Minha mamãe!
Maria não conseguiu conter uma risada baixa quando James, com toda a seriedade de um menino pequeno, agarrou sua mão com força e encarou Daryl como se fosse proteger o mundo inteiro. Seus olhinhos azuis, tão familiares, brilhavam com determinação enquanto ele se erguia na ponta dos pés para parecer mais alto.
Daryl, do outro lado do balcão, olhou para o menino com a mesma intensidade, mas com algo diferente em seus olhos. Não era confronto. Era admiração, talvez até um toque de orgulho. Ele não precisava de palavras para reconhecer o que já sabia: aquele menino era seu.
James, no entanto, parecia não se impressionar. Ele apertou os lábios e, com sua voz infantil e direta, disparou:
— Minha mamãe.
Maria segurou o riso, sentindo o calor em suas bochechas enquanto observava a interação. Era tão típico de James ser protetor. Ele sempre a chamava de "minha", como se fosse seu pequeno herói.
Daryl não desviou o olhar, sua voz grave e rouca soando com a mesma simplicidade do menino.
— Minha também.
O pequeno pareceu processar as palavras por um momento, franzindo o cenho. Ele olhou para a mãe, como se buscasse confirmação. Maria apenas deu de ombros, um sorriso de canto escapando.
— Parece que você vai ter que dividir, campeão. — Ela murmurou, tentando aliviar o clima, mas James ainda estava decidido.
Ele ficou quieto, mas sua expressão dizia tudo: ele não estava totalmente convencido. Apesar disso, não soltou a mão de Maria, como se estivesse se certificando de que ela ainda estava ali com ele.
Daryl, por sua vez, permaneceu no mesmo lugar, observando os dois. Ele não precisava de mais nada naquele momento. Só de estar ali, compartilhando o mesmo espaço com eles, vendo aquele pedacinho de si mesmo em James e aquele calor no sorriso de Maria, mesmo que ela tentasse esconder.
Era um começo. Um começo pequeno, mas para Daryl, já significava muito.
À medida que a noite caía, Daryl voltava para a casa de Maria. Ele não tocava a campainha nem batia na porta. Simplesmente entrava, como se o tempo não tivesse passado, como se nada tivesse mudado. A casa ainda tinha aquele cheiro familiar o cheiro de Maria, de comida que ele nunca soubera reconhecer exatamente, mas que sempre soubera que era ela quem o preparava. A casa que um dia foi sua, agora parecia um lugar estrangeiro, mas ao mesmo tempo, era o único lugar onde ele se sentia parcialmente em casa.
Ele se deixava cair no sofá, como se cada movimento fosse um peso, como se ele estivesse tentando carregar o mundo nas costas, mas já não soubesse mais onde esse mundo realmente estava. Maria ficava de pé, observando-o. Seus olhos, cheios de tanto não dito, percorriam cada detalhe dele. Ela queria dizer algo, queria perguntar se ele estava bem, se ele realmente pensava que aquilo era o certo, mas as palavras sempre escapavam. O silêncio entre eles era denso, e a tensão parecia preencher cada canto da casa.
Daryl olhava para a janela, mas não via a noite lá fora. Ele estava preso em pensamentos, sua mente ainda girando em torno do que aconteceu, do que poderia ter sido, e do que ele ainda sentia. Ele não entendia totalmente a história deles. Algo não se encaixava, e ele sentia isso no fundo do peito. Maria havia ido embora, tinha feito uma escolha e, ainda assim, estava ali, na frente dele, com um filho que ele mal conhecia. E ele, por mais que tentasse, não conseguia entender a razão de tudo aquilo. A saudade apertava, mas a raiva também estava lá, assim como uma necessidade insustentável de saber a verdade.
Maria, por sua vez, ficava ali, observando-o com uma mistura de saudade e dor, tentando desesperadamente segurar as lágrimas que nunca parecia ter tempo para derramar. Ela sabia o que ele queria perguntar, sabia que as perguntas iam vir, mas não sabia como responder. Como poderia? Ela mesma não entendia totalmente o que acontecera entre eles. No fundo, ela sabia que sempre fora sobre ele. Sobre o jeito dele, o silêncio, os pequenos gestos de carinho que nunca foram ditos em palavras. Mas ela também sabia que algo tinha falhado, que ela tinha falhado, e não sabia como colocar isso em palavras.
Eles dançavam em volta um do outro, em um ritmo que parecia familiar, mas também estranho. Cada um carregava um peso que o outro não podia ver. Daryl sentia a frustração crescer dentro de si, enquanto Maria tentava manter a compostura, forçando-se a não quebrar. Eles estavam em um campo de batalha invisível, onde as palavras não eram mais suficientes, e tudo o que restava era o espaço entre eles — cheio de promessas não cumpridas, de lembranças e de perguntas não respondidas.
— Eu... — Maria começou, mas as palavras se perderam, se afogaram no ar entre eles.
Daryl não a olhou imediatamente. Seus olhos estavam fixos no vazio, mas ele sabia o que ela queria dizer. A pergunta estava ali, no ar, e ele também sabia que, mesmo se ela não perguntasse, a resposta ainda não estaria pronta. Ele queria saber o motivo, o porquê de tudo, mas ele também sabia que nada que ela dissesse poderia consertar o que havia sido quebrado.
Então, ele apenas falou, com a voz baixa, mas firme.
— Eu não entendo, Maria. O que aconteceu? O que mudou?
Ela engoliu em seco, sentindo uma dor inesperada. A verdade estava ali, tão próxima, mas ela não sabia como entregá-la a ele sem que ele a odiasse ainda mais.
— Eu achei que fazia o certo... — ela disse, quase num sussurro. — Eu pensei que... que te perder fosse o melhor para você. E para nós. Para todos nós.
Daryl fechou os olhos por um momento, como se tentasse absorver as palavras, mas algo nele vacilou. Ele não sabia se acreditava em tudo aquilo. No fundo, sabia que ainda faltava algo. A explicação que ela estava dando não fazia sentido, não importava o quanto ela tentasse justificar.
— E agora? — ele perguntou, sua voz carregada de dor. — O que é isso? Você me deixou... e agora está com ele. Está com... James. Você o criou sozinha, e eu... fiquei esperando. Esperando o quê?
Maria sentiu a pressão das palavras, como se algo tivesse quebrado dentro de si. Ela queria contar a verdade, queria que ele entendesse, mas o medo de perder tudo a fazia hesitar. Ela se aproximou de Daryl, mas, ao fazer isso, a distância entre eles parecia aumentar.
— Eu não queria te perder, Daryl. Eu não queria que as coisas chegassem aqui... Mas você já não me via mais. E eu tinha medo de que você nunca me visse de novo. Eu tinha medo de que fosse tarde demais.
Daryl não respondeu imediatamente. Ele não sabia o que dizer. A raiva ainda queimava dentro dele, mas havia algo mais agora. Algo mais confuso e mais dolorido. Ele não sabia se a raiva era mais forte do que a saudade, ou se a saudade era mais forte do que a raiva. Mas uma coisa era certa: a história deles ainda não estava pronta para ser contada.
Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top