Prólogo ( Repostado)
5 anos atrás
Estava chovendo muito aquela tarde, parecia que o tempo estava sentindo a mesma dor que a minha. Ja tinha 2 meses que descobri que minha mãe estava com câncer no pâncreas, a descoberta me assustou e como era só eu e ela tive que cuidar de nós duas .
Comecei a trabalhar em dois lugares para pagar a sua internação, durante o dia eu era garçonete em um restaurante no centro da cidade e a noite eu era bartender em uma boate bastante conhecida, o dinheiro era todo voltado para o tratamento da minha mãe, eu não vivia mais por mim, vivia por ela .
E agora o meu peito dói com a possibilidade de uma notícia ruim enquanto estou no táxi rumo ao hospital, queria poder pagar um hospital particular para ela mais o que ganho mesmo com dois empregos não é o bastante, eu precisava de alguma coisa que me tirasse do fundo do poço, que tirasse nos duas desta situação terrível em que nos encontrávamos .
— Sara, eu vou chegar atrasada hoje, pode me cobrir por algumas horas? — Pergunto a minha colega de trabalho.
— Claro que sim Talita, mas você está chegando quase sempre atrasada, uma hora vão perceber.
— Eu sei, mas me ligaram do hospital quando eu estava indo pra aí, tenho que ver o que está acontecendo com a minha mãe — Falo com um suspiro cansado.
— Vai tranquila, eu vou dar um jeito aqui. Qualquer coisa digo que está lavando os banheiros— Ela rir baixinho.
— Obrigada Sara. Logo estou chegando.
Desligo o celular um pouco mais calma, o bar que trabalho fica sempre movimentado e ela estava certa, se eu continuasse a me atrasar uma hora alguém percebiria e eu preciso muito desse emprego.
Quando chego, aquele cheiro de hospital invade minhas narinas, não sei como as pessoas conseguem ficar neste lugar. Era um hospital público e a emergência vivia cheia de pessoas nos corredores pedindo para serem atendidos. Foi um sacrifício quando cheguei com a minha mãe aqui pela primeira vez, mas eu não desisti, fiz um escândalo até que eles entenderam que o caso dela era grave e enternaram ela. Desde então, minha vida é essa, trabalho e hospital, hospital e trabalho. Pelas minhas contas, faz dois dias que não durmo direito, um cochilo aqui e outro lá mas nunca um verdadeiro descanso. Meu rosto deve está bem abatido, meus olhos cheio de olheiras. Meu cabelo estava fedendo com cheiro de comida e bebida barata. E não faço a menor ideia de quando foi a última vez que comi uma comida de verdade. Vivo de lanchinhos para nao gastar o dinheiro.
Chego na recepção e encontro a menina de olhos verdes que sempre me atende.
— Quarto da Sr Amorim—Digo
— 630 senhora— Como se eu não soubesse.
Pego o elevador e subo, enquanto os andares iam subindo, meu coração se apertava cada vez mais. Cada vez que eu via minha mãe naquela cama eu morria um pouco mais. Aquela mulher alegre que vazia tortas de maçã para mim todo fim de semana não existia, era apenas uma casca, indefesa que eu tinha o dever de cuidar e proteger como ela fez comigo. Quando abro a porta do quarto, encontro a médica que cuida da minha mãe conversando com a enfermeira.
— Olá D. Fernanda— Digo comprimentando ela.
— Olá Talita, sua mãe acabou de durmir.
— E como ela está? Me ligaram para vim imediatamente pra cá — Falo me aproximando da cama e vendo o quanto minha mãe está abatida.
— Sim claro, foi eu que pedi sua presença, não tenho boas notícias .
— O que aconteceu?
—Sua mãe piorou, o câncer no pâncreas é silencioso e por não apresentar sintomas na fase inicial fica difícil poder reverter a situação, no caso da sua mãe o câncer está bastante avançado e creio que ela tenha pouco tempo.
