Capítulo 22 - Parabéns para mim!

(Na mídia está a explicação do porquê desse capítulo: fazem dois anos que editei esse livro pela última vez e eu fiquei com saudades)

P. S. Minha escrita mudou DRASTICAMENTE desde 2018. Então não estranhem muito o fato de eu não misturar passado e presente no meio da frase (sim, eu sei que A Psicopata ta LOTADO de erro assim, mas na minha cabeça fazia sentido porque é uma criança de 7 anos escrevendo... enfim).

Bom, espero que gostem. (E, sim, vão ter dois caps 23 porque o cap 23 de verdade foi postado em 2016 e dá dó estragar essa numeração)

***

Oi, diário! Hoje é um dia muito especial porque é meu aniversário!

Hoje posso ficar sem pensar no detetive, na minha bolsa e na merda em que estou metida.

Anh? Você acha que eu tô sendo imprudente? Ah, qual é, não é todo dia que se faz oito anos, né? Além disso, papai e mamãe tão preparando alguma coisa hoje que eu tenho certeza que não vai me dar brecha pra pensar direito.

Claro, eles não me disseram nada, mas eu andei notando que às vezes eles param de conversar quando eu chego e cochicham quando eu saio.

E como é tudo perto do meu aniversário, é meio lógico que seja algo em relação a ele.

Bom, não sei o que é, mas espero que seja algo bem legal. Se for uma festa, eu posso convidar o detetive e ele pode até me dar a bolsa de presente, né?

...sonhar nunca é demais.

Enfim, diário, vou descer agora pra ver o que os meus pais tão aprontando, afinal. Depois eu te conto tudo.

Fecho meu diário e apuro os ouvidos. Não consigo ouvir mais do que sons de cozinha. Eu não acharia nada de suspeito se minha família fosse normal.

Mas meus pais não estão brigando.

Na ponta dos pés, dirijo-me até o "cantininho das tretas" pra espiar a sala. Avisto meu pai colocando na mesa uma pilha de panquecas e mel e voltando pra cozinha.

Eu amo panquecas!

Minha mãe surge logo em seguida com uma jarra de suco.

— Chama a Suzan, por favor? — pede minha mãe, olhando na direção da cozinha.

Meu pai não responde, mas ele se dirige até as escadas. Antes de me levantar, consigo notar que ele esbarra propositalmente no ombro da minha mãe, que se desequilibra por um momento.

Ela abre a boca pra gritar com ele, mas meu pai simplesmente aponta pro andar de cima e ela se cala.

Corro de volta para meu quarto e me cubro até o queixo pra esconder meu sorriso.

Meus pais se controlando pra não brigar por um dia inteirinho por minha causa.

Isso vai ser divertido.

É melhor do que qualquer festa que eu esperava!

🔪🔪🔪

O café da manhã é uma perfeição. Posso escolher o que eu quiser e o quanto eu quiser. Meu pai não reclama em momento algum pela primeira vez em anos de dieta balanceada!

Como muitas panquecas e sorvete.

Quando minha barriga está estufada, meus pais pedem pra eu ir me arrumar porque vamos ao parque.

Meu coração gela por alguns segundos ao pensar em ir lá com meus pais. E se eles encontrarem minha mochila?

Bom, por outro lado, eu teria ajuda de dois adultos.

Por isso, subo e coloco uma calça jeans e uma camiseta amarela, prendo meu cabelo em uma trança, escovo os dentes e desço pra sala.


Quando chego no último degrau, vejo meus presentes em cima do sofá.

São duas caixas: uma verde musgo e a outra rosa.

Não é necessário ser qualquer Sherlock Holmes pra saber quem me deu qual.

Abro primeiro o da minha mãe, porque meu pai me dá a mesma coisa todos os anos.

O embrulho é grande, mais ou menos do tamanho de uma mochila, e eu rasgo o papel rapidamente.

É um tabuleiro de xadrez!

Rio com a ironia desse presente. Se a minha mãe ao menos soubesse...

Sinto olhares escondidos sobre mim. Por isso, faço a expressão mais feliz que consigo e parto para o presente do meu pai que, como eu imaginei, é um avião em miniatura, um par de meias e uma calça militar.

Tenho umas cinco dessas.

Abraço os presentes e, nesse momento, meus pais descem com sorrisos nos rostos.

— Gostou, Su?

— Eu amei! Obrigada!

Eles vêm na minha direção pra me abraçar, mas eu desvio e, fingindo animação, digo:

— Vamos pro parque!

