Capítulo 2
Erick
Fazia muito tempo que não vinha para esses lados. O território dos lobos era bem sem graça, uma floresta de pinheiros sob um céu cinzento.
Clichê.
E por fazer tanto tempo fiquei curioso, vim ver se os rumores eram mesmo verdade, se os lobos estavam passando fome.
Um grande número dos animais havia migrado para mais dentro da floresta, normal. Por causa das estradas que eles fizeram nenhum animal ia ficar ali tão exposto esperando para ser comido. Para resolver isso, o alfa inteligentemente mandou que lobos sentinelas ficassem na floresta em caso de algum animal aparecer.
Inteligente, não? Era mesmo verdade.
Nenhum animal aparecia por lá agora, não com tantos lobos à espreita. Eles não eram burros.
Observo a distância os lobos sentinelas voltando à alcatéia para um pronunciamento do supremo.
— Aconteceu um problema com o Supremo, temos que ir... — um deles diz. Devia ser bem importante, mas aquele assunto não me interessava. Pelo o que ouvi sobre ele, era arrogante, teimoso e burro, merecia o seja lá o que tivesse acontecido. Merecia por ser burro e deixar seu próprio povo morrer de fome.
Volto a caminhar devagar, aproveitando a calmaria da floresta.
Uns dez minutos se passam, não demora muito para que o primeiro sinal de problema surgisse.
Uivos atrás de mim.
Aquilo não me fez correr ou se quer acelerar o passo, eu já estava longe e fora do alcance deles e estava quase no território onde deixei meus pertences. Mais alguns minutos se passam até que ouço galhos partindo, um barulho entre as árvores e nas folhas no chão.
Estava bem perto. Entretanto, não havia ninguém.
Me permito parar por um segundo e observar atentamente. Um cheiro diferente surge, cheiro de humana.
E lá estava ela, olhando pra mim. A julgar pela aparência ela era bem atraente e a julgar pelo modo como apareceu do nada, eu devia dar meia volta e ir embora. Mas, não faria isso, ela parecia tentar recuperar o fôlego. Parecia inofensiva.
De repente, ela estende uma mão em minha direção. Não consigo ouvir o que ela diz, havia sido um sussurro.
— Desculpe... — ela diz em voz alta dessa vez, levanta e sai correndo.
Devia me preocupar? Não sabia o que fazer, mas decidi segui—la. Dou meio passo e me sinto tonto.
Minha visão fica turva, ouço um barulho, mas, minha audição fica abafada. Sinto meu corpo batendo no chão de folhas secas. Fico ali incapaz de me mover até que a vejo correr entre as árvores. Pele cor de canela, longos cabelos ruivos desciam por seus ombros como cachos de uva. Seus olhos cinzentos eram hipnotizantes.
Meu coração acelera. Que sentimento estranho, o que poderia ser?
O mal estar havia durado apenas um minuto e meus instintos gritam, me levanto do chão e finalmente vejo o que ela fez comigo.
Nunca confie em uma mulher bonita e desconhecida no meio da floresta. Que filha da puta. Tudo o que eu sentia era ódio, por que eu não havia ido embora quando tive a chance?
Me levanto e começo a correr. Assim que a alcanço, rosno, furioso.
— Ai cacete, me desculpaaaaa! —ela grita, desesperada.
"Cala essa boca e para de correr", penso.
Ela subitamente para. Havia me escutado.
Que merda, até nossas mentes estavam conectadas. Me transformo novamente e fico cara a cara com ela, era bem mais baixa do que eu.
— SUA FILHA DA PUTA, O QUE VOCÊ FEZ??! — de repente, estou gritando.
— Me desculpa... — ela murmurava baixinho e recuava.
— O QUE VOCÊ FEZ?? VOCÊ TEM NOÇÃO DO QUE VOCÊ FEZ?? — repito, furioso. Não dava a mínima para quem fosse ouvir.
Subitamente, fico quieto. Meu tigre estava me obrigando a manter a porra do controle. Ela estava sendo seguida, eu certamente tinha chamado a alcatéia inteira pra cá.
— Desfaça o que você fez, agora... — digo em voz baixa.
—Eu não posso, me desculpa, estão atrás de mim e preciso da sua ajuda, por favor!
— Não estou interessado, se vira.
— Por favor, eu imploro! — se joga no chão e começa a chorar.