—Como assim pouco tempo? Você não fará nada? Ela não pode morrer, você é médica faça alguma coisa ou seu diploma não serve para nada ?— Acabo me exautando.
— Está fora do meu alcance Talita entenda.
— Entender? Minha mãe está meses aqui, tenho certeza que se ela tivesse em um hospital adequado ela teria uma chance.
— Sinto muito, talvez você possa leva-la a um hospital mais sofisticado que o nosso, fora do Brasil talvez, onde a mais recursos.
—Você acha que não pensei nisso? Eu não tenho condições para leva- lá Porra.
— Não tem mais nada que eu possa fazer, tudo que podíamos já foi feito, só resta apenas esperar.
Aquilo foi como uma facada no meu peito, eu não podia perde-la, era demais pra mim.
Saio do quarto batendo a porta forte, pego o elevador para ir embora e quando as portas fecham eu me permito chorar, é a única coisa que tenho feito nesses últimos meses, sei que fui errada ao tratar a médica daquela forma mas saber que não posso fazer nada para salvar a minha mãe me faz querer quebrar tudo e manda todo mundo se fuder.
Avisto um bar a duas quadras do hospital e entro, não sou de beber mais preciso esquecer essa merda toda que se tornou a minha vida, eu era tão feliz, quando meu pai era vivo tudo que eu deveria me preocupar era tirar boas notas na escola, eu saia com as minhas amigas, ficava com alguns garotos do colégio, era tudo tao simples, mais depois que meu pai morreu, a vida perdeu o sentido para mim e para minha mãe, eu costumava ver o mundo como um grande arco íris mais agora só consigo ver cinza por todos os lados .
—Uísque duplo por favor — Peço a garota.
Depois da primeira dose não consigo mais parar, as lembranças dos tempos bons com a minha família me fazia querer afundar mais e mais no copo que estava em minhas mãos, queria poder fugir ou fazer algo para concertar a minha vida, minha mãe estava morrendo, me deixando como meu pai fez anos atrás, eu ficaria sozinha em um mundo sem motivo para continuar e o que eu deveria fazer agora? Chorar e esperar o momento de mais uma dolorosa despedida.
—Posso me sentar? — Pergunta um homem bonito dos cabelos castanhos .
—Fique a vontade—Respondo bebendo mais um gole.
—Problemas? — Pergunta ele curioso.
—Está tão evidente assim?— Pergunto.
—Uma menina linda, sentada em um bar tomando um Uísque duplo com a cara inchada de choro, sim com certeza está evidente—Fala ele me fazendo rir .
—Eu devo estar acabada .
— Não muito, a sua beleza está acima disso tudo.
Por um momento pensei que ele estivesse flertando comigo mais logo descartei esta possibilidade .
— A propósito eu sou Raphael.
—Talita— Falo.
—Então Talita já pensou em ser modelo?
Engasgo com a sua pergunta repentina.
— Não, nunca pensei porque?
—Sou o dono de uma agência de modelos, tenho filiais por todo o mundo e você tem o rosto perfeito para nossa campanha.
Ele não analisa só o meu rosto mais também o meu corpo inteiro, o que me deixa desconfortável .
—Você aceitaria me acompanhar até o meu escritório para conversamos melhor?
Não acho uma boa ideia acompanhar Raphael, não o conheço e não confio plenamente em mim no estado em que estou, Raphael é bem atraente mais não queria perder a minha virgindade com qualquer um principalmente com um homem que conheci em um bar.
— São só negócios Talita, não precisa me olhar desse jeito, eu não mordo, e tem gente no meu escritório não estaremos sozinhos.
Penso um pouco antes de responde -lo, modelos ganham bem e eu preciso desesperadamente de dinheiro para ajudar minha mãe, seria ótimo se eu conseguisse esta campanha .
— Eu preciso ir trabalhar, mas podemos nos encontrar amanhã.
