Capítulo 4 - Psicólogos inúteis

— Su! Acorda pra ir para a psicóloga! — escuto minha mãe gritando da cozinha. Resmungo baixinho e viro para o outro lado na cama, voltando a dormir. — Suzan!! Levanta dessa cama! — minha mãe agora está na porta, andando rápido até mim e tirando as minhas cobertas. Instintivamente me encolho com o frio. — Levanta logo! Se não vai chegar atrasada.

— Você fala isso como se fosse ruim — resmungo ainda de olhos fechados.

— Mas é! — responde ela claramente sem paciência enquanto me empurra da cama. Caio de joelhos com um baque, mas não me machuco. — Se arrume rápido — manda enquanto se dirige para a cozinha novamente.

Vou me arrastando até meu armário colocando uma camisa básica preta e uma saia xadrez rodada. Calço meus All Stars — também pretos — e saio do quarto.

Vou até a cozinha e me sirvo de cereal com leite, comendo o mais devagar possível para tentar adiar o inevitável.

Infelizmente, termino de comer e, de má vontade, me dirijo até o carro, onde minha mãe já me espera com o motor ligado. Não trocamos nenhuma palavra durante todo o percurso, o que é bom.

Welcome to hell — digo em um tom irônico quando chegamos. Minha mãe não diz nada, apenas me olha feio enquanto estaciona o carro. Desço do mesmo e vou andando, quer dizer, me arrastando o mais devagar possível até a sala da minha consulta.

— Suzan! Tudo bem com você? — pergunta Bianca, minha psicóloga, com aquela vozinha de criança que só serve pra me deixar mais irritada ainda.

— Estou ótima. E você? — pergunto com um sorriso alegre no rosto, embora o que eu quisesse mesmo era estar com uma cara fechada enquanto a respondia malcriadamente. Ou até mesmo socando ela até me cansar.


É, até que isso não é uma má ideia.

Porém não faço isso. Afinal, eu iria ficar vindo aqui durante minha vida toda. Se eu parecesse feliz e educada, talvez me liberem.

— Bem também! Vamos, sente-se pra conversar — ela me aponta para o pufe lilás no canto da sala e eu obedeço, sentando-me enquanto esboçava o melhor sorriso que eu conseguia dar nesse momento.

Ela se senta em outra cadeira e então começa aquela seção de perguntas inúteis e tediosas de sempre.

Respondi a maior delas sorrindo. Afinal, se eu quero sair daqui, não poderia apresentar traços de pensamentos obscuros e nem de raiva.

No final, ela me pediu para desenhar algo que representasse o que eu estava sentindo agora. "Uma bela vontade de enfiar esse lápis no seu olho, isso sim."

Claro que desenhei o contrário: eu e ela de mãos dadas com um sorriso grande no rosto. No final, entreguei o desenho pra ela sorridente.

— Uau. Que lindo! — diz ela, mas percebo que não está falando a verdade. Como poderia? Meu desenho foi basicamente dois bonecos de palito com sorriso e cabelo. Como as pessoas são falsas. — Obrigada, Su! De fato, você mostrou uma grande melhora. Vou conversar com sua mãe outra hora para ver se continuo com o tratamento ou não. Afinal, você é uma garotinha muito educada e legal. Não tem porque continuar vindo.

— Isso significa que eu não vou precisar mais vir? — não consigo conter um sorriso ao dizer isso.

— Bem, infelizmente isso depende de sua mãe. Ela que decide se devo continuar ou não. Mas por mim, você não precisaria mais. Embora eu acho que dificilmente sua mãe vai aceitar. Eu mesma disse que o tratamento demora no mínimo cinco anos, e você está aqui apenas há três.

Droga, penso desapontada. Ela nunca vai aceitar desse jeito. Nem adianta tentar.

— Mas vou ver o que posso fazer — diz por fim.

— Por mim tudo bem continuar. Afinal, gosto de nossas conversas.

— Eu também — diz ela com o seu sorriso irritante enquanto abre a porta para eu sair. — Até breve, Su!

— Tchau, Sra. Bianca! — digo, não disfarçando minha felicidade por sair de lá.

Finalmente aquele inferno havia acabado. Não estava mais aguentando aquilo. Juro que se eu ficasse mais cinco minutos, aquele lápis já teria voado na cara dela. Principalmente agora com essa notícia.

Imagina eu vindo aqui por mais dois anos toda semana! Não sei se vou aguentar.

Saio de lá claramente irritada. Quando entro no carro, bato a porta e fico com a cara fechada o resto do caminho.

— Nossa. Que mal-humor, hein? — diz minha mãe enquanto dirige.

— O que você queria? Eu não gosto de ir lá — digo rispidamente e ela levanta as mãos em sinal de rendição.

— Você sabe que precisa.

Claro, tudo por causa daquele velho bisbilhoteiro, penso em dizer. Mas me limito a soltar apenas uma bufada brava.

Depois desse curto diálogo não falamos mais nada até chegar em casa e eu a agradeço mentalmente por isso.

Hoje é sábado, então hoje vai ser o dia perfeito para executar meu plano, porque não tenho aulas para me atrapalharem.

Quando entro em casa, vou correndo até o meu quarto e pego uma mochila preta, onde coloco tudo o que eu vou precisar para hoje: uma faca de cozinha, luvas descartáveis que achei no porão e uma troca de roupa limpa.

Hoje a noite me vingarei daquele maldito garoto.

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