Capítulo 28 - Quando eu crescer, eu quero ser...
Quando eu terminei de falsificar o e-mail, já era hora de ir para a escola. Enviei bem rápido para o e-mail de meu pai antes de me dirigir até a cozinha, esfregando os olhos como se tivesse acabado de acordar.
- Bom dia, mamãe. - Cumprimento, sentando-me antes de despejar meu cereal.
- Bom dia, Su. Você está com uma cara péssima. Dormiu mal? - Ela aparenta estar preocupada, ou melhor, aflita. Deve ser por causa da notícia de ontem.
- Um pouco. - Assinto de cabeça baixa. - Meu colchão é duro.
- Pode dormir mais um pouco depois da aula. Abro uma exceção pra hoje.
Nego com a cabeça.
- Não posso. Combinei com uma amiga de que ia na casa dela brincar.
Ela arqueia uma das sobrancelhas, surpresa.
- E com a permissão de quem?
- Anh...
- Tudo bem. Eu deixo. - Ela suspira. - Mas da próxima vez peça para mim antes, okay?
- Certo...
Ela se levanta.
- Muito bem. Termine seu cereal e vá para o carro. Estarei esperando.
Assinto com a cabeça e faço o que ela mandou. Eu gosto de andar de carro com mamãe. Ela é silenciosa e concentrada quando dirige. É bom. Geralmente eu aproveito esse tempo para dormir mais um pouco, mas, muito embora eu esteja precisando de um descanso agora, não consigo pregar os olhos. Minha mente está a mil, planejando milimetricamente cada passo que darei a partir de agora. Não poderei fazer nada de errado, nem mesmo na atuação. Preciso pensar em uma forma de calar Susu. Sinceramente, é uma pena... Eu realmente quase gostei dela. Não sei se precisarei matá-la. Na verdade, matar poderia ser um erro, pois podem facilmente ligá-la a mim. Ela já havia dito a Marta que me conhece, sendo assim...
- Suzan! Tá dormindo de olho aberto, é? - Meus pensamentos são interrompidos pelos chamados de minha mãe, que agora me cutuca na barriga. - Filha, vai logo. Você não pode se atrasar. Nós chegamos.
- D-desculpe, mamãe. Estava distraída. - Dou um sorrisinho para indicar que eu estou bem e saio do carro, indo na direção da construção de tijolos.
Cumprimento Marta com um aceno de cabeça, e me dirijo até minha sala.
- Muito bem, turma. - Mariana diz assim que todos se sentam nas cadeiras.
Aline não está mais ao meu lado. Eu a dispensei hoje. Não que eu me sinta totalmente pronta para entender a aula inteira, mas eu realmente não quero companhia no momento. Suele havia me ensinado algumas palavras enquanto levávamos o corpo do velho em seu esconderijo e disse que eu eu podia entender as palavras pelo contexto. Resolvi acreditar nela.
- Vocês já devem ter ouvido a velha pergunta de várias pessoas sobre o que vocês querem ser quando crescerem. Hoje, quero que vocês me respondam isso também. Mas quero seriedade. Nada de falar que quer ser super-herói ou mamãe. Falem empregos, algo que remunere vocês e os sustentem. Vocês já são bem grandinhos e precisam ter em mente mais ou menos o que querem para a vida de vocês.
Um burburinho começa, mas Mariana interrompe com um gesto.
- Vamos começar pela pessoa da ponta até a do fundo. - Diz ela. - Suzan! Conte-nos: o que você quer ser quando crescer?
- Quando... eu crescer...? - A pergunta me pega de surpresa. Não por eu não entendê-la, mas porque eu realmente não sei o que eu quero para a minha vida. Digo, matar pessoas não dá dinheiro e nem aposentadoria, né? - Quando eu crescer, eu quero... - Droga! No que Zodíaco trabalhava quando era jovem? Médico? Médico é uma área bem vantajosa, já que ninguém achará muito estranho se você andar com as roupas sujas de sangue, mas... é muito clichê.
Droga! O que eu quero ser? Todos me olham ansiosos, esperando alguma resposta. Não sei porque estou tão nervosa. Digo, é só eu falar um emprego qualquer e pronto. Não é como se o que eu dissesse fosse se tornar realidade, mas... por algum motivo, eu não consigo...
