleg correu e sumiu em uma das outras saídas do salão externo.

Halle deixou-o ir e retornou para auxiliar Argos. Ferrov estava de costas, espancando e torturando seu companheiro. Estava tão entretido em seu jogo que não viu o golpe que lhe decepou a cabeça.

Argos não era nada mais que uma bagunça de carne e ossos. Halle fez uma careta ao observá-lo. Vseldoff forçou um sorriso, sangue escorria de sua boca e os dentes estavam tingidos de vermelho.

— Pegue-os para mim... — conseguiu dizer antes de morrer.

Halle nunca soube, mas o rapaz estava ali por causa de um Vorn-Nasca, que há muitos anos, havia matado seus pais.

— Bem, agora sou apenas eu... Não posso decepcionar o Mik. Preciso prevalecer.

Halle foi até os outros dois que estrebuchavam em convulsões e com golpes precisos de seu espadim, decapitou-os. Lembrou-se do velho Exull, que havia lhe dado um livro que falava sobre Vorn-Nascas. Nele, em mais de uma passagem eram mencionados três espadins feitos pelo mestre Elkin Gurne'Lang'Pur espacialmente para combater as criaturas criadas pela magia sombria dos wlegdars. 

Halle sabia que uma destas que estava em um dos museus com os quais seu chefe trabalhava. Com a ajuda de Mik, conseguiu uma permissão para tomá-la emprestada e levar para estudos no departamento de arqueologia em Voln. Com a guerra, o museu provavelmente estava destruído. Agora o espadim de Lang'Pur estava sendo usado novamente conforme seu propósito original.

 Halle segurou firme seu espadim e examinou a área. Havia muitas coisas ali e ele não fazia a menor ideia sobre o que eram nem para o que serviam. Por via das dúvidas, resolveu quebrar tudo o que parecesse quebrável. O instinto de sobrevivência falava mais alto que sua formação de arqueólogo, coletor e estudioso de antigas relíquias.

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