Capítulo 1
Sinto meu corpo sendo tocado. Com esforço, abro os olhos, que ardem ao serem atingidos pela luz branca que emana do teto.
Aos poucos eles começam a se adaptar à luz e eu consigo ver onde estou e com quem estou. Merda! Eu não estou sozinha! Há um homem loiro do meu lado, me olhando com olhos famintos. Ele me come com os olhos e isso me deixa um pouco, ou, na verdade bastante apavorada. Meu coração acelera e eu só quero fugir e correr. Me mandar dessa cama, gritando por socorro, mas assim que movo um musculo, ouço o tilintar das correntes que se estendem da cabeceira até meus pulsos e das pernas até meus tornozelos. Caralho! Eu estou presa!
⎯ Droga! O que está acontecendo? Me solte agora! ⎯ gritei, tentando, apesar da situação, causar algum temor. Mas vejo que não consegui.
Uma segunda pessoa manifesta-se no quarto:
⎯ Chame Amanda! Diga que “a Carne Nova” acordou!
Porra! Tem como eu ficar mais fudida? Olho para aquele homem e me recordo de tudo. Recordo do meu pai, aquele desgraçado, que me vendeu como um objeto sangue-do-seu-sangue, apenas para pagar uma conta; me lembro dos momentos de terror que passei naquela discussão... Merda! Eu quero chorar. E é exatamente isso que faço, volto a ser uma criança com medo do bicho-papão. E, para piorar meu horror, o bicho-papão parece estar do meu lado prestes a avançar.
Não fosse pelo ardor em meus pulsos, eu diria que morri. Seria melhor eu ter morrido!
⎯ Por favor, o que está acontecendo? Me deixem ir embora, por favor. ⎯ Desisto de esconder meu medo e o deixo transparecer.
⎯ Se acalme, Caroline, eu prometo que vai ser rápido.
O que aconteceria quando Amanda chegasse? Não poderia ser coisa boa, tenho certeza! Isso fez meu medo triplicar!
Olho em volta e noto que a mobília deste quarto de paredes rosa claro se resume à cama em que estou acorrentada e uma pequena mesa de madeira com água e frutas. Sem armas, sem esperança de liberdade, sem telefone!
⎯ Vai se machucar ainda mais ⎯ afirma o loiro, vendo eu mover os pulsos acorrentados. ⎯ Fique quieta, Caroline. É melhor.
A calma daquele homem loiro é tão grande que, por mais que seus olhos azuis invadam minha alma, me perturba e amedronta.
Entre soluços, torno a me manifestar.
⎯ Onde estou? Por favor, responda pelo menos isso.
A máscara sóbria do loiro desaparece, revelando seu verdadeiro lado:
⎯ Cala a boca! Já estou perdendo a paciência com você, menina!
Depois disso houve silêncio. Silêncio agonizante, pior que a morte. O silêncio que se mistura com a certeza de que, quando aquela porta se abrir, algo pior que o diabo entrará no quarto.
O silêncio é rompido. Já consigo ouvir o tilintar de passos do lado de fora. Pelo ritmar, a pessoa está de saltos. Uma mulher! Só pode. Ela se aproxima. Será Amanda? A porta se abre. Sim, aquela deve ser a tal Amanda.
⎯ Olá, Caroline ⎯ ela saúda. ⎯ Como você é linda. Ao menos alguma coisa boa ele fez nesta vida.
⎯ Q... Quem é você? ⎯ pergunto já sabendo a resposta. Meu corpo todo treme. Por alguma razão, hoje eu sei qual, mas algo dentro de mim gritava mandando eu correr daquela mulher.
Ela se aproxima.
⎯ Meu nome é Amanda. E você... ⎯ Ela desliza a mão com suavidade pelo meu rosto. Eu me viro e ela continua ⎯ E você, menina linda, de agora em diante é minha.
Amanda é uma morena de volumosos cachos na cabeça. E, pelas poucas rugas que notei em seu rosto, deve estar passando da meia-idade. Porém, dentro daquela calça colada, uma blusa social e terninho que vai até pouco abaixo da cintura, faz inveja, com certeza, a qualquer menininha por aí. Contudo, apesar de todo o charme, seu olhar frio e voz autoritária me assustam. E assustam bastante.
