Capítulo 8
— Senhorira Alice! Oh meu Deus! — Evie exclamou entrando no quarto.
Eu estava acordada e esperando justamente pelas minhas criadas, mas isso não me impediu de arfar de susto.
— Jesus! — Falei, pondo a mão no peito.
— A senhorita quase nos matou de preocupação. — Disse Mary ao entrar correndo atrás dela, seguida de perto por Summer.
— Onde é que a senhorita estava? — Perguntou Evie.
— Porque a senhorita não nos avisou? — Summer questionou.
— Pelo amor de Deus, não faça mais isso. — Exclamou Mary.
Encarei as três, me sentindo subitamente culpada.
— Calma, eu vou explicar tudo. — Tomei uma respiração profunda. — Eu estava com o príncipe.
A excitação que seus rostos deixaram transparecer me confirmou que essa foi a melhor forma de iniciar aquela conversa.
— Bem, eu não consegui dormir naquela noite e fiquei com sede, então decidi pegar um copo com água.
— Mas nós podíamos ter trazido. — Evie protestou.
— Eu não quis acordar vocês.
— É nossa obrigação servi-la senhorita. — Rebateu Mary.
Suspirei. Como eu suspeitava, isso ia ser bem difícil.
— Meninas, era só um copo com água. Por Deus, eu tenho pernas e braços como vocês. — Elas pareciam querer protestar, mas não fizeram nada. — Enfim, eu tropecei perto da escada e me machuquei.
Minhas criadas levaram a mão à boca, assumindo uma culpa que claramente não era delas.
— Parem já com essas caras, fui eu quem não quis chamar vocês e eu que caí. Vocês não tem culpa de nada. — Esperei as três assentirem para eu poder terminar. — Bem, o príncipe estava passando por perto e me viu, e quando percebeu que eu estava machucada, se ofereceu para fazer um curativo, levando-me a um dos locais secretos do palácio.
Minhas criadas suspiraram. — Sua Alteza é muito prestativo. — Mary disse.
Eu ri, mas concordei. — Realmente. Só que ele deixou que a porta do lugar se fechasse antes de perceber que estava sem a chave, então ficamos presos lá por esses dois dias.
Elas arregalaram os olhos.
— Espere, — Summer fez um sinal de tempo — a senhorita esteve presa num abrigo com o príncipe esse tempo todo?
— Exatamente. — Finalizei.
Quase ri das suas caras perplexas.
— Garotas? — Estalei os dedos.
— É ela, é ela, eu sabia. — Mary gritou.
— Eu também. — Summer abraçou as outras duas.
As três começaram a pular felizes, mas logo Evie parou abruptamente. — Depressa meninas, temos que arrumar a senhorita Alice para o café da manhã. Ela tem que ser a mulher mais deslumbrante que aquelas outras 34 senhoritas já viram.
— Evie têm razão. Eu vou preparar o banho. — Summer disse antes de correr para o banheiro.
Mary se virou para mim. — Venha senhorita, eu fiz um vestido maravilhoso para hoje. Tinha certeza de que voltaria logo. Mas se estava com o príncipe poderia ter demorado mais. — Ela piscou para mim e eu gargalhei, levantando-me da cama.
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Embasbacada, encarei pela milésima vez a maravilha violeta que era o meu vestido. Com apenas uma manga, ele tinha um caimento perfeito por todo o meu corpo e pequenas pedras brilhantes costuradas à mão que reluziam quando eu me movia.
— É divino, Mary.
— Que bom que gostou senhorita. — Ela respondeu feliz.
— Eu não gostei, eu adorei.
— Duvido que haja alguma selecionada mais bonita que a senhorita. — Summer disse. Minha baixa auto-estima negou essa ideia, mas eu disfarcei e sorri do seu comentário.
— Obrigada as três.
Pode contar conosco para tudo senhorita Alice. — Evie disse. — Todas as selecionadas se reúnem no Salão das Mulheres com Phoebe para ir ao café da manhã. Agora vá, a senhorita já está dois dias atrasada.
Rindo, saí do meu quarto.
Desci as escadas e olhei para a porta da biblioteca, procurando forças nas lembranças do abrigo. Quando me senti mais confiante, fui em direção ao Salão das Mulheres.
Assim que entrei, observei todos os tipos de reação. Descrença, surpresa, desprezo e até indiferença. Para falar a verdade, só havia uma garota que parecia feliz em me ver, e ela andou até mim apressadamente.
