Só quando eu cheguei ao meu quarto foi que eu notei. Eu não havia dito nada a Osten.

Dei um tapa na minha testa.

Não havia lhe perguntado sobre as outras garotas.

Não havia lhe contado que estava apaixonada por ele.

Não havia lhe perguntado sobre os seus sentimentos.

Eu ficara tão perdida no momento que simplesmente me esquecera de tudo.

E agora eu não podia mais sair do quarto. Não sem dar explicação aos 20 guardas que a rainha havia designado para ficar à minha porta todas as noites à pedido do próprio Osten.

Suspirei.

Pelo visto eu teria que deixar a conversa com ele para amanhã.

Frustrada, joguei-me na cama, forçando-me a adormecer logo.

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Logo após o café da manhã, Phoebe nos levou para o Salão das Mulheres. Todas nós já estávamos sentadas quando a rainha entrou.

— Bom dia, senhoritas! — Ela parecia agitada. — Não tenho muito tempo disponível hoje, então deixe que eu lhes diga de uma vez: Amanhã à noite haverá um baile em homenagem aos meus pais.

Eu arregalei os olhos junto com as outras selecionadas.

Só havia se passado um dia desde que eu dera a ideia do baile à rainha, e agora ela o estava anunciando para daqui a uma noite.

Como era possível organizar um evento de tão grande magnitude dentro desse intervalo de tempo?

— Por isso, — A monarca continuou. — hoje as senhoritas passarão o dia inteiro tirando as medidas para a confecção de seus vestidos, a qual será feita pela madrugada, e amanhã passarão o dia inteiro a disposição de suas costureiras e alfaiates a fim de ajustá-los.

Meu queixo caiu.

A rainha devia estar mesmo desesperada para ver seus pais de volta à segurança da Nova Ásia.

Neena entrou correndo no Salão.

— Majestade! Temos um problema com o buffet.

A monarca suspirou. — Eu preciso ir agora, senhoritas. Qualquer dúvida que venham a ter falem com suas criadas ou com Phoebe.

A rainha saiu à passos rápidos do local acompanhada de sua dama de companhia, que já havia começado a lhe relatar qual era o conflito da vez.

Phoebe se virou para mim.

— Senhorita Alice, a senhorita está liberada do cargo de tutora da princesa Kerttu até depois do baile, entendeu?

Eu assenti.

— Ótimo, agora todas vocês. — Ela apontou para todas nós uma por uma. — Vão para os seus quartos, não temos tempo a perder.

As outras meninas e eu disparamos na direção da saída.

O dia se passou numa confusão de fitas métricas e retalhos de pano. Primeiro, a costureira levou horas para achar um tom que combinasse, segundo ela, com a minha pele. Depois, ela e Mary passaram um tempo absurdo debatendo sobre o modelo do vestido. E por fim, mais ou menos às 3 horas da tarde, as duas recomeçaram tudo de novo pois odiaram o resultado do esboço.

O mais próximo que eu chegara de Osten fora em pensamento. Mas eu estava determinada a falar com ele naquele dia.

Próximo das 11 horas da noite, quando Mary e a costureira saíram para começar a coser o vestido, eu aproveitei que Evie e Summer haviam ido preparar o meu banho e decidi procurar pelo príncipe.

Assim como ontem, não havia como eu sair do meu quarto sem passar pelos 20 guardas que faziam ronda na porta dele. Mas hoje eu não estava me importando com isso. Eu tinha que falar com Osten.

— A senhorita vai a algum lugar? — Um dos homens me perguntou assim que me viu no corredor. Os outros 19 se viraram para assistir o que estava acontecendo.

— Sim. A rainha mandou me chamar. — Menti.

— Não vi ninguém passado por nós com nenhum recado. Ainda mais de Sua Majestade.

Droga!

— Ela me pediu durante o jantar para que eu a encontrasse no escritório antes de dormir.

O guarda hesitou.

Eu arqueei uma sobrancelha. — Você vai desobedecer uma ordem direta da rainha?

Ele empalideceu.

— Pode passar senhorita, o escritório de Vossa Majestade fica no andar da família real.

Foi mais fácil do que eu havia pensado.

— Obrigada.

Eu me dirigi às escadas e comecei a subir. No fim dos degraus, havia mais um par de guardas.

