Capítulo 18 - Tchauzinho, minha "querida" advogada investigativa

O celular vibra. Indicando que já deu meia noite e que é pra eu acordar e começar a colocar o meu plano em prática.

Me levanto sonolenta da minha "cama" e ando às cegas pelo apartamento, apenas iluminando o chão com o meu celular para não tropeçar em nada.

Destranco a porta da frente com as chaves que achei na cozinha e vou descendo pela escada até o andar de baixo.

As luzes se acendem automaticamente, revelando duas portas no andar: uma na esquerda e outra na direita.

Acabo escolhendo o apartamento da direita, já que o da esquerda parecia estar com as luzes acesas, e eu realmente não quero me meter em encrencas a essa hora.

"Cara, que bom que eu trouxe a minha chave-mestra. Ela realmente está vindo a calhar!" Penso enquanto abro a porta do apartamento aparentemente deserto.

Vou andando pé ante pé até o quarto dos moradores daqui e abro a porta, me deparando com dois velhinhos dormindo abraçados em uma cama.

"Será que esses cadáveres sabem ao menos o que é um celular?" Penso irônica, vasculhando todo o quarto a procura de qualquer tijolo ou qualquer coisa que pareça um telefone e que mande mensagens.

Abro uma gaveta ao lado da cama deles, encontrando um pequeno celularzinho branco.

"Será que isso manda mensagens?" Penso examinando o pequeno objeto com um certo desprezo. "Bem, vai ter que servir."

Abro o celular e começo a mexer, não demorando muito para achar a opção de mensagem, já que é uma das únicas coisas que esse negocio sabe fazer além de ligar.

Digito o meu número e escrevo:

Oi filha, aqui é a mamãe.
Consegui um celular aqui emprestado e os homens maus já foram embora.
Estou com sdds. Você sabe chegar na praça principal? Me encontre lá às 4:30 am, que é quando ninguém fica por lá, então vai ficar fácil para nos encontrarmos.
Bjs, mamãe te ama.

Releio a mensagem antes de envia-lá e reescrevo ela até ficar de uma maneira aceitável.

"Espero que Mirian caia nessa." Penso, apertando o botão de enviar e apagando a mensagem do celular do velho.

Coloco exatamente onde achei e saio do quarto da mesma forma que entrei.

🔪🔪🔪

- Tia Mirian! Tia Mirian! - Grito, pulando em cima dela para fazê-la acordar.

- O que foi...? - Pergunta sonolenta. Já são quase quatro da manhã, e eu tenho que começar a agir.

- Mamãe mandou mensagem! - Digo, mostrando a telinha para ela, aberta na mensagem que eu havia mandado algumas horas atrás.

- Praça principal? - Pergunta, assim que lê a mensagem. - Daqui até lá dá uns quinze minutos...

- É muito longe...? - Pergunto, já fazendo uma carinha de cachorrinho que caiu da estrada.

- Não, não.... Ah, tudo bem, eu levo você até lá.

- Sério?! Obrigada! - Digo, dando um beijo em sua bochecha. - Vou arrumar as minhas coisas.

- Ok. Vou preparar algo pra gente comer antes de sair. - Ela diz se levantando.

Vou correndo até minha mochila e pego Dora e o spray de pimenta, colocando tudo dentro da minha bota.

Estou pronta para ir para a cozinha, quando algo me ocorre.

"Eu vivo dizendo para o meu diário que eu odeio coisas clichês.... Mas pensando bem, se eu for matar Mirian apenas com a Dora, eu vou estar virando uma assassina clichê!" Penso. "Ah não, isso não pode ficar assim!" Corro silenciosamente até um pequeno quartinho ao lado do banheiro, onde Mirian havia dito que ficavam as ferramentas e os panos de chão. E que era pra eu ir pra lá caso eu derrubasse algo sem querer no chão e precisasse secar.

Pego um pano e o enrolo nas mãos, pois nunca se sabe se algum policial vai ter a inteligência de investigar a casa dela. Reviro todas as caixas de ferramentas que encontro pela frente, até encontrar uma grande chave de fenda.

- Opa.. Agora sim. - Murmuro satisfeita, guardando ela e o pano dentro da mochila. Coloco a mochila nos ombros e finalmente vou até a cozinha, onde Mirian está.

- Como eu devolverei sua blusa, tia Mirian? - Pergunto, me sentando na cadeira com uma careta de dor.

Mirian havia me emprestado uma de suas roupas, alegando que eu não poderia colocar meus trapos novamente. A roupa dela ficou parecendo mais uma camisola pra mim, mas dá pro gasto.

- Essa roupa é meio velha e fica apertada em mim. Não precisa me devolver... Mas se fizer mesmo questão de devolvê-la, eu tenho certeza que nos veremos novamente. - Ela diz com um sorriso sincero.

