Capítulo 27 - Dinheiro rima com vitória

Sabe, diário, Suele não é uma pessoa tão detestável assim como eu pensava. Ela até que é legal. Ela me ensinou alguns xingamentos em português que eu não encontraria no dicionário e também me explicou que aqui não neva. Pois é, diário! Horrível, não?

Não sei como as crianças daqui conseguem sobreviver sem neve. Neve é vida! Meu pai sempre coloca uma fantasia ridícula de papai Noel quando neva e me trás presentes! Esse é mais um motivo pra eu voltar à Inglaterra: não quero ficar sem meus presentes!

Bem, em troca, eu obviamente contei a Suele sobre Shadow e sobre as pessoas quem matei. Claro, omiti as partes do Zodíaco e não dei tanto crédito ao detetive, afinal, não quero que ela veja que estou desesperada pra recuperar evidências que foram consequências de uma falha minha. Não, ela não pode saber disso. Sou uma serial killer e estou no controle da situação. 

... pelo menos é o que eu quero acreditar.

Bem, de qualquer forma, escondi o corpo do velho com sucesso, a loja foi fechada, fiz uma provável parceira temporária e eu agora estou com o notebook.

Perfeito. Se você pudesse ver meu sorriso agora, diário... Ficaria até espantado com o tamanho que minha boca consegue esticar. Estamos apenas a alguns cliques longe de casa, meu amigo.

Melhor eu começar o trabalho! Falo com você quando estivermos confortáveis em um assento de avião, voltando para casa.

Tchau!

Fecho meu diário rapidamente e coloco-o atrás da tábua solta de meu armário. Jogo minha mochila em baixo da cama e saio do quarto, saltitante, procurando pelos meus pais.

- Já falou com o Brigadeiro? - A voz de minha mãe está em um tom preocupado. Congelo imediatamente e corro para de baixo da mesa. Meus pais estão sentados no sofá da sala, um de frente para o outro. Meu pai massageia os olhos com os polegares. Ele sempre faz isso quando está estressado. Isso... é um bom sinal?

- Claro que já, mulher! Mas ele ficou de me dar a resposta. Ainda não recebi nada. - De fato, meu pai está estressado. Ele não está gritando, mas está falando mais alto do que o necessário. Minha mãe suspira pesadamente.

- E agora, Chris? O que faremos? Se você não conseguir entrar para a reserva, vamos ter que voltar. Eu não consigo sustentar nós três sozinhos. O preço das coisas aqui são altos, e...

- Eu sei! - Meu pai se levanta, e eu me encolho instintivamente em baixo da mesa. - Essa nova burocracia me dá nos nervos! Era muito melhor quando era tudo no papel, pessoalmente. Muito melhor mesmo. A tecnologia é demorada demais. - Ele suspira antes de se ajoelhar e olhar para minha mãe profundamente. - Eu sei que não é seguro voltarmos com aquele doido a solta, Jul. Não é seguro pra Suzan. Mas, se os meus superiores disserem não, não haverá outra forma. Eu não posso simplesmente desobedecer e entrar com uma ação trabalhista.

- Eu sei... - Minha mãe olha para baixo, colocando as mãos sobre o rosto. - Eu só fico preocupada com a nossa filha. Muitas mudanças grandes como essas não fazem bem pra alguém de sete anos.

- Muitas mudanças grandes como essas não fazem bem a ninguém, Jules. - Meu pai corrige, puxando-a para um abraço. 

"Ownt, mas que fofinho... até parecem que se amam." Reviro os olhos, engatinhando para fora da mesa e voltando para o meu quarto. Abro e fecho a porta e caminho saltitante até a sala, como se eu não tivesse escutado nada.

- Mamãe, papai, vou dormir. Boa noite. - Exclamo sorridente antes de beijar os dois.

- Boa noite, Suzan. Quer que eu te cubra? - Minha mãe pergunta.

- Não precisa. Tchau!

- Boa noite.

Viro-me e saltito até o meu quarto novamente, pegando a mochila escondida e me jogando na cama, sorrindo vitoriosamente. 

Tudo conforme os planos.

Sim, eu entendi perfeitamente sobre o que aquela conversa se tratava.

Saímos da Inglaterra sem nenhum planejamento. Simplesmente fizemos as malas e fomos. Como eu já dissera, meu pai é militar da aeronáutica, a força armada mais burocrática que tem. Isso é uma grande vantagem para mim, afinal, militares – especialmente os da aeronáutica – não podem simplesmente se demitir e procurar algum outro emprego. Até por que, a carreira militar começa muito cedo, até antes mesmo das pessoas se formarem na escola. Meu pai não conseguiria fazer outra coisa e, por motivos óbvios, ele não poderia pilotar algo daqui, então não há outra saída para ele além de entrar na reserva, que seria chamada de aposentadoria para trabalhos civis. Meu pai citou algo sobre um novo sistema burocrático. Sim, eu já estava sabendo dele: agora, pedidos para entrar na reserva ou coisas do tipo são resolvidos via internet, e isso foi a minha salvação. Agora, com esse notebook, basta eu escrever um e-mail falso ao meu pai negando a permissão. Claro, eles também postam a permissão na ficha do militar. É isso o que conta e que faz eles começarem a receber, mas, pelo o que eu sei, isso leva uns dias depois de enviado o e-mail. Isso já vai ser o tempo necessário para que voltemos. Conheço meus pais e sei que eles vão querer voltar antes de começar a perder mais dinheiro.

E sabe o que rima com dinheiro? Vitória.

E posso dizer que ambos são muito bons.

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