Minha mãe ri.

— Eu amo sua animação.

Vamos até a garagem, onde meus pais tem uma breve e silenciosa briga a respeito de quem vai dirigir.

É claro que o meu pai vence.

A viagem se segue quieta porque minha mãe está com a cara fechada e eu não tenho vontade alguma de conversar com papai, mas tudo bem, porque o parque é bem perto. O carro é bem desnecessário, pra falar a verdade.

Porém, quando passamos direto no parte vazio, eu estranho.

Tudo bem que houve um assassinato há menos de uma semana aqui... Mas isso é motivo pra não irmos nele?

— Papai, você passou! — digo, inclinando pra frente.

— Vamos em outro, Su.

— Por quê?

— Aquele está fechado.

— Não vi nenhuma placa dizendo isso.

Meus pais trocam um olhar rápido antes de mamãe responder em um tom que indica claramente que a conversa está encerrada:

— Mas aquele não pode.

Meu pai dirige por mais alguns minutos quando chegamos em um parque que eu nunca estive antes. Ele é três vezes maior do que o outro e está bem cheio.

— Que parque é esse?

— Você nunca foi no Hyde Park, filha? — minha mãe parece surpresa.

Hyde Park.

Hyde.

Hide.

O nome é ainda mais irônico que o tabuleiro que minha mãe me deu.

Será que...?

Meu pai mal estaciona na esquina quando eu saio correndo.

Mas não chego nem a atravessar a rua quando minha mãe me pega pelo pulso, me obrigando a parar.

— Não vá longe, Suzan. Londres não é mais segura.

Assinto e puxo meu braço de volta.

Tenho que me concentrar pra andar mais devagar, minha mente a mil.

Será que minha mochila pode estar aqui? E, se sim, como que eu vou encontrá-la? Digo, o parque é enorme! E pode ser apenas uma coincidência também.

Com certeza é apenas paranóia minha.

Andamos por uma hora. Devo admitir que aqui é muito bonito, apesar de ter mais turista que lugar pra pisar. Mas, mesmo assim, meus pais decidem que é uma boa ideia fazer um piquenique.

Está tudo preparado em uma cesta que eles trouxeram no carro, mas minha barriga ainda está estufada por causa do café da manhã.

— Mamãe, posso ir até o lago? — peço, apontando para o pontão azul circular a uns cem metros de nós.

— Hoje n...

— Claro que sim, filha — meu pai se adianta. — Mas não saia de lá. A gente vai comer um pouco e ir pra lá também.

O olhar que minha mãe lança pra ele é mortal, mas antes que ele troque de ideia, já estou correndo para longe. 

Infelizmente vou ter que perder essa briga.

As margens do lago estão cheias de turistas, que tiram foto e dão migalhas de pão para os patos gordos do lago.

Alguma hora eles vão explodir!

Aproximo-me do lago, me sentindo idiota por não ter trazido pão comigo. Ia ser legal alimentar esse pato obeso até as tripas dele voarem na cara desses turistas e todo mundo sair correndo, gritando, num caos absu...

— Oi, garota. Quer dar algumas migalhas para esses pobre animais inocentes? — uma pausa. — Eles são tão diferentes de você que chega a ser cômico.

Viro-me, assustada por encontrar o timbre rouco característico aqui.

Observo a figura encapuzada por alguns segundos. Uma mão vermelha e inchada me estende um saco de pão inteiro.

— Sabia que eu o encontraria aqui — minto, mas não aceito o saco.

— Hyde é um nome bem específico, não acha? — ele me oferece o saco novamente. — Não quero suas digitais. Pode ficar com o saco pra você depois.

— Então você realmente escondeu minha mochila aqui?

Ele ri, sentando-se do meu lado enquanto abre o saco.

— Talvez.

— Qual é, dá pelo menos outra dica. O parque é enorme, eu jamais vou encontr...

— Quem disse que eu quero que você encontre?

Arqueio uma sobrancelha enquanto observo-o rasgar um pão com mais força que o necessário.

— Então isso não é um jogo pra você?

— Sua laia gosta de jogos. Bando de narcisistas... Acham que são mais inteligentes que todos... — ele observa com tristeza o pedaço de pão que ele jogou ser completamente ignorado pelos patos. — Mas eu tenho conciência que você tem muito mais tempo livre do que eu e ajuda do seu amiguinho Zodíaco — ele ri sem emoção ao cortar mais um pedaço. — Não, não.. Eu tenho conciência das minhas limitações...

