Capítulo 6 - Pedra no sapato
Ai, diário! Estou tão feliz por ter finalmente matado aquele idiota do Horace! Foi tão bom!
Aquela sensação prazeirosa ao ver seu olhar de terror enquanto retirava seu olho lenta e dolorosamente... Ah!
Ok, você já deve estar de saco cheio de tanto me ouvir falar dele, não é?
Tá bom, parei.
Bem.. Hoje é segunda.
Aff.
Começo de semana sempre é um tédio... Lição de casa, ouvir o blá, blá, blá da professora... E o pior de tudo: saber que amanhã é terça. Ou seja: psicóloga. Tem coisa pior que isso?
Exatamente: NÃO!
Não estou nem um pouco afim de ter que enfrentar outra semana sem fazer nada de interessante. Eu realmente estou pensando em..
- Filha, se arruma pra ir pra esco... O que é que você está fazendo?!
- Não sabe bater não, mãe? - por instinto, fecho meu diário rapidamente e o escondo em baixo do travesseiro quando minha mãe se aproxima de mim em passos apressados.
- O que é isso que você escondeu aí?
- N-nada de mais! É só o meu diário.
- Diário? Que legal.. - diz se aproximando cada vez mais de mim.
- NEM OUSE! - o grito sai antes que eu possa pensar nas consequências. Minha mãe me olha surpresa, parando de andar de repente.
Tento amenizar a situação:
- D-digo.. É pessoal.. e eu não gosto que olhem o que eu escrevo..
- Entendo.. - ela fica pensativa por alguns instantes, mas não parece brava. Ufa. - Na sua idade eu tinha um diário também. Calma, filha. Eu não vou ler. Só queria saber o que você estava fazendo. - ela passa a mão em meu cabelo de forma carinhosa. - De qualquer maneira, já está na hora da escola. Coloca seu uniforme que eu vou terminar de preparar o café.
- Tá. Já vou descer. - assim que digo isso, ela sai do quarto, e eu pego novamente meu diário debaixo do travesseiro.
Aff. De novo fomos interrompidos, diário. Mas que droga!
Isso já está começando a me irritar...
Mas, bem, fazer o quê? Ela é a minha mãe, afinal. E não seria nada estratégico matá-la, logo, tenho que, infelizmente, conviver com isso.
Bom, melhor eu me apressar para ir para o inferno que chamam de escola agora. Então depois eu termino de te contar as coisas. Até mais!
Fecho meu diário e o escondo em baixo do colchão, como sempre.
Coloco meu uniforme e penteio o cabelo, fazendo uma trança lateral e saio do quarto, indo para a cozinha, onde minha mãe já está tomando seu café.
Pego um pão com geleia e me sento junto com ela, onde comemos em silêncio. Felizmente, minha mãe não toca no assunto do diário.
Após comer tudo, minha mãe me leva para a escola, o que não demora muito.
- Tchau, filha! Boa aula! - ela grita do carro enquanto eu atravesso o portão fingindo que não a conheço.
O porteiro acena para mim sorridente e me deseja bom dia. Não o respondo e, irritada com o fato de hoje ser segunda, acabo, "sem querer", revirando os olhos.
Não perco meu tempo para ver a reação dele. Subo rapidamente as escadas e sento no meu lugar de costume, esperando a aula começar.
- Bom dia, turma! - a professora Rayes diz enquanto entra na sala sorridente.
- Bom dia, professora! - os alunos responderam em coro. Menos eu, claro.
- Bem, turma... isso é um pouco embaraçoso, mas... - a professora começa, tamborilando seus dedos finos nervosamente na coxa. - Anh... bem, hoje a primeira aula será um pouco diferente... isso pode parecer meio estranho, mas eles insistiram para que todos fossem entrevistados.
Mesmo sem saber sobre o que Rayes está falando exatamente, sinto um aperto no peito. A professora respira fundo antes de continuar, procurando as palavras certas.
Fala logo, vagabunda! Sinto vontade de gritar, mas, obviamente, me contenho.
- Vamos lá: enquanto a aula nossa primeira aula acontece, um por um vai ser chamado para fora da sala, onde um detetive da polícia estará fazendo algumas perguntas. Não se preocupem pois basta vocês responderem sinceramente que serão liberados rapidinho.