Meu coração amolece com a cena, não poderia deixar ela pra trás, nem se eu quisesse. Penso em uma saída, ela havia deixado seu cheiro por todo o caminho até aqui.
Ela tinha cheiro de baunilha, canela... Era doce, ambarado e intenso.
Droga, eu já estava viciado.
— Entre...
— Entrar aonde? No chão? — ela pergunta, apressada.
Os lobos estavam vindo, pelo menos seis se aproximavam. Olho na direção do local.
— Está frio — ela reclama.
— Você prefere ficar e bater um papo com os lobos? — rebato, impaciente.
— Okay — desiste e corre na direção do lago, entrando com mochila e tudo. Ótimo, não deixaria rastros visíveis.
Lobos sabiam nadar, mas não deixaria que entrassem ali.
Eles chegam em poucos segundos.
— Ei, você — um deles volta à forma humana. — Viu uma garota passar por aqui? Cabelo laranja, pele castanha, sei lá.
Me controlo ao máximo para manter a expressão o menos debochada possível. Pele castanha?
Okay, vindo dos lobos era compreensível, aquela alcateia só tinha branquelos.
— Ela seguiu o curso do rio naquela direção — aponto para a direção oposta.
— Se isso for verdade, será recompensado, caso contrário, voltamos pra caçar você. — ameaçou. Vira de costas e se transforma.
— Boa sorte com isso — respondo.
Seu lobo rosna pra mim antes de começar a correr novamente.
Olho na direção do lago, a garota surge na parte funda e começa a nadar de volta pra margem.
— Cacete, a água tava muito... UEPA! — só agora ela parece reparar que estou nu.
— Algum problema?
— Não, é que... Nossa... Tá calor aqui, né? — desvia o olhar do meu dorso e começa a se abanar.
— Pensei que estivesse com frio — respondo ignorando seu tom desconfortável.
— Ah, menino... — ela não completa a frase, ao invés disso ela move as mãos como se estivesse modelando o vento.
O ar em volta de mim começa a se movimentar e a formar um tecido. Roupas, ela fez roupas para mim.
— Com licença... — coloca a mão em meu ombro e retira... Uma toalha?
Observo a garota se secar, sangue escorria pelo seu nariz e ela enxuga.
— Está tudo bem?
— Aham.
— Porque não fez roupas pra você também?
— Uma coisa de cada vez — ela responde.
Uivos são ouvidos mais adentro na floresta. Precisamos continuar e rápido. A julgar pelo nariz escorrendo sangue e a total falta de noção pelo que fez comigo, eu diria que a magia dela era bem fraca ou que ela tinha pouco controle sobre ela.
— Aqui — retiro a camisa longa que ela havia feito pra mim. — Tire a roupa e jogue no lago. — ela me olha espantada.
— Assim? Não vai nem flertar antes?
Fecho os olhos e respiro fundo. Estava impaciente.
— Nossa, eu tava brincando... Mas, não, obrigada. Daqui a pouco vou estar seca — a garota começa a andar.
De repente me sinto furioso de novo, além de palhaça, é teimosa.
— Escuta aqui — seguro em seu braço. — Você me meteu nessa situação, então, se quiser sobreviver, vai ter que obedecer tudo o que eu mandar.
Ela apenas me encara séria, parecia até com medo. Estava quase preocupado de ter sido duro demais com ela até que...
— Hahahahahahaha! — a garota parece se divertir muito para quem corria sério risco de vida. Nunca mais caio nessa.
— Você é idiota? Tem ideia do que fez?
— Desculpa, não estava esperando por essa... — finalmente para de rir. — Obrigada por me defender, mas, estou bem mesmo com a roupa molhada.
Ela era mesmo uma idiota, o que eu devia esperar de uma humana que mal sabia usar magia? Que estava foragida de uma alcatéia e que se recusava a fazer o básico de sobrevivência?
— A temperatura vai cair em algumas horas e vai ficar abaixo de zero, se não quiser congelar até a morte, sugiro que faça o que eu mandei — entrego a camisa pra ela e vou andando na frente.
Mesmo obrigado a protegê—la, ainda tinha um certo grau de dignidade. Minha alma ainda não estava totalmente ligada a dela, então eu não a obrigaria a obedecer. Não olho pra trás, mas escuto o som de suas roupas sendo jogadas no lago. Finalmente.
Tínhamos um longo caminho para percorrer.
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