Entre soluços torno a perguntar por que estava ali, e por que estava presa.
⎯ Tantas perguntas ⎯ manifesta-se, andando pelo quarto. ⎯ Resumirei pra você: eu tenho alguns estabelecimentos espalhados pelo mundo. Tenho alguns cassinos à margem da lei. E, em um deles, seu nobre pai perdeu uma fortuna. Algo que jamais conseguiria me pagar. Eu fui boazinha por tempo demais! Mandei meus homens cobrá-lo. Eu sei que ele é um pobre babão que não tem nem onde cair morto. O pagamento dele seria com a vida. O velho se cagou pra não morrer. Então me deu você. Agora você é minha. Uma das garotas que enchem minha carteira de dinheiro. É isso!
⎯ N... Não estou entendendo. O que quer dizer isso?
⎯ Quero dizer que você é minha propriedade. Vai trabalhar pra mim, na minha boate, e fará tudo que eu mandar. Agora chega de conversa. ⎯ Ela se afastou e respirou respira fundo. ⎯ Rafael, não demore. Acabe logo com isso. Quero ela já esta noite.
Amanda sai, me deixando sozinha com o loiro Rafael.
Ele sobe lentamente na cama, soltando minhas pernas e então os pulsos.
⎯ Agora, Caroline, fique quietinha. Vai doer, mas serei rápido.
Ele tira minha calça Jeans surrada e meu coração já começa a martelar mais forte no peito.
⎯ Não, por favor, me solta. Não faz isso, por favor. ⎯ eu imploro, o medo crescendo dentro de mim. E como ele não parecia disposto a atender meu pedido desesperado, acerto um chute nele.
Eu queria ter escapado, mas o chute apenas serviu para mudar seu rosto calmo, outra vez, para a feição impiedosa e enfurecida.
⎯ Você não devia ter feito isso. Eu estava tentando ser bonzinho, mas agora, vadia, você vai se arrepender!
Lágrimas escorrem pelo meu rosto enquanto me debato, tentando afastar Rafael do meu corpo.
Quando ele consegue enfim tirar minha calça, já consigo ouvir soluços. Meus pulsos doem por estar fazendo tanta força, mas não estou nem aí. Só quero repelir Rafael.
⎯ FICA LONGE DE MIM! ⎯ eu grito.
Rafael, com um único movimento, arranca minha calcinha de renda. Eu grito e esperneio, mas de nada adianta. Ele não se afasta. Tudo que posso fazer é chorar.
Eu torno a implorar, mas parece que, enquanto abre o zíper expondo seu membro, nada escuta.
Eu grito e imploro para que ele não faça nada comigo. Minhas lágrimas correm em cascata por meu rosto e isso o irrita.
⎯ CALA A BOCA!
Com uma das mãos ele tapa minha boca e com a outra leva o pênis até minha entrada. Eu tentei fechar as pernas, mas ele me imobilizou com seu corpo.
Foi um só golpe que me fez perder a esperança. Depois de tudo acabado, Rafael disse: “terminei, agora você é uma prostituta”.
Um ano depois
Está quase na hora de ir para a boate, hoje é minha vez de fazer o show. Preciso caprichar e, como diz Amanda, a nossa "chefe", temos de estar sempre belíssimas.
Escolho um espartilho Penélope sensual, vermelho e preto, acompanhado de cinta-liga e meias 7/8, deixo meus cabelos soltos e passo uma maquiagem bem marcante, o batom vermelho realçando meus lábios carnudos, deixando-me ainda mais sexy. Para finalizar, saltos pretos. Olho no espelho e não me reconheço. Depois de ser vendida pelo meu pai e trazida para o bordel de Amanda em Los Angeles, minha vida mudou, perdi minha virgindade, minha dignidade, e quem me vê vestida assim nem imagina que por baixo dessa casca existe uma garota frágil, com medo, que só pensa em um dia conseguir sair daqui.
— E aí, está pronta? — Amanda pergunta.