- N-não sei... - Abaixo a cabeça, envergonhada. Suzan! Por que você está envergonhada? São só crianças! Você é uma criança! É normal não saber o que você quer ser. Não precisa ficar envergonhada e...
- Não mesmo? Nem veterinária, professora, atriz... nada?
Nego com a cabeça ainda baixa.
- Tudo bem... Bem, Lucca, o que você quer ser?
O garoto abre a boca para responder, a resposta já pronta, mas eu não presto atenção. Na verdade, a aula toda passa em branco para mim. Em dado momento, vejo todos pegando suas canetinhas e abrindo-as para desenhar algo e Mariana dizendo para eu desenhar pelo menos algo que eu admire. Apenas a obedeci porque não queria ter que conversar com ela depois. Desenhei um piloto pois foi a primeira coisa que me veio em mente, afinal, fiquei a madrugada inteira sobre esse tipo de militar.
Mas... o que eu quero ser? Digo, que faculdade cursarei? Sei que ainda tenho vários anos para decidir, mas... Cara, isso é difícil!
Engenharia seria legal. Eu poderia derrubar prédios em cima das pessoas... Embora minha reputação diminuísse e eu realmente pudesse ser presa, porque adultos são presos quando matam pessoas, mesmo se for "sem querer".
Polícial? Não sei se daria muito certo. Policiais tem armas de fogo. Não podem usar facas. Eu gosto de facas... armas de fogo acabam muito rápido com a diversão.
O sinal toca e eu entrego meu desenho para Mariana, que elogia e me dispensa. Saio da sala e vou para o pátio.
Não acho que tenha algum teste de emprego na internet para alguém como eu... " Você gosta de matar? Quer ter um emprego que tenha bastante tempo livre para você planejar seus ataques e que, ao mesmo tempo, lhe dê várias vantagens? Então temos a dica certa para você, que é... "
É, eu acho que não.
Pena.
Talvez advogada? Não... Passar meus dias dentro de um tribunal não está nos meus planos.
E que tal...
- Suzan! - Suele praticamente berra isso no meu ouvido, o que faz ele ficar zunindo um pouco.
- Nossa. Não precisa gritar! - Reclamo, tocando no meu ouvido na falha tentativa de fazê-lo parar de zunir.
- Desculpa, mas essa foi a única forma que eu encontrei de fazer você sair desse transe macabro. - Ela diz, agora falando normal. - Você está se esbarrando em tudo e ao menos olha. No que você tanto está pensando?
- Eu...
- Bem, não importa. Saca só o que eu ganhei! - Ela então remexe em seus bolsos e me mostra um potinho com clorofórmio. - Legal, né?
Arqueio uma das sobrancelhas.
- Sério que você trouxe isso pra escola?
Ela dá de ombros.
- Ah, cala a boca. Pensei que você fosse gostar.
- Eu tenho um desse também. - Olho para baixo. Suele é muito descuidada. Se vissem ela com esse frasco, ela com certeza ficaria bem encrencada. - Ei, eu... posso ir na sua casa hoje depois da escola?
A pergunta a pegou de surpresa. Tanto que ela quase deixou o pequeno frasco cair de suas mãos. Ela parou e me encarou.
- Por quê?
- Eu... preciso da sua ajuda em algo. - Pronto. Isca jogada. Parei de andar também e a encarei.
- No quê?
- Você sabe. Ajuda naquele negócio.
- Mas já? Guria... você é rápida no gatilho, hein? Literalmente...
Sorri minimamente, fingindo estar constrangida.
- Posso?
- Claro. Meus pais ficam fora até às dez. Então você pode ficar até esse horário. - Abro a boca para dizer algo, mas ela me interrompe. - E antes que me pergunte o porquê dos meus pais não poderem ver você na minha casa, é por que eles iriam suspeitar. Tipo, você tem sete anos e eu dezesseis. É mais da metade de diferença. E eu realmente não estou com saco pra ficar respondendo as perguntas deles.
Eu não ia perguntar isso, mas dei de ombros, afinal, dez horas da noite eu já tenho que estar dormindo.
- E por falando em idade, vou voltar para os meus amigos mais velhos. Até depois das aulas, guria.
