Um Lufa-Conto (Tradução Português)


Sabe, eu nunca tive uma boa memória.

Os fatos sempre pareciam escapar da minha mente como se estivessem sendo lentamente cobertos por uma capa da invisibilidade. Não, não, quem tinha a memória boa era Finn. Afiada como uma pena de escrita, confiável como uma coruja de correio. Era um mistério ele ter acabado preso na Lufa-Lufa comigo; em vez de se juntar a seus pares intelectuais e vestidos de azul.

— Eu não pertenço àquele lugar – Ele dizia, em um tom decididamente afiado – Meu lugar é aqui. – E eu sabia que era verdade, porque estávamos tratando de Finneas Aldrich Bones, que nunca desejou ser ninguém além de si mesmo.

Já, eu... Era outra história.

— Cornelius Macmillan.

A voz estridente reverberou pelas paredes de pedra e me arrancou de meu devaneio. De repente, eu estava no meio de uma aula de feitiços, com 25 rostos me encarando e uma pergunta para responder.

— Você pode nos contar sobre os usos do feitiço Obliviate?" Professor Flitwick perguntou, do topo da pequena montanha de livros onde se encontrava.

— Ahn ... é ... – Alguns diriam que eu não estava prestando atenção na aula. Para mim, a culpa era toda da minha terrível capacidade de recordar os fatos. – É... – Finn silenciosamente deslizou suas anotações, escritas à mão numa caligrafia horrorosa, por debaixo do livro – "Um feitiço de memória ... usado para parar... não, apagar ... anh ... memórias".

— Muito bem. Você pode comentar sobre os perigos que ele pode acarretar?

— As memórias compõem praticamente tudo – Finn interveio, graças a Merlin. – Sentimentos, conhecimento, identidade. As pessoas são feitas daquilo que podem lembrar; portanto, apagá-las ou simplesmente alterá-las pode causar danos irreparáveis; até levar à loucura. Veja o escritor Gilderoy Lockheart, por exemplo. Trinta anos depois, e alguns ainda dizem que ele está assinando seu próprio nome nos lençóis do St. Mungus.

A sala de aula explodiu em gargalhadas e demorou um pouco para o Professor Flitwick recuperar nossa atenção, apesar de a aula já estar no final. Mais algumas perguntas e estávamos a caminho das margens da Floresta Proibida, onde ocorreria nossa última aula da manhã. Estava perigosamente perto da hora do almoço e eu já podia sentir o gosto dos deliciosos Tarteletes de Abóbora que, eu esparava, nos aguardandavam.

— Você não consegue parar de pensar em comida, Cory? – Nem preciso dizer que eu gostava muito mais de ser chamado pelo apelido. Finn me pegou pelo braço e me puxou para o lance de escada mais próximo. – Vamos nos atrasar para Trato das Criaturas Mágicas se você não parar de sonhar acordado!

Murmurei algo baixinho e então partimos, descendo as escadas como dois ratinhos em uma corrida. Como esperado, o Professor Hagrid já estava tagarelando animadamente sobre um pequeno... galho verde com pernas, que Finn chamou de "Tronquilho", enquanto passava vigorosamente as páginas de seu livro.

Eu desviei o olhar. Era um dia quente e ensolarado, incomum para meados de outubro. Um céu claro e sem nuvens; a casca escura e calosa de árvores antigas contra o verde das folhas e da grama. Mas o que chamou minha atenção foi uma pequena criatura peluda, brilhando timidamente em tons de prata e branco. Eu o observei caminhar lentamente entre as árvores até... desaparecer. E aparecer novamente a alguns passos de distância.

Eu cutuquei Finn com o cotovelo e apontei naquela direção.

— O que é aquilo? – Ele também não sabia.

Lenta e silenciosamente, nos aproximamos da criatura fantasmagórica. De perto ela tinha olhos imensos e parecia um pouco cansada, na minha opinião. Como se já estivesse andando há muito tempo, em busca de um lugar seguro.