— Sim, estou.
— Nossa, você está um arraso, tenho certeza que hoje ganharei muito dinheiro com você, esse rostinho e esse corpo escultural me trarão muitos lucros.
Amanda só pensa em dinheiro. Quando cheguei aqui dei muito trabalho a ela, não me rendi facilmente, mas a cada recusa em fazer o que ela queria eu era castigada, seus capangas me batiam, ficava sem comer e com o tempo aprendi a conviver com essa realidade.
— Vamos, vamos, está na hora — chama ela, me tirando dos meus devaneios.
Chegando na boate, vejo que está lotada. Todo tipo de homem aparece aqui, casados, solteiros, bêbados, ricos, pobres, velhos, jovens e até gays procurando perder sua virgindade, alguns até por ordem do pai. Quando saio daqui, quase amanhecendo, sinto-me suja, . faço Faço sexo com mais de 26 homens por noite. Esta boate é o meu pesadelo.
O palco está pronto para mim. No centro dele há uma cadeira que fará parte do meu show. Entro e sento nela, de frente para os homens, com uma perna de cada lado da cadeira; as pernas abertas deixam uma visão privilegiada da minha calcinha vermelha rendada, a luz está focada em mim, e a música sensual, “Earned it de The Weekend”, começa a tocar.
Fecho meus olhos e me deixo levar. Mesmo nessa situação eu amo dançar. Quando volto a abrir os olhos, percebo a presença de um homem que nunca tinha visto antes. Seu olhar me queima por inteira, me sinto nua e totalmente excitada.
Isso nunca tinha acontecido antes, desde que vim para cá. Todo homem que me toca, que me olha e me deseja automaticamente me causa repulsa, mas esse é diferente; o magnetismo de seus olhos não me deixa sentir nada além de luxúria.
Passo as mãos pelo meu corpo sem deixar de fazer contato visual com ele, levanto da cadeira e vou para a frente do palco, mexo meus quadris rebolando e mostrando toda minha sensualidade, ameaço tirar o espartilho, mas quando chega no quinto botão e meus seios estão quase expostos, eu os coloco de volta, deixando todos os homens loucos. Eles jogam dinheiro no palco, alguns colocam dinheiro dentro do meu espartilho. Quando me abaixo, andando de quatro no chão, escuto alguns gritando que me querem, mas não dou atenção, pois esta se volta a um único homem, e isso me assusta bastante.
Retorno ao centro do palco e finalizo o show, mas ao voltar o olhar para o lugar onde o homem que me fez esquecer todo o resto se encontrava, para minha infelicidade não o encontro. Será que foi embora?
Saio do palco e vou direto para o camarim, com meus pensamentos ainda confusos pelo sentimento estranho causado por um homem desconhecido. Não consigo parar de pensar naqueles olhos vidrados em mim; logo em seguida, Amanda chega, me tirando dos meus devaneios.
— Garota, hoje você foi maravilhosa, um homem pagou uma fortuna para ter você agora, imediatamente, 50 mil, querida, anda logo, não quer deixá-lo esperando, não é mesmo?
Respiro fundo. Esse será o primeiro de muitos esta noite. Chego ao quarto escolhido pelo cliente: uma suíte, a mais cara que temos. Todas as vezes, quando fico de frente para um quarto, prestes a entrar, as lembranças horríveis da minha primeira vez voltam à tona. Eu nunca parei para pensar em como esse mundo de prostituição é difícil. Já vi muitas mulheres na minha cidade, nas esquinas, vendendo seu corpo, mas sinceramente jamais me passou pela cabeça que elas poderiam estar ali obrigadas. Sei que há aquelas que fazem por vontade própria, porém depois que me trouxeram para o bordel, percebi o quão as pessoas são desligadas e não veem o que acontece em sua volta. Ser traficada para um local desconhecido e vender seu próprio corpo para dar lucro a outros, à mercê de ameaças e violência de todos os tipos, destrói uma pessoa de dentro para fora. Deixo esses pensamentos de lado, forço um sorriso e entro no quarto.
