Capítulo 20 - Quem é vivo sempre aparece

- Garotinha? Está me ouvindo? - Sou desperta de meus devaneios pela mão de Jacob, que fica passando pelos meus olhos, tentando chamar a minha atenção. Olho em volta, percebendo que já estamos parados na frente de uma enorme delegacia.

- S-sim. - Gaguejo, tentando disfarçar meu terror. Droga, detetive...

- Vem, não precisa ter medo. Só vão ser algumas perguntas. Aí você poderá voltar para casa.

- Ok. - Assinto, forçando um sorriso.

Dou a mão para Jacob, e juntos vamos para dentro da delegacia. Assim que passamos pela enorme porta de vidro, meu coração dispara. Não sei por que, mas de repente fiquei com medo de me descobrirem e eu ser presa aqui e agora mesmo. Diversas cabines com alguns oficiais atendendo telefones, e outros simplesmente mexendo em alguns papéis ocupam todo o espaço daqui, apenas deixando um estreito corredor para nós passarmos.

Alguns policiais me lançam olhares curiosos conforme avançamos pelo corredor, rumo a uma pequena sala no final do corredor.

- Filha! - Uma voz masculina familiar me chama alguns metros para a direita. Me viro na direção do som, vendo um certo Zodíaco com um semblante preocupado e olhos inchados de tanto chorar, correndo até mim e me acolhendo em um abraço forte logo em seguida. - Fiquei tão preocupado... Nunca mais saia de casa sozinha mocinha. E se esse Shadow te pegasse? Como viveria assim?

- ... Pai? - Indago confusa, e em como resposta, Zodíaco apenas me aperta mais, sussurrando tão baixo que mais um pouco eu confundia com os meus pensamentos:

- Entre no teatro.

Fico alguns segundos um pouco perdida. É pra eu fingir que ele é realmente meu pai?

Todos, principalmente Jacob me encararam curiosos.

- Papai! - Exclamo de repente, abraçando-o também, já começando a chorar. - Estou com medo...

- Não precisa ter mais, filhinha. Eu estou aqui agora. - Diz ele, olhando nos meus olhos. - Vamos embora. Sua mãe está preocupada. - Assinto com a cabeça, e ele me pega no colo, já dando as costas para Jacob.

- Espere! - Diz ele, colocando uma mão no ombro do Zodíaco, que automaticamente fica com os músculos rígidos. - Você não pode simplesmente pegar ela e sair andando como se nada tivesse acontecido. Não vê que ela está coberta de sangue?

- É claro que eu vejo. - Responde ele, apenas encarando Jacob pelo canto dos olhos. - Mas a mãe dela está tão preocupada que isso é o de menos. Se esse é o sangue de outra pessoa, depois é só tomar um banho, sem problemas.

- Ela precisa dar o depoimento. Ela é a única testemunha do ataque de Shadow. - Zodíaco se vira, me deixando de costas para Jacob.

- E-ela foi atacada pelo Shadow?! - Repete Zodíaco, atônito, e em seguida olha para mim. - Você está bem mesmo? Ele te machucou?

- N-não... - Sussurro, deixando que algumas lágrimas silenciosas rolem pelo meu rosto. Agora, todos os policiais observam o nosso teatrinho. Tenho que parecer o mais assustada possível para que isso dê certo.

- Sim, Shadow a atacou. Por isso que precisamos dela para responder as perguntas.

- Não sei se você é cego ou algo do tipo... Mas essa garota tem sete anos e está em choque. Não vai conseguir responder nada assim.

- Você sabe que se você se recusar a deixá-la a dar o depoimento, você vai estar ajudando um criminoso de alto nível, não sabe? - Diz Jacob com uma sobrancelha arqueada.

Zodíaco solta um longo suspiro antes de me colocar no chão novamente.

- Quero que isso seja rápido. Não quero que sua mãe tenha um ataque cardíaco.- Diz ele, e eu rapidamente sigo Jacob até a salinha do final do corredor.

- Esse é realmente o seu pai? - Pergunta Jacob assim que nos distanciamos dele, e eu assinto com a cabeça.

"Quem me dera..." Penso com um suspiro.

- Eu só fico me perguntando como ele sabia que você estava aqui...

Chegamos na sala antes que que pudesse pensar em qualquer desculpa. Jacob empurra a porta e dá alguns passos para trás, fazendo um gesto, indicando para eu entrar. Respiro fundo e entro.

O capitão Viktor já está sentado em uma cadeira giratória, mexendo em alguns documentos.

- Até que enfim. - Diz Viktor, ainda sem tirar os olhos dos documentos. Ele faz um aceno com uma das mãos, indicando para Jacob nos deixar a sós, e ele obedece, fechando a porta ao sair.

Assim que a porta se fecha, o capitão desvia os olhos dos documentos, e me encara com curiosidade.

- E então... Suzan, estou certo? - Começa ele, e eu assinto, tentando parecer assustada. - Não precisa ter medo. Só irei lhe fazer algumas perguntas... Depois você pode ir para casa. Já conseguiu fazer contato com os seus pais?

Apenas assinto.

- Ótimo. Então... Posso começar? - Pergunta ele, e eu assinto novamente, um pouco confusa com essa mudança de comportamento dele para comigo. - Muito bem... Por que você e a vítima foram ao parque hoje de manhã?

- Fomos brincar. Mirian me encontrou na rua ontem. Eu estava perdida, então... ela me ajudou. Decidimos ir ao parque de manhã para esquecer os nossos problemas.