— Então por que tudo isso? Por que não só entregar a mochila pra polícia? — indago. — Você sabe que eu não vou te entregar o dinheiro.

Ele dá de ombros quando eu pego um pão também, tomando cuidado pra não tocar no saco. Nenhum pato aceitou os que o detetive jogou. Seria divertido se aceitassem o meu.

— Gosto de te ver preocupada — ele torce o lábio fino. — Isso se você sequer sabe o que é preocupação.

Jogo um pedaço de pão para o pato mais gordo, que nada até ele e o bica.

O detetive tenta fazer o mesmo, mas a ave continua o ignorando.

Jogo outro pedaço.

Eu sei muito bem o que é preocupação. Já vi minha mãe andando em círculos pela sala e meu pai batendo a perna em movimentos ritmados. Quando eu perguntava o que era aquilo, eles me diziam que se chamava "preocupação".

Não estou assim, claro. Mas também sei que, se eu não tiver a bolsa a salvo em minhas mãos — ou se o detetive continuar vivo —, eu estarei acabada.

Não posso matar o detetive sem saber o paradeiro da bolsa, mas também não posso achar a bolsa e, quando for matar ele, descobrir que o desgraçado tirou cópia de alguma coisa.

Não sinto nenhuma palpitação no peito, mas minha mente está mais agitada que o normal.

Por isso, me assusto quando o detetive joga todo o saco no lago, com plástico e tudo, fazendo os patos nadarem pra longe.

— A natureza não gosta de você — digo. — agora sabemos o porquê.

Ele me ignora quando sorri.

— Já ia me esquecendo.... Hoje é seu aniversário, né? — olho para ele. Seu capuz continua erguido, mas a luz é suficiente pra ver seus olhos brilhando de uma forma doentia. — Não me olhe assim. Eu vi na sua ficha escolar, quando nos conhecemos.

Ele coloca uma mão dentro do sobretudo e me entrega um pequeno pacote do tamanho de uma caixinha de celular com o embrulho vermelho sangue.

Não aceito. Vindo do detetive, pode ser até uma bomba.

— Vou ser bonzinho com você hoje — ele se ajeita, colocando o embrulho perto de mim. — Não foi aqui que você matou Mirian, mas, sim, a bolsa está aqui. Na área norte.

— E onde estão as cópias?

Ele ri.

— Você é realmente idiota às vezes... — ele olha para o embrulho. — Pegue. Tenho certeza de que vai gostar.

Não agradeço, mas pego o embrulho. Estou quase abrindo ele quando meus pais chegam.

— Suzan! — minha mãe olha pro detetive como se ele fosse um monstro, o que não é mentira. — O que dissemos sobre falar com estranhos?

Coloco o embrulho atrás do corpo antes que eles notem.

— Desculpa, eu...

Porém, o detetive me interrompe e, com as mãos nas costas, se levanta e empertiga as costas.

— Peço perdão pelo susto, mas não sou um desconhecido para Suzan.

Minha mãe fica franze o cenho, o braço estendido em minha direção.

— Não se recordam? Sou o Senhor Uriah, o antigo professor de história da sala da Suzan.

— Senhor Uriah? — minha mãe repete, tentando olhar melhor para o rosto coberto. — O que aconteceu?

Ele dá de ombros.

— Minha residência pegou fogo há alguns meses atrás. Pedi dispensa para me recuperar, mas...

Por que diabos ele está me acobertando? O que ele ganha com isso?

Em silêncio, corro para longe dos meus pais e abro o embrulho. Pode ser uma pista, mas, se for uma bomba, prefiro abrir perto de várias pessoas para o detetive ser preso também.

Entretando, o que eu vejo é uma caixa de celular. Abro-a e, quando olho dentro, fico confusa ao ver um rato morto, a boca aberta e costurada de um jeito mal-feito.

O cheiro putrido indica que ele está morto há pelo menos alguns dias e, pelo formato do corpo, há algo dentro dele.

Doente. Insano.

O detetive enlouqueceu.

Agacho-me e puxo a boca do rato, arrebentando os pontos.

Consigo ver algo dentro dele e eu enfio meu dedo lá.

Quando tiro, uma mulher grita ao meu lado.

Um pen drive.

Um pen drive que, com certeza, deve ter meu vídeo matando.

O que significa que ele tem uma cópia, sem dúvidas. Então, o presente de aniversário, na verdade, é uma prova de que é ele quem está no controle. Um aviso silencioso de que eu estou na merda.

