2. A Dor da Fome
Menna nunca havia saído sozinha, e por mais que tivesse medo, o orgulho a impedia de voltar atrás.
Um vento frio dançava entre os troncos das árvores, e a atingia dolorosamente. Suas finas roupas de dormir não eram as mais adequadas, e ela começou a se sentir nua. Sua sede que antes fora ignorada, voltou com força total depois de três horas de caminhada. Diversos galhos batiam contra seus braços descobertos, causando ferimentos superficiais em sua pele, que ardiam e incomodavam.
Cansada, e começando a se sentir derrotada pelo sono, Menna se recostou em uma árvore de tronco largo, fechou os olhos e adormeceu. Acordou quando já era dia, e as frestas entre as folhas lançavam a intensa luz do sol sobre seu rosto.
O estômago roncava, e sua barriga doía com a fome. Procurou em volta, e tudo o que pode encontrar ali perto foi uma laranjeira. Correu até a árvore e arrancou algumas de suas laranjas.
Não possuía qualquer lâmina, e não tinha ideia de como abrir o fruto, mas em uma tentativa, esmagou entre suas duas mão, e enfiou os dedos no furo que se abriu na casca, rasgando-a com as próprias mãos.
Bebeu daquele suco, que estava quente e azedo, mas não pôde reclamar. Conseguiu abrir com as próprias mãos outras laranjas. Mais e mais, até que se sentisse satisfeita.
Por fim, seus dedos se colavam com o caldo melado das frutas, e ela esfregou as próprias mãos na roupa, que se tornava mais imunda a cada instante.
Quando o sol brilhava no alto do céu, Menna ouviu uma voz:
— Princesa! — alguém bradava a distância. Estavam procurando por ela.
Apressou-se em procurar onde se esconder, mas não pareciam haver lugares adequados. Em ultimo caso, escalou uma árvore, apoiando os pés nos galhos e içando o corpo para cima, até que estivesse bem escondida pelas folhas. Uma infinidade de insetos a incomodavam, ainda mais por estar suja das laranjas. Abanava os bichos com fervor, mas parou bruscamente quando a voz do soldado que estava em sua busca se aproximou:
— Princesa! — ele ainda gritava, e sua voz forte se espalhava pela floresta.
Bichinhos andavam por seus braços e suas mãos, mosquitos a picavam, mas Menna não teve coragem de mexer um músculo sequer durante todo o dia.
Ela só desceu da árvore quando a noite já havia chegado, e naquele momento, em nenhum lugar ouvia-se vozes daqueles que a buscava. Era seguro agora.
Andou por horas, catando frutas que encontrava pelo caminho. Salivava em pensar o que haveria no jantar dessa noite em seu castelo, mas não desejava voltar. Se não tivesse fugido estaria casada agora.
Ficou imaginando o quanto as pessoas teriam ficado frustradas ao perceber que a princesa fugira na véspera de seu casamento. E se sentiu fria ao se lembrar de que mesmo sua família, estaria mais preocupada em desapontar o Rei Albarius — seu ex futuro sogro — do que com a filha.
Sendo despertada de seus pensamentos, Menna ouviu o som de água. Tinha agua em algum lugar por ali! Correu ansiosamente em direção ao som e encontrou um rio que cortava a floresta, com suas águas viajando em direção ao norte.
Jogou-se de joelhos na terra, próxima à margem do rio. Estendeu as mãos em concha e as encheu de água, levando-as até a boca para saciar a própria sede. Fez a mesma coisa repetidas vezes, tão concentrada naquilo, que demorou a perceber a mulher que a observava, sentada relaxamente sobre uma pedra logo ao seu lado.
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