Polícia?!
- Diga, Ash. - a professora diz para um garoto ruivo sardento que estava com a mão levantada.
- Por que a polícia tá aqui? - perguntou.
- Bem.. vocês se lembram do coleguinha de vocês? O Horace? Ao que parece, ele... ele foi assassinado - ao dizer isso toda a classe solta um suspiro de surpresa, e uma garota até solta um gritinho de terror. -, então como ele não conhecia ninguém além das pessoas dessa escola, a polícia está investigando aqui, que é o lugar mais óbvio. Apenas isso. Mas não se preocupem gente. Eu tenho certeza que não foi nenhum de vocês. Não há com o que se preocuparem.
Certeza, é? penso me segurando para não rir ali mesmo.
- De qualquer maneira, vamos logo começar com isso. Faremos em ordem de chamada: a primeira da lista é a Amanda. - ela se dirige até uma garota magrela de óculos fundo de garrafa. - Amanda, a polícia está do outro lado da porta. Pode ir.
Amanda se levanta apresada e sai da sala, onde consigo ver de relance um policial louro do outro lado, segurando um bloquinho de papel, antes que a porta se fechasse novamente.
- Agora que o aviso está dado, vamos começar a aula. - a professora bate uma mão na outra e pega um giz em sua mesa. - Como todos sabem, a gente viu na aula passada o...
E então eu paro de prestar atenção. Tudo o que eu consigo focar no momento é em que história contar aos policiais que estão nesse mesmo instante atrás dessa fina porta de madeira...
🔪🔪🔪
- Então.. Suzan, certo? - pergunta o mesmo detetive loiro que vi quando Amanda saiu da sala enquanto olha a minha ficha escolar sem muito interesse. Sou a vigésima a ser chamada. Nesse momento, ele já deve estar desanimado.
Ele deveria estar desde o começo, na verdade, afinal, como uma criança mataria Horace?
Claro que eu sei a resposta, mas não há como um adulto desconfiar disso... há?
Eles só estão fazendo o procedimento padrão, nada de mais, é o que eu estou repetindo para mim mesma desde o inicio da aula, na tentativa de me convencer de algo que eu não posso ter certeza.
- Sim, sehor - digo sem expressão.
- Bem.. Vou lhe fazer algumas perguntas sobre este sábado, tudo bem? - ele agora olha fundo nos meus olhos. O desânimo parece ter sumido.
- Claro - digo o mais natural possível.
- Então vamos lá: onde e o que você estava fazendo nesse dia às onze horas da noite?
- Eu estava na minha cama dormindo. - ele anota o que eu disse em seu caderno.
- Você tinha alguma relação com Horace?
- Não. Éramos só colegas de classe.
- Você conhece alguém que supostamente deseja a morte dele?
- Hum.. - finjo estar pensativa. - Não. - Ele anota algo novamente no bloquinho. O detetive não para de encarar meus olhos um segundo sequer, nem mesmo para escrever, o que já está começando a me deixar inquieta.
Calma, Suzan, não demonstre nervosismo. Você é uma criança inocente que não conhece violência. Mantenha -se no papel.
- Se você fosse a assassina dele, como o mataria?
- Eu?! - finjo estar surpresa pela pergunta. - Desculpe, senhor, mas eu não faço ideia. Mamãe não me deixa ver filmes violentos, então nem sei como se matar uma pessoa...
- Certo... Só mais duas coisas.. Há quanto tempo você conhece o Horace?
- Há três anos. Nos conhecemos no quarto ano do infantil.
Pela primeira vez desde que as perguntas começaram, ele desvia o olhar dos meus olhos e encara o bloquinho.
Com um olhar intimidador ele se inclina sobre a cadeira, chegando bem perto de mim, voltando a me encarar.
Não consigo evitar de estremecer. Um calafrio percorre a minha espinha e, de repente, tudo fica mais lento.
- Você sabia que o olho.. - ele faz uma pausa prolongada antes de terminar a frase - É o espelho da alma, Suzan?
- Do que o senhor...
- Não adianta negar, garota. Seu olhar diz tudo: foi você quem matou Horace Craweek.
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