- E ficaram, mais ou menos, por quanto tempo brincando lá?

- Eu não sei quanto tempo o tempo têm... - Digo, e o capitão me lança um olhar interrogativo. - Eu ainda não sei ver horas. - Explico, como se isso fosse a coisa mais óbvia do mundo.

- Mas foi muito ou pouco tempo?

- Pouquinho. Só deu tempo de ir em alguns brinquedos... - Digo, fazendo uma cara pensativa.

- Muito bem. E o que aconteceu em seguida?

- Quando estávamos no balanço, um homem mau apareceu.

- Diga como ele se parece.

- Não sei. Afinal, ele estava de capuz. Tudo o que eu vi é que ele é bem alto.

- Tudo é alto pra você... Isso não ajuda muito. - Murmura ele, mas mesmo assim eu consigo escutar. - Alguma característica especial? Um tique, é canhoto, branco ou negro...?

- Desculpa, mas... Eu não vi. - Digo, parecendo abalada. - Eu fiquei com muito medo. Mas a pele dele é branca.

- Tudo bem. - Diz ele com um suspiro. - Bem que podia ser negro... O número de suspeitos cairia muito... - Mais alguma coisa que você percebeu que queria me contar?

- Ele tem uma risada fina. - Digo, e Viktor anota uma coisa no seu bloquinho. - Posso ir agora?

- Mais uma pergunta: qual era a arma que ele estava portando?

- Uma faca.

- Ok... Pode ir agora. - Diz ele, e eu me levanto. - Se você se lembrar de algo, qualquer coisa, venha direto nos avisar, ok?

- Tudo bem. - Assinto, e vou correndo até a porta. - Tchau!

Quando saio da sala, Zodíaco vem correndo até mim, e me pega no colo.

- Vamos embora, bebê. Sua mamãe está preocupada. Ela já me mandou uma mensagem. - Diz ele paternalmente. Ok, acho que eu nunca vou me acostumar com isso.

Apenas assinto em resposta, e juntos saímos dessa delegacia que já estava me dando nos nervos tão rápido que sequer deu tempo de Jacob perceber que eu já tinha saído da sala.

Zodíaco, em nenhum momento, me põe no chão. Apenas quando chegamos em um quarteirão antes da minha casa ele o faz.

- Pronto. - Diz simplesmente. Já se virando para ir embora.

- O que diabos foi aquilo? - Pergunto, totalmente confusa.

- Você tem as pernas muito pequenas. - Diz ele dando de ombros. - Não queria que demorasse muito. Quero ir para casa.

- Não isso. O que foi aquilo na delegacia? Digo, por que você me salvou?

- Ah. Isso... Pensei que estava óbvio...

- Por que tudo parece ser óbvio para você? - Resmungo irônica.

- É porque está mesmo. - Responde ele revirando os olhos. - Você ainda é muito pequena para perceber. Não vai demorar muito, pois você é inteligente, mas um dia você vai notar que as pessoas são realmente idiotas. Assim, tudo ficará bem óbvio. Foi assim que eu nunca fui pego. Prevejo os passos das pessoas antes de qualquer coisa. É bem simples na verdade.

- Prever os passos das pessoas... - Repito pensativa. - Você pode me ensinar isso?

- Huhuhu... Paciência, minha cara, paciência. Essa é uma habilidade que já nasce com você. Com o tempo, vamos desenvolvê-la. Por enquanto, eu acho melhor você entrar em casa. Não podemos saber se algum ouvido curioso está à espreita aqui...

- Certo... - Concordo, assentindo com a cabeça, já me virando para casa. Porém algo me ocorre. - Mais uma pergunta... Porque você me salvou? Digo, eu não acho que você seja o tipo de cara que se preocupa se meninas de sete anos são presas por assassinato ou não...

Ele para de andar, mas não se dá ao trabalho de se virar para me responder.

- Posso ser um assassino, psicopata e louco. Mas ainda assim eu sou um homem de honra, Suzan. Foi por minha causa que você foi pega. Por causa da "missão" que eu te dei. Se eu deixasse você ser descoberta, e consequentemente presa, seria como se eu que tivesse falhado. E eu não poderia deixar que isso acontecesse. Como ficaria o grande Zodíaco, o homem responsável pelo terror nas cidades da Califórnia no século passado? Não... Eu não poderia deixar que você fosse presa. Meu legado que batalhei tanto para ter, seria destruído. Mas não se iluda: eu não vou ser sua babá novamente. Da próxima vez que você for pega,você que vai ter que se virar.

Um pequeno sorriso involuntário se forma em meus lábios.

- Já imaginava isso.

Sem dizer mais nenhuma palavra, Zodíaco recomeça sua caminhada pelas ruas vazias da cidade, e eu me viro, entrando em casa.

Meus pais ainda não chegaram, me causando uma sensação de alívio. Seria realmente entediante ter que explicar para eles o sangue em minhas roupas.

Subo para o meu quarto rapidamente, já começando a me despir, pronta para tomar banho. Porém, assim que eu jogo minha camisa na cama, um pequeno bilhete branco chama a minha atenção.

Corro até ele e o desdobro rapidamente, sentindo uma tontura súbita assim que leio as poucas palavras escritas nela.

Me encontre na praça às 9:00 am.
Se você se atrasar um minuto sequer, ou se recusar a vir, eu não terei nenhum problema em mostrar uma certa mochila preta e velha para uma certa delegacia da qual você já conhece....

- D

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