Capítulo 7 - Matando por defesa ou por diversão?
- Eu n-não sei do que o senhor está falando... Eu já disse que eu não sei como se mata uma pessoa...- digo na falha tentativa de me defender, mas sei que não estou soando nada convincente.
- E eu já disse que não adianta negar. Eu sei que foi você. - olho para a minha esquerda, onde há uma gravadora antiga gravando toda a nossa conversa. - E eu nunca erro.
Não! Não posso entregar o jogo agora. Caso contrário, tudo estará perdido e eu acabarei parando na prisão. Vou ter que apelar para o "modo criança"
- Para! - grito assustada, começando a chorar. - Eu não fiz nada! O Horace era meu colega, e eu não tinha nada contra ele! Não desejava o mal a ele! - digo, a cada palavra o choro aumentando a intensidade. Porém, para o meu azar, o detetive não mostrava nem uma gota de compaixão. Apenas fica parado em sua cadeira, observando com uma clara impaciência meu choro fingido.
- O que é que está acontecendo aqui? - a professora Ryes abre a porta da classe, olhando para mim preocupada assim que vê minhas lágrimas. - Su! O que aconteceu? - eu corro até sua direção e a abraço, ainda chorando.
- Ele é pior que o lobo mau! - digo sem desgrudar a cabeça de sua cintura, falando a primeira coisa que vem na minha mente. Talvez porque minha mãe leu a história da Chapeuzinho Vermelho para mim não faz muito tempo. - Ele disse que foi eu quem matou o Horace! - assim que digo isso, sinto ela mandando um olhar confuso e ao mesmo tempo bravo para o detetive.
Ela se abaixa para ficar da minha altura e fala em um tom que julgo ser reconfortante para mim:
- Su, pode ir entrando na sala. Eu já vou daqui a pouco. - diz e eu obedeço, entrando na sala vitoriosa.
Professora Ryes, você é a minha heroína!, penso enquanto sento na minha carteira, parando com esse choro que já está me irritando.
Porém não estou totalmente aliviada. Esse detetive ainda vai me causar muitos problemas, disso eu tenho certeza.
Ao menos que eu o silencie..
🔪🔪🔪
O resto da manhã passou praticamente normal. As investigações foram canceladas e a professora agiu como se nada tivesse acontecido (depois, é claro, de ter perguntado pra mim se estava tudo bem).
Eu já estou acostumada com essa psicologia da professora Ryes: se você não comentar muito sobre uma coisa, você esquecerá que ela realmente aconteceu.
É uma lógica meio estranha, eu sei, mas já me acostumei com isso.
Estou no pátio, esperando minha mãe chegar para me buscar, quando de repente tropeço em um pé esticado, fazendo-me perder o equilíbrio.
Porém, antes que eu pudesse dar de cara com o chão, um forte punho segura meu pulso, impedindo que eu caia.
Olho para cima, esperando ver um monitor ou algo do tipo, mas não. Eu vejo a última pessoa que eu quero ver no momento. Preferia dar de cara no chão e me machucar toda.
- Detetive? - pergunto enquanto me recupero da surpresa. - O que faz aqui? Você não havia sido mandado embora?
- E fui. Mas existe uma coisa chamada banheiro e relógio. - explica-me casualmente. - Fiquei esperando por lá até você sair.
- E por que fez isso, posso saber?
- Para escutar de você a verdade. - diz, e eu o olho desconfiada. - Fique calma. Estou sem gravadoras nem nada do tipo. Pode ver. - ele tira o sobretudo e o chapéu, batendo neles para provar que não tem nada, mas mesmo assim continuo o encarando desconfiada. - O que foi? Quer ver debaixo da calça também? - pergunta irônico. - E outra: estou fora do horário de trabalho. Não tem porquê trabalhar sem ser remunerado por isso.
- Mas por que você quer tanto saber isso? Pra que você quer uma admissão mesmo fora do trabalho?
- E por que é que você não quer admitir? - ele me responde com outra pergunta, soltando um suspiro irritado. - Você sabe o que fez, eu sei o que você fez. Por que é tão difícil admitir isso?
