Capítulo 11

Ivy

Eles colocam a porra de um saco na minha cabeça.

Continuamos a andar por mais uns vinte minutos. Vou me arrastando, atrás de Erick e na frente do outro. Segundo Clay, o tigre que me atacou e se transformou pra colocar o saco, Erick havia dito que eu não era mais confiável para ver a entrada para o território.

Ele fez questão que o homem falasse "não era mais confiável", aparentemente. Porque outro motivo ele diria isso?

Não sei dizer em que ponto viramos, mudamos nosso curso ou sei lá. Mas algo aconteceu, e de repente meus pés não afundam mais no solo lamacento, e sim numa terra seca, macia e quente. A luz entra com toda força através do tecido que cobria minha visão, e o calor era de matar.

Andamos mais um pouco ali mas paro de repente quando escuto um barulho que tinha certeza que nunca ouvi antes, mas era estranhamente familiar.

— Continue andando — Clay empurra meu ombro devagar.

— Já não dá pra tirar essa venda, não? — tinha certeza de onde estávamos, e eu estava louca pra ver.

O homem fica em silêncio um segundos.

Xingo baixinho quando lembro que Erick estava bem a frente, e ele provavelmente foi perguntar a ele. Só podia ser brincadeira que Erick tinha autoridade nesse lugar.

O saco de pano é retirado do meu rosto com um puxão.

O oceano azul e cristalino formava ondas rasas e fracas perto da areia branca e macia. Rochas enormes formavam arcos naturais de pedra no meio do mar e ao redor da praia. Atrás de nós, não havia a floresta cinzenta e fria de pinheiros, e sim uma mata tropical cheia de coqueiros, palmeiras e vegetação rasteira. Uma pequena família de macaquinhos pareciam brincar com uma família de aves grandes e coloridas. Mais distante, havia um conjunto de casas de coloridas, todas erguidas em vigas de madeira com varandas, algumas até tinham um prancha para saltar diretamente no mar.

O mais surpreendente foi ver centenas de pessoas e tigres de diversos tamanhos andando de um lada para o outro, trabalhando, correndo, brincando...

Era um dia perfeito no paraíso.

— OU! — uma mão surge no meu campo de visão — Você vai ficar aí parada? — Clay fala comigo. Finalmente vejo seu rosto na forma humana, pele bronzeada, cabelos cacheados, a barba curta o fazia parecer um adolescente na puberdade. Talvez ele fosse mesmo um adolescente. Clay, que estava vestindo somente uma bermuda cinza, volta por onde viemos e eu fico ali parada que nem uma boba.

Resolvo seguir Erick. Talvez devesse pedir desculpas pela maneira como agi, mas logo mudo de ideia. Não é como se eu tivesse feito algo de errado, eu agradeci por tudo o que ele fez. Penso até em fazer um tipo de troféu escrito "guarda-costas do ano", ele realmente merecia.

— Erick... — chamo, apesar de estar longe tenho certeza que ele ouviu, só não queria falar comigo.

Corro até ele e paro na sua frente, o forçando a parar também.

— O que você quer?

— Olha não tem porque me tratar com grosseria de novo, você devia saber que em algum momento a gente ia se separar — Argumento.

— Sim, uma facada teria doído menos do que ouvir minha companheira dizer isso pra mim.

—  Mas eu não... — Não consigo dizer. Ele afirmou com tanta certeza, tanta convicção que me fez questionar se nós de fato éramos e eu que tinha algum problema.

— Erick?! — Uma voz feminina vem em nossa direção.

A mulher era alta, bronzeada e curvelinea vestia um biquíni e uma toalha quase transparente enrolada na cintura. Seu cabelo era enorme, e ela tinha uma tatuagem na perna que parecia ser um tigre, mas vi apenas de relance. Mesmo meu tom de pele sendo mais escuro do que a maioria das pessoas da alcateia de onde eu vim, eu ainda era pálida em comparação aos dois.

— Onde você estava? Quem é essa? — ela ri e eu penso que está debochando da minha cara.

— Como é que é? Quem é você? Eu sou companheira dele! — rebato com o triplo de deboche. 

— Isso é sério??? — a mulher arregala o olho pra mim e depois de volta pra ele.

Erick me olha como se eu fosse doida. E talvez eu realmente fosse. Seríamos o casal perfeito então, ele bipolar e eu doida. Viram só? Perfeito! 

Os segundos seguintes foram apenas trocas de olhares confusos e desconfortáveis, até que a mulher percebe que ninguém iria confirmar e nem negar nada.

— Eu... Fico feliz por você primo — Ela sorri pra ele e vem pra me abraçar — E você seja muito bem-vinda a Themaris.

Primo?! Ah ok... Eu a abraço de volta meio sem graça.

— Qual seu nome? E de onde você veio? Como se conheceram? Eu vou te mostrar tudo, vamos ter um luau e precisamos achar um biquíni pra você... —  a mulher me bombardeia com perguntas sem interrupção.

— Não se incomode, Makayla, ela vai embora logo — Erick corta e sai andando, nos deixando pra trás.

— O que foi isso? — Makayla pergunta confusa.

— Acho que estraguei tudo — rio sem humor e chuto a areia.

Ir embora não era o que eu queria? Não parecia ser o que Erick queria desde o início? Se ver livre de mim? Então por que eu estava tão incerta agora? Por que tudo estava tão confuso?

— Seja lá o que você acha que tenha feito ele vai te perdoar, afinal você é a companheira dele, não é?

— Estou mais pra protegida — respondo. Era um tanto embaraçoso tocar no assunto com outra pessoa, principalmente quando por duas semanas seguidas eu só tinha Erick pra conversar e ele não era lá muito falante... Exceto nos últimos dias.

Estava tudo finalmente indo tão bem... A tensão entre Erick e eu não era das melhores. Ele parecia realmente me odiar quando nos conhecemos, até que a tensão entre nós nos aproximou ao ponto de entrar em combustão, explodindo naquelas fontes termais.

Seria bom ter alguém pra desabafar e talvez até chorar sobre como estraguei uma relação que estava começando a ficar ótima em menos de cinco minutos. Mas como eu explicaria isso tudo a ela? Principalmente quando eu estava em conflito entre voltar pra minha família e...? E o que?

Qual era a outra opção?

Erick ficou chateado por eu não querer ficar... Mas eu era bem-vinda pra ficar antes disso?

— Vem, vamos arranjar roupas mais frescas pra você — Makayla segura minha mão e me leva com ela.

O pensamento estava me corroendo por dentro. Me sentia tão culpada, tão vazia e amarga... No final das contas eu sempre magoava todos os que tentavam me ajudar, inclusive minha própria família.

"Chega de roubar enquanto o Supremo estiver aqui...", Ainda lembro dos avisos deles. Arrisquei a minha vida, a da minha família, a vida de Erick...

Eu sou mesmo uma ingrata filha da puta. Eu mereço ser tratada como tal.

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