Não sou muito de falar com clientes, já que o meu papel aqui é ser um objeto a ser usado. Não gosto muito de prolongar esses momentos torturantes. O homem de pele negra, estatura mediana e corpo magro já é um cliente fixo. Estevão frequenta o bordel há mais de dois anos, todas as quintas e sextas está aqui e sempre sou a primeira que ele procura. Suas roupas já estão no chão, pelo menos me poupou alguns minutos. Ele sorri para mim e já deitado na cama me chama com a mão. Eu arranco o espartilho que visto e jogo no chão. Sei do que Estevão gosta, então vou direto ao ponto: subo em cima dele e ponho minha mão em seu membro masturbando-o até que fica totalmente duro. Dou um sorriso falso quando olho para baixo e vejo que já consegui deixá-lo excitado.
— Venha Aqui, Caroline. — Ele segura na minha bunda, apertando- a com força, me chamando para o sexo oral que ele tanto gosta.
Me levanto de forma sensual e com uma perna de cada lado de seu corpo, ando até que minha intimidade fique em na direção à de sua boca. Estevão segura em minhas pernas e eu sento em sua boca.
Sinto sua língua fazer círculos em meu clitóris, solto leve gemidos forçados, fingindo sentir algo que nunca sentirei: prazer.
Rebolo em sua boca enquanto ele me chupa, meus gemidos falsos aumentam de acordo com a velocidade de suas lambidas.
Estevão, já satisfeito, bate de leve em minha bunda e me levanto, ele faz o mesmo. Agora chega a minha vez. Estevão fica de pé na minha frente e eu começo a chupar o seu membro. Cada vez que faço isso um enorme embrulho se forma na minha barriga, o gosto salgado dele é nojento e tenho vontade de vomitar, mas aguento firme e continuo. Estevão segura meus cabelos e joga sua cabeça para trás gemendo a cada vez que seu pau encosta na minha garganta. Ele me ajuda com os movimentos mas a ânsia me atrapalha a continuar. Eu finalizo lambendo a cabecinha de seu membro e Estevão sorri para mim.
— Melhor oral quem faz é você, Caroline — ele diz.
Estevão pega uma camisinha em cima da cômoda, ao lado da cama, rasga a embalagem e coloca de maneira ágil em seu pênis. Subindo de volta à cama, ele me põe de quatro, fazendo meu corpo inclinar sobre o colchão da cama até só minha bunda ficar empinada para cima. Estevão passa seu dedo pela minha intimidade, sentindo minha umidade e, logo depois, desliza seu membro para dentro de mim. Ele não é violento como alguns homens com quem já me deitei e agradeço por isso, suas estocadas são ritmadas e por um bom tempo ficamos assim. No quarto só escuto a sua respiração e as batidas do seu corpo contra o meu, às vezes solto uns gemidos para dizer que estou gostando, mas nada além disso.
Após gozar, Estevão joga a camisinha fora e veste sua roupa enquanto eu faço o mesmo.
— Você sempre incrível, Caroline — ele me diz, dando um rápido selinho em meus lábios.
— E você gentil como sempre, Estevão — dou um leve sorriso e saímos do quarto.
Sigo para onde as meninas se lavam e tomo um banho bem rápido. Logo após volto para a boate, precisamos ficar circulando para que os homens nos vejam. Me sinto como se estivesse em exposição num açougue. Uma exposição de carnes, e eu sou uma delas. Pego uma bebida no bar e tomo em um gole só. Por um breve instante acho que vi o homem misterioso que sumiu depois do meu show, mas foi só impressão minha. Talita, minha fiel amiga, está dançando no pole com Rebecca e LaisLaís. Resolvo me juntar a elas. No meio do caminho sou parada por Amanda, que me pega pelo braço e me tira do meio do salão.
— Vamos, Caroline, você tem outro cliente, agora, e pela grana que ele pagou, está bem interessado em você.
— Tudo bem, em qual quarto ele está?
— Suíte Máster.
Sigo direto para lá. Ao abrir a porta, paraliso. É ele, o homem para quem dancei, o homem que não tirou os olhos de mim o show inteiro, que pela primeira vez me fez desejar ser tocada.
Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top