— Eu sabia! – Finn apontou para uma imagem semelhante em seu livro – É um Seminviso! – Ele leu – Uma criatura herbívora, pacífica, capaz de se tornar invisível quando ameaçada e muito cobiçada, pois dos fios de seu pelo podem ser feitas capas da invisibilidade! – Ele olhou para mim com os olhos tão arregalados quanto os da criatura.

— Ok, mas o que ela está fazendo aqui? – Comecei, mas um estampido alto de repente ecoou pela floresta. Junto com o brilho cegante de um feitiço cujo alvo não fora acertado. Eu apertei os olhos.

No canto mais escuro da floresta, eu o vi: um vulto oculto em longas vestes, o tecido balançando no ar enquanto ele corria em nossa direção, varinha em riste. Estava apontando para o Seminviso, e eu não consegui me conter. Com um último olhar na direção da criatura, joguei-me entre eles, agarrando minha própria varinha, na esperança de igualar seu poder. 

Bem... não funcionou.

Um enorme incêndio começou na floresta, galhos queimando ao meu redor, paredes de chamas vermelhas para todos os lados. Tentei correr, gritar, mas não havia para onde ir. Eu me mexia e me virava e sentia os galhos se estendendo para mim, esmagando meus ombros com seu peso. Ao longe, uma voz:

— Cory! Cory, não é real!

— Finn? Onde você está? – Eu gritei de volta, procurando por ele. – A floresta está queimando! Corra!

— Cory, você precisa confiar em mim! – Ele tentou novamente – Isso é uma ilusão, você precisa acordar!

— Ah é? – Como se fosse a coisa mais fácil do mundo – Como?

— Tente ficar calmo e lembre-se...

Mas tudo o que eu podia sentir era a fumaça em meus pulmões, o som crepitante da madeira queimando. Eu nunca havia sentido tanto medo, nunca conseguiria sair daqui vivo. 

— Eu não posso! Não consigo pensar direito, Finn. Eu não consigo deixar de ver o fogo!

Talvez, exceto... Olhei para cima a tempo de ver um enorme galho caindo. Mesmo se eu corresse, seu tamanho imenso ainda me esmagaria. Com o coração batendo forte, apontei a varinha para minha própria testa, fazendo o meu melhor para canalizar minha magia para aquele ponto em minha mente.

O único feitiço que eu consegui lançar? 

O único de que me lembrava.

* * *

Quando abri os olhos, fui saudado por árvores e um céu azul, bem acima do rosto apavorado de Finn. Eu estava deitado de costas no chão e consegui me levantar rapidamente, dizendo:

— Nós precisamos ir! Agora! – Finn me seguiu, um pouco trêmulo – O Seminviso...

— Espera! E aquele cara? E a ilusão?

— Que ilusão?

Finn parou derrepente. As engrenagens de seu pensamento rodando a todo vapor.

— Cory, você usou o feitiço obliviate em você mesmo?

— Você realmente acha que eu me lembraria, se tivesse?

Ele pareceu horrorizado.

— Você ao menos sabe quem você é? Quem eu sou?

Eu estava sem fôlego. 

— Sim! Eu sou Cory-cabeça-de-narguilé e você é Finn, meu melhor amigo. Agora, vamos! Precisamos encontrar aquela criatura antes que seja tarde demais!

Um único aceno confirmou nosso acordo silencioso. Éramos da Lufa-lufa. Não deixávamos ninguém, humano ou criatura, para trás. Mas Finn continuou a conjeturar sobre minhas questionáveis ações.

— Se você pensar na memória como uma linha reta, é possível que você tenha conseguido apagar a extremidade mais distante dela, rebobinando-a para o ponto em que o feitiço de fogo ainda não havia ocorrido. – Ele explicou. – Isso até que foi genial, Cory ..."

— Obrig...

— Mas muito estúpido.

— O que? Por que?

— Porque a memória não é uma linha reta! É uma gigantesca teia de aranha e ninguém sabe a implicação de apagar uma de suas ramificações!