— Alice. — Madison disse me abraçando. — Phoebe disse que ninguém conseguiu achar você. — Ela me encarou séria. — Você tem noção do quanto eu estava preocupada?
— Desculpe. — Eu disse e ela assentiu.
— Você não esteve correndo perigo, esteve?
— Não. — Respondi.
Ela sorriu. — Então, pensando bem, onde quer que você estivesse, o clima estava muito melhor do que aqui. — Madison se aproximou mais para sussurrar. — Leanna surtou quando disseram que o príncipe também havia desaparecido.
— As outras também não aceitaram muito bem, mas nada pode ser comparado a reação da Senhorita Prepotência. — Falou outra garota se aproximando.
— Ah, Alice, essa é Leah Martinez, de Columbia. Tem sido a única com coragem para pôr Leanna em seu devido lugar.
— Muito prazer. — Leah estendeu a mão para mim e eu apertei, subitamente me lembrando dela. Sua foto foi uma das poucas que eu vi no dia do anúncio das selecionadas.
— Igualmente. Acredite, você é minha heroína. — Falei e ela sorriu amigavelmente.
— Leanna adora jogar na cara das outras a sua posição financeira privilegiada, mas com Leah ela não pode fazer isso, porque a família dela tem mais dinheiro e prestígio social do que a da própria Leanna. — Madison sussurrou alegre.
— Finalmente essa besteira de status serviu para alguma coisa. — Leah disse, num tom um pouco amargo.
— Uma pena que o príncipe ainda não voltou para poder puni-la. Mas afinal, onde é que você estava?
Antes que eu pudesse responder a pergunta dela, Phoebe entrou na sala a passos rápidos.
— Atenção senhoritas, o príncipe foi encontrado e vai vir aqui agora para explicar-lhes sua ausência e conhecê-las uma a uma. Depressa, todas de volta aos seus lugares.
As selecionadas correram e se sentaram numa confusão de suspiros e gritos de desespero. Fiz uma nota mental de agradecer a Madison e a Leah por guardarem meu lugar entre elas.
— Phoebe, você pode me dar uns minutos com essas agradáveis senhoritas, por favor? — Disse Osten, entrando na sala.
Vê-lo fez o meu coração dar uma pulsada mais forte.
— Claro, Alteza. — Phoebe respondeu, procurando uma cadeira vazia para se sentar e nos observar de longe.
— Bom dia senhoritas. — Ele cumprimentou.
— Bom dia Sua Alteza Real. — Respondemos em uníssono.
— Tenho certeza de que vocês devem estar ávidas por respostas sobre o meu desparecimento. — Osten começou. — Pois bem, vou explicar-lhes tudo agora mesmo. — Que Deus me proteja. — Duas noites atrás, enquanto eu andava pelo palácio tentando afastar a minha insônia, ouvi um grito de dor. — Algumas selecionadas arquejaram. — Então olhei na direção das escadas e vi a senhorita Wightman caída no chão, com um machucado no joelho. Na hora tudo o que me passou pela cabeça foi limpar o ferimento o mais rápido possível, e assim, acabei decidindo levá-la a um dos locais do palácio com kit de primeiros socorros, mas que ficavam fora da ala hospitalar. — Ele tomou uma respiração leve. — O fato é que eu me esqueci de que não estava com as chaves naquele momento, então acabamos ficando presos lá quando a porta se fechou e só pudemos sair nessa madrugada.
Uma das garotas se enfureceu. — Vocês estavam juntos esse tempo todo?
Osten a encarou. — Sim.
— E como conseguiram sair se estavam presos? — Perguntou ela.
— O fato que possibilitou, somente hoje, a nossa saída faz parte dos procedimentos de segurança do palácio, portanto, é confidencial. — Respondeu ele.
— Isso é uma injustiça, essa... garota está na nossa frente. — Outra selecionada falou.
— O tempo que eu e a senhorita Wightman passamos juntos não foi planejado, então vocês não devem se sentir prejudicadas. A Seleção não começou há duas noites atrás, começou oficialmente agora. — Certo, isso doeu. Era como se ele estivesse menosprezando o tempo que ficamos no abrigo. — Mas se alguém quiser desistir pode levantar a mão que será mandada para casa de acordo com sua vontade.
Apesar de infelizes ou raivosas, nenhuma garota se manifestou, é claro.
— Ótimo. — Osten disse e depois sorriu. — Agora eu gostaria de conversar um pouco com cada uma das senhoritas, se me permitirem. — Ele olhou para as duas pontas do círculo que nossas cadeiras formavam. Leah estava em uma, seguida depois por mim e Madison, enquanto Leanna estava na outra. — Senhorita Roberts, me acompanhe por favor.