- E por que é tão difícil aceitar que não fui eu que matei o garoto? - digo, porém ele apenas me encara de uma maneira irritante.
Fico com raiva e acabo disparando minha confissão sem querer:
- Tá bom! Eu o matei. Feliz?
Se ele tiver uma micro-gravadora, estarei encrencada, mas minha irritação e vontade de ver esse cara o mais longe possível de mim não permitem que eu pare:
- Matei e não me arrependo disso, e estou muito feliz que finalmente ele morreu e não vai mais me importunar. - minhas palavras soam venenosas e eu não pararia de falar se meu nome não fosse chamado agora pelo microfone, indicando que minha mãe chegou para me buscar.
Feliz e aliviada por finalmente poder ficar longe dele, dou as costas para ele.
- Agora, se me der licença.. Eu tenho que ir embora. Minha mãe está esperando. - digo, já me dirigindo para o portão da saída, ainda sentindo a expressão atônita do detetive imóvel atrás de mim.
Porque contei isso a ele, diário? Não havia muito o porque não contar, afinal, eu o silenciarei ainda hoje. E então ele nunca mais terá a chance de, um dia, provar que fui eu que matei o Horace.
Bem, é isso diário. Eu acho que já contei tudo o que tinha pra contar pra você.
Mamãe está me chamando para ir para o supermercado. Acho melhor eu ir. Preciso que comprar os materiais necessários para matar esse detetive.
Até logo!
Fecho meu diário e faço a mesma coisa de sempre: o guardo debaixo do colchão da cama e a cubro com um lençol qualquer.
Vou correndo até o andar de baixo, onde minha mãe já me espera na porta com as chaves do carro na mão.
Sem dizer nada, vou até o carro e fecho a porta. Minha mãe faz o mesmo e vamos até o supermercado em silêncio.
O trajeto inteiro fico pensando em como matar aquele detetive.
Com uma faca em seu peito? Não, não. Já fiz isso.. E que tal com um tiro? Não... Papai perceberia a falta de sua arma... Hum... , penso, mais indecisa do que nunca.
Finalmente chegamos no supermercado, e eu saio correndo para dentro.
Enquanto eu passeio pelas longas e infinitas fileiras de produtos de limpeza, comidas, sucos e etc, eis que eu tenhouma ideia.
Uma ideia brilhante!
Mas.. Mamãe desconfiaria se eu pedisse para ela comprar isso.. dou de ombros. Ah, tanto faz. Vai ser na base do furto mesmo.
Tiro a mochila, que sempre levo comigo para todos os lugares, do ombro e pego os materiais necessários para a minha "missão silenciadora", colocando tudo dentro da mochila quando ninguém olhava.
Termino pegando um spray de pichação, para deixar a minha marca, e vou de encontro com a minha mãe, sem esconder o grande sorriso que insiste em aparecer em meu rosto.
Finalmente fomos até o caixa, onde instintivamente eu apertei minha mochila contra as costas, o que fez a mulher do caixa me olhar um pouco desconfiada, porém, para a minha sorte, ela não comentou nada.
Entramos no carro, e eu ainda não consigo acreditar em como eu sou tão genial mesmo com essa idade.
- Está feliz por quê, filha? - minha mãe pergunta, notando o meu sorriso.
- Ah. É que eu gosto muito desses passeios no supermercado com você, mamãe. São muito divertidos! - digo me mexendo desconfortável no banco. Felizmente, ela não nota isso.
- São mesmo. - diz soltando uma risada, enquanto estaciona o carro na garagem. Pulo do carro rapidamente, sem mesmo esperar ela desliga-lo direito, e vou correndo até meu quarto. - Cuidado pra não cair! - escuto ela gritar ainda na garagem, enquanto eu subo as escadas pulando de dois em dois degraus.
Agora que eu tenho tudo necessário para matar aquele detetive, tudo o que eu preciso fazer é descobrir onde ele mora, e então, esperar pela noite.
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