Bem, agora alguém sabia.

Não tivemos que correr até a cabana de Hagrid. O próprio professor estava correndo em nossa direção, canino a seus pés.

— Eu ouvi gritos, o que vocês...

— Nós fomos atacados! – Finn disse, mas eu não estava prestando atenção. Tentava examinar as árvores, procurando por qualquer sinal de branco e prata.

— Atacados? Por quem?

— Não sabemos! Cory o viu, mas ... Cory! – Sua voz se interrompeu quando eu comecei a correr. Avistara a criatura onde a tinha visto pela última vez, escondida atrás de uma árvore.

— É realmente um Seminviso. Eles são muito espertos! Podem até prever o futuro! - Os olhos de Hagrid se arregalaram em admiração, enquanto ela subia em minhas vestes e abraçava meu torso. - Talvez ele tenha visto você vindo para ajudá-lo. O idiota que estava tentando pegá-lo deve ter feito um truque complicado.

— Sim, mexer com a mente é sempre complicado – Murmurou Finn, me olhando com desaprovação.

— E onde ele está? – Hagrid perguntou.

— O cara que vimos? Fugiu, provavelmente – Eu respondi com raiva, colocando a criatura no chão.

Hagrid disse que iria cuidar dele, encontrar um lugar seguro para ele ficar.

— É melhor eu contar à Professora McGonagall. Se vocês não estiverem machucados, garotos, podem ir almoçar. Esta com certeza foi uma manhã agitada.

E assim o fizemos. Mas, enquanto caminhávamos em direção ao grande salão, sentia algo... diferente. Finn deve ter notado o mesmo.

— Eu ainda acho que você deveria ver a Sra. Pomfrey, só para ter certeza. Você está... mudado.

Toquei meu rosto, minhas vestes.

— Anh? Como assim?

— Você também está mais atento. Antes parecia que você estava dormindo. Agora você está finalmente... acordado. - Ele se interrompeu - Além disso, como foi que se lembrou da localização do Seminviso? Você é especialista em esquecer detalhes. Fiquei bastante surpreso.

Eu realmente não sabia.

— Você acha que é uma consequência do feitiço? Tipo, o feitiço saiu tanto pela culatra que me fez lembrar ao invés de esquecer?

Ele riu. 

— Sei lá. Você quem lançou o feitiço, não eu.

Mas, indubitavelmente, algo tinha mudado em mim naquele dia. Finn passou semanas tentando descobrir o que.

Sua teoria número um era que, de alguma forma, eu havia esquecido da minha autoinfligida falta de confiança. Todo o medo, os nomes que as pessoas me chamavam e até que eu mesmo me chamava. Eu só me lembrava do dia em que, finalmente, descobrira como a bravura, a inteligência e a ambição só têm utilidade quando colocadas a serviço da lealdade.

E lealdade, ah, essa eu tinha sobrando.

- - - - - 

"Quem sabe é na Lufa-Lufa que você vai morar,
Onde seus moradores são justos e leais
Pacientes, sinceros, sem medo da dor"

~ Canção do Chapéu Seletor, 1° ano.

https://youtu.be/nmrxfSxeGPM

CADÊ MEUS CONTERRÂNEOS DA LUFA-LUFA?????

Desculpa, gente, não consegui me conter e escrever umconto imparcial dessa vez. Meu amor e lealdade permanecem dirigidos à minha amada casa de Hogwarts. #HufflePuffPride.

Muito obrigada por chegar ao final dessahistória, mas PERAÍ, que eu ainda tenho duas coisa para falar:

n°1: Esta é a versão traduzida do conto que eu escrevi para um concurso na gringa :') A versão original está em inglês, como vocês puderam ver, no primeiro capítulo desse livro. 

n°2: O que vocês acharam da história? Me contem, me contem! Adoro ler seus comentários. Se quiserem, também podem deixar umas estrelinhas por aqui, que eu não vou achar ruim ;D

É isso aí, até a próxima!

Muito obrigada de novo,

x Isa x

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