O príncipe tomou o braço de Leanna, que sorriu encantadoramente para ele. O decote do vestido dela era tão grande que parecia ter faltado tecido durante a confecção da peça. Uma sensação estranha que não eu consegui identificar percorreu o meu corpo, e o pensamento de que Osten talvez não estivesse tão ansioso para conversar comigo de novo como eu estava para fazer isso com ele me deixou muito triste, mais me forcei a não demonstrar isso.
— Não deixe o ciúme controlar você. — Leah sussurrou para que só eu escutasse.
— Ciúme? — Perguntei confusa. Eu não sabia o que era isso, nunca havia gostado de ninguém. Mas se ciúme era aquela angústia terrível que eu sentia quando olhava para Leanna tentando se insinuar para o príncipe, era uma droga.
— Sim. — Confirmou Leah. — Eu já senti o bastante disso antes de vir para cá para ser expert no assunto. Meu erro foi deixar que o cíume ditasse as minhas ações. Um conselho, não faça isso. — Ela continuou, parecendo lembrar de um erro que cometeu.
Não sei por qual motivo, mas me senti confortável para falar das minhas inseguranças.
Suspirei. — Olhe só para todas essas garotas. Eu não chego nem perto da beleza delas. Não posso consertar isso.
Leah olhou para mim como se eu estivesse louca. — Em que espelho você costuma se ver? Me responda para que eu possa dar um fim nele, pois já que ele não reflete o quanto você é bonita não deve mais existir. — Eu esbocei um pequeno sorriso e ela gesticulou com a cabeça para o resto do Salão. — Olhe você para todas essas garotas. Veja como elas quase não conseguem disfarçar sua inveja. E não é esse vestido maravilhoso que faz elas se sentirem assim. É você. A sua presença lhes deixa desconfortáveis por que você é sim mais bonita do que elas. — Ela sorriu. — Eu só não digo que também te acho mais bonita do que eu por que minha auto-estima não permite. — Ela piscou e eu comprimi os lábios para não rir.
— Obrigada. — Falei depois que consegui me controlar.
— É um prazer ajudar, futura Alteza. — Ela respondeu.
— Mas você não quer se tornar... — Tentei perguntar, mas ela me interrompeu.
— Não posso falar sobre minhas metas agora, mas já está claro para mim quem ganhou isso aqui.
Corando, eu desviei o olhar para a frente. Fiquei pensando no que Leah guardava para si, e por suas falas cheguei à conclusão de que tinha haver com um erro que ela cometeu antes de vir ao palácio.
Parece que não era só eu que tinha fantasmas.
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Uma eternidade se passou até que Osten chamasse Madison para conversar com ele. A cada menina que se sentava naquele sofá aquele negócio de ciúme só crescia dentro de mim. Ele era como um monstro que eu tentava domar, mas voltava mais forte depois de cada vez que eu o fazia recuar.
Quando Osten trouxe Madison de volta ao seu assento eu quase me levantei para que ele tomasse o meu braço, mas parei a tempo de fazer isso ao vê-lo passar pelo meu assento e chamar por Leah. Atônita, ela olhou para mim como se não acreditasse no que o príncipe tinha acabado de fazer, mas eu apenas dei de ombros e assenti, tentando aparentar certa indiferença, enquanto na verdade, me sentia arrasada. E os sorrisos vitoriosos que vi na face das outras garotas, especialmente na de Leanna, certamente não ajudaram meu humor.
Porque ele fez isso? Será que ele havia desistido de mim e de tudo o que falou no abrigo? Eu sabia, sabia que não podia confiar.
A dor da rejeição foi se espalhando lentamente pelo meu coração e eu só podia ouvir minhas inseguranças falarem Nós te avisamos.
Suprimindo as lágrimas, me forcei a manter uma expressão indiferente enquanto tentava refletir sobre o assunto.
Calma, eu estou sendo muito precipitada, ele pode simplesmente ter passado por mim porque já me conhece, e muito bem.
Esse pensamento me aliviou um pouco, mas a dúvida sobre ele ter desistido de nós ou não já havia sido plantada.
Foi então que fiz a única coisa que poderia me alegrar. Desliguei-me do mundo real e mergulhei novamente nas lembranças do nosso tempo juntos.
Eu prometi ficar, e vou ficar. Nem que seja para que ele me mande para casa na primeira eliminação.
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