— A rainha me espera em seu escritório. — Disse ao me aproximar deles.

Obviamente, os dois homens também hesitaram.

Decidi usar a mesma técnica de antes.

Arqueei uma sobrancelha. — Vão desobedecer um desejo expresso de Sua Majestade?

Os guardas estremeceram e eu vibrei internamente. Aparentemente, qualquer pessoa que não parecesse suspeita conseguia passar por eles.

— O escritório fica um pouco antes dos quartos da família real, senhorita. Tenha uma boa noite.

— Igualmente.

Sem saber, eles acabaram me ajudando, pois eu fui ao 3º andar sem ter a mínima ideia de onde o quarto de Osten ficava. Pelo menos agora eu sabia que ele se localizava depois do escritório da rainha, local para onde eu já tinha ido várias vezes.

Andei pelo corredor com uma ansiedade crescente. Eu estava com a ideia fixa de que Osten poderia me convidar para dormir com ele depois que nós conversássemos. E eu queria muito aquilo.

Comecei a apressar o passo com um sorriso bobo surgindo em meu rosto.

Mas a cena que vi ao dobrar o corredor me fez perder a vontade de viver.

Osten estava com os braços esticados para a frente e suas mãos seguravam os ombros de Leanna. A porta do quarto atrás dele estava aberta e luz se projetava por ela, iluminando o sorriso da garota.

O sangue sumiu do meu rosto.

Eu nem reparei na expressão do príncipe. Antes que algum dos dois pudesse me ver, eu andei de costas até ficar fora do campo de visão deles. Então, dei meia volta e comecei a correr.

Não acredito! Ele havia chamado ela para o quarto dele? À noite?

Eu me sentia prestes a desabar.

Os azulejos pareciam se alongar a cada passo que eu dava. Eu só precisava chegar ao meu quarto e...

— Cuidado, senhorita. — Um guarda me segurou antes que eu caísse. Eu nem percebera que havia chegado às escadas novamente.

— Obrigada.

— A rainha não estava no escritório?

— Estava. Foi algo rápido. — Minhas lágrimas turvaram meus olhos. — Desculpe, eu preciso ir.

O guarda assentiu e me soltou.

Desci os degraus em disparada e passei como um furação pelos 20 guardas na porta do meu quarto.

— Senhorita Alice, o que houve? — Evie me perguntou assim que eu entrei.

Meu coração morreu, eu pensei em dizer.

— Nada. Eu só quero dormir, Evie.

— Mas e o banho?

— Não preciso dele hoje. Jogue a água fora. E eu vou dormir com essa roupa mesmo.

— Senhorita...

— Por favor, Evie. Não me faça ter que ordenar algo a você pela primeira vez.

Evie viu minha agitação e assentiu, voltando para o banheiro. Eu fui até a cama, deitei nela e rolei de lado.

Eu dissera à Osten que entendia a situação dele. E parece que ele havia levado muito a sério as minhas palavras.

E pensar que eu tinha ido ao quarto dele imaginando que dormiríamos juntos de novo. Que ele queria aquilo tanto quanto eu. Que quando eu me declarasse para ele, Osten faria o mesmo para mim, dizendo que não estava mais confuso.

Ri irônica da minha própria ingenuidade.

O que mais ele tinha feito com Leanna que eu não sabia? Pelo visto, ela estava bem mais adiantada do que eu imaginava.

A angústia explodiu de vez em meu peito e eu me sufoquei.

Pensei que a dor que eu senti quando o Landom abandonara a mim e a minha mãe fosse a maior que pudesse ter me assolado, mas eu estava enganada. Não havia nada comparado ao que eu sentia agora. Um aperto seco no peito que me deixava sem ar e forçava a minha garganta.

Coloquei a cabeça para fora da cama e vomitei todo o meu jantar no chão.

Summer e Evie saíram do banheiro de olhos arregalados.

— Senhorita Alice!

— Meu Deus!

Deitei minha cabeça de novo no travesseiro. Estava sem forças até para soluçar.

Só deixei que as lágrimas continuassem caindo até que eu adormecesse.*

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Nota do autor: Música de fundo sugerida para a cena: Jar of Hearts – Christina Perri (Glee version). Link nos comentários (Youtube).