Dou um "tchau" rápido e me viro na direção do parquinho, que se localiza atrás do pátio, ou pelo menos eu acho. A escola toda é construía em volta desse parque, que se consiste basicamente em um enorme tanque de areia no canto esquerdo com uma mangueira plantada no meio do mesmo, e o resto em uma área gramada cheia de brinquedos: trepa-trepa, escorrega, balanço... até uma casinha de bonecas tem. O pátio, pra onde Suele está indo agora, fica na frente do parque e tem apenas um terço do tamanho dele.
Ando até o tanque de areia e me sento perto de cinco garotas mais ou menos da minha idade que estão cavando um buraco na areia. Peguei uma delas dizendo que queriam chegar até o centro da terra com isso.
Crianças...
- Oi! - Uma menina gordinha com cabelos encaracolados cumprimenta assim que eu me sento ao seu lado.
- Oi. - Digo.
- Quer ajudar a gente a chegar até o centro do mundo? - Dessa vez, foi uma de cabelos curtos que mais parece um menino. A única coisa que denunciou que ela não é, foi um pequeno brinco vermelho em sua orelha.
Dou de ombros. Não tenho nada pra fazer mesmo...
- Pode ser. - Digo, e uma menina loira super magra me entrega uma pá de plástico. Começo a cavar.
- Qual é o seu nome? - A garota dos cabelos curtos pergunta.
- Suzan. - Respondo. - E o seu?
- Gabi.
- Eu sou a Amanda. - Diz a gordinha.
- Letícia. - Diz a loira.
- Meu nome é Júlia. - Diz uma outra garota de cabelos castanhos claros extremamente lisos que batem nos seus omboros.
- Raquel. - Diz por último uma garota com cabelos extremamente pretos que batem até o quadril.
- Oi. - Digo novamente, e as cinco iniciam um assunto animado sobre algum desenho animado da qual não conheço, mas, claro, finjo gostar também, pra não ficar calada e elas me expulsarem daqui.
Depois de intermináveis dez minutos cavando esse buraco que aumentou apenas uns quinze centímetros, o sinal toca. Todas nós nos levantamos e guardamos as pasinhas numa caixa no canto do tanque e batemos em nossas roupas completamente imundas de terra.
Falo um tchau rápido antes que elas pudessem falar qualquer outra coisa e saio correndo de volta para a sala.
Ironicamente, nao gosto de crianças. Elas pensam cada coisa... Aquelas cinco, por exemplo, estavam crentes que podiam realmente chegar no centro da Terra apenas cavando com aquelas pasinhas super frágeis e virarem super heroínas.
E pensar que elas até que são normais perto de outras crianças que eu conheço e tenho que brincar...
Quando me sento em minha carteira e Mariana adentra na sala, balanço a cabeça e tento recolocar meus pensamentos em ordem, mas parece que Mariana está contra mim, pois começa a falar sobre empregos de novo.
Mas que droga! Eu ainda não sei o que eu quero ser! Suele me atrapalhou, aquelas cinco me atrapalharam, e agora, sinto que isso vai me atormentar até que eu tome alguma decisão.
Abaixo a cabeça, pensativa. Eu não posso me dar ao luxo de ficar pensando nesse tipo de coisa. Eu estou correndo contra o tempo aqui. Preciso arranjar algum jeito de calar Suele e preparar algum teatro de tristeza por ir embora do Brasil para os meus pais. Não tenho tempo pra ficar pensando em carreira agora!
"Foco, Suzan. Você vai ter tempo de pensar nesse tipo de coisa no avião, quando estiver voltando para a Inglaterra. Agora não. Concentre-se."
Ergo minha cabeça e me forço a prestar atenção na aula.
Esse dia vai ser longo...
~*~
Oi.
Então, estou escrevendo um outro livro mais ou menos nessa pegada de A Psicopata. Não, não é igual. Este novo livro é mais adulto e realístico, ou seja, teremos um antagonista realmente bom e o assassino terá objetivos claros para matar, além de já ser adulto.
Ele já está quase completo, não é muito longo, então, por isso, se eu postar, as atualizações serão freqüentes.
Estou contando isso porque gostaria de saber se vocês se interessariam em lê-lo. Se tiver vários interessados, postarei a sinopse no próximo capítulo (se vocês quiserem a sinopse, claro) e, se ainda assim vocês quiserem ler, postarei o livro.
Então, posso contar com o apoio de vocês? Vocês gostariam de um novo livro de psicopata, já que esse da Suzan está quase acabando (faltam +/- 4 capítulos)? Digam nos comentarios.
Obrigada pela atenção.
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