Uma comoção começa a se formar ao meu redor. Não posso deixar que meus pais notem e, por isso, verifico se não há mais nada na caixa e a jogo no lixo.

Minha mão está suja e fede a entranhas. Tento procurar algum bebedouro pra me limpar, mas avisto meus pais antes disso.

Caminho até eles, que já estão se despedindo do detetive, que recebe um pedaço de papel da minha mãe.

Minhas pernas falham um passo.

O que esse desgraçado tá fazendo?

Corro até meus pais, as mãos nas costas enquanto faço a cara mais feliz que consigo.

— Diga tchau para o senhor Uriah, Suzan — manda minha mãe e eu, a contra gosto, obedeço.

— Até mais, Suzan — diz o detetive, virando-se novamente para o lago.

Quando estamos suficientemente afastados do detetive, minha mãe coloca a mão sobre os lábios.

— Eu não sabia que essa tragédia aconteceu com ele... — ela balança a cabeça. — Pobre alma... A escola poderia ter notificado.

Meu pai assente, constornado também.

É claro que a escola não notificou. Eu ainda tenho aulas com o senhor Uriah, mas tenho que admitir que o detetive foi esperto em se lembrar justamente do nome do professor com a mesma estatura que a dele — e ainda mais por ter conseguido me deixar atônita o suficiente para se aproximar dos meus pais e receber... Seja lá o que aquele papel seja.

— O que você deu pra ele, mamãe?

— Ah, o nosso número de telefone, caso ele precise de ajuda com algo.

— VOCÊ O QUÊ?! — Grito, o que atrai alguns olhares.

Meu pai franze o cenho.

— Sempre te ensinamos a ajudar o próximo, querida. Que reação foi essa?

Respiro fundo, tentando me controlar.

— Eu só... eu só acho que você não deveria sair dando seu número pra estranhos...

— Mas ele não é um estranho, Suzan, é o seu antigo professor de história.

Calo-me, sabendo que é inútil discutir.

Ele é bom. Até demais. Não é uma questão de sorte ele estar onde está agora.

Mas eu, definitivamente, estou ferrada.

Insisto que devemos voltar pra casa, mesmo com meus pais tentando me persuadir a ficar pelo menos para o piquenique, mas não há nada que me faça mudar de ideia.

— O que aconteceu, Su..? Você parecia tão animada com o parque — minha mãe se vira pra mim no caminho de volta.

— Só estou cansada — digo. — E eu não quero conversar.

Com o detetive possuindo o número da minha mãe, tudo se tornou possível.

Ele pode me chantagear ou simplesmente contar pra ela.

Não tenho certeza o que meus pais fariam se o detetive lhes mostrasse as provas, mas tenho certeza que não seria algo bom.

— Posso brincar no computador, pai? — indago. 

— No máximo por uma hora, hein. Vou verificar depois.

Assinto. Uma hora é bem mais do que eu preciso.

Quando chegamos em casa, saio correndo até o banheiro. Lavo minhas mãos para tirar o cheiro pútrido e vou para o computador, espetando o pen drive com avidez.

O nome do arquivo é "feliz aniversário". Clico duas vezes em cima dele e o que se abre diante dos meus olhos faz meu coração saltar.

São todas as provas. 

Fotos de cada item da minha mochila, vídeos de câmeras onde eu sigo com Mirian pra praça e minha digitais.

No último arquivo, há uma nota. Clico nela.

Esse foi o único backup que eu fiz. Posso fazer outro, mas não o farei. Não estou com a mochila. Ela está no parque. Se quiser se safar, vai ter que encontrá-la :) 

Então isso é um jogo pro detetive, afinal. Pode ser um blefe, claro. Ele pode ter umas quinze cópias, mas eu duvido. 

Ele quer ver meu desespero procurando a bolsa. Não ficaria surpresa em encontrá-lo escondido atrás de uma árvore, rindo da minha busca. 

E se eu encontrar a bolsa, provavelmente ele vai me perseguir até conseguir novas provas pra me incriminar e eu não vou poder matar mais ninguém aqui.

Recosto-me na cadeira, soltando o ar de uma só vez. 

Ele quer brincar de gato e rato, mas eu não tenho paciência pra isso. 

E nem tempo.

Ainda é de manhã, mas é incrível como o melhor presente também conseguiu ser o pior.

Porém, prometi ao meu diário que eu não pensaria nessas coisas hoje.

Posso brincar com meu novo tabuleiro e me esquecer do resto.

Apenas por hoje.

Afinal, é o meu aniversário.

Parabéns para mim!

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