Raphael da um sorriso e tira uma nota de 100 para pagar minha conta, não discuto porque na minha atual situação não posso gasta dinheiro nenhum .
— Tudo bem, vou deixar meu cartão com você, me procura amanhã, estarei esperando você.
Ele se vai e mesmo um pouco bêbada vou para o ponto de ônibus. Não demora muito até que ele chega, a boate onde trabalho não é tão longe. Quando chego, entro pela porta dos fundos para não ser vista, estou mega atrasada. Visto rapidamente meu informe que consiste em uma saia colada e uma blusa vermelha.
— Ainda bem que você chegou, nossos pratroes estão furiosos e me viram sozinha aqui.
Droga. Mirela e Frank são casados e os donos daqui, porém não se dao muito bem, apenas nos negócios. E era um péssima hora eles terem percebido a minha ausência.
— Eles perguntaram alguma coisa?
— Não, está lotado aqui hoje, não tinha nem como se aproximarem— Ela fala preparando um drink.
Pelo menos isso, talvez não dê em nada. Começo a atender as pessoas, duas meninas animadas pediram um Martine, um cara pediu um uísque puro e assim por diante. A noite foi longa, eu estava cansada e meus pés acabados e inchados.
— Gata já estou indo, quer uma carona?
— Não obrigada, vou ficar mais um pouco.
Sara então dá um tchau e fecha a porta. Eu sempre aproveito para tomar um banho aqui, já que lá em casa cortaram a água por falta de pagamento, minha vida estava desmoronando.
Tiro a roupa e entro no pequeno chuveiro para sentir a água cair em meu corpo. Aquilo me relaxou, tirou um pouco do peso que sentia nas costas, molhei meus cabelos e passei o sabonete já que não tinha shampoo e nem condicionador. Depois de alguns minutos eu saio da água e me enxugo. O dia finalmente tinha acabado, eu tinha duas horas apenas para dormir, tinha que estar na lanchonete as 8 horas da manhã.
Quando estou saindo, escuro saltos descendo as escadas. Merda, ela ainda está aqui.
— Talita, quero falar com você— Mirela minha patroa diz me fazendo parar.
— Boa noite Mirela.
— Não banque uma de simpática para cima de mim querida, não vai adiantar. Eu estou percebendo o quanto você está abusando da sorte.
— Não estou entendendo— Digo me fazendo de tonta.
— Vou deixar claro as coisas para você. Aqui eu gosto de funcionários que cheguem na hora exata, nenhum minuto a mais nem outro a menos. Você está demitida.
— Não Mirela, por favor, eu preciso desse emprego.
— Odeio garotas que imploram. Pode ir, não quero mais olhar pra sua cara.
Sinto lágrimas descendo pelo meu rosto, e saio dali sem olhar pra trás. Coloco a mão no bolso e vejo o cartão do cara que me abordou, pego meu celular e ligo para ele, não estou nem aí pra hora, definitivamente eu preciso dessa oportunidade.
— Raphael, sou eu Talita.
— A garota do bar — Ele diz.
— Sim, desculpe ligar a essa hora, mas eu quero muito saber mais sobre a sua proposta.
— Onde você está?
— No ponto de ônibus indo para casa.
— Estou indo te buscar, me fala exatamente onde é esse ponto.
Explico para ele a localização e vinte minutos depois um carro preto para na minha frente e abaixa o vidro.
— Que bom que pensou, entre ali atrás, tenho certeza que vai se surpreender.
— Muito obrigada mesmo.
Abro a porta de trás do carro e sento fechando a porta, dou de cara com um homem com músculos enormes e ele rapidamentesegura meus braços.
— Mas o que tá acontecendo aqui? Me solta.
— Fica calma querida— Fala Raphael.
O homem coloca um pano em meu nariz e a última coisa que ouço é a voz de Raphael dizendo.
— Levem ela para Amanda.
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