"Na verdade... Não nos veremos, não. Mas ok." Penso, assentindo com a cabeça.

Ela coloca os ovos no prato e me serve.

Comemos tudo rapidamente e em silêncio. Mirian parece estar com muito sono ainda. Admito que estou com um pouco de pena dela...

Mentira. Logo logo ela vai poder voltar a dormir. E para sempre ainda. Tem coisa melhor do que isso?

- Acabou? - Pergunta ela enquanto lava seu prato.

- Sim! - Pulo da cadeira e estendo o prato a ela, que deixa na pia e se vira.

- Vamos logo. Não queremos deixar sua mãe esperando, não é? - E então acrescenta algo mais pra ela do que pra mim. - Ainda mais com esse tal de Shadow à solta.. Não é uma boa ficar muito tempo sozinha...

- Ok. - Vou correndo até ela e juntas vamos até o elevador.

Descemos até o térreo, onde há uma garagem com diversos carros.

- O meu é aquele. - Diz ela apontando para um carro vermelho.

Entro no banco de trás e coloco o cinto de uma forma que não toque em nenhum hematoma, e Mirian dá a partida no carro.

- Você é muito corajosa, tia Mirian. - Digo sincera.

- Obrigada. - Ela responde, dando uma risada. - Mas por quê?

- Ora, sair nas ruas hoje em dia está muito perigoso com aquele homem mau que dizem ser uma sombra... Mas você sai. Isso é muito corajoso da sua parte!

- As pessoas precisam de um pouco de esperança. - Diz ela. - Se verem que pelo menos alguém não tem medo, por que o resto iria ter também? Temos que mostrar para aquele assassino psicopata que tem medo até de mostrar a cara que não temos medo dele! É a única forma de derrotá-lo.

"Do que ela me chamou??? De medrosa?? Vou mostrar à ela quem é a medrosa aqui!" Respiro fundo, me segurando muito para não pular no pescoço dela nesse momento, mas mesmo assim não consigo evitar de segurar o cabo de Dora com força dentro da minha bota.

- Bem... Chegamos. - Olho pela janela do carro. A praça é duas vezes maior do que a que tem perto de casa. No centro dela, tem dois balanços, e ao lado deles tem um gira-gira.

"Perfeito." Penso com um sorriso maldoso, já imaginando como a minha obra de arte vai ficar linda naquele tanquinho de areia em frente à gangorra.

- Eba! - Desço do carro animadamente e vou até o banco, me sentando nele. Mirian abre um sorriso e me acompanha. - Mamãe não chegou ainda... - Digo, fingindo desapontamento.

- Ainda são quatro e vinte e cinco. Ainda há esperanças. - Diz Mirian tentando me reconfortar.

- Verdade! - Digo com um sorriso. - Tia Mirian, vamos brincar no balanço? - Pergunto, já me levantando.

- Acha que consegue toda machucada desse jeito? - Ela me pergunta com um olhar preocupado.

- Sim! - Assinto com a cabeça. - Vamos?

- Se você tem certeza que consegue... Então vamos lá! - Andamos até o balanço, e quando ela está pronta para me pegar, recuo alguns passos para trás. - O que foi?

- Entrou uma pedrinha na minha bota...

- Quer que eu te ajude a tirar?

- Não precisa. - Digo, me abaixando. Procuro pela minha bota meu spray de pimenta e o destampo com um dedo. - Achei! - Não espero mais um segundo sequer e levanto minha mão, já espirrando o líquido em seus olhos.

- Argh! O que é isso, Suzan? - Pergunta ela, esfregando seus olhos com força.

- Spray de pimenta, é claro. - Digo com simplicidade. Pego minha faca de dentro da bota e finco com força em sua barriga.

Ela grita de dor, e eu olho para os lados, preocupada.

"Será que alguém ouviu isso?" Todos os prédios em volta ainda estão escuros e silenciosos ainda. "Vamos acabar logo com isso antes que alguém acorde. 

Tiro o pano da mochila com velocidade. Mirian tenta me agarrar às cegas, mas eu me abaixo e aproveito para fazer um corte fundo no tendão de trás de um de seus joelhos. Ela cai com um grito de dor e abraça o lugar que cortei.

Rio com seu desespero.

Aproveito esse momento para enrolar o pano nas minhas mãos e subir no balanço. Com a chave de fenda, giro o parafuso de uma das correntes do balanço até soltá-lo. Quando um lado cai, me viro para onde Mirian estava.

- Está pronta para o enforcamento, "tia" Mirian?  - Digo em tom de deboche enquanto me viro.

Assim que olho para a poça de sangue alguns metros de mim sem ninguém, fico desesperada.

A Mirian sumiu!

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