Capítulo 1 - Querido diário
Querido diário,
Pensando bem, as pessoas sempre começam a escrever assim, não é mesmo? Isso é muito clichê... E eu detesto coisas clichês.
Hum... Sendo assim, como devo começá-lo? Estou sem inspiração hoje, diário, mas eu prometo a você que das próximas vezes eu melhorarei esse início.
Mas vamos ao que interessa: quem sou eu?
Bem, isso é um pouco difícil de responder, já que eu sou outra pessoa toda hora. Mas não vamos falar das minhas atuações. Vamos falar sobre o meu "verdadeiro eu".
Meu nome é Suzan, e tenho sete anos. Aí você se pergunta: Como eu sei escrever tão bem com apenas essa idade? Simples: eu aprendi vendo as revistas da casa com apenas cinco anos. Eu via as imagens e tentava decifrar as letras, então acabei aprendendo a ler.
Mas continuando, eu sou considerada meio baixa pra minha idade (tenho 1,30); tenho cabelos loiros e olhos castanhos. Sou magra, mas bastante forte graças ao meu pai que trabalha como caçador na aeronáutica e me faz fazer muitos exercícios físicos. Ele acha que eu quero ser piloto também. Há. Tenho vontade de rir da cara dele quando diz isso.
O que eu quero ser quando crescer? Não sei ainda. Também não me importo. Ainda falta muitos anos pra eu realmente me preocupar com isso...
Olhe! Mamãe e papai estão brigando de novo! Já me acostumei com isso. Desde que me entendo por gente eles brigam. Sinceramente eu não sei o porquê de estarem juntos ainda. Cada vez as brigas ficam piores. Hoje em dia eles brigam por qualquer coisinha. Seja por uma panela fora do lugar, ou por um copo quebrado. Confesso que quando eu era pequena, não gostava dessas brigas, e até tinha um pouco de medo. Mas com o passar dos anos, comecei a gostar de ver essas brigas. São muito emocionantes, diário, você devia ver alguma delas um dia desses.
Nossa! Alguém quebrou algo com essa briga. Uou! Parece ser sério! Diário, desculpe-me por essa interrupção, mas eu TENHO que ver essa treta! Daqui a pouquinho eu volto.
Fecho meu diário e coloco-o debaixo de meu travesseiro. Saio do meu quarto e esgueiro-me até a parede que fica ao lado da escada para não me verem. Esse é "o meu cantinho de tretas". Sempre venho aqui quando há qualquer tipo de briga. Dá para ver tudinho.
Sento-me encostada na parede e coloco a cabeça no vão que há entre ela e a escada.
Mas que droga! Acabou a briga! Não consegui ver nada.. Anh? Tem um cheiro forte vindo da sala... Um cheiro metálico, e... isso foi um gemido?
Resolvo descer as escadas para ver de onde vem esse cheiro. Chegando lá, encontro mamãe sentada na cadeira com o pé para cima, apoiado em outra cadeira. Ele sangra bastante, e meu pai, com uma pinça, mexe no pé dela. Ah. Então essa é a fonte do cheiro?, penso. Sangue?
Minha mãe solta um gemido de dor quando papai puxa algo do pé dela. Admito, eu estou achando legal ver isso. Ele observa um pouco o objeto totalmente encharcado de sangue e o coloca em cima da mesa. Acho que é um caco de vidro.
Assim que se vira para minha mãe novamente, ele percebe minha presença na sala.
— Suzan?! O que faz acordada a essa hora? — pergunta surpreso enquanto pousa a pinça ao lado do caco e caminha em minha direção, pegando-me no colo e virando-me de costas para minha mãe, o que me tirou da vista legal que estava tendo. — Vá já para a cama. Você não está pronta para ver essas coisas ainda.
— Desculpa, papai. Eu estava escrevendo no meu diário, quando fiquei com sede e desci pra beber água. O que aconteceu com a mamãe? Ela tá bem? — arregolo meus olhos e finjo estar assustada.
— Claro que sim, Suzan. Ela só tropeçou — ainda comigo no colo, ele me leva para meu quarto. — Olha, não vá para a sala. Eu trago água pra você.
— Não precisa mais. Perdi a sede — ele me pousa na cama e joga o lençol em cima de mim.
— Tudo bem então. Vê se dorme agora, hein?
— Boa noite, papai.
— Boa noite, filha — então ele apaga a luz e fecha a porta. Posso escutar seus passos pesados descerem a escada.
Dormir o caramba. Tenho que relatar isso no meu diário.
O pego debaixo de meu travesseiro e acendo o abajur.
Desculpe-me pela demora, diário. Infelizmente não consegui ver a briga, mas mamãe se machucou bastante. Seu pé sangrou, e eu achei incrível isso. Admito que achei engraçado ela sofrendo quando papai tirava o caco de seu pé.
....isso é ruim?
Bahh, pouco importa. Espero que isso aconteça com mais frequência. Isso é mais divertido do que apenas a briga dos dois.
Bem, diário, acho que vou indo, pois amanhã tem escola logo cedo.
Boa noite.
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