Capítulo 26 - Vamos à caça

O sol já está quase se pondo quando eu saio de casa com minha mochila nas costas. As ruas estão movimentadas, mas ninguém sequer se dá ao trabalho de olhar para mim. Isso é bom, afinal, o tempo é muito curto para eu gastá-lo com desculpas. 

De acordo com o mapa que eu peguei na internet, a loja de eletrônicos não é muito longe, mas, se eu quiser chegar antes dela fechar, terei que acelerar o passo. 

Vou para o meio fio, me afastando um pouco dos pedestres e começo a andar mais rápido, a mochila balançando um pouco em minhas costas. Dou uma olhada rápida no relógio da rua. São sete e cinquenta. Droga. Começo a correr. Tenho apenas dez minutos para o fechamento da loja. 

- Ai! Olha por onde anda! - A voz me é familiar, mas não penso muito nisso. Tenho que correr.

- Desculpa. - É tudo o que eu digo sem perder o ritmo da corrida. Nem olho para trás. Apenas continuo correndo. 

- Ei! Aonde você pensa que vai, guria? 

Não respondo. Apenas atravesso a rua correndo e viro a esquina. Nesse ritmo, não demoro mais do que cinco minutos para chegar em meu destino. Já está escuro, e essa rua está praticamente deserta. Faz sentido. Afinal, todas as lojas já devem estar se preparando para fechar a essa hora. 

Arfante, adentro na loja de eletrônicos. Um senhor de mais ou menos um setenta anos está atrás do balcão, e sorri gentilmente para mim quando eu entro. 

- Posso ajudar, garotinha? - O senhor pergunta para mim. 

- Você ter um notebook? - Pergunto, olhando em volta. Há uma câmera no teto. Eu já espera por isso. Não será um impedimento para mim.

- Hum... Tenho alguns modelos. Seus pais sabem que você está aqui? - Indaga ele, saindo de trás do balcão e se dirigindo até um armário branco. 

- Sim. Eles querer que eu escolha um notebook para eles. - Digo, caminhando em sua direção, observando enquanto suas mãos trêmulas pela síndrome de parkinson procuram uma chave em um molho para abrir o armário, onde devem estar os aparelhos. 

- Ah sim. Você pretende comprar ainda hoje? É que a loja já está fechando... 

- Sim. Trouxe dinheiro. - Respondo, pegando minha mochila das costas, como se eu estivesse planejando pegá-lo. Perfeito. Pelo menos velhos são previsíveis. 

- Ótimo, ótimo. - Exclama ele feliz, finalmente encontrando a chave no molho. Ele fica tão concentrado em acertar a chave na fechadura que sequer percebe o som que as minhas luvas de borracha fazem quando eu as visto; e muito menos percebe o reflexo de luz que Dory causa quando eu aproximo-a de seu pescoço e corto-o sem remorso algum. O velho solta um gemido antes de cair no chão. Observo seus olhos perderem o brilho antes de, em silêncio, arrastar o homem para de trás do balcão.

Pego as chaves que caíram no chão e abro o armário, pegando o primeiro notebook que eu vejo e colocando-o dentro de minha mochila, junto com Dory. 

"Ok. Agora só falta eu apagar o vídeo da câmera de alguma forma e fechar a loja." Penso, caminhando até atrás do balcão. Preciso ficar na ponta dos pés para poder enxergar o computador. "Isso é tão humilhante...". Procuro a pasta da câmera, surpreendendo-me ao encontrar filmagens de apenas dois meses atrás. "Deve estar quebrada." Consto. 

Dou de ombros e pulo o corpo do velho. Não imaginava que seria tão fácil. Apago as luzes da loja e ando até o lado de fora. 

- Quando eu te vi pela primeira vez, achei que tu fosse uma patricinha mimadinha... Mas depois do que eu acabei de presenciar aqui.... Guria, sou tua fã. Merece até um chocolate. 

Contenho um grito de susto e surpresa ao ver ninguém menos do que Suele ao lado da porta da loja. Ela... ela viu o homicídio? 

- Suele? Você me seguiu?

- Mas é claro! Queria saber pra onde você ia com tanta pressa depois de você ter esbarrado em mim. - Encaro seus olhos verdes, sem reação. Não sei o que dizer ou fazer. Deveria matar ela? Afinal, ela viu tudo. Se ela contar isso à polícia... É o meu fim. Mas não posso atacá-la aqui fora. Iria atrair muita atenção. Fora que ela se defenderia. - Ei, posso te fazer uma pergunta?

- O quê?

- Tu não vai esconder o corpo não? 

- Por que esconderia? -Indago, confusa. Ela.. não está com medo? Ela aparenta estar tão calma... Como se homicídios fossem a coisa mais natural do mundo. - Até perceberem que a loja parou de abrir, o corpo já vai ter entrado em decomposição.

- Olha, por experiência própria, eu digo que é bom você esconder. Pela forma que você matou ele, é óbvio que faz isso já há algum tempo. A polícia no Brasil pode ser realmente uma bosta, mas ninguém é burro. Mais cedo ou mais tarde, eles vão ligar isso à você. 

Por menos que eu queira admitir, ela está certa. Mas meu problema não é com a polícia. É com os meus pais. Se eles souberem desse homicídio, não vai demorar muito para eles ligarem isso à mim. Princialmente se eles virem o notebook. Droga. Meu plano tinha uma falha, afinal. 

- Você está certa. - Suspiro. - Mas eu não tenho força pra carregar um homem adulto pelas ruas... - digo, até que algo me ocorre. - Você disse "por experiência própria."... Você... já matou pessoas também?

- Mas é claro! Tem coisa melhor do que isso? - Exclama animada. - Eu posso te ajudar a carregar o velho sem chamar atenção. Tenho um esconderijo bom para corpos. Ninguém nunca encontrou os meus. 

Encaro-a por alguns segundos, desconfiada. Posso conhecê-la há poucos dias, mas sei que essa ajuda não sairá barata.

- Qual é o seu preço?

- Quero que você me conte seu passado. Depois de presenciar isso, fiquei curiosa... O que você fazia na Inglaterra, afinal?

Penso por alguns segundos. Não confio nessa garota. Nem um pouco. Porém... sem ela, eu estarei encrencada. 

Droga... Que escolha eu tenho? Definitivamente, estou em um beco sem saída.

- Tudo bem. - Concordo, contendo um suspiro. - Quando o corpo estiver em um lugar seguro, respondo todas perguntas que você tiver. 

- Ótimo. Eu sabia que você era inteligente. 

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